segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Genocídio silencioso: um sexto da humanidade continua ainda não ter o que comer...

       Imagem - Bolg AFRICANIDADES - ETIÓPIA
Há um genocídio silencioso no mundo. Talvez seja esse o melhor adjetivo para definir o tamanho da desgraça provocada pela insanidade humana. 900 milhões de pessoas subalimentadas no mundo. Ou seja, quase um sexto da humanidade não tem o que comer. 100 mil pessoas morrem ao dia no mundo devido à fome. Esses são alguns dados que o suíço Jean Ziegler, professor de sociologia em Genebra e na Sorbonne, e relator especial da ONU sobre o direito à alimentação disparou, em recente visita ao Brasil. Autor de ácidos estudos sobre a fome no mundo, Ziegler veio ao Brasil em agosto, para participar de um seminário promovido pela Fundação João Mangabeira do Partido Socialista Brasileiro.

Jean Ziegler afirma: “se juntarmos alguns males do subdesenvolvimento, tais como fome, epidemia, guerras induzidas pelas multinacionais, verificaremos que, no ano passado, houve um total de mais de 58 milhões de vítimas, segundo os critérios da ONU, 2 milhões a mais que o total de vítimas da II Guerra Mundial, a maior guerra da humanidade, que durou seis anos.” O professor de sociologia não vê saídas à “ditadura mundial da desigualdade” e ao genocídio silencioso no planeta sem a realização de Reforma Agrária, o rompimento com o sistema financeiro mundial e a quebra da ideologia alienante do neoliberalismo, destinada a romper a resistência.

Para falar sobre a ditadura do capital financeiro, que segundo Ziegler é uma ditadura mundial que cria um mundo de total desigualdade, de riquezas imensas nas mãos de algumas oligarquias que são detentoras desse capital financeiro mundial, que gera riquezas muito grandes para alguns e miséria imensa e progressiva para a maioria, ele deu a seguinte entrevista ao Jornal Sem Terra.

JST - Que análise o senhor faz da situação econômica do mundo hoje, principalmente no que se refere aos países do Terceiro Mundo?

Jean Ziegler - Primeiramente, quero dizer que vivemos a ditadura do capital financeiro. É uma ditadura mundial que cria um mundo de total desigualdade, de riquezas imensas nas mãos de algumas oligarquias que são detentoras desse capital financeiro mundial, que gera riquezas muito grandes para alguns e miséria imensa e progressiva para a maioria. A população grave e permanentemente subalimentada no mundo soma cerca de 900 milhões de pessoas, aumentando a cada ano. Isso é quase 1/6 da humanidade, já que somos 6 bilhões de pessoas. A população subalimentada é destruída fisicamente por invalidez, sendo que 100 mil pessoas morrem por dia devido à fome.

Há 22 organizações especializadas em agricultura nas Nações Unidas. Uma delas, voltada para nutrição e agricultura, publicou um relatório revelando que a agricultura mundial, agora, poderia alimentar 12 bilhões de pessoas. Isso significa dar a cada indivíduo, diariamente, 2600 calorias. Ou seja, somos a metade de 12 bilhões e, a cada dia, morrem 100 mil pessoas vítimas da fome e centenas de milhões estão gravemente subalimentadas, são inválidas, incapazes de trabalhar e ter uma vida normal. Além disso, esse mal se transmite de geração a geração, sobretudo na Ásia do Sul e África, mas também aqui, porque cada uma em quatro crianças da América Latina com menos de 15 anos é gravemente subalimentada. Desse modo, há um genocídio silencioso num planeta que pode alimentar o dobro de sua população e uma reprodução biológica desse genocídio, pois há centenas de milhões de crianças que morrem na gestação, vítimas do mal desenvolvimento do feto ou do leite materno pobre em nutrientes, ou mesmo a falta de leite. Uma pessoa que morre de fome ou que tem uma vida sob a invalidez, com sofrimento permanente e crônico, é vítima de um assassinato e não de uma fatalidade. Há um culpado. É um massacre como o do Eldorado de Carajás. Os donos de multinacionais devem ser responsabilizados pelo crime. É possível identificar individualmente os assassinos. Esse é o quadro quando avaliamos somente o problema da fome. Entretanto, há outras questões, como a saúde. A Organização Mundial da Saúde faz, por exemplo, o inventário das epidemias que matam milhões de africanos, que não têm dinheiro para comprar medicamentos produzidos pelos grandes capitalistas. Os povos que vivem no hemisfério sul (4,2 bilhões de pessoas, ou seja, ¾ da humanidade) sofrem de tuberculose e malária e acabam morrendo, e os brancos da Europa, América do Norte e Austrália, que são 22% dos brancos no mundo, não sofrem isso. Epidemias matam, fome mata. Nos países subdesenvolvidos, 2 bilhões de pessoas não têm acesso à água potável, que apresenta perigo à saúde. Há mais de 18 milhões de casos de diarréia resultante de água imprópria para consumo. Além das mais de 400 milhões de pessoas que morrem, ao ano, devido a problemas com a água. E se juntarmos todos esses números do subdesenvolvimento (fome, epidemia, guerras induzidas pelas multinacionais na África etc.), verificamos que, no ano passado, houve um total de mais de 58 milhões de vítimas, segundo os critérios da ONU. Dois milhões a mais que o total de vítimas da II Guerra Mundial, a maior guerra da humanidade, que durou seis anos, de 1939 a 1945. Ou seja, a III Guerra Mundial já está em curso no Terceiro Mundo.

JST - Diante desse cenário, quais são as alternativas para os países pobres?

Jean Ziegler - Existem muitas armas. Há um problema grave para todos nós. Pablo Neruda, um grande poeta, disse: “As piores cadeias são as da cabeça”. A grande predominância do modelo e pensamento neoliberais, de que são arautos a TV Globo, Banco Mundial, o império americano, que vê esse modelo como lei natural e a mão invisível do mercado como única maneira de animar a economia, distribuir a riqueza do mundo etc., é uma mentira de classe. É um clássico argumento. É preciso quebrar as imagens alienantes, as falsidades, as mentiras que são fábricas de ideologia para desarmar a resistência. A primeira luta de classe, ao meu ver, é essa luta teórica. E, depois, partir para o combate à situação material. A Polícia Militar que mata é, por exemplo, uma forma de repressão. O Brasil é um país muito poderoso, um laboratório da revolução mundial, e por isso estou com muito otimismo. É formidável ver a organização do Movimento dos Sem Terra hoje no Brasil. É incrível.

JST - Como senhor vê a questão da Reforma Agrária e qual o papel dela neste contexto mundial?

