terça-feira, 30 de novembro de 2010

A Suprema Felicidade...

Depois de mais de duas décadas afastado da direção de cinema, Arnaldo Jabor volta trazendo uma nova obra, A suprema felicidade, que estreia hoje no circuito comercial das salas do País, depois de ter aberto o Festival do Rio e fazer parte da programação da Mostra de São Paulo.

Em meio a um total clima de nostalgia, o filme de Jabor tem muito dele mesmo, de suas memórias pessoais e de seu passado, de um tempo e de um lugar que já não são mais os mesmos, apesar de não ser um filme autobiográfico, tendo-se em vista a imaginação exacerbada pela qual o cineasta optou.

No filme, recheado de atores globais, intercalam-se três momentos da vida de Paulinho (algo próximo de momentos vividos pelo próprio Jabor quando jovem) enquanto criança, adolescente e saindo da adolescência, com início durante os anos 1940.

Ao redor, Paulinho acompanha o fim da Segunda Guerra Mundial e a decadência do casamento de seus pais. A mãe (Mariana Lima) frustrada por ser proibida pelo marido de trabalhar fora de casa e o pai (Dan Stulbach), que sonha pilotar jatos e age de maneira autoritária com a família.

Para fugir das brigas e da tensão dentro de casa, Paulinho recorre ao avô (Marco Nanini, excelente no papel), sempre alegre e disposto a ser o companheiro do neto.

É o avô, inclusive, que está presente em muitos dos momentos das primeiras experiências de Paulinho, enquanto o menino vai crescendo, e introduz questionamentos sobre a vida e, especialmente, sobre a busca incessante das pessoas pela felicidade, crescimento, sexo e amor.

Questionamentos que são o gancho de toda a obra, não apenas entre Paulinho e seu avô, mas também de sua família, seus amigos e demais pessoas do bairro, caricatas, como a turma do pipoqueiro malandrão ou o senhor que passa de casa em casa comprando jornais e papéis velhos. Não se deixa de lado as dúvidas e revolta contra a educação religiosa da época.

Tudo com uma música intensamente dramática e, apesar das questões levantadas na trama, muitos diálogos são truncados, com frases desnecessárias ou que poderiam ter sido construídas com maior cuidado para melhor fluidez da história.

Ou, ainda, cena em que o pai de Paulinho, na mesa de jantar, o manda segurar direito a colher para comer a sopa, quando o menino nem estava com o objeto na mão. Como o próprio Jabor define, A suprema felicidade não tem um gênero.

Mistura memórias e, assim, alterna desespero, risos, melodrama e até um ensaio de bloco carnavalesco. No resultado final, o próprio cineasta diz que buscou, neste novo filme, uma identificação com o espectador. Resta saber se ele conseguiu.

Fonte: 

A Suprema Felicidade, dirigido por Arnaldo Jabor...

Despedidas virtuais...

                                                                   Maria Madelana - Friedrich Heinrich
Você já terminou um relacionamento pela internet ou por uma mensagem de celular?

NO SÁBADO passado, no Museu da Imagem e do Som de São Paulo, Xico Sá, Bebel Bertuccelli e eu comentamos os resultados de uma pesquisa, realizada pela Nokia, sobre a relação dos brasileiros com as ferramentas sociais da era digital.

Uma das perguntas da pesquisa dizia: "Você já terminou ou já terminaram um relacionamento com você via internet ou por mensagem de celular?".

Responderam positivamente 15% dos entrevistados. Já antes do debate, essa história de namoros terminados com uma mensagem virtual fez que eu fosse repetidamente consultado: o que achava desse horror tecnológico, hein?

Pois é, tendo a considerar esse tipo de despedida virtual com uma certa simpatia.

1) Em geral, aceitamos que, para muitos homens e mulheres, seja mais fácil encontrar alguém no mundo virtual do que no mundo real. Entendemos, por exemplo, que, na hora de seduzir, os tímidos, retraídos, acanhados ou inibidos soltem mais facilmente os dedos no teclado do que a palavra num encontro cara a cara.

Nota: seria injusto contrapor os que preferem o virtual aos que preferem o real como se os primeiros fossem mentirosos e, os segundos, honestos e sinceros. Virtual ou real, o encontro inicial é quase sempre um jogo em que se trata de convencer o outro de que somos alguma coisa que nem nós acreditamos ser. Quem prefere teclar talvez se esconda graças à distância, mas quem prefere falar ao vivo não abre sua alma: apenas desprende a lábia.

2) Se aceitamos que o virtual facilite a abordagem e as primeiras trocas, por que não deixaríamos que o virtual facilite também as despedidas? De fato, o virtual permite que os tímidos, os retraídos etc. declarem sua vontade de se separar, e isso sem medo de encarar torneios verbais que eles perderiam e que produziriam tentativas culpadas, penosas e infinitas de "reatar mais uma vez".

3) No começo de uma relação amorosa, o virtual talvez sirva para mentir melhor; no fim de um amor, ele pode ajudar a dizer a verdade, ou seja, a reconhecer, enfim, que uma relação está continuando apenas como mentira compartilhada.

4) Em média, a dificuldade em "encontrar alguém" não é maior do que a dificuldade em se separar quando uma relação não vale mais a pena.

5) Os tempos de solidão, durante a procura frustrada de um parceiro ou de uma parceira, são tão longos quanto os tempos de solidão de parceiros que vivem sem paixão, sem amizade e, às vezes, no rancor.

6) A insatisfação de quem procura um amor é esperançosa, enquanto a vida dos que não conseguem se separar é resignada.

7) Um SMS ou um e-mail de despedida podem surpreender quem os recebe, mas só como a revelação de algo que ele já sabia e, por alguma covardia, não confessava nem a si mesmo: ninguém termina virtualmente um amor que não esteja realmente morto.

8) Às vezes, sobretudo (mas não só) nas mulheres, a reação de quem recebe a mensagem de despedida é um pensamento delirante: o outro se separa de mim por SMS porque, se aparecesse na minha frente, ele teria que se render ao amor que ele ainda sente por mim (ele não sabe, mas eu sei que ele sente). Nesse caso, salve-se quem puder.

9) Toda separação é, no mínimo, a perda de um patrimônio comum de experiências e memórias. A dor dessa perda é frequentemente projetada no outro: digo que não posso ou não ouso me separar por e-mail ou SMS porque não quero machucar o outro, enquanto, de fato, é minha dor que quero evitar -com isso, eternizo o declínio da relação e o sofrimento do casal.

10) A convivência numa relação morta é um limbo confortável: para ambos, uma espécie de trégua do desejo. A separação apavora com a perspectiva de voltar a desejar. Antes de mandar um fatídico SMS, alguém hesita: "Vai ser difícil voltar à ativa com a minha idade" -e vai ser mesmo. Ou, então, pergunta: "E se eu ficar sozinho?"; resposta: "Mas você já está sozinho, há tempos".

Moral da história. É bom tentar tudo o que der para que uma relação vingue. Quando ela não vinga (mais), é bom ousar se separar. E deveríamos agradecer os parceiros que nos mandam um SMS lacônico e brutal, "Valeu, beijão e sorte". Pois, desprendendo-se, eles nos libertam e encurtam um processo no qual poderíamos perder anos da vida.

Por Contardo Calligaris
Fonte: Blog contardo calligaris

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

A coerência é um valor moral?...

                                                                                                                                Imagem Bing
NO FIM de semana retrasado, estive em Olinda, na Fliporto (Feira Literária Internacional de Pernambuco). No sábado, Benjamin Moser, que escreveu uma linda biografia de Clarice Lispector ("Clarice,", Cosac Naify), lembrou que, na famosa entrevista concedida à TV Cultura em 1977, a escritora afirmou que não fizera concessões, não que soubesse.

Moser acrescentou imediatamente que ele não poderia dizer o mesmo. E eis que o público se manifestou com um aplauso caloroso.

Talvez as palmas de admiração fossem pela suposta coerência adamantina de Clarice, que nunca teria feito concessões na vida. Talvez elas se destinassem a Benjamin Moser pela admissão sincera de que ele (como todos nós) não poderia dizer o mesmo que disse Clarice.

Tanto faz. Nos dois casos, o pressuposto é o mesmo. Que as palmas fossem pela força de caráter de Clarice ou pela honestidade de Moser ao reconhecer sua própria fraqueza, de qualquer forma, não fazer concessões parecia ser, para os presentes, uma marca de excelência moral.

A pergunta surgiu em mim na hora: será que é mesmo? Posso respeitar a tenacidade corajosa de quem se mantém fiel a suas convicções, mas no que ela difere da teima de quem se esconde atrás dessa fidelidade porque não sabe negociar com quem pensa diferente e com o emaranhado das circunstâncias que mudam? Aplicar princípios e nunca se afastar deles é uma prova de coragem? Ou é a covardice de quem evita se sujar com as nuances da vida concreta?

Como muitos outros, se não como todo mundo, cresci pensando que não fazer concessões é uma coisa boa.

