sábado, 30 de junho de 2012

Porta Entreaberta...

  
... "Quando você disse que bateu saudade, que queria me encontrar
Arrumei a casa, perfumei a cama, preparei um bom jantar
Separei um vinho, coloquei no gelo, desliguei meu celular
Fui pensando em coisas, fui armando um clima, pus um disco pra tocar

Vem... Que eu deixei de propósito a porta entreaberta
Vem... Que eu fiz tudo a seu jeito, você vai gostar
Vem... Que a paixão me desperta!
É vontade de amar
Quando você chegar

Já deixei a sala só à luz de vela, que reflete o seu olhar
Pus rosa vermelha no centro da mesa, que sensualiza o ar
Botei nossa foto do primeiro encontro na estante sobre o bar
Me ajeitei no espelho, me sentei à espera no meu canto do sofá"...

quarta-feira, 27 de junho de 2012

Somewhere Over the Rainbow: Blue birds fly...

 

Estética Indie...

Destinos que seguem sozinhos
Nas tênues cordilheiras  da vida
Em direção ao recôndito da raiz do mundo
Ao encontro da perene hostilidade

Enquanto as águas do carma
Persistem em ser...

Simplesmente:...

Palavra solta a cavalgar
 pelas brisas do Mar!...

domingo, 24 de junho de 2012

Tata San Juan...

..."Esta melodía es tradicional de los Sicuris de Cariquima Interior de la 1° región de Tarapaca en Chile, tocada en honor a su santo patrono San Juan...la letra de este tema pertenece a don Eugenio Challapa un abuelo aymara integrante de los Sikuris de Cariquima...siempre es bueno saber de las raices de algunas canciones, el arreglo de Horacio Salinas es fenomenal al igual que la interpretación del Inti IIlimani Histórico"... (Algum comentador do Youtube)

... "Suma sikur vailind aka
markar hiwasah purhtan
tata sa huanaru kongortasirih a...
Humas nayas wavanahpatan hiwasan
aka Karikima (ma) rkasaruh a...
suma ch'ahch'e turulyanahaly
churchistan tata sa huana

hiwasah suma urup loktatan ukah a...

Humas nayas taque chima (ma) khatañane

tata san huanan sikur vailipande"...

sexta-feira, 22 de junho de 2012

Despedida...

... “Já não se encantarão os meus olhos nos teus olhos,
já não se adoçará junto a ti a minha dor.

Mas para onde vá levarei o teu olhar
e para onde caminhes levarás a minha dor.

Fui teu, foste minha. O que mais? Juntos fizemos
uma curva na rota por onde o amor passou.

Fui teu, foste minha. Tu serás daquele que te ame,
daquele que corte na tua chácara o que semeei eu.

Vou-me embora. Estou triste: mas sempre estou triste.
Venho dos teus braços. Não sei para onde vou.

...Do teu coração me diz adeus uma criança.
E eu lhe digo adeus”...
(Pablo Neruda)

Ode a Lênin...

“Alguns homens foram só estudo,
livro profundo,
apaixonada ciência,
e outros homens
 tiveram como virtude da alma
 o movimento.
Lênin teve duas asas:
o movimento e a sabedoria.
Criou no pensamento,
decifrou os enigmas,
foi rompendo as máscaras
da verdade e do homem (…)”

 (Pablo Neruda)

quinta-feira, 21 de junho de 2012

Para... Sandın sen, kiralık dünyayı satılık mı?...

  
... "Okuyup yazmadan adam olmak var mı kitapta?
Kitap yazar mı?
Sandın sen, kiralık dünyayı satılık mı?

Dünyada kim kime kimden kime ne ne kaldı?
Gidenler, kalanlara nelerini bıraktı?
Dünün sultan-ı sultanlarının bugün topraklarda kemikleri kaldı.
Dünya'da kim kime, kimden kime ne, ne kaldı?

Para kime, kime para, para kime kaldı?
Gözümün yaşı durmadı, sel oldu, hep aktı.
Allahım bu ne büyük ayıp özgür doğan insan yerini köleliğe mi bıraktı?
Yerini köleliğe mi bıraktı?

Allahım bu ne büyük ayıp?
Olur mu böyle büyük ayıp?
Madenciler aç gezerken, madenlerin hepsi kayıp.