Jean Ziegler - Não há como resolver o problema sem Reforma Agrária. Precisamos de uma reforma para quebrar a tirania mundial do capital financeiro que determina tudo, a propriedade da terra, o comércio. Nesse sentido, tenho uma verdadeira admiração pelo MST. É um verdadeiro movimento revolucionário.

JST - E como o senhor avalia iniciativas como o Fórum Social Mundial?

Jean Ziegler - São muito boas e essenciais. O único problema é que devemos trazer africanos e árabes também, dar a luz a outros continentes. O Che não pôde participar da Conferência Tricontinental, em janeiro de 1966, mas a idéia do Che de criar frentes de resistência era muito importante. O MST é uma frente de resistência. Se houver muitas dessas frentes, as forças de repressão, mesmo do império americano, perdem intensidade, e um novo mundo pode surgir rapidamente. Se analisarmos o Brasil, por exemplo, que está em grande parte entregue às multinacionais, à burguesia, o inimigo é terrível, com certeza. Todavia, se esse inimigo tem muitos adversários, ele não pode resistir por muito tempo.

JST - As elites insistem em dizer que o Fórum Social Mundial não apresentou propostas concretas de solução. O que o senhor pensa disso?

Jean Ziegler - Não há problema nisso. Não é essa nossa tarefa, não é possível projetar um modelo. Seria arrogância total. Sabemos o que não queremos e ao quê somos intolerantes. Como a fome, por exemplo. Um deputado federal da Suíça lutava sempre em seu mandato contra o ciclo bancário, pois a Suíça é o país mais rico do mundo, em termos per capita. Não tem matéria-prima, mas tem o capital do mundo inteiro, advindo inclusive da corrupção, criando uma riqueza incrível para a oligarquia bancária. Eu não quero, como suíço, viver bem do sangue dos povos do mundo. E por isso quero quebrar o ciclo bancário, acabar com a fuga de capitais, com a pilhagem financeira; eu sei o que não quero. E o destino coletivo dos suíços, quando essa ditadura do capital for quebrada, depende do mistério da liberdade. O caminho se faz ao caminhar, como diz o grande poeta Antônio Machado. E esse é um processo revolucionário.

JST - E sobre a dívida externa. O senhor acha que o Brasil deve romper com o sistema financeiro, com a moratória da dívida externa?

Jean Ziegler - Totalmente. Não há outra possibilidade. Sempre digo que se fosse possível colocar Jesus Cristo no poder amanhã, no México, Brasil, não mudaria nada.

Jornal dos Trabalhadores Rurais sem Terra

Ano XX - Número 214 - Setembro de 2001

Fonte: CONTROVÉRSIA (Blog)

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

O Silêncio...

Quando a ternura
parece já do seu ofício fatigada,

e o sono, a mais incerta barca,
inda demora,

quando azuis irrompem
os teus olhos

e procuram
nos meus navegação segura,

é que eu te falo das palavras
desamparadas e desertas,

pelo silêncio fascinadas.



Eugénio de Andrade
 
Fonte: Mundo Pessoa

O Último dos Justos...

Pouco conhecida mesmo entre os judeus, a lenda dos Justos pode ter surgido no século XII. Para alguns, seria ainda mais antiga, dos tempos de Isaías. Segundo conta, é a existência dos Justos, os Lamed-waf, que impede o mundo de se auto-destruir. No coração desses homens estão contidos todos os sofrimentos da humanidade. Muitos, porém, ignorantes da própria condição, levam seu sentimento ao extremo, tornando-o ainda mais doloroso.

No século XX, em meio à perseguição nazista, Ernie, o personagem principal, se coloca várias questões: os judeus não são homens como os outros? Por que são tão odiados? Segundo uma antiga lenda, é a existência de 36 Justos que impede o mundo de se autodestruir: esses homens concentram todos os sofrimentos da humanidade. Neste romance são narradas as conversas de Ernie com o avô e a necessidade de entender seu próprio povo.

 Fonte: Blog Ebooks gratis

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Do fundo do meu coração...



Vivi a Tua emoção
Para vê no fundo do teu Olhar
Tua límpida  branca Alma
Como um brilho de Luar

Transparente e clara Sensação
Tu, Ilha Deserta em Alto-Mar

Fui a ti...

E como num Porto Seguro
Ancorei-me em tuas Mãos
Para não me afogar em Emoções
Percorri o Caminho Interno
Dum Ser solitário

E, senti nas cores do Universo
A tua livre Liberdade de Viver...
Sim, viver e ser no teu Ser

Não!, não mais assim...

domingo, 20 de fevereiro de 2011

Ilumina-me...

ARTE POÉTICA (EXPLICAÇÃO)...

                                                                                                             Imagem Bing
Distingo desejo e amor, como se as duas coisas
não tivessem nada a ver uma com a outra; por
entre as palavras abstractas, os conceitos
difíceis, as citações dos clássicos, os teus olhos
fechavam-se de sono e os teus cabelos ficavam
mais claros, como se os iluminasse
por dentro a luz baça do conhecimento. Para te acordar,
perguntei que relação podia haver entre a vida
e o poema. A dúvida não era possível: com efeito, para
os teóricos, a poesia é pura imitação, e nada
do que está nas palavras tem a ver com a matéria sensível,
com o real, com tudo aquilo que nos rodeia. Mas
a tua resposta foi o contrário do que eles dizem,
como se vida e poesia participassem da mesma
natureza. Devia ter corrigido. São as certezas científicas
que fazem avançar o mundo, e não os erros em
que continuamos a insistir. Sim, dir-te-ia, é
dessa oposição entre a vida e o poema, dessa realidade
absoluta da linguagem, construída contra os nossos
hábitos, os lugares comuns do quotidiano, a
banalidade dos sentimentos, que a essência do estético
se pode afirmar. Mas os teus olhos demonstravam-me
o contrário de tudo isto. Contra o que eu próprio pensava,
cedi à sua lógica. Contra o amor, até as leis da poética
são absurdas.

(Nuno Júdice)

Fonte: Mundo Pessoa.  O blogue da Casa Fernando Pessoa com notícias de poesia e literatura.

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

O que é a amizade?...

                                                                                                      Imagem Bing
O artigo sobre Amizade não é aula de gramática, mas uma reflexão para um mundo melhor, ao trazer assunto valioso. Algumas pessoas banalizam e acreditam tratar-se de interesses pessoais, oportunidades, proveitos próprios. Mas amizade é um bem que enriquece e enobrece quem a tem e aquela pessoa que sabe ser amiga. A amizade é uma das mais belas virtudes. Infelizmente, tanta gente desconhece e a deixa passar na vida “em brancas nuvens”.

