quinta-feira, 29 de setembro de 2011

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Berekekê...

Ka Uluwehi O Ke Kai...

Extermínio Silencioso...

"Os índios guaranis vivem situação de extermínio silencioso. Ninguém no governo federal ousa enfrentar os interesses do agronegócio no estado comandado pelo governador do PMDB André Puccinelli, enquanto que a mídia mostra sua total insensibilidade”. A opinião sobre as populações indígenas no Mato Grosso do Sul é de Marta Azevedo, professora do Núcleo de Estudos da População (NEPO) da Unicamp em entrevista a Gabriel Brito e publicado pelo Correio da Cidadania...

Uma tragédia brasileira...

A dizimação que as populações indígenas vivem hoje é parte de uma tragédia que começa no dia 22 de abril de 1500, com a chegada dos europeus ao Brasil, iniciando o processo de destruição de uma raça e sua cultura, exterminando os donos legítimos desta terra e tomando posse de um país que, a partir daquele instante, passava a pertencer ao novo mundo, mais precisamente a Portugal. Novos costumes – anunciados como superiores, por virem de povos desenvolvidos – foram impostos e assim, a partir do momento em que aquelas três caravelas aportaram na costa brasileira, começava o calvário das populações indígenas.

A mentira que tenta justificar o poder português nos foi contada a vida inteira, desde as escolas primárias, como a saga fascinante de um grande navegador, Pedro Álvares Cabral, que, depois de tanto vagar pelos mares em direção às Índias, se deparou com uma terra nova. Esse grande aventureiro teria então descoberto o Brasil. “Fala-se em descobrimento, mas como descobrir uma terra já descoberta e habitada?, pergunta José Luiz Quadros, professor de Direito da PUC-Minas.

Ou seja, não houve descobrimento algum e todo o conto de fadas relatado nas escolas não passa de uma invenção, já que o que aconteceu depois que os portugueses puseram os pés nessas terras o que aconteceu foi um grande genocídio, uma devastação sem precedentes de um povo e de sua cultura tida como pecaminosa pela Igreja por se tratar de uma gente preguiçosa que, aos olhos europeus, não gostava de trabalhar, juntar riquezas, só se preocupava em conseguir o necessário para a sua sobrevivência.

“O europeu nunca viu o índio como igual, como um detentor de direitos, como uma pessoa. Ele viu o índio, desde a sua chegada, como um facilitador na exploração da nova terra, como um conhecedor dos produtos das florestas, como mão de obra, as belas mulheres como forma de matar seus desejos sexuais, na falta de mulheres portuguesas”, ressalta Wilson Matos da Silva, índio, advogado e presidente da Comissão Especial de Assuntos Indígenas da OAB/MS.
 
O índio sempre foi usado pelo português, seja para a reprodução, seja para a guerra contra tribos tidas como inimigas que atrapalhavam os planos mercantilistas de Lisboa, seja como escravo, mas nunca visto como um indivíduo detentor de costumes próprios, legítimo dono da terra e das riquezas nela existentes. Ao contrário, eram considerados um povo sem religião que deveria assimilar uma nova cultura, ou serem banidos, dando lugar à nova civilização européia. Em poucos séculos, essa nova civilização expulsaria os índios para o interior do país, acabaria com seus costumes e sua forma sustentável de lidar com a floresta até que não restasse sequer uma aldeia que não se rendesse ao domínio português...
 
Por Marco Lacerda, Dom Total: aqui para uma leitura completa...

terça-feira, 27 de setembro de 2011

domingo, 25 de setembro de 2011

Rio-Linguagem-Identidade...

O meu Amigo A.G.S. é incrível; apaixono-me sempre por ele a cada mail que me envia: o último – no qual ele descreve um período histórico de seu país, ainda relata-me sobre o rio e ponte que divide a fronteira natural, a sudeste, entre os dois países dos meus sonhos; aí ele fala-me também a respeito da homenagem aos Infantes, Reis, navegadores e seus Senhores – como eu ia dizer, naquele mail eu senti uma história viva e vivi um mar de vidas; cheguei a ficar constrangida (diante da precisão e minuciosidade da sua escrita) por ter falado que se eu fosse sua aluna me esforçaria o máximo para obter a melhor nota, sinto-me uma indigna perante sua perfeição...

Mas sempre é assim: todas as suas missivas me inspiram poesia; até fazem-me lembrar às imagens de filmes, ou até mesmo alguma narrativa de romance burlesco, que conduz a sua trama com determinação e muita fluidez numa serenidade sentimental apaixonante...