Ferhat'ın Şirin'i gibi biri,
Bu dünyada yok ki,
Onun eşi, bir benzeri, bir benzeri onun eşi...

Para kime, kime para, para kime kaldı?
Gözümün yaşı durmadı, sel oldu hep aktı.
Dünün sultan-ı sultanlarının bugün topraklarda kemikleri kaldı.
Dünyada kim kimden kime ne ne kaldı?

Dünya'da kim kime, kimden kime ne ne kaldı?
Gidenler, kalanlara nelerini bıraktı?
Allahım bu ne büyük ayıp,
Özgür doğan insan yerini köleliğe mi bıraktı?
Yerini köleliğe mi bıraktı?"...

Por Uma Ética na Linguagem Política III: Poder e Falta de Consciência... ...

Deixarei a noção de consciência, de acordo com Antonio Damásio, para o momento de conclusão... Mas continuarei sobre nossas dificuldades de decisão, atitude e a formação do pensamento perante a falta dela; sendo esta ausência, consequentemente,  o instrumento ideal de manipulação do poder, porque diante  desta ausência é imposto a forma que  refletimos em  nossas escolhas e percepções no que tange às diferenças... Pois, o sentimento de tropeços na história da civilização moderna deixou sua marca no jeito de percebermos a realidade envolta, onde o resultado é uma lesão cerebral chamada por vários nomes: preconceito, discriminação, racismo, superstição ou até mesmo um falso sentimento do conhecimento o qual formam os conceitos ideológicos... Porquanto o poder da razão humana, no processo civilizatório,  significou liberar o indivíduo  de todos estes preceitos, no entanto em nome de um sistema inoperante: possessivo e opressivo... Assim, quando a razão adormece o implícito emerge; aí surge a total dificuldade de compreensão das diferenças, prevalecendo os estigmas que moldam as mentalidades individuais e sociais...

Diante de tudo anteriormente mencionado, cheguei a pensar que já é tempo dos políticos, intelectuais e todos profissionais formadores de opinião (inclusive religiosos e educadores) racionalizarem mais suas ações discursivas ou linguagem escrita, pois é bastante explícito em suas atitudes (faladas e escritas): as suas falsas consciências, que impõem falsos ideais, logo isto leva à sérias consequências, causadoras de violência social e humana... Acredito também: o que pode levar os indivíduos a atitudes violentas sem o fundamento de suas crenças, ideologia ou até mesmo da religião é a própria falta do uso da consciência; provavelmente é o reflexo do processo civilizatório desordenado, bem como das más influências  dos formadores de opiniões... Pois, no processo de construção da identidade sócio-cultural, o individuo nunca é um sujeito autônomo... Será que deu para V. Exª perceber?... Bem, se não deu, paciência!... Enfim, sempre pensei que somente os norte-americanos e os europeus ocidentais fossem islamofóbicos e discriminadores: sem consciência... mas é bastante perceptivo que os latino-americanos são bem racistas e preconceituosos, e eu sofro na pele só porque tenho um gosto musical versátil... Aliás, ninguém entende ninguém, ainda misturaram Deus nas láureas lamuriantes das Orações...

Finalmente, a vida tem me ensinado isto: o mundo é povoado por pessoas a se dizerem que são isto ou aquilo, mas nem mesmo sabem o que dizem... Repito: e é doloroso ter constatar tudo isso... Por outro lado, Damásio me tranquiliza quando confirma que minhas inquietudes têm fundamento, dizendo: “Em seu nível mais complexo e elaborado, a consciência ajuda-nos a cultivar um interesse por outras pessoas e a aperfeiçoar a arte de viver”... Quer queiram, quer não: descobri que sou portadora de consciência, por isso o poder de persuasão dos políticos e dos formadores de opinião não me atinge...E assim vou te querendo todas as horas porque não sei viver sem tua magia, sem teu olhar fascinante!...

Concluírem outro dia qualquer... Tudo bem assim?...

segunda-feira, 18 de junho de 2012

Por Uma Ética na Linguagem: Um Grito de Consciência II...