Segundo os dicionaristas, amigo é aquele “que quer bem, quem tem amizade”. Talvez ainda seja vago, mas procurando o significado da palavra amizade, encontram-se como sinônimos, entre outros, os termos afeição, amor, boas relações, dedicação, benevolência. Em latim, amizade significa amicus>amigo, que possivelmente se derivou de amoré>amar, ainda que se diga também que a palavra provém do grego e seja uma relação afetiva, em princípio, sem características romântico-sexuais. Um sentimento fiel de afeição, simpatia, estima ou ternura entre pessoas. É entendimento, fraternidade e bondade.

Sabe-se ser a amizade uma realidade presente na vida concreta de todos os seres humanos, ao longo da vida. Desde o início da história escrita há disso testemunhos. E como a realidade é, certamente, mais antiga que os primeiros relatos, a amizade, antes de ser contada e explicada, é um fato que os humanos vivem. Ela é algo próprio do ser, pertence à natureza humana, enquanto ser social criado para amar.

A amizade é uma gota mitigada no deserto; uma ponte colocada no abismo; um porto avistado na tormenta; a alvorada de uma noite mal dormida; uma trilha orientando a chegada; um retorno consolando a saudade; um sinal de Deus entre as pessoas. Por isso tudo a amizade é a coisa mais difícil do mundo de se explicar. Não é uma coisa que se aprende na escola. Mas, se uma pessoa não aprendeu o significado da amizade, a pessoa realmente não aprendeu nada na vida.

Amizade é aquilo que a gente não precisa cobrar, é algo que surge a partir da confiança, e quando se fortalece, nem mesmo o tempo e a distância pode derrotar. Amizade é o gesto de doar sem esperar nada em troca. É a união da lealdade com o companheirismo, um pouco de segurança. Durante as tempestades, um abrigo sempre pronto a acolher. É a mão sempre pronta a se estender. O ouvido em que se possa desabafar. É aceitar os defeitos e exaltar as virtudes. É ouro dos sábios que o dinheiro não pode comprar. O que é a amizade:

- É algo capaz de amenizar a dor e levar a um coração triste e amargurado um pouco de luz e calor.

- Estar sempre presente nos momentos felizes e nas horas difíceis da vida. É o descendente mais nobre da família do amor.

Difícil dizer alguma coisa sobre algo tão maravilhoso que se vive, se sente e se experimenta; pô-lo em palavras é quase impossível. Só se aprende mesmo o que é amizade vivendo. Amizade significa criar laços. É uma fonte que não retém a água para si (seria poço se o fizesse), mas a dá espontaneamente.

A amizade tem uma linguagem que só se compreende com o coração. É por isso que a amizade resulta numa compreensão grande entre pessoas, porque as palavras de gratidão são ditas com gestos de coração para coração. A glória da amizade não é a mão estendida, nem o sorriso carinhoso, nem mesmo a delícia da companhia. É a inspiração espiritual que vem quando a gente descobre que alguém acredita e confia em nossa pessoa. Isso é sublime!

Amigos não são pessoas que passam por nossa vida e se tornam um fato, mas sim aquelas que permanecem eternamente no coração, na saudade, no cotidiano da lembrança. Por tudo que é a vida e a amizade, é sábio reservar tempo para rir, é esta a música da alma; reservar tempo para ler, é esta a base da sabedoria; reservar tempo para pensar, é esta a fonte do poder; reservar tempo para trabalhar, é este o preço do êxito; reservar tempo para divertir-se, é este o segredo da juventude eterna; reservar tempo para ser amigo, é este o caminho da felicidade; reservar tempo para sonhar, é este o meio de ligar a uma estrela o carro em que se viaja na Terra; reservar tempo para amar e ser amado, é este o privilégio dos deuses; reservar tempo para ser útil aos outros, esta vida é demasiada curta para que sejamos egoístas.

Sabe-se ser a amizade indispensável ao bom funcionamento da memória e para a integridade do próprio eu. A amizade é um aroma que perfuma a vida, uma suavidade que a encanta, uma lembrança que a embeleza. A amizade é uma virtude que muitos sabem que existe, alguns descobrem, mas poucos reconhecem.

Finalmente, fruto do hábito e da vontade, a amizade, segundo Aristóteles - que a eleva à categoria de virtude - é uma disposição permanente que decorre de uma escolha livre e recíproca. Além disso, o outro é amado por ele próprio e não por um cálculo mais ou menos egoísta: Aris-tóteles desqualifica as amizades estabelecidas com base na utilidade ou simples prazer. Esta concepção muito forte da amizade encontra-se em Montaigne: “Na verdadeira amizade, diz ele, dou-me ao meu amigo mais do que dele quero para mim”. Sob esta forma, a amizade é considerada, desde a Antiguidade, como a própria expressão da felicidade.


Por: Luísa Galvão Lessa – É Pós-Doutora em Lexicologia e Lexicografia pela Université de Montreal, Canadá. Doutora em Língua Portuguesa pela Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ. Pesquisadora Sênio da CAPES.

Fonte: Gazetadoacre.com

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Yin e Yang: o equilíbrio do movimento...

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A tradição do Tao vê a história como um jogo dialético e complementar de dois princípios: yin e yang, forças subjacentes a todos os fenômenos humanos e cósmicos. Procurando luzes para entender e sair da crise global talvez este olhar holístico dos sábios orientais nos possa inspirar.

A figura de referência para representar estes dois princípios é a montanha. O lado norte, coberto pela sombra, é o yin, que em chinês quer dizer sombreamento e corresponde à dimensão Terra. Ele se expressa pelas qualidades da anima, do feminino nos homens e nas mulheres: o cuidado, a ternura, a acolhida, a cooperação, a intuição e a sensibilidade pelos mistérios da vida.

O yang significa a luminosidade do lado sul e corresponde à dimensão Céu. Ele ganha corpo no animus, as qualidades masculinas no homem e na mulher como o trabalho, a competição, o uso da força, a objetivação do mundo, a análise e a racionalidade discursiva e técnica.

A sabedoria milenar do Taoísmo ensina que estas duas forças devem ser balanceadas para que o caminhar das coisas se faça de forma, a um tempo, dinâmica e harmônica. Pode ocorrer que uma predomine sobre a outra, mas importa buscar, o tempo todo, o equilíbrio difícil entre elas.