Fui criado na ideia de que há valores não negociáveis e mais importantes do que a própria vida (dos outros e da gente). Talvez por isso me impressionasse a intransigência dos mártires cristãos (embora eu tivesse uma certa simpatia envergonhada por Pedro renegando Jesus para evitar ser reconhecido e preso).

Durante anos admirei os bolcheviques por eles serem homens de ferro (a expressão é de Maiakóvski, nada a ver com "Iron Man") e desprezei Karl Kautsky, que Lênin estigmatizou para sempre como "o renegado Kautsky", por ele ter mudado de opinião sobre a Primeira Guerra, sobre a revolução proletária, sobre o bolchevismo etc.

Vingança da história: Lênin se tornou quase ilegível, mas a obra principal de Kautsky, que acaba de ser traduzida, "A Origem do Cristianismo" (Civilização Brasileira), continua crucial.

Mas voltemos ao assunto. Hoje, estou mais para Kautsky do que para bolchevique; até porque descobri, desde então, que Mussolini se vangloriava gritando: "Eu me quebro, mas não me dobro". Ele se quebrou mesmo, enquanto eu me dobro e posso renegar ideias minhas que pareçam ser, de repente, inadequadas ao momento (dos outros, do mundo e meu).

Olhando para trás, descubro (com certo orgulho) que, ao longo da vida, fiz inúmeras concessões, inclusive na hora de escolhas fundamentais. Poucas vezes lamentei não ter sido coerente. Mas muitas vezes lamento não ter sabido fazer as concessões necessárias, por exemplo, na hora de ajustar meu desejo ao desejo de pessoas que amava e de quem, portanto, tive que me afastar.

Alguém dirá: espere aí, então a fidelidade a princípios e valores não é uma condição da moralidade?

Estou lendo (vorazmente) "O Ponto de Vista do Outro", de Jurandir Freire Costa (Garamond). O livro é, no mínimo, uma demonstração de que a forma moderna da moral não é o princípio, mas o dilema. E, no dilema, o que importa não é a fidelidade intransigente a valores estabelecidos; no dilema, o que importa é, ao contrário, nossa capacidade de transigir com as situações concretas e com os outros concretos.

A coerência é uma virtude só para quem se orienta por princípios. Para o indivíduo moral, que se orienta (e desorienta) por dilemas, a coerência não é uma virtude, ao contrário, é uma fuga (um tanto covarde) da complexidade concreta. Oscar Wilde, que é um grande fustigador de nossas falsas certezas morais, disse que "a coerência é o último refúgio de quem tem pouca fantasia" e, eu acrescentaria, de quem tem pouca coragem.

Resta absolver Clarice. Aquela frase da entrevista era, provavelmente, apenas uma reverência retórica a um lugar-comum de nosso moralismo trivial.
 
Fonte: Blog contardo calligaris

O ponto de vista do outro...

Este trabalho debate a questão da ética pelo viés da criação literária de Jurandir Freire Costa. Para isso, Jurandir explora os conflitos morais dos personagens de dois ficcionistas contemporâneos, Graham Greene e Phillip K. Dick, conhecidos como autores de obras de entretenimento (histórias de aventuras, espionagem e melodramas), mas que demonstram preocupações acerca do discernimento moral em nossa sociedade. O autor faz um passeio pelas vicissitudes da criação literária, da indagação mística, dos grandes embates do pensamento contemporâneo, da investigação psicanalítica e - como pano de fundo - do desafio ético da nossa cultura.

Fonte: Livraria Cultura

Contardo Calligaris: psicanálise e comportamento...

Contardo Calligaris é um psicanalista com sólida formação européia que caiu de pára-quedas no Brasil nos anos 80. Aqui fez os seus melhores amigos, apaixonou-se e casou-se, armou acampamento e nunca mais voltou a viver na Itália.

No Brasil, Contardo despontou para o estrelato como psicanalista e escritor. Com ares de galã, não demorou a tornar-se o preferido de nove entre cada 10 leitoras da Folha Ilustrada, o suplemento da Folha de São Paulo onde assina uma coluna semanal.

De suas andanças sem trégua pelo mundo, Contardo aprendeu muita coisa. Aprendeu a rir da vida, do mundo, de si mesmo e até deste repórter que o entrevistou. Senão, vejamos. Contardo Calligaris é o convidado desta semana.

Confira abaixo trechos da entrevista e no áudio acima a entrevista completa.

Marco Lacerda: Contardo, você é um italiano de Milão, com formação acadêmica européia. Um homem que viajou muito antes de descobrir o Brasil. O que te trouxe a esse país?

Contardo Calligaris: Como Cabral, foi por acaso. Na época, estava morando em Paris. O meu primeiro livro de psicanálise em francês seria traduzido em português e espanhol, o que me levou a viajar pela a América Latina para dar uma série de palestras em Buenos Aires e Porto Alegre, que foi o meu porto de chegada ao Brasil, em 1985.

Apaixonei-me pelo Brasil e por uma brasileira, claro! Faz parte, é tradicional. E achei muito interessante o que aconteceu por aqui. As platéias que encontrava - com as quais dialogava - eram decididamente mais interessantes que as platéias européias naquela época.

Na década de 80, a França vivia uma época de grande pirotecnia cultural, mas as pessoas que tinham sido importantes para mim haviam morrido: Foucault, Lacan, entre outros.

Tinha a impressão que a cultura francesa se encaminhava para um tempo de repetição do mesmo, aliás, impressão que se confirmou. Foi então que comecei a viajar entre França e Brasil, e finalmente, em 1989, decidi que queria ficar aqui.

Marco Lacerda: O Brasil sempre vendeu para o mundo o mito da sensualidade e da alegria. Você alguma vez acreditou nesse mito, como a maioria dos europeus?

Calligaris: Provavelmente quando vi algum folder turístico, antes de vir para cá (risos). Sei que existe a sensualidade, mas não sei de onde ela vem. No conjunto, considero os brasileiros sexualmente bastante caretas, por exemplo.

Provavelmente, nas sociedades um pouco mais fechadas e reprimidas, as fantasias sexuais vingam mais do que nas sociedades aparentemente mais abertas, mais expostas, no que concerne inclusive à exposição do próprio corpo.

Na realidade, o Brasil ainda é um país atravessado nesse aspecto, claramente pela herança incômoda da escravidão, que se expressa, entre outras maneiras, pelo fato das relações de desigualdade econômica e de poder serem silenciosamente eróticas.

Vou me explicar: se nós somos iguais e decidimos que vamos brincar de sadomasoquismo, então uma amarra o outro e tudo bem. Tudo acaba numa transa um pouco ‘original’, digamos assim. Isso é uma coisa, o poder se torna uma espécie de brincadeira erótica.

Por outro lado, se um emergente brasileiro (essa palavra caiu em desuso porque os emergentes brasileiros estão melhorando, além de bolsa de grife estão adquirindo também um pouco de cultura, o que não é mal).

Mas digamos, se um emergente brasileiro chega ao caixa do supermercado e não tem ninguém para empacotar, já maltrata a moça do caixa, xinga - essa também é uma cena erótica, silenciosamente erótica.

Ninguém, claro, vai transar. Mas nesse exercício brutal do poder, existe, do lado de quem maltrata, uma forma de prazer silencioso. Esse prazer atravessa as relações sociais de qualquer lugar onde a escravidão tenha sido o modo de produção durante tanto tempo.

Marco Lacerda: Contardo, falando como psicanalista: quais são, na sua opinião os dilemas cruciais que afligem a humanidade nos dias de hoje?

Calligaris: A gente não consegue - ou tem a maior dificuldade - em agir conforme o próprio desejo. Isso, aliás, sempre foi a coisa mais difícil. Todos temos desejos. Às vezes, a gente não tem desejos, mas isso é uma doença, uma patologia.

No entanto, agir à altura dos nossos desejos nem sempre é fácil. Requer coragem, o que está se tornando cada vez mais raro. A falta de coragem diante da vida talvez seja o sintoma que mais me impressiona.

Marco Lacerda: E o que leva as pessoas a essa perda de coragem?

Calligaris: A coragem custa. Às vezes, para agirmos à altura do nosso desejo, é preciso aceitar perdas e renúncias. Praticamente, não existe desejo sem perda porque não dá para ter tudo.

O que acontece: o cara quer um novo casamento, mas não quer perder a relação na qual ele está. Quer um novo amor, mas não quer renunciar ao patrimônio de história que acumulou com a mulher precedente e quer ver os filhos crescerem.

Não estou dizendo que o cara “deva” renunciar, mas a vida nos coloca constantemente diante de uma série de conflitos onde se trata de fazer compromissos.

Não se trata, necessariamente, de escolher os compromissos mais custosos, mas se trata de não desrespeitar completamente o desejo da gente. E isso não é fácil.

Marco Lacerda: Contardo, o que você chamaria de um ser humano normal nos dias de hoje? E o que chamaria de anormal?

Calligaris: O ser humano normal é o caso mais grave, porque a normalidade é uma certa falta de conflito interno, uma aceitação da vida externa e interna assim, como ela é. É uma espécie adaptação ao redor de um compromisso estável, não tem nada mais triste.