Enfim, assim percebo o A.G.S. (o meu único Amigo): é como se ele fosse um artesão da escrita que, minuciosamente com sua arte, dá um tratamento às palavras com sabores e cores, tanto que fico toda dissolvida, e sempre que leio seus mails me recolho ao meu interior e volto à vida com mais vida; foi o que me inspirou esse rio de linguagem, a seguir:
 Oh! Rio da linguagem
O discurso do teu espaço-tempo
É a pura memória
Duma história
Em infinita desconstrução

Reconstruo-te

E nos traços verdes
Do fino horizonte
Que adiante de te ficou
Estão as luzes oscilantes
Crepúsculos dos reflexos coloridos
Da mítica prosa-lírica
em fluvial semântica

Racionalizo-te
Identifico-te
Em representações ideológicas
Dentre tantos imaginários mitológicos

E numa definição identitária,
Pelo fluxo ardente da expressão simbólica
Sob a correnteza sintática...
Fui o duplo gesto duma análise discursiva

Assim sou, em ardente linguagem,
a destemida fluidez das amazônidas... 

sábado, 24 de setembro de 2011

Oração por uma Bênção das Palavras...

 “... Olho para o Céu e estendo as mãos; faço a Deus minha oração”... Abençoa as minhas palavras, Senhor; quero consagrá-las para Ti porque são elas a minha salvação, pois mesmo cheia de erros buscam uma perfeição...

Para eu compreender o meu próprio desespero, deixo aqui algumas linhas duma canção, de Dayana e Sacramento, em forma de oração: “Não sou um distante Deus escondido atrás do céu; não sou um Deus de páginas de um livro qualquer que alguém rasga quando quiser... Sou o Deus que quis sentir o chorar, a dor e o sofrer; foi por isso então que me fiz carne por ti, para tua vida viver...”

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

terça-feira, 20 de setembro de 2011

Sonda-me...

Refletindo com a Palavra...

                                                                                    Santorini - Imagem do MSN.Viagem

"... Seus Caminhos estão semeados de Delícias, e suas Veredas são Pacíficas..." (Provérbio 3:17)

O Mundo se Despedaça...

O mundo se despedaça conta a história de um guerreiro chamado Okonkwo, da etnia ibo, estabelecida no sudeste da Nigéria, às margens do rio Níger. O momento que a narrativa retrata é o da gradual desintegração da vida tribal, graças à chegada do colonizador branco. Os valores da Ibolândia são colocados em xeque pelos missionários britânicos que trazem consigo o cristianismo, uma nova forma de governo e a força da polícia.

O delicado equilíbrio de costumes do clã vinha sendo mantido por gerações, mas então atravessa um momento de desestabilização, pois os missionários europeus e seus seguidores, africanos convertidos, começam a acorrer às aldeias de Umuófia pregando em favor de uma nova crença, organizada em torno de um único Deus. A nova religião contraria a crença nas forças anímicas e na sabedoria dos antepassados, em que acreditam os ibos. Além disso, os homens brancos trazem novas instituições: a escola, a lei, a polícia.

Okonkwo, o mais bravo guerreiro do clã, é dos principais opositores dos missionários, mas ele não contava com a adesão à nova crença de muitos de seus conterrâneos, vizinhos e companheiros de aldeia. Entre eles está ninguém menos que seu primogênito, Nwoye. Também aderem à religião do homem branco aqueles que foram marginalizados pela sociedade tradicional, os párias ou osus, as mulheres, os jovens sem perspectiva.

Como escreve o diplomata e estudioso das literaturas africanas Alberto da Costa e Silva, no prefácio ao livro, o romance de Achebe é uma das obras fundadoras do romance nigeriano contemporâneo. Segundo ele, o livro "narra a desintegração de uma cultura, com a chegada do estrangeiro, com armas mais poderosas e de pele, costumes e ideias diferentes". Mas, para o ensaísta, Chinua Achebe, que escreve em inglês,"é cidadão de uma Nigéria criada pelo colonizador" e sabe que a "História não é boa nem má, nascemos dela, de seus sofrimentos e remorsos, de seus sonhos e pesadelos".

O romance é considerado um dos livros mais importantes da literatura africana do século XX e fundador da moderna literatura nigeriana. Foi publicado originalmente em 1958, dois anos antes da independência da Nigéria. Primeiro romance do autor, foi publicado em mais de quarenta línguas.

"Chinua Achebe é um escritor mágico - um dos maiores do século XX." - Margaret Atwood

"Uma imaginação vívida ilumina cada página [...] Um romance que enxerga a vida tribal de um ponto de vista interno, genuíno." - Times Literary Supplement...

O Mundo se Despedaça...

Ler O Mundo Se Despedaça, de Chinua Achebe, é uma experiência às vezes desconfortável, às vezes arrebatadora. O autor nigeriano que faz 79 anos no próximo dia 16 escreveu o seu livro de estreia quando ainda era um jovem de 20 e tantos anos. Redigiu à mão, em inglês, e enviou o texto para um escritório em Londres datilografar, com as despesas pagas. Eram os anos 1950.