O yin e o yang remetem a uma energia mais originária, um círculo que contem a ambos: o Shi. O Shi é a energia cósmica que tudo sustenta, penetra e move A teologia yorubá e nagô, tão presentes na Bahia, ensina que essa energia é o Axé universal, com as mesmas funções do Shi. Os cristãos falam do Spiritus Creator, ou do Sopro cósmico, que enche e dinamiza toda a criação. Os modernos cosmólogos se referem à constante cosmológica que é Energia de fundo que produziu aquele minúsculo ponto que se inflacionou e depois explodiu – big bang – dando origem ao nosso universo. Após esta incomensurável explosão a Energia de fundo se desdobrou nas quatro forças fundamentais que atuam sempre juntas e que subjazem a todos os eventos – a energia gravitacional, eletromagnética, nuclear fraca e forte – para as quais não existe, na verdade, nenhuma teoria explicativa.

Nossa cultura ocidental, hoje globalizada, rompeu esta visão integradora e dinâmica. Ela enfatizou tanto o yang que tornou anêmico o yin. Por isso, permitiu que o racional recalcasse o emocional, que a ciência se inimizasse com a espiritualidade, que o poder negasse o carisma, que a concorrência prevalecesse sobre a cooperação e a exploração da natureza descurasse o cuidado e o respeito devidos. Este desequilíbrio originou o antropocentrismo, o patriarcalismo, a pobreza espiritual, a cultura materialista e predadora e a atual crise ecológica global.

Somente com a integração da força do yin, da anima, da logique du coeur (Pascal), do mundo dos valores, corrigindo a exacerbação do yang, do animus, do espírito de dominação, podemos proceder às correções necessárias e dar um novo rumo ao nosso projeto planetário.

Na tradição do cânon ocidental expressamos o mesmo fenômeno do yin e do yang referindo-nos a duas figuras mitológicas: Apolo e Dionísio.

A dimensão Apolo está no lugar da ordem, da razão, da disciplina, numa palavra da lei do dia sob a qual se rege a sociedade organizada. A dimensão Dionísio representa a liberdade face às leis, a coragem de violar interditos, a exaltação da alegria de viver e a inauguração do novo, numa palavra, a lei da noite, que é o momento em que as censuras caem e tudo fica gris e indefinido.

Atualmente vivemos uma conjuntura toda particular, marcada pelo excesso. Perdemos a coexistência do yin com o yang, de Apolo com Dionísio. Se não encontrarmos um ponto de equilíbrio tudo pode acontecer, até um flagelo antropológico. Precisamos de uma loucura sábia que possibilite uma nova síntese entre esses dois pólos para reinventar um novo caminho que nos garanta o futuro.

Por: Leonardo Boff

Fonte Dom Total

Os filósofos e a crise

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Curiosamente, não são poucos os analistas, que vêem a crise atual para além de suas várias expressões (energética, alimentaria, climática, econômico-financeira) como uma crise da ética. A começar pela escassez do crêdito. Crêdito vem do latim credere que significa ter fé e confiança. Essa é uma atitude ética. Ninguém mais confia nos bancos, nas bolsas, nas medidas convencionais. A economia precisa de créditos para funcionar, quer dizer, as instituições e as pessoas precisam de meios nos quais possam confiar e que não sejam vítimas dos Madorffs que pecaram contra a confiança.

Mesmo que a crise demande um novo paradigma para ser sustentável a longo prazo, é urgente encontrar medidas imediatas para que todo o sistema não sossobre, levando tudo de roldão. Seria irresponsabilidade não tomar medidas ainda dentro do sistema, mesmo sem uma solução definitiva.

Vejo dois valores éticos fundamentais que devem estar presentes para que a situação encontre um equilíbrio aceitável. Dois filósofos alemães nos podem iluminar: Immanuel Kant (+1804) e Martin Buber (+1965). O primeiro se refere à boa-vontade incondicional e o segundo à importância da cooperação.

Diz Kant em sua Fundamentação para uma metafísica dos costumes (1785): “Não existe nada em nenhum lugar do mundo nem fora dele que possa ser considerado irrestritamente bom senão a boa vontade”. Que ele quer dizer com isso? A boa vontade é a única atitude que, por sua natureza, é somente boa e à qual não cabe nenhuma restrição. Ou a boa vontade é boa ou não há boa vontade. Ela é o pressuposto primeiro de toda ética. Se alguém desconfiar de tudo, se colocar tudo em dúvida, se não confiar mais em ninguém, não há como estabelecer uma base comum que permita a convivência entre os humanos.

Vale dizer: quando os G-7 e os G-20, a Comunidade Européia, o Mercosul, o BRIC e as articulações políticas, sindicais, sociais (penso no MST e na Via Campesina e outras) se encontrarem para pensar saídas para crise, deve-se pressupor em todos a boa vontade. Se alguém vai para a reunião para só garantir o seu, sem pensar no todo, acaba nem mais podendo garantir o seu, dado o entrelaçamento existente hoje de tudo com tudo. Repito uma velha metáfora: desta vez não há uma arca de Noé que salva alguns. Ou nos salvamos todos ou pereceremos todos.

Então, a boa-vontade, como valor universal, deve ser cobrada de todos. Caso contrario, não há como salvaguardar as condições ecológicas da reprodução da vida e assegurar razões para vivermos juntos. Na verdade, vivemos num estado de permanente guerra civil mundial. Com a boa vonade de todos podemos alcançar uma paz possível.

Não menos significativa é a contribuição do filósofo judeu-alemão Martin Buber. Em seu livro Eu-Tu de 1923 mostra a estrutura dialogal de toda existência humana pessoal e social. É a partir do tu que o eu se constitui. O “nós” surge pela interação do eu e do tu na medida em que reforçam o diálogo entre si e se abrem a todos os demais outros, até ao totalmente Outro.

Paradigmática é esta sua afirmação: “se vivermos um ao lado do outro (nebeneinander) e não um junto com o outro (miteinander), acabaremos ficando um contra o outro (gegeneinander).

Isso se aplica à situação atual. Nenhum pais pode tomar medidas político-econômicas ao lado dos outros, sem estar junto com os outros. Acabará ficando contra os outros. Ou todos colaboram para uma solução includente ou não haverá solução para ninguém. A crise se aprofundará e acabará em tragédia coletiva. O protecionismo é o maior risco porque provoca conflitos e, em último termo, a guerra. Não poderá ser mundial porque ai sim seria o fim da espécie humana, só regional, mas devastadora. A crise de 1929, mal digerida, ocasionou o nazifacismo e a eclosão da segunda guerra mundial. Não podemos repetir semelhante tragédia.
 
Por: Leonardo Boff
 
Fonte: Dom Total

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

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Homem e Sociedade de Controle: a Marca dos Números...