Marco Lacerda: Como italiano, você vem do país onde fica o Vaticano, sede da Igreja Católica, Apostólica, Romana. O catolicismo teve alguma influência na sua formação?

Calligaris: Sem dúvida nenhuma. Teve uma grande influência, não porque tivesse uma formação católica praticante. Meu pai era ateu, ou pelo menos rigorosamente agnóstico.

Tinha uma avó que era católica praticante que, é claro, me levava para a Igreja regularmente. Fui batizado, fiz a primeira comunhão, crisma e também passei um breve período em um colégio salesiano católico, onde cursei o último ano do colegial.

Fui um adolescente um pouco complicado, fugi de casa, fiquei um ano longe. Não teve nada a ver com os meus pais, que adorava completamente, mas apaixonei-me por uma canadense e aquilo era muito mais importante do que qualquer outra coisa. Quando voltei, fui para o internato de Milão para recuperar o ano que tinha perdido - outra ocasião de contato.

Tenho uma série de traços da educação católica e cristã, mas não tenho nenhuma simpatia pela hierarquia do vaticano, nem pela hierarquia da Igreja.

Hoje, se tivesse que ser religioso, certamente estaria do lado protestante ou então seria como a grande maioria, que se diz católica, mas guarda a sua total independência de pensamento.

Marco Lacerda: Lendo a sua coluna na Folha de S. Paulo, muitas vezes eu tive a impressão de que você leva uma vida de passageiro eternamente em trânsito, ou seja, sem residência fixa em lugar nenhum. Apesar disso você disse uma vez que viajar deveria ser proibido ou vivamente desaconselhável. Dá pra você falar um pouco sobre aparente contradição?

Calligaris: Não é nenhuma contradição. É verdade, não parei de viajar. Aliás, é como se todos os capítulos da minha história correspondessem a lugares de residência diferente. Certamente, foi a maneira que encontrei para imprimir mudanças na minha vida e não me arrependo.

Quando você viaja uma vez (não só para passar quinze dias de férias), mas quando você muda uma vez para outro país, não tem mais nenhuma razão para não continuar lá. E mesmo que você volte, viverá na saudade do lugar para onde você foi e de onde você voltou.

Quem viaja deve saber que viaja para sempre. Como dizia Fernando Pessoa: “Viajar! Perder países! Ser outro constantemente, por a alma não ter raízes. De viver de ver somente!” E é isso mesmo, viajar é perder de vez e para sempre um lugar ao qual a gente pertenceria.

Marco Lacerda: Como ficam as relações entre as pessoas nesses tempos de comunicação instantânea via Internet, orkut, blogs e outros canais? Você acha que esses meios de comunicação contribuem para aproximar as pessoas ou na verdade acontece justamente o contrário: relações que se restringem apenas à troca de mensagens eletrônicas?

Calligaris: Não sou nenhum adversário da tecnologia e ainda menos da Internet, até porque, pela minha experiência, o que acontece é verdadeiramente o contrário.

Graças à Internet, pessoas que até então pensavam ser ‘monstros’, ‘perdidos no mundo’, descobriram que muitas outras tinham as mesmas fantasias eróticas e sexuais, e puderam se encontrar.

Graças à Internet, muitos que não tinham coragem de se aventurar pela noite para arrumar um parceiro conseguiram se encontrar, não só virtualmente, mas também realmente.

Alguns casam graças à Internet, outros simplesmente se juntam, outros simplesmente se juntam por uma noite. Muitas pessoas da terceira idade, por exemplo, descobriram o mundo, a possibilidade de contato, de encontrar parceiros sexuais e amorosos que pensavam ter perdido para sempre.

A grande queixa é: na Internet, durante o diálogo, é só uma relação virtual, você nunca sabe com quem está falando. Acho isso muito engraçado, porque esta me parece ser a regra de toda relação amorosa, mesmo quando a gente se encontra de verdade.

Entrevista realizada pelo jornalista Marco Lacerda no programa FrenteVerso, que vai ao ar aos domingos, às 21h, pela Rádio Inconfidência FM (100,9), de Belo Horizonte.

Fonte: Dom Total

domingo, 28 de novembro de 2010

Toda uma Vida

Toda uma Vida, de Henrique Monteiro (uma edição Dom Quixote), parece um livro simples, mas não é. Pode dizer-se que é simples porque é fácil de ler, mas, por outro lado, é extremamente profundo. É um romance que nos envolve logo desde as primeiras páginas, quer pela atmosfera, quer pelas personagens – a protagonista é fortíssima (carrega 88 anos de vivências), mas há secundárias também com um peso enorme, nem que tenham aparecido numa única página. Aliás, este é um livro sobre ausências, pelo que, algumas das personagens, mesmo mortas, têm uma força que atravessa todas as páginas da obra.

A morte é uma das constantes de Toda uma Vida. A velha protagonista perdeu dez pessoas que lhe eram queridas e enquanto vai recordando os episódios com elas vividas monta um puzzle que, no final, bem poderia ser um quadro fundamental do século XX. A velha é espanhola, e passou pela guerra civil (onde perdeu pai e irmãos) e pela Segunda Guerra Mundial, tendo fugido primeiro para Biarritz, depois para Lisboa. Só que este não é um livro sobre refugiados de guerra, é um livro sobre pessoas e suas relações, sejam elas familiares, amorosas ou de amizade.

Toda uma Vida poderia até ser classificado com uma grande crónica de opinião, ou um conjunto de crónicas de opinião, pois a narradora/protagonista não se coíbe de dar os seus “palpites” sobre os mais variados temas, desde a inevitável guerra, à homossexualidade, passando por comportamentos sociais e, inevitavelmente, pela velhice e pela vida dos idosos. O interessante é que se trata de uma mulher muito flexível, pois não tem problemas em aceitar (e relatar) as suas próprias mudanças de opinião, muitas das vezes fomentadas pelo evoluir do tempo e da sociedade.

Tudo é relatado numa linguagem simples por Henrique Monteiro. Simples e bela, acrescente-se. As descrições do pensamento da protagonista, assim como das paisagens e dos “mundos” por onde ela vai passando/vivendo, envolvem irremediavelmente o leitor, que se sente transportado para os locais do enredo, quase todos em frente ao mar – o mar, assim como a morte, é outra das presenças constantes de Toda uma Vida, seja ele o mar de Biarritz, das Rias Baixas, na Galiza, ou da Senhora da Rocha, no Algarve.

Assim, pode dizer-se que é um romance de três “Ms”: Morte. Mar. Mulheres. Recomenda-se a sua leitura em frente ao mar. Não propriamente na praia, antes naquelas pequenas povoações que vivem de e para o mar. Se o fizer, vai sentir-se em casa.


Fonte: Porta-Livros

Gostoso Demais...

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

O Fio do Tempo...

Um espião inglês roubou as cartas de marear. Vasco de Melo, amigo íntimo de D. Manuel I, persegue os culpados. E não olha a meios para agradar ao rei. Chegam novas de Pêro Vaz de Caminha, e morre um dos mais antigos cavaleiros do reino. Seguindo as memórias deste cavaleiro medieval que serviu dois reis, João Paulo Oliveira e Costa escreve um fabuloso romance histórico a fazer-nos viajar até à Lisboa medieval.
O séc. XV português pelo olhar de um homem com mais de cem anos...
D. Álvaro de Ataíde é o narrador deste segundo romance do autor.

Optando pelo registo de memória do cavaleiro que serve sobre o reinado de D. Afonso V e D. Manuel I, em «O Fio de Areia» sentimos o país voltado para fora, ouvimos o lamento dos negros nas ruas, o burburinho de uma cidade onde tudo se vende e compra.

Depois de «O Império dos Pardais», o historiador português leva à ficção um tempo de mudança e de grande riqueza humana. Partindo do olhar de um homem que assistiu já a dois reinados, conta os meandros do poder e da espionagem que envolviam a casa real portuguesa e as casas reais europeias. Um registo simultaneamente intimista e empolgante – a fazer-nos seguir no encalço do roubo das importantes cartas de marear da Casa da Mina. Especialista nos Descobrimentos e na Expansão Portuguesa, director do Centro de História de Além-Mar, o autor leva à ficção o seu conhecimento ao mesmo tempo que ousa (pela ficção, repita-se) ir mais longe no retrato do Portugal de então.

Fonte: Círculo de Leitores

Um Amor Colonial...

«O que se passou é que eu me senti perseguido pela PIDE.
Eu sentava-me num café e via uma pessoa a olhar para mim. Eu saio do café, vou-me embora, sento-me noutro café, vejo o mesmo homem a olhar para mim! E é claro, eu começo a ficar um bocado «Que é isto?» Então, propositadamente, mudo para outro ponto da cidade completamente oposto e, passado um bocado de eu estar noutro sítio, vejo o mesmo indivíduo. Então, aí ganho medo!