Por pouco o texto não se perdeu. Graças à intervenção de um conhecido de Achebe, o manuscrito foi “desencavado” depois de passar meses ignorado num canto da empresa e, finalmente, passado a limpo. Aquela era a única cópia que havia e, se ela tivesse desaparecido, é muito provável que o escritor mais conhecido e lido da África jamais publicasse coisa alguma.

E foi com O Mundo Se Despedaça que Chinua Achebe (a pronúncia é algo próximo de “tchinua tchebei”) ganhou o mundo. Publicado pela primeira vez em 1958, depois de ter sido rejeitado por inúmeras editoras, o romance virou referência sobre como vivia o povo ibo na Nigéria até o fim do século 19 e o impacto que a chegada do homem branco teve sobre a região. A obra é considerada também fundadora da literatura moderna nigeriana.

Uma tradução brasileira foi publicada pela Ática em 1983 e era disputada a tapa no circuito de sebos. A nova edição, da Companhia das Letras, tem uma introdução minuciosa do escritor e historiador Alberto da Costa e Silva.

“Os ibos têm sua pátria no sudeste da Nigéria, ao norte do delta do Níger e ao sul do Benué, numa larga faixa que vai do sudoeste do Níger até as águas do rio Cross. Seus vizinhos ao norte são os igalas e os idomas; a oeste, os binis; a leste, os ecóis e os efiques; ao sul, os ibíbios e os ijós. As tradições colocam a fonte da nação ibo na área de Nri-Awka e dizem que a principal rua de Nri é a rua dos deuses, e que por ela transitam, a caminho da terra dos espíritos, todos os que morrem em outras da Ibolândia”, escreve Costa e Silva.
(...)
O modo como Achebe escreve parece refletir a tradição oral do povo sobre o qual fala. Na descrição de Costa e Silva, os ibos amam a eloquência e têm o dom da palavra no mais alto conceito, além de jogar com palavras e adorar provérbios.

O Mundo Se Despedaça tem poucas descrições – o que torna o glossário ao final do volume ainda mais útil –, o enredo é ralo e mal consegue amarrar os acontecimentos de um capítulo aos do outro. Assim como as histórias narradas pelos pais aos filhos, Achebe sempre guarda uma lição atrás de cada fato. Seu protagonista perde a humanidade para virar uma ideia, ou um exemplo.

Okonkwo não é apenas um, mas sim um povo inteiro. Por mais que sofra as consequências de seus atos e viva um cotidiano que parece bárbaro aos olhos de um leitor de hoje, Achebe mostra o valor das tradições e o faz de maneira afetuosa.

sábado, 17 de setembro de 2011

Our Days Live...

Desire...

Bajo El Cielo...

"Saúde em Movimento": A Linguagem do Corpo...

"Existe senão um só templo no universo,
É o corpo do Homem. (...) Curvar-se
Diante do homem é um ato de reverência
Diante desta revelação da Carne.
Tocamos o céu quando colocamos
Nossas mãos num corpo humano.” (Novalis) 

Venho através deste, de forma muito sincera, agradecer e parabenizar aos idealizadores, executores e todos os profissionais envolvidos no Programa Saúde em Movimento, como já falaram, esse é um programa de estímulo na adoção de práticas saudáveis junto às comunidades de Rio Branco... Tendo como objetivo maior, a prevenção de doenças e uma melhor qualidade de vida. Assim, esse programa vem oferecendo várias atividades nas regionais dessa cidade.

Sistematicamente é realizado um encontro para agrupar e promover a integração entre os oito Núcleos de Vida Saudável das regionais (confesso que, por falta de disponibilidade nos dias dos encontros, ainda não participei de nenhum, o Professor Fábio que me perdoe pelo desprestígio a sua dedicação). Entre as atividades desenvolvidas estão dança, aeróbica, alongamentos e exercícios localizados, como abdominais. Os “núcleos estão localizados na Concha Acústica do Parque da Maternidade, Centro da Juventude do São Francisco, espaço cultural Lídia Hammes, Espaço Ágora (Parque da Maternidade), Arena da Floresta, Parque do Tucumã, Calçadão da Gameleira e Horto Florestal... Além da atividade física, trimestralmente é feito o acompanhamento de cada pessoa, com a aferição do peso, da pressão, colesterol e glicemia.” Mais informações aqui...

Bem, o motivo maior para meu agradecimento é o efeito benéfico que já sinto no corpo e na alma; os resultados impactantes das atividades que venho praticando, há cinco meses, são bem perceptíveis... Minha satisfação não é somente física, é também emocional, pela grandiosidade de algumas amizades conquistadas no Núcleo Parque do Tucumã, no qual participo...