Para continuar a reflexão que trata de relacionar a falta de ética política – nos discursos oficiais  e na linguagem dos intelectuais e formadores de opinião – com a ausência de consciência, tenho preferência por permanecer com Antônio Damásio, numa tentativa de explicitar a necessidade em se construir a real consciência, de maneira que possamos eliminar, de nossas vidas, as falsas ideologias: ideias estas que nos deviam da essência verdadeira, ou do caminho mais autêntico da autonomia ... E quando me refiro a ideologia não se trata somente das políticas partidárias ou governamentais, também está intrinsecamente relacionada aos ideais dos intelectuais e formadores de opinião em geral; principalmente aqueles que se utilizam do poder mediático da atual tecnologia massiva e fulminante no poder de persuasão, por conseguinte vão construindo mentalidades distorcidas...

Pois bem, continuando com Damásio, assim diz ele:  “O que poderia ser mais deslumbrante do que perceber que é o fato de termos consciência que torna possíveis e mesmo inevitáveis nossas questões sobre a consciência?... É fácil imaginar como a consciência provavelmente abriu caminho, na evolução humana, para um novo  gênero  de  criações,  impossível  sem  ela:  consciência moral,  religião, organização social e política, artes, ciências e tecnologia...   

De  um  modo  ainda  mais  imperioso,  talvez  a consciência seja a função biológica crítica que nos permite saber que estamos sentindo tristeza ou alegria, sofrimento ou prazer, vergonha ou orgulho, pesar por um amor que se foi... O páthos, individualmente vivenciado ou observado, é um subproduto da consciência, tanto quanto o desejo...  Jamais  teríamos  conhecimento  de  nenhum  desses estados  pessoais  sem  a  consciência...  Não culpe Eva  por conhecer; culpe a consciência, e agradeça a ela”... 

Continuarei!...  

Por Uma Ética na Linguagem Política: Um Grito de Consciência...



Devo confessar que tenho necessidade em iniciar meu texto com um breve Grito, mesmo que seja um desabafo meio que sem nexo... Francamente, chego a sentir um profundo nojo, enjôo, náusea, asco, uma total aversão e um verdadeiro mal-estar quando leio ou ouço as hipocrisias e todas as falácias dos discursos políticos Oficiais em relação ao Desenvolvimento Sustentável do Acre... E o pior de  toda a falta de ética discursiva (dos governantes e não-governantes: gestores, assessores e puxa-sacos em geral) é – para mim – quando  tais políticos querem nos obrigar a acreditar em suas mentiras; logo é muito angustiante constatar todas as aberrações discursivas em nome de uma mudança inexistente... É claro que houve mudança, sim; porém, não como eles afirmam... Ai, ai como dói a alma!... 

Acredito que dias melhores virão, já que tudo faz parte de um processo em formação, mas enquanto esses dias não chegam, quero refletir sobre nossa incapacidade de compreender o que representa em nossas vidas ter ‘consciência’, para assim entender melhor e aceitar as diferenças  que nos rodeiam, em todos os sentidos, (culturais, políticas, econômicas e pessoais), diferenças estas que muitas vezes não são compreendidas e nem respeitadas por falta de uma mentalidade estruturada com consciência, consequentemente não conseguimos perceber nenhuma falta de ética ou valores humanos que nos possibilitam firmeza na forma de encarar o mundo em nossa volta... 

Contudo, decidi por recorrer ao neurologista Antônio Damásio com uma breve passagem de seu livro “O Mistério da Consciência”, assim a partir dessa leitura fazer uma comparação entre falta de consciência e submissão-dominção, também entre falta de ética e persuasão... então, inicio com este questionamento que muito me instigou: “O que poderia ser mais difícil de conhecer do que conhecer o modo como conhecemos?”... Pois é, fomos tão determinados a conhecer de um modo que convém a um sistema de dominação e submissão que desconhecemos nossa própria consciência, e como também desconhecemos que existem outras formas de conhecimentos; enfim, acabamos não conhecendo nem a nós mesmos...

Por outro lado, lembrei das consequências da colonização sobre a qual Silviano Santiago analisa com muito primor, em seu ensaio “Literatura nos Trópicos”, nessa obra ele afirma, através da literatura, que tudo vem da dependência cultural, por isso, acredito que até mesmo nossa falta de consciência; porque enquanto complexidade da colonização, temos uma obsessão pelos costumes de nossos colonizadores, por assim dizer: existe uma relação muito forte entre o criador dos países periféricos e a cultura das antigas metrópoles... Para ele, "o escritor latino-americano vive entre a assimilação do modelo original e a necessidade de produzir um texto que afronte o primeiro... Então não há distanciamento na convenção do crítico literário"... 