Ganho medo, falo com um chefe meu, que era o Nascimento:

- É normal que isso aconteça porque... eu vou-te explicar: Todas as pessoas que a sua profissão é uma profissão que passa fronteiras, portanto tripulantes de navios, comboios, aviões e tal, normalmente são perseguidos pela PIDE. Porque eles podem pensar que são correios ou qualquer coisa. Então, perseguem! Isso não quer dizer que venham a fazer mal. É para ver a vida da pessoa. E, depois, largam.

Mas, é claro, depois de uma pessoa ser apanhada por eles, eu não sei o que é se passaria lá. Eu não tinha nada a ver com política, mas as pessoas sabiam o que é que eles faziam. E esse medo continuou dentro de mim. Então, eu faço um pedido ao Presidente do Conselho de Administração da TAP, para me transferir para Luanda ou para a Beira (…) como ele se recusa, eu apresento a minha demissão. E foi isto uma das coisas que deu uma volta na minha vida profissional. Porque eu fui obrigado a largar um dos melhores empregos que tive na minha vida por causa da... Não foi por causa da rapariga, mas as duas coisas juntas, foi por causa da PIDE! Senti-me perseguido, senão ainda hoje estaria lá, talvez...»

(capítulo 5)

Fonte: Blog Antropocoiso

O Livro da Consciência...

Como é que o cérebro constrói uma mente? E como é que o cérebro torna essa mente consciente? Qual a estrutura necessária ao cérebro humano e qual a forma como tem de funcionar para que surjam mentes conscientes?

Há mais de trinta anos que o neurocientista António Damásio estuda a mente e o cérebro humanos e é autor de vasta obra publicada em livros e artigos científicos. No entanto, formulou o presente livro como um recomeço, quando a reflexão sobre descobertas importantes da investigação, recentes e antigas, alterou profundamente o seu ponto de vista em duas questões particulares: a origem e a natureza dos sentimentos, e os mecanismos por detrás do eu. O Livro da Consciência constitui assim uma tentativa de debater as noções actuais nestes domínios. Uma obra magistral que nos deixa entrever aquilo que ainda não sabemos sobre o cérebro e a consciência, mas gostaríamos muito de saber.

O prestigiado neurocientista português, António Damásio, recebe no dia 17 de Novembro, em Tóquio, no Japão, aquela que é considerada uma das mais importantes distinções mundiais ao nível da ciência. Ao obter o Honda Prize, António Damásio afirma-se como um dos grandes pensadores e cientistas do nosso século. Tendo editado recentemente entre nós, e a nível mundial, O Livro da Consciência, a entrega do Honda Prize sublinha, segundo o júri, o seu esforço pioneiro e notáveis contribuições para o mundo da neurociência.

«Este livro desvenda os mistérios da relação íntima entre sentimentos e consciência.»
Clara Ferreira Alves, Intelligent life

«O neurocientista português António Damásio- um dos mais brilhantes investigadores do mundo na área do cérebro...»
Ana Gerschenfeld, Público

«É o seu último trabalho de investigação e sucede a várias obras suas que correram o mundo em traduções em quase quarenta línguas.»
Diário de Notícias

«O investigador ensaia hipóteses, contraria-as, explicita-as, enquanto desbrava caminhos e opta por trajectórias que obrigam a desfazer evidências e a suspeitar do óbvio.»
Ana Cristina Leonardo, Expresso

«...uma das obras graficamente mais interessantes desta leva de publicações devido à conjugação feliz que permite a reprodução de muitas páginas de jornais, bastantes caricaturas e fotografias que documentam esses tempos. Nair Alexandra faz acompanhar essa parte visual de um texto claro e esclarecedor...» João Céu e Silva, Diário de Notícias (NS')



Fonte: BERTRAND LIVREIRO

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Um Homem de palavra...

Se você acha que uma das maneiras de aprender sobre os conflitos religiosos e políticos, sobre os muçulmanos, cristãos e judeus no Oriente Médio pode ser feito através da literatura, há um livro muito interessante que você deve ler. Ele lhe dará uma visão de todas as mudanças porque passaram as aldeias, os pequenos vilarejos e as sociedades heterogêneas, localizadas em terras que estavam dominadas na passagem do século XIX para o XX, pelos grandes poderes europeus ( França e Inglaterra). Estes locais, em países que ainda não existiam na época, que faziam parte das grandes terras de territórios franceses e ingleses, ganhos a custa da queda do império otomano, ficavam à volta do Mediterrâneo e hoje formam países inventados pelo europeu, que juntou e dividiu grupos étnicos ao bel prazer. Estas pessoas que viviam em aldeias seculares, mantendo tradições religiosas não só islâmicas, mas também cristã ortodoxa, cristã e judaica, tiveram que se adaptar freqüentemente à medida que outras invenções territoriais lhes afetaram no que até então tinham sido tradições e maneiras de viver milenares. Difícil é às vezes, nos lembrarmos de que tudo isto aconteceu só em cem anos. Mas a narrativa de Nazir Hamad, um conhecido psicanalista libanês radicado na França, sobre o período de meados do século XX dá ao leitor uma idéia clara, fazendo do individual o universal, sobre as raízes dos movimentos que geram os conflitos no Oriente Médio hoje. Esta pequena aula de história, de história cultural, de antropologia, vem sob a forma de um maravilhoso romance: Um homem de palavra, Nazir Hamad, [ Rio de Janeiro, Companhia de Freud:2004, 218 páginas], com tradução de Procópio Abreu.

Num outro nível este romance também traz à superfície uma perspectiva que nem sempre me pareceu tão clara: as diferentes visões de identidade, do EU vistas de quem mora numa aldeia e de quem mora numa metrópole. Uma das mais interessantes observações é que a identidade daqueles que vivem numa aldeia é adquirida mais através do OUTRO do que através de si mesmo. Trocando em miúdos: porque numa aldeia todos conhecem todos, a identidade de cada um é facilmente construída pelo que os outros pensam de você. Enquanto numa metrópole, onde ninguém o conhece a identidade de cada um tem que ser vista de dentro para fora. O sentido do EU se torna mais importante. Esta então é a grande transição porque passa a região deste romance. Quando todos sabem que sou um homem bom, porque é assim que eles me vêem, continuo a ser um homem bom. Mas, se ninguém sabe, se o mundo de repente é diferente, é preciso não só que eu seja um homem bom, mas que eu tenha a potencialidade de mostrar e de admiti-lo para mim mesmo. É esta mudança psicológica que presenciamos através da trama do livro, sem que uma palavra a respeito seja dita.

Nazir Hamad é psicanalista libanês, radicado em Paris. Especialista na área de adoção de crianças, é psicanalista da Association Freudienne Internationnale (AFI) e atuou durante anos junto à ASE (Action Sociale à l’Enfance), órgão francês responsável pela emissão dos certificados que orientam a habilitação dos candidatos à adoção. Escreveu, entre outros, A criança adotiva e suas famílias (Rio de Janeiro: Companhia de Freud, 2004) e Um homem de palavra (Rio de Janeiro: Companhia de Freud, 2004).

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Fim dum Espetáculo...

                                                                         Imagem Palácio do Acre - Blog Altino Machado
“O homem deste fim de século está preso no casulo invisível formado por todas as redes que lhe  transmitem, à distância, imagens e ruídos do mundo. (...) É preciso encontrar novas terapias capazes de tirar os homens do efeito das fascinações e reensiná-los a governar as imagens e a não suportar que elas sirvam à captura de sua liberdade”

Georges Balandier

LETRAS NEGRAS...

Saudades do Georges Balandier...

                                                                                                                              Imagem Bing
Entrei em contato com O Poder em Cena, de Georges Balandier, quando preparava a base teórica para minha tese de doutoramento, em 1989. Desde então, perdi a conta de quantas vezes voltei às suas páginas. Balandier concebe o poder como um jogo dramático, uma “teatrocracia”. O autor mostra que as cenas e os personagens, revelam as figuras imaginárias e os ritos do jogo da ordem e da desordem. Considera que o mundo inteiro é uma cena. O imaginário ilumina o fenômeno político de dentro, pois é dele uma parte constituinte.

O poder só se realiza e se conserva pela transposição, pela produção de imagens, pela manipulação de símbolos e sua organização em um quadro cerimonial. Da Idade Antiga à Contemporânea, o circo, o teatro, as telas apresentam personagens que perturbam toda a lógica social, contradizem as convenções e a moral comum, revelam o que está oculto, por meio do exagero e da farsa. O modo de produção das imagens políticas modificou-se profundamente. Elas podem ser feitas em grande quantidade e, graças aos meios audiovisuais e à imprensa escrita uma irradiação e uma presença jamais encontrada em sociedades do passado. Para Balandier, as técnicas audiovisuais de que o poder dispõe permitem uma dramatização permanente. Os governantes têm que aprender a dominar uma nova tecnologia do simbólico e do imaginário, uma nova forma de dramaturgia política.

