quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Woody Allen e Vicky Cristina Barcelona...

Outro dia, numa sala de aula (momento de intervalo), ouvir duas colegas comentando sobre o filme de Woody Allen, Vicky Cristina Barcelona, pelo entusiasmo e a empolgação da conversa, cheguei a pensar que fosse o melhor filme dele; pois ainda não assisti, mas já está na lista para minha próxima sessão solitária, isso é, se a locadora de filmes cumprir com o que disse... Oh, mas que atraso de vida cinematográfica é essa cidade; além de faltar um bom cinema, as locadoras nunca renovam seus filmes...

A verdade mesmo (estou ansiosa para assistir a qualquer filme de Wood Allen) é que eu gostaria de ser, ao menos, uma medíocre crítica de cinema para fazer um extraordinário comentário sobre este gênio e suas produções, contudo uma reles cidadã comum, assim como eu, tem mesmo é que se contentar apenas com o encantamento proporcionado com a arte genial deste artista consagrado... Por isso, ficarei apenas com a vaga recordação do primeiro contato que tive com Woody Allen, na minha adolescência, através do livro de contos Cuca Fundida... A partir de então comecei a conhecer seus filmes, assistindo aos três primeiros: Tudo que você precisa saber sobre sexo, Noivo neurótico, noiva nervosa e Sonhos de um Sedutor... depois veio uma sequência indescritível...

Naquele momento da minha vida, sem cinema nessa cidade, perante o provincianismo que (impera) vivíamos em Rio Branco, com a total falta de informação, fui muito criticada e pouco compreendida pela aquisição daquele livro de contos, enfim: foi uma paixão à primeira leitura... Pouco me recordo sobre os contos (já faz tanto tempo que os li e não tenho tempo para fazer uma releitura), mas muito também me chamou a atenção foi à apresentação do tradutor Ruy Castro; em poucas palavras, ele descreve a dramática trajetória da vida pobre que Wood Allen teve em Booklyn...

Ele, o tradutor, inicia a apresentação falando sobre um grande escritor americano, chamado Nathanael West, que tinha um calo no dedo e que doía muito ao escrever... E, “o que tem isso a ver com Wood Allen?”, ao que parece nada tem a ver, mas Rui Castro responde: “Pensando bem, os dois têm uma coisa em comum: ambos se especializaram em vender neuroses”, logo eu penso: deve ser por conta da dor que sentem, na alma, ao escrever... E é exatamente a expressiva capacidade de brincar com a neurose, em toda sua produtividade, que Woody Allen tanto me fascina, como no filme Vicky Cristina Barcelona... 
 
 Vejamos o  que me disse este link:

“Na cena final de Noivo Neurótico, Noiva Nervosa (Annie Hall, 1977), Woody Allen lembra uma piada antiga. Um homem diz a um psiquiatra: "Doutor, meu irmão é maluco, ele pensa que é uma galinha". O médico diz: "Então, porque você não o interna?". Ao que Allen responde: "Bem, eu o internaria, mas acontece que preciso dos ovos". À piada segue uma pequena, porém brilhante, reflexão: "Assim é como me sinto sobre relacionamentos, eles são completamente irracionais, malucos, absurdos, mas continuamos, insistimos porque a maioria de nós precisa dos ovos".

Absolutamente coerente com a "filosofia dos ovos", depois de tantos anos esmiuçando os paradoxos do romance, Woody Allen ainda tem muito o que dizer sobre a irracionalidade, a maluquice, os absurdos de um relacionamento amoroso. Vicky Cristina Barcelona tem esse mesmo leitmotiv. Mas o tratamento aqui é outro. Há uma leveza maior sem, no entanto, banalizar ou simplificar as emoções dos personagens. Talvez o tempo tenha amenizado a angústia e o diretor e roteirista tenha compreendido que algumas coisas nem sempre podem ser analisadas de forma racional e cartesiana. Às vezes, nem um analista ajuda.”...