"Para Silviano Santiago, faz-se necessária uma inversão de valores, buscar para a Latino-América seu lugar no mundo da cultura, e da literatura... O  “ensaios sobre a dependência cultural", desde o próprio título O entre-lugar do discurso latino-americano, até mesmo em suas duas epígrafes, devemos partir da idéia de que o autor se situa realmente como um ensaísta (como já esboçamos no parágrafo anterior) que se arma de pressupostos não só dos Estudos Literários, em esferas mais estritas, mas também do conhecimento dos horizontes mais largos dos Estudos Culturais, cujas 'ferramentas' metodológicas vai buscar nas pesquisas mais contemporâneas dentro do âmbito da Filosofia, Sociologia, História, Geografia, Etnologia, etc., todavia não de maneira superposta ou sob forma de miscelânea, mas de modo transdisciplinar, de forma extremamente coesa e coerente com os tópicos que procura analisar, comparar e (re)interpretar, buscando soluções novas para problemas não tão novos assim, como o preconceito entre metrópole e colônia, colonizador e colonizado, europeu e latino-americano, etc., com o caráter de superior sempre atribuído aos membros primeiros destes pares dicotômicos, ficando os segundos com o estigma de inferiores”... 

Assim o problema sobre a falta de consciência se apresenta sempre, seja na sociedade, grupos de interesses políticos, ou entre os "autores latino-americanos e a literatura européia, seja no modo como o português Eça de Queiroz, autor de O primo Basílio, desarticula seu modelo Madame Bovary, de Flaubert, ou ainda na forma como a geração do tropicalismo repensou suas relações com a cultura americana”, por exemplo... E, por aí vai se repetindo ou se reconstruindo a estrutura do pensamento; principalmente no sistema sócio-político, e em muitos casos sem consciência; diferentemente de alguns exemplos de textos literários que se afirmam com uma identidade sócio-cultural própria;  é, certamente, por isto que a Literatura é por excelência uma formadora de consciência... 

"Hoje, quando interrogamos o político o histórico e o social a partir da literatura, temos naturalmente que ter em conta essas mudanças, esses questionamentos teóricos, essas outras viagens dos olhares, sob pena de não estarmos a entender as práticas literárias de Garcia Marquez, Vargas Llosa, Guimarães Rosa, Assia Djebar, Salman Rushdie, V. S. Naipaul, Chinua Achebe, Simbene Ousmane, José Luandino Vieira, Manuel Rui, Mia Couto, Ana Paula Tavares, Conceição Lima, José Saramago, António Lobo Antunes ou Lídia Jorge, e tantos outros que têm transformado não só a nossa visão dos processos históricos, sociais e políticos como estão também desafiando o conceito ocidental de conhecimento e o lugar social de enunciação, enquanto espaço de enunciação cultural da história colectiva de uma nação, como sempre nos lembraram as vozes literárias de outras geografias"...
Continuarei com as Partes II, III e IV em outro momento!...

Europa e Grécia: Que Deus nos salve dos salvadores!...

Imagine uma cena de um filme distópico que mostre nossa sociedade num futuro próximo. Guardas uniformizados patrulham ruas semivazias dos centros das cidades, à caça de imigrados, criminosos e desocupados. Os que encontram, os guardas espancam. O que parece fantasia de Hollywood já é realidade hoje, na Grécia.

Durante a noite, vigilantes uniformizados com as camisas negras do partido neofascista Golden Dawn [Aurora Dourada], de negadores do Holocausto –, que receberam 7% dos votos no segundo turno das eleições gregas e que contam com o apoio, como ouve-se pela cidade, de 50% da Polícia de Atenas – patrulham as ruas, espancando todos os imigrados que cruzem seu caminho: afegãos, paquistaneses, argelinos. É como a Europa defende-se hoje, na primavera de 2012.

 O problema de defender a civilização europeia contra a ameaça dos imigrantes é que a ferocidade com que os defensores europeus defendem-se é ameaça muito maior a qualquer "civilização", que qualquer tipo de invasão de muçulmanos, e ainda que todos os muçulmanos decidissem mudar-se para a Europa. Com defensores como esses, a Europa não precisa de inimigos.