A entrada do mundo na era de um desenvolvimento tecnológico avançado não termina com a representação. O mistério pelo qual um poder se constitui e subordina permanece intacto; práticas rituais marcam o seu lugar – à parte – e o tornam espetacular. Como ocorreu nas sociedades arcaicas ou tradicionais. Permanece atual a afirmação de Valery de que no domínio político tudo se sustenta apenas por magia. A reivindicação de racionalidade e a tecnização dos meios do poder não atuam neste campo de ação. Deste modo, razão e a ciência pouco podem fazer. Precisamente, porque a relação política permanece de uma outra natureza ela se estabelece sobre outra coisa realidade: os dispositivos simbólicos, as práticas codificadas com base nas regras do ritual, o imaginário e suas projeções dramatizadas. É por meio destes artifícios que se realiza o domínio da sociedade, eles produzem as imagens de uma supra-realidade que não se identificam com as da realidade social.

As técnicas de audiovisuais de que o poder dispõe permitem uma dramatização quase permanente. Isto obriga aos governantes a aprenderem a dominar uma nova tecnologia do simbólico e do imaginário, uma nova forma de dramaturgia política. Balandier reforça a idéia de que qualquer universo político é um cenário ou mais genericamente um lugar dramático em que são produzidos efeitos. O que mudou substancialmente foram as técnicas que podem ser utilizadas para tal finalidade, cujo emprego se modifica conforme os tipos de sociedade.

Balandier conclui que há necessidade de encontrar novas terapias capazes de tirar os homens do efeito das fascinações e reensinar a eles a governar as imagens e a não suportar que elas sirvam à captura de sua liberdade. A leitura deste livro mostra que o poder é a forma suprema do jogo dramático “a teatrocracia” rege as aparências que fazem com que as sociedades possam ser governadas. A análise do poder em sua trajetória histórica sob a ótica de sua encenação teve uma grande influência em minha formação de pesquisadora. Deste autor destaco, ainda, A Desordem E O Contorno.

Fragmento dos LIVROS QUE MARCARAM a FORMAÇÃO PROFISSIONAL de Nadir Domingues Mendonça

Fonte: DOC PDF

sábado, 20 de novembro de 2010

Kizomba: Festa da Raça...

Valeu Zumbi
O grito forte dos Palmares
Que correu terras céus e mares
Influenciando a Abolição
Zumbi valeu
Hoje a Vila é Kizomba
É batuque, canto e dança
Jogo e Maracatu
Vem menininha pra dançar o Caxambu
Vem menininha pra dançar o Caxambu
Ô ô nega mina
Anastácia não se deixou escravizar
Ô ô Clementina
O pagode é o partido popular
Sarcedote ergue a taça
Convocando toda a massa
Nesse evento que com graça
Gente de todas as raças
Numa mesma emoção
Esta Kizomba é nossa constituição
Esta Kizomba é nossa constituição
Que magia
Reza ageum e Orixá
Tem a força da Cultura
Tem a arte e a bravura
E um bom jogo de cintura
Faz valer seus ideais
E a beleza pura dos seus rituais
Vem a Lua de Luanda
Para iluminar a rua
Nossa sede é ossa sede
De que o Apartheid se destrua
Vem a Lua de Luanda
Para iluminar a rua
Nossa sede é nossa sede
De que o Apartheid se destrua

Valeu
Valeu Zumbi



Navio Negreiro

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quarta-feira, 17 de novembro de 2010

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BENEFÍCIOS DO MEL COM CANELA...


É sabido que aquela mistura de mel e canela cura a maior parte de doenças. O mel é produzido em quase todos os países do mundo. A ciência afirma que embora o mel seja doce, se ingerido na dosagem certa, a título medicinal, ele não prejudica pacientes diabéticos. A revista canadense "Notícias Mundiais Semanais" publica uma lista de doenças que podem ser curadas com Mel e Canela, segundo cientistas ocidentais.

USE REGULARMENTE NO CAFÉ DA MANHÃ

1) DOENÇAS DE CORAÇÃO:

Faça uma pasta de mel e pó de canela e aplique-a no pão, em vez de geléia, usando-a regularmente no café da manhã. Essa mistura reduz o colesterol nas artérias e evita o ataque cardíaco ou sua repetição.

O uso regular dessa pasta também alivia a perda da respiração e fortalece as batidas do coração. Na América e no Canadá, várias casas de assistência a idosos utilizam o método para proteção aos pacientes, notando-se que a canela revitaliza artérias e veias.

2) ARTRITE:

Os pacientes de artrite podem tomar diariamente, de manhã e à noite, uma xícara de água quente com duas colheres de mel e uma colher de chá de pó de canela. Se tomado regularmente, até a artrite crônica pode ser curada.

Em uma pesquisa recente, conduzida na Universidade de Copenhague, quando os doutores trataram os seus pacientes com uma mistura de uma de colher de sopa de mel e meia colher de chá de pó de canela, antes do café da manhã durante uma semana, das 200 pessoas selecionadas praticamente 73 obtiveram alívio total da dor, e em um mês a maior parte dos pacientes, que não podia andar ou se movimentar devido à artrite, voltou a se movimentar sem sentir dor.

4) COLESTEROL:

Duas colheres de sopa de mel e três colheres de chá de canela, misturadas a meio copo de chá, são capazes de reduzir em 10% o nível de colesterol no sangue dentro de 2 horas. Como mencionado para pacientes artríticos, se tomado 3 vezes ao dia, ajuda a curar o colesterol crônico. Além disso, mel puro tomado com comida diariamente alivia reclamações de colesterol.

5) INFECÇÕES DE BEXIGA:

Tome duas colheres de sopa de pó de canela e uma colher de chá de mel dissolvidas em um copo de água morna.
A mistura destrói os germes na bexiga.

6) SISTEMA IMUNE:

O uso de mel e pó de canela diariamente fortalece a imunização de nosso sistema protegendo o corpo de bactérias e ataques virais.

Os cientistas provaram que o mel tem várias vitaminas e grande concentração de ferro.

O uso constante do mel fortalece os corpúsculos de sangue brancos para lutar contra bactérias e doenças virais.

7) MORDIDAS DE INSETO:

Misture uma parte de mel a duas partes de água morna e acrescente uma colher de chá de pó de canela, fazendo uma pasta. Massageie o local picado, lentamente, e a dor cederá dentro de um ou dois minutos.

8) PERDA DE CABELO:

Os que têm problemas de perda de cabelo, ou calvície, podem aplicar uma pasta feita com azeite quente, uma colher de sopa de mel e uma colher de chá de pó de canela antes do banho. Aguardar de 5 a 10 minutos e lavar o cabelo normalmente.

9) DOR DE DENTES:

Faça uma pasta de uma colher de chá de pó de canela e cinco colheres de chá de mel e aplique no dente dolorido. A aplicação pode ser feita 3 vezes por dia.

10) CALAFRIOS: (Resfriado)

Os que sofrem de calafrios, comuns ou severos, devem tomar diariamente uma colher de sopa de mel morno com ¼ de colher de pó de canela durante 3 dias.

Este processo cura tosse crônica, o frio e compensará os seios.

11) ESTÔMAGO DE POMBO:

O Mel tomado com o pó de canela alivia dores de úlceras de estômago. Tomar duas vezes ao dia, após as principais refeições.

12) GASES:

Segundo estudos feitos na Índia e no Japão, o estômago ficará aliviado de gases, se o mel for tomado com o pó de canela, duas vezes ao dia, após as principais refeições.

13) INDIGESTÃO:

O pó de canela, salpicado em duas colheres de sopa de mel e ingerido antes da comida, alivia a acidez e ajuda na digestão de refeições pesadas..

14) INFLUENZA:

Um cientista na Espanha comprovou que o mel contém o ingrediente natural que mata os germes da"influenza" e protege o paciente contra seu ataque.

15) LONGEVIDADE:

Chá feito com mel e pó de canela, quando tomado regularmente, detém as devastações da idade. Ferva 4 colheres do mel, 1 colher de pó de canela e 3 xícaras de água, para fazer um chá. Beba ¼ de xícara 3 a 4 vezes por dia. Serve para manter a pele fresca e suave além de permitir maior longevidade, fazendo com que você execute pequenas tarefas com muito mais facilidade.

16) BORBULHAS OU PÊLOS ENCRAVADOS:

Fazer uma pasta com três colheres de sopa de mel e uma colher de chá de canela em pó. Aplique-a nos pêlos encravados, antes de dormir, e lave-as na manhã seguinte com água morna. Se feito diariamente durante duas semanas, ela retira as borbulhas da raiz.

17) INFECÇÕES DE PELE:

Aplicação de mel e pó de canela, em partes iguais sobre as partes afetadas, curam eczema, tinha e todos os tipos de infecções de pele. Usar após o banho, sobre a região bem limpa.

18) CÂNCER/CANCRO:

Pesquisa recente no Japão e Austrália revelou que tanto o câncer do estômago como o de ossos foram curados com sucesso. Os pacientes que sofrem dessas espécies de câncer devem tomar diariamente aquela colher de sopa de mel com uma colher de chá de pó de canela, durante um mês, 3 vezes por dia.