                                                                                                    Imagem Bing
A única certeza de que o homem tem na vida, em qualquer tempo, é a de mudança. À medida que passa o tempo fica mais intensos os debates e as preocupações sobre o Futuro, cujas surpresas podem ser ainda maiores que as do Passado recente, por isso que o pensamento da humanidade vêm mudando por diversos motivos irreversíveis. A consciência global liberta o Homem de dogmas anteriores, levando-o, pois, à preferência pela imagem ao objeto, da cópia ao original, do simulacro ao real, desde à perspectiva renascentista, até a televisão que pega o fato ao vivo... A cultura ocidental vem sendo uma corrida em busca do Simulacro no afã de substituir à realidade que não oferece o vislumbrar de um futuro seguro, o homem vive, como diz Balandier em O Contorno, sob “o paradoxo que parece ser a única forma de qualquer coisa. A única forma da condição imposta a todo ser. O saber cientifico acelera seus avanços nos domínio da complexidade, recorrendo a tecnologia de inteligência crescente. Vai mais fundo e ,mais longe, junto conjuga-se à técnica e juntos não cessam de surpreender e revolucionar a produção humana” (p. 08)...

O momento atual é o de simular por imagens como na TV, que dá o mundo em acontecimentos, apagando as diferenças entre o real e o imaginário; ser e aparência. Fica apenas o simulacro passando por real. Mas o simulacro que intensifica o real: fabrica um hiper-real espetacular, um real mais colorido e interessante que a própria realidade, tornando o homem o escravo das flutuações da ciência: “Mas esta ciência vencedora tem menos segurança, menos certeza que a antiga; não ousa mais afirmar que o universo já não tem mais mistério. Admite que suas construções do real sejam revogáveis e que a antiga seus efeitos possam ser perversos (...) As técnicas da comunicação, material e imaterial, encolhem o espaço; uma porque extinguem a distancia através da velocidade outra porque se equipam de maquinas que realizam transferência – de palavras, textos, imagens, agora de trabalho – sem movimentar pessoas.” (Balandier, 09)...

Assim surge a cada instante a necessidade de se adquirir uma nova linguagem para que o sujeito estilhaçado da atualidade não passe a representar mais, e sim a vivenciar livremente a realidade de acordo com a particularidade de cada espaço. “As diversas telas, que se liga à distância e, imediatamente, multiplicam o encontro ao infinito, desmaterializando, o espaço já não é mais obstáculo, mas alguma coisa desaparece nesses buracos negros que se tornam os lugares onde nada fica e onde as pessoas estão sempre separadas. Agora que e a era visual estar estabelecida, que a exploração óptica pode degradar em inquisição panoptica, que as imagens proliferam, tudo parece estar progressivamente em estado de transparência; para o melhor (o conhecimento) e para o pior (o controle)” (BALANDIER, p. 9 ).

Foi com a sociedade industrial incorporando o design do novo nas artes gráficas, nos costumes na estética, nas ciências: o verdadeiro culto à moda que o poder criativo do novo se esgota. Quanto à subjetivação do sujeito fica entregue a própria realidade que na falta de sustância dilui-se na extrema diferenciação que as pessoas procuram através da moda ou o padrão pré-estabelicido, personalizando-se pela aparência levando ao narcisismo, à extravagância; ou então na busca de modelos exóticos que ora pode representar o passado. Sublimando as palavras que falam do presente como verdadeiras senhas para invocar os fantasmas da pós modernidade: chip, saturação, sedução, niilismo, simulacro, hiper-real, virtual, digital. “São as sociedades de controle que estão substituindo as sociedades disciplinares, controle é o nome que Burroughs propõe para designar o novo monstro, e que Foucault reconhece como nosso futuro próximo. Paul Virilio também analisa sem parar as formas ultra-rápidas de controle ao ar livre, que substituem as antigas disciplinas que operavam na duração de um sistema fechado.” (Conversações de Deleuze p. 220)

O Sujeito atual desfaz princípios, regras, valores, práticas. Cria e recria a realidade através da des-referenciação do real e da des-substanciação da subjetividade, motivadas pela saturação do cotidiano, pelos signos, o momento é do ecletismo, a própria mistura das várias tendências e estilos de vidas sob o mesmo nome. Mas que não se forma uma unidade; é aberto, plural e muda de aspecto se passado da tecnociência para as artes, da sociedade para a filosofia: são flutuações que constitui a atualidade de acordo com o trecho de Conversações “Nas sociedades de controle, ao contrário, o essencial não é mais uma assinatura e nem um número, mas uma cifra: a cifra uma senha, ao passo que as sociedades disciplinares são reguladoras por palavras de ordem. “ (Deleuze, 222)

É contra o cientificismo e o hermetismo no Poder do Passado que emerge um outro olhar sobre o homem, convertido na anti sociedade, ele sai do interior das fábricas, das igrejas, dos partidos, das escolas e de suas famílias: sai do silêncio de seu passado para a construção de sua própria história, assim com a arte: ele sai dos museus, das galerias e dos teatros e vão às ruas; a História também é lançada nas ruas com outra linguagem, assimilável ao seu grande público (na historicidade), assim o homem da sociedade de controle, para fugir das senhas numéricas, junto-se à arte de viver para agora trilhar seu próprio caminho no devir. O cotidiano ganha seu valor artístico, tanto a iteratura como as ciências buscam a fusão da arte com a vida...

Na sociedade de controle o homem nem representa nem interpreta: apresenta a vida diretamente aos seus objetivos, pois ele intervém sobre a realidade para modificá-la, desorganizá-la de modo criativo e inventivo com o valor supremo e eterno da arte, pois “Os diferentes internatos ou meios de confinamento pelos quais passa o indivíduo são variáveis independentes: supõe-se que cada vez ele recomece do zero, e a linguagem comum a todos esses meios existe, mas é analógica(...) Nas sociedades de disciplina não se parava de recomeçar (da Escola à caserna à fábrica), enquanto nas sociedades de controle nunca se termina nada, a empresa, a formação, o serviço sendo os estados meta estáveis e coexistentes de uma modulação ” (Deleuze, 221,222), é assim que na Sociedade Disciplinar os princípios não são bem claros, definidos e as modificações se manifestam através de escândalos...

Enquanto que a sociedade de controle, as idéias representadas, não são apriore bem definidas, não há idéias de movimentos evolutivos e sim umas misturas de estilos de pensamento, onde o movimento se constitui através das diferenças, no equilíbrio da desordem, é o próprio principio da transgressão das fronteiras... em alguns setores como na política e ideologia se apresenta um certo niilismo: a vitória do político não depende das idéias do partido, pois o partido não representa o povo; e a família não é concebida como o centro da existência individualistas; a religião é mais personalizada, os indivíduos procuram rituais menos coletivos; na empresa o trabalhador não tem utopias, sabe que sempre estará submetido a um sistema (socialista ou capitalista) onde ele (o trabalhador) não existe.