 Há cem anos, G.K. Chesterton deu forma articulada ao impasse em que se metem todos os que criticam a religião:“Homens que se ponham a combater igrejas em nome da liberdade e da humanidade espantam de si mesmos a liberdade e a humanidade, no momento em que atacam a primeira igreja (...). Os secularistas não provocaram o naufrágio das coisas divinas; só fizeram naufragar coisas seculares... se isso lhes serve de consolo”. [1] (Gilbert K. Charleston).

Tantos guerreiros liberais andam tão furiosamente decididos a combater o fundamentalismo não democrático, que acabam esquecendo qualquer liberdade e qualquer democracia, tudo em nome de combater o terror. Se os “terroristas” só pensam em fazer naufragar esse nosso mundo por amor pelo outro mundo, os nossos guerreiros antiterror só pensam em pôr a pique qualquer democracia, por ódio ao próximo muçulmano. Alguns deles são tão perdidamente apaixonados, fanáticos pela dignidade humana [e, no Brasil, pela chamada “ética”], que chegam a legalizar a tortura... para defender a dignidade humana. É a inversão do processo pelo qual os fanáticos defensores da religião começaram por atacar a cultura secular contemporânea e acabaram por sacrificar até as próprias credenciais religiosas, na ânsia de erradicar todos os aspectos que odeiam no secularismo.

Mas os defensores que insistem em defender a Grécia contra imigrantes não são o principal perigo: não passam de subproduto do perigo muito maior, da ameaça mãe de todas as ameaças: a política de “austeridade” que causou a desgraça da Grécia. As próximas eleições na Grécia estão marcadas para dia 17 de junho.

O establishment europeu alerta que são eleições cruciais: não estaria em jogo só o destino da Grécia, mas o destino de toda a Europa. Um resultado – o correto, segundo eles – levará ao processo doloroso,. mas necessário de recuperação, pela austeridade, para continuar. A alternativa – no caso de vitória do Partido Syriza, de “extrema esquerda” – seria votar pelo caos, pelo fim do mundo (europeu) como o conhecemos.

Syriza.

Os profetas do apocalipse estão corretos, mas não como supõem ou pretendem. Críticos dos arranjos democráticos hoje vigentes reclamam que as eleições não oferecem opção real: votamos para escolher apenas entre uma centro-direita e uma centro-esquerda cujos programas são quase absolutamente idênticos. Mas dia 17 de junho, afinal, haverá escolha significativa: de um lado o establishment (Nova Democracia e Pasok); do outro lado, a Coalizão Syriza. E, como acontece quase sempre em que haja escolhas reais no mercado eleitoral, o establishment está em pânico: caos, pobreza e violência eclodirão imediatamente, dizem, se os eleitores escolherem “errado”. A mera possibilidade de vitória da Coalizão Syriza, como se ouve, já dispara convulsões de medo nos mercados. A prosopopéia ideológica é rampante: os mercados falam como se fossem gente, manifestam “preocupação” pelo que acontecerá se as eleições não produzirem governo com mandato para manter o programa de austeridade e reformas estruturais de UE-FMI. Os cidadãos gregos não têm tempo para pensar nas preocupações “dos mercados”: mal conseguem ter tempo para preocupar-se com a sobrevivência diária, numa vida que já alcança graus de miséria que não se viam na Europa há décadas.

Todas essas são previsões enunciadas para se autocumprirem, causar mais pânico e, assim, forçar as coisas a andarem na direção “prevista”. Se a Coalizão Syriza vencer, o establishment europeu ficará à espera de que nós aprendamos com nossos erros o que acontece quando alguém tenta interromper, por via democrática, o ciclo vicioso de cumplicidade bandida, entre os tecnocratas de Bruxelas e a demagogia suicida do populismo anti-imigrantes.

Alexis Tsipras.

Foi exatamente o que disse Alexis Tsipras, candidato da Coalizão Syriza, em entrevista recente: que sua prioridade absoluta, no caso de sua coalizão vencer as eleições, será conter o pânico: “Os gregos derrotarão o medo. Não sucumbirão. Não se deixarão chantagear.”