19) FADIGA:

Os estudos recentes mostraram que o conteúdo de açúcar do mel é mais útil que nocivo à força do corpo. As pessoas idosas que recebem o mel e o poder da canela em partes iguais são mais vigilantes e flexíveis. Doutor Milton, o responsável pela pesquisa, afirma que aquele copo de água tomado com meia colher de sopa de mel salpicada com pó de canela, diariamente ao levantar e à tarde, aproximadamente às 15h, quando a vitalidade do corpo começa a diminuir, revigora a vitalidade do corpo dentro de uma semana.

20) MAU HÁLITO:

A primeira coisa a fazer pela manhã é um gargarejo com uma colher de chá de mel e pó de canela.
Modo de fazer: misture o pó de canela em água quente, e depois coloque o mel.
Assim a respiração se mantém fresca por todo o dia.

21) PERDA DE AUDIÇÃO:

Fazer uso diário de mel e pó de canela, tomado em partes iguais, melhora a audição.

IMPORTANTE:

Sem efeitos colaterais conhecidos, você só não pode usar o mel e a canela se realmente for alérgico aos produtos. Porém, alerto as gestantes que antes de tomar qualquer chá ou medicamento deve consultar o seu médico.

Fonte: www.parqueipe.com.br
Autor: Wilson Dias
Enviado por Annaluiza Paiva

http://www.velhosamigos.com.br/Dicas/dicas77.html

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Mi agua es perlas fundidas...

Literatura Árabe Andaluza

Com a introdução da poesia árabe na nascente cultura árabe-andaluza, prosperaram eruditos e recopiladores como Ibn Abd Rabbini (860-940), Abú al-Qali (901-967), Ibn Bassan de Santarén (?-1147) e Said al-Magrabi. Autores autônomos importantes foram Yahya al-Hakam al-Bakrí (?-864) e Abd al-Malik (796-852), que foi o primeiro historiador andaluz.

Abd al-Rahmán III rodeou-se de poetas e eruditos para conseguir uma consciência nacional. Assim surgiram as escolas poéticas sevilhana — inclinada para a poesia amorosa e lírica — e cordobesa, mais intelectual e filosófica. Durante o reinado de Al Hakam destacou-se o grande poeta Ibn Hani de Elvira (?-972) e apareceram obras como o Livro dos hortos, uma antologia de poetas árabe-andaluzes.

Após os reinos de Taifas as letras árabe-andaluzas alcançaram um grande desenvolvimento. Em Sevilla sobressaiu-se al-Mutadid e, em Córdoba, Ibn Hazm (944-1064), autor de O colar da pomba.

As grandes figuras nas composições líricas da dinastia almorávida foram ibn Quzmán (c. 1078-1160), ibn Hafaga de Alcira (?-1134) e ibn al-Zaqqah.

Com os almorávidas desenvolveu-se uma literatura filosófica nas quais se destacaram o já mencionado Averroés e ibn Arabi, a figura mais representativa do sufismo árabe-espanhol.

Fonte: História do Mundo

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

LEITURA PARCIAL DA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL DE 1988

                                                                                  Imagem da bandeira Net
Presidência da República Casa Civil Subchefia para Assuntos Jurídicos
Emendas Constitucionais Emendas Constitucionais de Revisão
Ato das Disposições Constitucionais Transitórias
Atos decorrentes do disposto no § 3º do art. 5º
ÍNDICE TEMÁTICO
Texto compilado

PREÂMBULO

Nós, representantes do povo brasileiro, reunidos em Assembléia Nacional Constituinte para instituir um Estado Democrático, destinado a assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia social e comprometida, na ordem interna e internacional, com a solução pacífica das controvérsias, promulgamos, sob a proteção de Deus, a seguinte CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL.

TÍTULO I

Dos Princípios Fundamentais

Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos:

I - a soberania;

II - a cidadania;

III - a dignidade da pessoa humana;

IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa;

V - o pluralismo político.

Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição.

Art. 2º São Poderes da União, independentes e harmônicos entre si, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário.

Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil:

I - construir uma sociedade livre, justa e solidária;

II - garantir o desenvolvimento nacional;

III - erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais;

IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação.

Art. 4º A República Federativa do Brasil rege-se nas suas relações internacionais pelos seguintes princípios:

I - independência nacional;

II - prevalência dos direitos humanos;

III - autodeterminação dos povos;

IV - não-intervenção;

V - igualdade entre os Estados;

VI - defesa da paz;

VII - solução pacífica dos conflitos;

VIII - repúdio ao terrorismo e ao racismo;

IX - cooperação entre os povos para o progresso da humanidade;

X - concessão de asilo político.

Parágrafo único. A República Federativa do Brasil buscará a integração econômica, política, social e cultural dos povos da América Latina, visando à formação de uma comunidade latino-americana de nações.

TÍTULO II

Dos Direitos e Garantias Fundamentais

CAPÍTULO I

DOS DIREITOS E DEVERES INDIVIDUAIS E COLETIVOS

(...)

CAPÍTULO II

DOS DIREITOS SOCIAIS



Art. 6º São direitos sociais a educação, a saúde, o trabalho, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição.

Art. 6o São direitos sociais a educação, a saúde, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição.(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 26, de 2000)

Art. 6º São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 64, de 2010)

Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua condição social:

I - relação de emprego protegida contra despedida arbitrária ou sem justa causa, nos termos de lei complementar, que preverá indenização compensatória, dentre outros direitos;
II - seguro-desemprego, em caso de desemprego involuntário;
III - fundo de garantia do tempo de serviço;
IV - salário mínimo , fixado em lei, nacionalmente unificado, capaz de atender a suas necessidades vitais básicas e às de sua família com moradia, alimentação, educação, saúde, lazer, vestuário, higiene, transporte e previdência social, com reajustes periódicos que lhe preservem o poder aquisitivo, sendo vedada sua vinculação para qualquer fim;
V - piso salarial proporcional à extensão e à complexidade do trabalho;
  VI - irredutibilidade do salário, salvo o disposto em convenção ou acordo coletivo;
VII - garantia de salário, nunca inferior ao mínimo, para os que percebem remuneração variável;
VIII - décimo terceiro salário com base na remuneração integral ou no valor da aposentadoria;
 IX - remuneração do trabalho noturno superior à do diurno;
X - proteção do salário na forma da lei, constituindo crime sua retenção dolosa;
XI - participação nos lucros, ou resultados, desvinculada da remuneração, e, excepcionalmente, participação na gestão da empresa, conforme definido em lei;
XII - salário-família para os seus dependentes;
XII - salário-família pago em razão do dependente do trabalhador de baixa renda nos termos da lei;(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 20, de 1998)
XIII - duração do trabalho normal não superior a oito horas diárias e quarenta e quatro semanais, facultada a compensação de horários e a redução da jornada, mediante acordo ou convenção coletiva  de trabalho; (vide Decreto-Lei nº 5.452, de 1943)
 XIV - jornada de seis horas para o trabalho realizado em turnos ininterruptos de revezamento, salvo negociação coletiva;
XV - repouso semanal remunerado, preferencialmente aos domingos;
XVI - remuneração do serviço extraordinário superior, no mínimo, em cinqüenta por cento à do normal;  (Vide Del 5.452, art. 59 § 1º)
 XVII - gozo de férias anuais remuneradas com, pelo menos, um terço a mais do que o salário normal;
       XVIII - licença à gestante, sem prejuízo do emprego e do salário, com a duração de cento e vinte dias;
    XIX - licença-paternidade, nos termos fixados em lei;
 XX - proteção do mercado de trabalho da mulher, mediante incentivos específicos, nos termos da lei;
XXI - aviso prévio proporcional ao tempo de serviço, sendo no mínimo de trinta dias, nos termos da lei;
  XXII - redução dos riscos inerentes ao trabalho, por meio de normas de saúde, higiene e segurança;
 XXIII - adicional de remuneração para as atividades penosas, insalubres ou perigosas, na forma da lei;
 XXIV - aposentadoria;
 XXV - assistência gratuita aos filhos e dependentes desde o nascimento até seis anos de idade em creches e pré-escolas;
    XXV - assistência gratuita aos filhos e dependentes desde o nascimento até 5 (cinco) anos de idade em creches e pré-escolas; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 53, de 2006)
 XXVI - reconhecimento das convenções e acordos coletivos de trabalho;
 XXVII - proteção em face da automação, na forma da lei;
   XXVIII - seguro contra acidentes de trabalho, a cargo do empregador, sem excluir a indenização a que es te está obrigado, quando incorrer em dolo ou culpa;
    XXIX - ação, quanto a créditos resultantes das relações de trabalho, com prazo prescricional de:
     XXIX - ação, quanto aos créditos resultantes das relações de trabalho, com prazo prescricional de cinco anos para os trabalhadores urbanos e rurais, até o limite de dois anos após a extinção do contrato de trabalho;(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 28, de 25/05/2000)
   
a) cinco anos para o trabalhador urbano, até o limite de dois anos após a extinção do contrato;
 b) até dois anos após a extinção do contrato, para o trabalhador rural; (Revogado pela Emenda Constitucional nº 28, de 25/05/2000)

XXX - proibição de diferença de salários, de exercício de funções e de critério de admissão por motivo de sexo, idade, cor ou estado civil;
    XXXI - proibição de qualquer discriminação no tocante a salário e critérios de admissão do trabalhador portador de deficiência;
 XXXII - proibição de distinção entre trabalho manual, técnico e intelectual ou entre os profissionais respectivos;
     XXXIII - proibição de trabalho noturno, perigoso ou insalubre aos menores de dezoito e de qualquer trabalho a menores de quatorze anos, salvo na condição de aprendiz;

   XXIII - proibição de trabalho noturno, perigoso ou insalubre a menores de dezoito e de qualquer trabalho a menores de dezesseis anos, salvo na condição de aprendiz, a partir de quatorze anos; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 20, de 1998)
     XXIV - igualdade de direitos entre o trabalhador com vínculo empregatício permanente e o trabalhador avulso.