A sociedade se caracteriza pelo domínio da tecnociência aplicada aos serviços de informação, comunicação e à vida cotidiana, num ambiente de constante show de estímulos desconexos, onde o design, a moda da publicidade, os meios de comunicação fundamentam o neo-indivíduo no pluralismo e na rapidez dos acontecimentos que dão à condição imprecisa do homem se representar a si mesmo no mundo em que vive, assim diante das dificuldades de sentir e apresentar a realidade, a imaginação e a inteligência criativa declinam... sem uma identidade definida não se distingue do verdadeiro diante das combinações do ecletismo, não pode se isolar nem entrar na ordem, representa o limite da fronteira da condição pós-humana... sem identidade, hierarquias e no chão tudo se mistura, o Homem contemporâneo é isto e aquilo num presente aberto para o Devir.

A tecnociência avança, maravilhosamente, programando tudo, mas sem rumo, o homem sem seguir uma identidade vive a vida justapondo lado à lado suas vivências... Vivências às vezes pequenas e fragmentadas, porque não crê mais nos valores maiúsculos do tipo Deus, Pátria, Revolução, Trabalho, mas vive a pátria na micriologia do cotidiano flutuando no indecidível (inexcedível). Não há o que decidir...

Solitário o homem é o começo de uma nova condição pós-humana: ele o demônio terminal, destruidor e o anjo anunciador na condição humana que não ver a vida como um problema a ser resolvido, mas uma séries de experiências para se construir o futuro infinito nas pequenas aberturas que o mundo permitir, pois são nas experiências que o Homem descobre e purifica as inspirações que lhe tiram do vazio que determina a dimensão da eternidade. Assim, como eu tentei expressar nos versos abaixo (a segui), o homem também vive:
Em Busca do Passado
Na moral e no útil
Nas palavras guardando sentido
No desejo da direção
Na ideia e na lógica

No Mundo Dito e Desejado
O Homem conheceu:

A invasão e o ladrão
A luta e as guerras
As rapinas e a astúcia
Os disfarces e as máscaras

Assim:
O Homem perdeu a direção

Na Tradição busca
Um Novo Rumo
Ao Ser em Fragmentação...

*Trabalho apresentado (em 2001) ao Prof. Dr. Edgar em Poder, Estado e Fronteira - na PUC-SP!...

Bibliografia Inspiradoras:

BALANDIER, Georges. O Contorno: Poder e Modernidade. Editora Betrand Brasil, Rio de Janeiro, 1997.
... O Dédalo: Para Finalizar o Século XX. Editora Betrand Brasil. Rio de Janeiro, 1997.
... A Desordem: Elogio do Movimento. Editora Betrand Brasil. Rio de Janeiro, 1997.
... O Poder em Cena. Editora Universidade de Brasília. Brasília, 1982.
DELEUZE, Gilles. Conversações. Editora 34, Rio de Janeiro. 3ª Reimpressão, 2000.

sábado, 12 de fevereiro de 2011

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Adieu Mon Pays...

Os Dias de Glória...

Envelheces tanto de cada vez que o dia termina
e olhas para trás. Tens medo do começo do fim,
das tardes de domingo; um dia, distraído, tens medo
do sexo, da amabilidade e da noite, e dos rostos
que foram belos – e não são mais. Envelheces muito
quando o mundo contraria as pequenas coisas,
sentes esse cansaço, nada a fazer.
Mesmo da poesia, que iluminava o tempo, vais
colhendo apenas a amargura; os outros procuram nela
sinais de um destino, datas curiosas, zangas, ventanias,
armadilhas, mas tu sabes – e só tu sabes –
que a tua vida é a tua vida e que o poema
é empurrado por outro sopro, por um reflexo,
um medo brutal, pela memória dos que morreram
e levaram uma parte de ti, um pouco do que havia
de comum entre ti e a vida, esse desperdício – às vezes –,
esses momentos de glória em dias felizes.
Envelheces com os ossos que envelhecem. Envelheces
sem querer. Por ti serias eternamente jovem, adolescente,
e percorrerias as estradas das serras, as florestas,
não para viveres sempre, mas para estares vivo
mais um instante, porque o espectáculo é belo
uma vez por outra. Envelheces pouco a pouco,
porque as coisas não são o que foram nem são o que são.
 
Terça-feira, 22.12.09
Fonte: Origem das Espécies

domingo, 6 de fevereiro de 2011

Guerra Irregular...

Ao longo do tempo, as guerras sofreram transformações e já não são mais as mesmas. Em vez da confrontação militar formal, o mundo vem assistindo a uma série de guerras irregulares, como terrorismo, guerrilha, insurreição, movimentos de resistência e conflitos assimétricos em geral.

Neste livro, o autor, Alessandro Visacro, oferece ao leitor um panorama dos movimentos que alimentam as guerras, mostra quais os grupos que obtiveram sucesso em suas lutas particulares, assim como os métodos utilizados pelos Estados que derrotaram ou estão conseguindo combater esses movimentos.

Obra analisa grupos como, por exemplo, o IRA, da Irlanda, e o ETA, da Espanha. Além desses, também aborda a situação de conflitos em Cuba, na China, Argélia e Afeganistão, na Colômbia e Brasil, onde, segundo o autor, já se trava uma verdadeira guerra irregular, em que o Estado está ameaçado. O conflito entre israelenses e palestinos também é analisado.

As guerras mudaram. Durante as últimas décadas, o mundo testemunhou um tipo diferente de conflito, uma série de combates sem as características militares tradicionais, como terrorismo, guerrilha, insurreição, entre outros.

O livro "Guerra Irregular", de Alessandro Visacro, mostra que essa antiga forma de luta tem sido a mais usual e a que deverá predominar no século 21. Batalhas campais, caracterizadas por duelos de artilharia, infantaria e formações blindadas, são raras.

Segundo o escritor, "desde o fim da Segunda Guerra Mundial, em 1945, ocorreram mais de 80 guerras de natureza assimétrica. 96% dos conflitos transcorridos durante a década de 1990 foram assimétricos. Um cenário onde exércitos nacionais permanentes, com orçamentos dispendiosos e moderna tecnologia, parecem ineficazes. Porquanto, rebeldes, guerrilheiros e terroristas subsistem a despeito de todos os esforços para erradicá-los."

Em entrevista à Livraria da Folha, Visacro, mesmo autor de "Lawrence da Arábia" e um estudioso do assunto, disse que a análise se estende às operações na Vila Cruzeiro e no Complexo do Alemão, no Rio.