A tarefa da Coalizão Syriza é quase impossível. A coalizão não traz a voz da “loucura” da extrema esquerda, mas a voz do falar racional contra a loucura da ideologia dos mercados. No movimento de prontidão para assumir o governo da Grécia, já derrotaram o medo de governar, tão característico do “esquerdismo”; já mostraram que não temem fazer a faxina do quadro confuso que herdarão. Terão de mostrar-se capazes de montar e cumprir uma formidável combinação de princípios e pragmatismo; de compromisso democrático e presteza para intervir com firmeza onde seja preciso. Para que tenham uma mínima chance de sucesso, precisarão de toda a solidariedade dos povos europeus; não só de respeito e tratamento decente pelos demais países europeus, mas, também, de ideias mais criativas – como a de um “turismo solidário” nesse verão, que já propuseram. .

T. S. Eliot.

Em suas Notes towards the Definition of Culture, T.S. Eliot [2] observou que há momentos em que a única escolha é entre a heresia e o não crer – i.é, quando o único meio para manter viva uma religião é promover uma divisão de seitas. Essa é, hoje, a posição em que está a Europa. Só uma nova “heresia” – representada hoje pela Coalizão Syriza – pode salvar o que valha a pena salvar do legado europeu: a democracia, a confiança no voto do povo, a solidariedade igualitária etc. A Europa que haverá para nós, se a Coalizão Syriza for descartada, é uma “Europa com valores asiáticos” – os quais, é claro, nada têm a ver com a Ásia, e tem tudo a ver com a tendência do capitalismo contemporâneo, para suspender a democracia. 

Eis o paradoxo que mantém o “voto livre” nas sociedades democráticas: cada um é livre para escolher, desde que faça a escolha certa. Por isso, quando se faz a escolha errada (como quando a Irlanda rejeitou a Constituição da União Europeia), a escolha é tratada como erro; e o establishment imediatamente exige que se repita o processo “democrático”, para que o erro seja reparado. Quando George Papandreou, então primeiro-ministro grego, propôs um referendo sobre a proposta de resgate que a Eurozona apresentara no final do ano passado, até o referendo foi descartado como falsa escolha. 

Há duas principais narrativas na mídia, sobre a crise grega: a narrativa alemã-europeia (os gregos são irresponsáveis, preguiçosos, gastadores, não pagam impostos etc.; e têm de ser postos sob controle, com aulas de disciplina financeira); e a narrativa grega (nossa soberania nacional está ameaçada pelo tecnologia neoliberal imposta por Bruxelas).

Quando se tornou impossível ignorar o suplício do povo grego, emergiu uma terceira narrativa: os gregos estão sendo apresentados hoje como vítimas de desastre humanitário, carentes de ajuda, como se alguma guerra ou catástrofe natural tivesse atingido o país. As três são falsas narrativas, mas a terceira parece ser a mais repugnante. Os gregos não são vítimas passivas. Os gregos estão em guerra contra o establishment econômico europeu. Precisam de solidariedade nessa luta, porque a luta dos gregos é a luta de todos nós. A Grécia não é exceção. É mais uma, dentre várias pistas de testes de um novo modelo socioeconômico de aplicação quase ilimitada: uma tecnocracia despolitizada, na qual banqueiros e outros especialistas ganham carta branca para demolir a democracia.

Ao salvar a Grécia de seus ditos “salvadores”, salvaremos também a Europa.

________________________________________ Slavoj Žižek nasceu na cidade de Liubliana, Eslovênia, em 1949. É filósofo, psicanalista e um dos principais teóricos contemporâneos. Transita por diversas áreas do conhecimento e, sob influência principalmente de Karl Marx e Jacques Lacan, efetua uma inovadora crítica cultural e política da pós-modernidade. Professor da European Graduate School e do Instituto de Sociologia da Universidade de Liubliana, Žižek preside a Society for Theoretical Psychoanalysis, de Liubliana, e é um dos diretores do centro de humanidades da University of London. Dele, a Boitempo publicou Bem-vindo ao deserto do Real! (2003), Às portas da revolução (escritos de Lenin de 1917) (2005), A visão em paralaxe (2008), Lacrimae rerum (2009) e os mais recentes Em defesa das causas perdidas e Primeiro como tragédia, depois como farsa (ambos de 2011).

Notas dos tradutores.
[1] CHESTERTON, Gilbert K., Orthodoxy [1908], “VIII: The Romance of Orthodoxy”, em inglês.
[2] ELIOT, T. S. - Notas para uma definição de cultura. Lisboa: Século XXI, 1996.