 Parágrafo único. São assegurados à categoria dos trabalhadores domésticos os direitos previstos nos incisos IV, VI, VIII, XV, XVII, XVIII, XIX, XXI e XXIV, bem como a sua integração à previdência social.

   Art. 8º É livre a associação profissional ou sindical, observado o seguinte:

  I - a lei não poderá exigir autorização do Estado para a fundação de sindicato, ressalvado o registro no órgão competente, vedadas ao Poder Público a interferência e a intervenção na organização sindical;
      II - é vedada a criação de mais de uma organização sindical, em qualquer grau, representativa de categoria profissional ou econômica, na mesma base territorial, que será definida pelos trabalhadores ou empregadores interessados, não podendo ser inferior à área de um Município;
     III - ao sindicato cabe a defesa dos direitos e interesses coletivos ou individuais da categoria, inclusive em questões judiciais ou administrativas;
  IV - a assembléia geral fixará a contribuição que, em se tratando de categoria profissional, será descontada em folha, para custeio do sistema confederativo da representação sindical respectiva, independentemente da contribuição prevista em lei;
    V - ninguém será obrigado a filiar-se ou a manter-se filiado a sindicato;
      VI - é obrigatória a participação dos sindicatos nas negociações coletivas de trabalho;
      VII - o aposentado filiado tem direito a votar e ser votado nas organizações sindicais;
  VIII - é vedada a dispensa do empregado sindicalizado a partir do registro da candidatura a cargo de direção ou representação sindical e, se eleito, ainda que suplente, até um ano após o final do mandato, salvo se cometer falta grave nos termos da lei.

 Parágrafo único. As disposições deste artigo aplicam-se à organização de sindicatos rurais e de colônias de pescadores, atendidas as condições que a lei estabelecer.

   Art. 9º É assegurado o direito de greve, competindo aos trabalhadores decidir sobre a oportunidade de exercê-lo e sobre os interesses que devam por meio dele defender.



§ 1º - A lei definirá os serviços ou atividades essenciais e disporá sobre o atendimento das necessidades inadiáveis da comunidade.



§ 2º - Os abusos cometidos sujeitam os responsáveis às penas da lei.



Art. 10. É assegurada a participação dos trabalhadores e empregadores nos colegiados dos órgãos públicos em que seus interesses profissionais ou previdenciários sejam objeto de discussão e deliberação.



Art. 11. Nas empresas de mais de duzentos empregados, é assegurada a eleição de um representante destes com a finalidade exclusiva de promover-lhes o entendimento direto com os empregadores.



CAPÍTULO III

DA NACIONALIDADE



Art. 12. São brasileiros:



I - natos:



a) os nascidos na República Federativa do Brasil, ainda que de pais estrangeiros, desde que estes não estejam a serviço de seu país;



b) os nascidos no estrangeiro, de pai brasileiro ou mãe brasileira, desde que qualquer deles esteja a serviço da República Federativa do Brasil;



c) os nascidos no estrangeiro, de pai brasileiro ou de mãe brasileira, desde que sejam registrados em repartição brasileira competente, ou venham a residir na República Federativa do Brasil antes da maioridade e, alcançada esta, optem, em qualquer tempo, pela nacionalidade brasileira;

c) os nascidos no estrangeiro, de pai brasileiro ou mãe brasileira, desde que venham a residir na República Federativa do Brasil e optem, em qualquer tempo, pela nacionalidade brasileira;(Redação dada pela Emenda Constitucional de Revisão nº 3, de 1994)



c) os nascidos no estrangeiro de pai brasileiro ou de mãebrasileira, desde que sejam registrados em repartição brasileira competente ou venham a residir na República Federativa do Brasil e optem, em qualquer tempo, depois de atingida a maioridade, pela nacionalidade brasileira; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 54, de 2007)



II - naturalizados:>



a) os que, na forma da lei, adquiram a nacionalidade brasileira, exigidas aos originários de países de língua portuguesa apenas residência por um ano ininterrupto e idoneidade moral;



b) os estrangeiros de qualquer nacionalidade, residentes na República Federativa do Brasil há mais de trinta anos ininterruptos e sem condenação penal, desde que requeiram a nacionalidade brasileira.



b) os estrangeiros de qualquer nacionalidade, residentes na República Federativa do Brasil há mais de quinze anos ininterruptos e sem condenação penal, desde que requeiram a nacionalidade brasileira.(Redação dada pela Emenda Constitucional de Revisão nº 3, de 1994)



§ 1º - Aos portugueses com residência permanente no País, se houver reciprocidade em favor de brasileiros, serão atribuídos os direitos inerentes ao brasileiro nato, salvo os casos previstos nesta Constituição.



§ 1º Aos portugueses com residência permanente no País, se houver reciprocidade em favor de brasileiros, serão atribuídos os direitos inerentes ao brasileiro, salvo os casos previstos nesta Constituição.(Redação dada pela Emenda Constitucional de Revisão nº 3, de 1994)



§ 2º - A lei não poderá estabelecer distinção entre brasileiros natos e naturalizados, salvo nos casos previstos nesta Constituição.

§ 3º - São privativos de brasileiro nato os cargos:

I - de Presidente e Vice-Presidente da República;
II - de Presidente da Câmara dos Deputados;
III - de Presidente do Senado Federal;
IV - de Ministro do Supremo Tribunal Federal;
V - da carreira diplomática;
VI - de oficial das Forças Armadas.
VII - de Ministro de Estado da Defesa(Incluído pela Emenda Constitucional nº 23, de 1999)

§ 4º - Será declarada a perda da nacionalidade do brasileiro que:

I - tiver cancelada sua naturalização, por sentença judicial, em virtude de atividade nociva ao interesse nacional;
II - adquirir outra nacionalidade por naturalização voluntária.
III - adquirir outra nacionalidade, salvo no casos: (Redação dada pela Emenda Constitucional de Revisão nº 3, de 1994)

a) de reconhecimento de nacionalidade originária pela lei estrangeira; (Incluído pela Emenda Constitucional de Revisão nº 3, de 1994)
b) de imposição de naturalização, pela norma estrangeira, ao brasileiro residente em estado estrangeiro, como condição para permanência em seu território ou para o exercício de direitos civis; (Incluído pela Emenda Constitucional de Revisão nº 3, de 1994)

Art. 13. A língua portuguesa é o idioma oficial da República Federativa do Brasil.

§ 1º - São símbolos da República Federativa do Brasil a bandeira, o hino, as armas e o selo nacionais.

§ 2º - Os Estados, o Distrito Federal e os Municípios poderão ter símbolos próprios.

CAPÍTULO IV

DOS DIREITOS POLÍTICOS

 Art. 14. A soberania popular será exercida pelo sufrágio universal e pelo voto direto e secreto, com valor igual para todos, e, nos termos da lei, mediante:

I - plebiscito;
II - referendo;
III - iniciativa popular.

§ 1º - O alistamento eleitoral e o voto são:

I - obrigatórios para os maiores de dezoito anos;
II - facultativos para:

a) os analfabetos;
b) os maiores de setenta anos;
c) os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos.

§ 2º - Não podem alistar-se como eleitores os estrangeiros e, durante o período do serviço militar obrigatório, os conscritos.

§ 3º - São condições de elegibilidade, na forma da lei:

I - a nacionalidade brasileira;
II - o pleno exercício dos direitos políticos;
III - o alistamento eleitoral;

   IV - o domicílio eleitoral na circunscrição;
V - a filiação partidária;
VI - a idade mínima de:
a) trinta e cinco anos para Presidente e Vice-Presidente da República e Senador;

b) trinta anos para Governador e Vice-Governador de Estado e do Distrito Federal;

c) vinte e um anos para Deputado Federal, Deputado Estadual ou Distrital, Prefeito, Vice-Prefeito e juiz de paz;

d) dezoito anos para Vereador.

§ 4º - São inelegíveis os inalistáveis e os analfabetos.