Visacro aponta que, mesmo sem o questionamento político presente no IRA (Exército Republicano Irlandês) e no ETA (grupo separatista basco), o confronto com traficantes nos últimos dias pode ser chamado de ação de guerra não convencional.
Alessandro Visacro é oficial das Forças Especiais do Exército Brasileiro. Graduou-se pela Academia Militar das Agulhas Negras no ano de 1991. Exerceu as funções de oficial subalterno no 29º Batalhão de Infantaria Blindado (Santa Maria - RS) e no 26º Batalhão de Infantaria Paraquedista (Rio de Janeiro - RJ). Ingressou nas forças de operações especiais em 1997. Serviu no 1º Batalhão de Forças Especiais, onde foi instrutor dos cursos de ações de comandos e forças especiais. Na cidade de Manaus (AM), foi designado oficial de operações e, posteriormente, comandante da 3ª Companhia de Forças Especiais, tropa diretamente subordinada ao Comandante Militar da Amazônia.

Fonte.  Folha.com

sábado, 5 de fevereiro de 2011

Decifra-Me ou Te Devoro…

Espetáculo aborda o amor nos tempos da internet…

Elias Andreatto ataca mais uma vez: agora ele assina a direção e a cenografia de "Decifra-te ou Me Devora", peça que estreia neste sábado (5) no Miniteatro (centro paulistano) e fica em temporada até abril. Ao lado dos atores Helô Cintra e João Paulo Lorenzon, Andreatto também é o responsável pela dramaturgia do espetáculo.

Na história, um homem e uma mulher se conhecem pela internet e buscam descobrir todos os segredos um do outro. A encenação trata do amor nos tempos da "perfeição" proposta pela virtualidade e possibilidades da internet. Completam a ficha técnica Tânia Bondezan, que assina a direção de movimento, Daniel Maia, que criou a música, Laura Huzak (figurino) e Marcelo Lazzaratto (iluminação).  

Fonte: Folha.com

A Luz da Felicidade...

                                     Imagem de Eugenio Recuenco
Às vezes sinto o coração 
Batendo forte a dizer
Que tudo agora vai mudar
Mas vem a emoção
E diz-me
Que tudo vai voltar
Ao mesmo lugar  
São os pensamentos
Arremessados  
Pelos tormentos
Dos Sentimentos
Para lá 
E para cá
Vem a esperança 
A tristeza então sorri
Foi a porta do Amor
Que se abriu
Assim eu vi
Brilhar
A Tua Luz..

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Lendas...

A exuberância da Amazônia permeia a imaginação no mundo inteiro e exerce forte fascínio sobre todos, provocando cobiça internacional desde que o navegador espanhol Vicente Yáñez Pinzón visitou o estuário do Rio Amazonas, em 1500, por ele chamado Santa Maria de la Mar Dulce. Quarenta anos depois, outro castelhano, Francisco de Orellana, desceu esse majestoso rio até o Oceano Atlântico, atravessando a mais misteriosa floresta já conhecida pelos europeus, vivenciando um embate histórico com um grupo de índios aguerridos de cabelos longos, que julgou ser as legendárias Amazonas da Capadócia. Esse episódio épico não apenas chamou a atenção do mundo civilizado para a terra recém-descoberta, como determinou a derivação do nome desta região, estendido para o rio que a corta e para a floresta que a envolve.

A Região Amazônica voltou a ser foco das atenções do Velho Mundo com a divulgação da lenda do Eldorado, uma cidade onde existiam prédios feitos de ouro maciço, ruas cravejadas de pedras preciosas e tesouros inimagináveis. A lenda era antiga, contada pelos índios aos espanhóis na época da conquista do Peru (1524-1538), dando conta de uma grande cidade dourada próxima à nascente do Rio Caroni (Venezuela), o que provocou cobiça, atraindo aventureiros e corsários para o Novo Mundo. O inglês Sir Walter Raleigh foi um deles, que logo saiu na busca da legendária Manoa (1595), cidade por ele descrita à Coroa inglesa. Em 1616, o explorador britânico fez uma segunda expedição à Venezuela em busca do sonhado Eldorado, que nunca encontrou, a não ser o Rio Orenoco, o Salto Angel (Parekupa-meru) e a região do Parima, no atual Estado de Roraima.

A lenda del hombre dorado também contaminou a ambição de Pedro de Alvarado, Diogo D´Almagro, Diogo Ordaz e do alemão Federman, que em vão se lançaram de corpo e alma em busca de Manoa. Esse fascínio redobrou com a descoberta das ricas minas de prata de Potosi (1545), em território boliviano, que garantiu 15 anos de produção anual média de 266 toneladas do minério aos espanhóis. Voltaire falou do Eldorado em sua obra Cândido, como 100 anos antes (1667) o poeta inglês John Milton também o fizera no antológico Paraíso Perdido. O mito do Eldorado só começou a sair do campo do imaginário quando o pesquisador Roland Stevenson, autor do livro Uma Luz nos Mistérios Amazônicos (Manaus, 1994), apresentou argumentos da existência de um extinto caminho pré-colombiano para o lago do El Dorado, Manoa ou Parime, identificado por ele em um lavrado próximo a Boa Vista, Roraima.

Histórias fantásticas sobre a região acompanham os relatos de frei Gaspar de Carvajal, o primeiro cronista da Amazônia (1542), que não mediu palavras para elogiar as riquezas e belezas encontradas na viagem rio-abaixo de Orellana, assim como Cristobal de Acuña (1641), escriba da expedição de Pedro Teixeira a Quito, no Equador (1636-1638), viagem inversa do trajeto feito por Orellana no século anterior, além de Ivo d’Evreux e Alonso de Rojas que falaram em “campos que parecem paraísos e suas ilhas jardins...”, ao se referir ao Rio das Amazonas. As maravilhas relatadas motivaram os portugueses para a conquista da região do Rio Negro, no século XVII, cujas primeiras penetrações iniciaram em 1645, com Bartolomeu Barreiros de Ataíde, que trazia ordem expressa do então governador do Maranhão e Grão-Pará, Luiz Magalhães, para descobrir o legendário Rio do Ouro, pretensamente existente nesse território.

Com o mesmo fascínio que contagiou os escribas históricos da colonização regional, famosos cientistas e literatos do naipe de Alexandre von Humboldt, Carlos Maria de La Condamine, Von Martius, J. B. Spix, Jacques Huber, Theodor Koch-Grünberg e tantas outras personalidades se envolveram com a magia dessa exuberante terra cheia de contradições e maravilhas, divididas entre os conceitos de inferno e paraíso verde, tão bem registrados por Euclides da Cunha (Um Paraíso Perdido – Ensaios Amazônicos) e por outros ilustres visitantes. Charles Fredricks (1844), Felipe Augusto Fidanza (1870), George Huebner (1862-1935) e Silvino Santos (1886-1970) foram os primeiros fotógrafos que materializaram a exuberância regional por meio de imagens que ganharam movimento e cor com Jacques Cousteau e outros agentes da sétima-arte.  