§ 5º - São inelegíveis para os mesmos cargos, no período subseqüente, o Presidente da República, os Governadores de Estado e do Distrito Federal, os Prefeitos e quem os houver sucedido, ou substituído nos seis meses anteriores ao pleito.

§ 5º O Presidente da República, os Governadores de Estado e do Distrito Federal, os Prefeitos e quem os houver sucedido, ou substituído no curso dos mandatos poderão ser reeleitos para um único período subseqüente.(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 16, de 1997)

§ 6º - Para concorrerem a outros cargos, o Presidente da República, os Governadores de Estado e do Distrito Federal e os Prefeitos devem renunciar aos respectivos mandatos até seis meses antes do pleito.

§ 7º - São inelegíveis, no território de jurisdição do titular, o cônjuge e os parentes consangüíneos ou afins, até o segundo grau ou por adoção, do Presidente da República, de Governador de Estado ou Território, do Distrito Federal, de Prefeito ou de quem os haja substituído dentro dos seis meses anteriores ao pleito, salvo se já titular de mandato eletivo e candidato à reeleição.

§ 8º - O militar alistável é elegível, atendidas as seguintes condições:

I - se contar menos de dez anos de serviço, deverá afastar-se da atividade;

II - se contar mais de dez anos de serviço, será agregado pela autoridade superior e, se eleito, passará automaticamente, no ato da diplomação, para a inatividade.

§ 9º - Lei complementar estabelecerá outros casos de inelegibilidade e os prazos de sua cessação, a fim de proteger a normalidade e legitimidade das eleições contra a influência do poder econômico ou o abuso do exercício de função, cargo ou emprego na administração direta ou indireta.

§ 9º Lei complementar estabelecerá outros casos de inelegibilidade e os prazos de sua cessação, a fim de proteger a probidade administrativa, a moralidade para exercício de mandato considerada vida pregressa do candidato, e a normalidade e legitimidade das eleições contra a influência do poder econômico ou o abuso do exercício de função, cargo ou emprego na administração direta ou indireta. (Redação dada pela Emenda Constitucional de Revisão nº 4, de 1994)

§ 10 - O mandato eletivo poderá ser impugnado ante a Justiça Eleitoral no prazo de quinze dias contados da diplomação, instruída a ação com provas de abuso do poder econômico, corrupção ou fraude.

§ 11 - A ação de impugnação de mandato tramitará em segredo de justiça, respondendo o autor, na forma da lei, se temerária ou de manifesta má-fé.

Art. 15. É vedada a cassação de direitos políticos, cuja perda ou suspensão só se dará nos casos de:

I - cancelamento da naturalização por sentença transitada em julgado;

II - incapacidade civil absoluta;

III - condenação criminal transitada em julgado, enquanto durarem seus efeitos;

IV - recusa de cumprir obrigação a todos imposta ou prestação alternativa, nos termos do art. 5º, VIII;

V - improbidade administrativa, nos termos do art. 37, § 4º.

Art. 16 A lei que alterar o processo eleitoral só entrará em vigor um ano após sua promulgação.

Art. 16. A lei que alterar o processo eleitoral entrará em vigor na data de sua publicação, não se aplicando à eleição que ocorra até um ano da data de sua vigência. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 4, de 1993)



CAPÍTULO V

(...)

Fonte: Site  da Presidência:   http://planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituiçao_Compilado.htm

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Nossas Democráticas Diferenças...

                                                                             Imagem Pôr-do-sol rio Chandlles - Arison
As “diferenças abertas”
na atual democracia
São como veias entrelaçadas
No mundo planetário
onde o sangue
já foi jorrado para adubar
a luxuria do Rei
No planeta jaz de ouro
que outrora brilhou
Com a dor
na indiferença do irmão
o quê nos resta então?
na translação da Terra
senão brilhar com
a Luz do Sol
No Amigo de coração
sem paixão da homogeneização
sem Cor, sem Dor
sem Comunicação...

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Conversa de Botas Lambidas do meu mundinho...

O May be man...

Existe o “Yes man”. Todos sabem quem é e o mal que causa. Mas existe o May be man. E poucos sabem quem é. Menos ainda sabem o impacto desta espécie na vida nacional. Apresento aqui essa criatura que todos, no final, reconhecerão como familiar.

O May be man vive do “talvez”. Em português, dever-se-ia chamar de “talvezeiro”. Devia tomar decisões. Não toma. Sim­plesmente, toma indecisões. A decisão é um risco. E obriga a agir. Um “talvez” não tem implicação nenhuma, é um híbrido entre o nada e o vazio.

A diferença entre o Yes man e o May be man não está apenas no “yes”. É que o “may be” é, ao mesmo tempo, um “may be not”. Enquanto o Yes man aposta na bajulação de um chefe, o May be man não aposta em nada nem em ninguém. Enquanto o primeiro suja a língua numa bota, o outro engraxa tudo que seja bota superior.

Sem chegar a ser chave para nada, o May be man ocupa lugares chave no Estado. Foi-lhe dito para ser do partido. Ele aceitou por conveniên­cia. Mas o May be man não é exactamente do partido no Poder. O seu partido é o Poder. Assim, ele veste e despe cores políticas conforme as marés. Porque o que ele é não vem da alma. Vem da aparência. A mesma mão que hoje levanta uma bandeira, levantará outra amanhã. E venderá as duas bandeiras, depois de amanhã. Afinal, a sua ideolo­gia tem um só nome: o negócio. Como não tem muito para negociar, como já se vendeu terra e ar, ele vende-se a si mesmo. E vende-se em parcelas. Cada parcela chama-se “comissão”. Há quem lhe chame de “luvas”. Os mais pequenos chamam-lhe de “gasosa”. Vivemos uma na­ção muito gaseificada.

Governar não é, como muitos pensam, tomar conta dos interesses de uma nação. Governar é, para o May be Man, uma oportunidade de negócios. De “business”, como convém hoje, dizer. Curiosamente, o “talvezeiro” é um veemente crítico da corrupção. Mas apenas, quando beneficia outros. A que lhe cai no colo é legítima, patriótica e enqua­dra-se no combate contra a pobreza.

Mas a corrupção, em Moçambique, tem uma dificuldade: o corrup­tor não sabe exactamente a quem subornar. Devia haver um manual, com organograma orientador. Ou como se diz em workshopês: os guidelines. Para evitar que o suborno seja improdutivo. Afinal, o May be man é mais cauteloso que o andar do camaleão: aguarda pela opi­nião do chefe, mais ainda pela opinião do chefe do chefe. Sem luz verde vinda dos céus, não há luz nem verde para ninguém.

O May be man entendeu mal a máxima cristã de “amar o próximo”. Porque ele ama o seguinte. Isto é, ama o governo e o governante que vêm a seguir. Na senda de comércio de oportunidades, ele já vendeu a mesma oportunidade ao sul-africano. Depois, vendeu-a ao portu­guês, ao indiano. E está agora a vender ao chinês, que ele imagina ser o “próximo”. É por isso que, para a lógica do “talvezeiro” é trágico que surjam decisões. Porque elas matam o terreno do eterno adiamento onde prospera o nosso indecidido personagem.

O May be man descobriu uma área mais rentável que a especulação financeira: a área do não deixar fazer. Ou numa parábola mais recen­te: o não deixar. Há investimento à vista? Ele complica até deixar de haver. Há projecto no fundo do túnel? Ele escurece o final do túnel. Um pedido de uso de terra, ele argumenta que se perdeu a papelada. Numa palavra, o May be man actua como polícia de trânsito corrup­to: em nome da lei, assalta o cidadão.

Eis a sua filosofia: a melhor maneira de fazer política é estar fora da política. Melhor ainda: é ser político sem política nenhuma. Nessa fluidez se afirma a sua competência: ele e sai dos princípios, esquece o que disse ontem, rasga o juramento do passado. E a lei e o plano servem, quando confirmam os seus interesses. E os do chefe. E, à cau­tela, os do chefe do chefe.

O May be man aprendeu a prudência de não dizer nada, não pensar nada e, sobretudo, não contrariar os poderosos. Agradar ao dirigen­te: esse é o principal currículo. Afinal, o May be man não tem ideia sobre nada: ele pensa com a cabeça do chefe, fala por via do discurso do chefe. E assim o nosso amigo se acha apto para tudo. Podem no­meá-lo para qualquer área: agricultura, pescas, exército, saúde. Ele está à vontade em tudo, com esse conforto que apenas a ignorância absoluta pode conferir.

Apresentei, sem necessidade o May be man. Porque todos já sabíamos quem era. O nosso Estado está cheio deles, do topo à base. Podíamos falar de uma elevada densidade humana. Na realidade, porém, essa densidade não existe. Porque dentro do May be man não há ninguém. O que significa que estamos pagando salários a fantasmas. Uma for­tuna bem real paga mensalmente a fantasmas. Nenhum país, mesmo rico, deitaria assim tanto dinheiro para o vazio.

O May be Man é utilíssimo no país do talvez e na economia do faz-de- conta. Para um país a sério não serve.

Por Mia Couto

Fonte: O País Online