Mas foi o seu superlativo natural o mote principal da atração para a região, em especial o seu grande manancial de lendas, o tempero cultural que deu mais encanto à vastidão de floresta, rios e biodiversidade da Amazônia, algumas genuínas devido a pouca influência estrangeira, outras vindas de fora, mas incorporadas pelo dinamismo cultural do folclore regional. Todas elas igualmente belas e inspiradas na imensidão das matas virgens, onde o índio justifica o misterioso e o inexplicável através do imaginário, lendas essas que ainda permanecem vivas até hoje e permeiam o mesmo habitat, situações e fenômenos em que as gerações presentes receberam dos primitivos habitantes da região, mesclados entre a realidade e a fantasia. A própria existência do Rio Amazonas, o grande e misterioso caudal da região é explicada pelo enredo de um idílio proibido entre a Lua e o Sol.

Nascido na Cordilheira dos Andes, descendo entre misteriosas regiões semeadas de florestas, o Rio Amazonas, que ao longo de seu curso recebe os nomes Tunguragua, Marañon, Apurímac e Solimões, morada da Iara e da Cobra Grande, berço da Vitória Régia, leito onde o boto seduz as cunhãs, rio que invade o mar quilômetros adentro e o enfrenta com pororocas bravias. Esse manancial de águas não surgiu do acaso, mas do grande amor que se tornou impossível para que o mundo sobrevivesse e fizesse nascer o rio mais caudaloso da Terra, o maior em extensão, formado pela bacia hidrográfica mais volumosa do planeta, ultrapassando os sete milhões de quilômetros quadrados, grande parte ocupada por selva tropical.

Conta a lenda que a Lua vestia-se de prata e o Sol de ouro, sendo eles donos da noite e do dia, respectivamente. Apesar do amor ardente entre ambos, o mundo acabaria se os dois se unissem em casamento, pois o Sol queimaria a terra e nem mesmo o choro triste da Lua apagaria suas chamas. Mesmo apaixonados um pelo outro, eles se separaram, obviamente tristes. A Lua não poderia se casar com o Sol porque também amava a Terra e não queria vê-la arder, pois sabia que nem chorando dilúvios de lágrimas conseguiria apagar o fogo do Sol, que as evaporaria antes de chegar ao chão.

Desesperada, a Lua preferiu salvar o mundo e separou-se do amado astro-rei, chorando de saudades durante todo um dia e toda uma noite. Suas lágrimas escorreram pelos morros sem fim até chegar ao Oceano Atlântico, mas este embraveceu-se ao receber tanta água, não permitindo que elas se misturassem com as dele. Algo inusitado então aconteceu, tão estranho quanto fenomenal: as lágrimas da Lua escavaram um imenso vale entre serras que se levantaram entre os planaltos Central e das Guianas, barrado pela Cordilheira dos Andes, fazendo aparecer um imenso rio que mais tarde se chamou Amazonas, o rio-mar de Vicente Yáñez Pinzón, cujo nome deriva da lenda das pretensas mulheres guerreiras da mitologia grega, que a expedição de Orellana acreditou combater em 1540.

O amor também faz parte da lenda dessas supostas Amazonas caboclas, chamadas pelos indígenas de Icamiabas (mulheres sem marido), que também se prendem ao Muiraquitã, amuleto encantado feito geralmente de pedrinhas verdes em forma de sapo, que tem o poder de fazer feliz para sempre aquele que o possuir. A existência do poderoso talismã vem das lendárias noites de amor que as Icamiabas concediam uma vez por ano aos índios Guacaris, em grandes festejos, escolhidos para a propagação da raça de mulheres. Se dessa união nascesse um filho homem, esse seria logo sacrificado. A lenda mais comum sobre os verdadeiros Muiraquitãs diz que eles são filhos da Lua, retirados do fundo de um imaginário lago denominado Espelho da Lua (Iaci-uaruá), na proximidade das nascentes do Rio Nhamundá, perto do qual habitavam as índias Icamiabas.

Para os povos primitivos tudo na natureza tinha uma razão de ser, nada estava ao léu, em especial os astros celestes, que eram consagrados. Os índios adoravam a lua, considerado o astro mais belo no céu e o maior objeto de desejo na Terra, ao qual era atribuído poderes de cuidar de todos os vegetais e dar amor e felicidade eterna. Certo dia, uma bela índia chamada Naiá, encantada com todas essas histórias, sonhava que a Lua escolhia as moças mais bonitas das tribos para transformá-las em estrelas que brilhariam para sempre no céu. Tal qual as demais cunhãs, Naiá também desejava ser escolhida pela Lua e se tornar uma estrela no céu. Todas as noites, em vão saía a fim de ser vista por ela. A jovem já não dormia mais, passando a noite andando nas cercanias da taba, tentando despertar a atenção do satélite terrestre. E nada...

Uma noite, porém, cansada de esperar, resolveu chegar até à Lua, o que fez durante dias e noites, com a maior obsessão. Passou então a correr atrás de Jaci, subindo os montes mais altos, percorrendo as planícies mais extensas, buscando as árvores mais esbeltas no afã de tocá-la. Tudo em vão. Desolada, debruçou-se sobre um lago para chorar, quando viu a figura da Lua refletida em suas águas límpidas, acreditando que Jaci tinha ficado com pena dela e descido do céu para buscá-la. Vendo a Lua tão perto, a índia não resistiu, jogou-se na água para tocá-la, mas o reflexo se desfez e a pobre moça morreu afogada.

Jaci, a Lua, comovida diante do sacrifício da jovem, resolveu transformá-la em uma estrela diferente daquelas que brilham no céu, uma majestosa planta chamada Vitória-régia, que passou a ser “a lua ou a estrela das águas”, como a ela se referem alguns ribeirinhos. Curiosamente, as flores dessa planta só se abrem durante a noite e tem uma flor de perfume ativo, cujas pétalas são brancas ao desabrocharem e se tornam rosadas quando os primeiros raios do Sol aparecem.

Fonte: Amazon View

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Kedma...



Maio de 1948. Alguns dias antes da criação do Estado de Israel, alguns sobreviventes dos campos de concentração viajam de navio para chegar à Palestina, onde são recebidos à bala por soldados ingleses. Cansados e famintos, eles são imigrantes que desejam chegar até um kibutz onde vivem os judeus. No caminho, ajudados por uma força militar, encontram árabes. Explode um conflito violento e trágico de proporções históricas. "Kedma" mostra um pouco de como nasceu a guerra entre palestinos e israelenses que já dura décadas.

Fonte: Folha.com