Convido-te agora a escutar: não as minhas palavras e sim a linguagem do meu corpo, porque sinto nesse instante um imenso desejo de falar sobre as dores que outrora impuseram ao meu corpo e que agora agem, em mim, como obstáculos na prática de certos movimentos... Entretanto, será necessário uma breve leitura dum trecho dos livros O Corpo e seus símbolos e Repressão Sexual: Essa nossa (des)conhecida; talvez assim fique mais claro, até mesmo para mim, ouvir a voz do meu corpo; digo isso pela grande dificuldade que estou sentindo, conforme já falara; aí necessito compreender a simbologia do meu corpo perante minha impossibilidade em praticar tais movimentos... Pois, o interessante foi perceber que os movimentos ritmados, como na aeróbica, faço-os sem nenhum obstáculo; exigem muita habilidade do corpo, porém eu vou que vou, sem dificuldade; no entanto os movimentos localizados são tortuosos: como o abdominal, por exemplo, que exerce um profundo impacto no útero... Questiono-me: qual a relação desse obstáculo com os traumas da repressão sexual sofridos na minha educação?...

Daí, lembrei-me das palavras do Jean-Yves Leloup, quando ele diz: “que o corpo não mente, mais que isso, ele conta muitas histórias e em cada uma delas há um sentido a ser descoberto, como, por exemplo, o significado dos acontecimentos, das doenças ou do prazer que anima algumas de suas partes. O corpo é nossa memória mais arcaica. Nele, nada é esquecido. Cada acontecimento vivido, particularmente na primeira infância e também na vida adulta, deixa no corpo sua marca profunda...” Bem, só me resta agora descobrir quais são as profundas marcas existentes no meu corpo que me impedem de avançar na ginástica... Pensei em solicitar auxilio a um terapeuta, mas recordei-me da leitura do Livro “As Mentiras do Divã”, a qual se imbricou perfeitamente com as tentativas de terapias que fiz há anos atrás; mesmo porque, em Rio Branco, desconheço a existência dum profissional que se inspire nos Terapeutas de Alexandria com suas escutas físicas, psicológicas e espiritual...

Bem, parei para refletir sobre o “Sopro da vida”, na tentativa de entrar numa relação íntima com cada parte do meu corpo e compreender como é acolhido esse “Sopro” no reavivamento de cada parte... Refleti também sobre as diferentes ocupações a que me entreguei na escravização de meu corpo, em consequência de torturas da repressão sexual na educação, nem será necessário contar aqui... Pois, sob certos aspectos, eu poderia recorrer ao que me diz Marilena Chauí, no livro Repressão Sexual, quando afirma o seguinte: “desde que o mundo é mundo, seres humanos são dotados de corpos sexuados e as práticas sexuais obedecem a regras (...). A repressão sexual pode ser considerada como um conjunto de interdições, permissões, normas, valores, regras estabelecidos histórica e culturalmente para controlar o exercício da sexualidade, pois o sexo é encarado como uma torrente impetuosa e cheia de perigos (...). As proibições e permissões são interiorizadas pela consciência individual, graças a inúmeros procedimentos sócias (como a educação, por exemplo) e também expulsas para longe da consciência, quando transgredidas porque, nesse caso, trazem sentimentos de dor, sofrimento e culpa que desejamos esquecer ou ocultar.” E tais sentimentos de dor, que muitas vezes não conseguimos ocultar, são expressadas pelo corpo...

Enfim, ao concluir deixo o texto aberto às possíveis possibilidades de compreensão, contudo não pretendo esgotar o assunto e desejo manifestar outras expressões corporais, noutro momento; pois as regras sociais que reprimem a sexualidade são as múltiplas consequências do contínuo exercício do poder, em detrimento dos controles que causam os ‘sentimentos de dor, sofrimento e culpa’, conforme Chauí; porque “Os mecanismos que provocam o sofrimento se auto-sustentam. Nutrem-se da energia da alma para fazê-la voltar-se contra o corpo ( Pierry Lévy)... Porquanto, “O corpo é o inconsciente visível. É o nosso texto mais concreto, nossa mensagem mais primordial. É também o templo onde outros corpos mais sutis se abrigam. A pele é a ponte sensível do contato com o mundo e pode ser também um abismo. É nosso código mais intenso, um lar de profundas memórias. O Corpo sente, toca, fala e comunga”, afirma Leloup.
E assim finalizo com as palavras de Fernando Pessoa:
“O meu olhar é nítido como um girassol.
Tenho o costume de andar pelas estradas
Olhando para a direita e para a esquerda,
E de vez em quando olhando para trás...
E o que vejo a cada momento
É aquilo que nunca antes eu tinha visto,
E eu sei dar por isso muito bem
Sei ter o pasmo essencial
Que tem uma criança se, ao nascer,
Reparasse que nascera deveras...
Sinto-me nascido a cada momento
Para a eterna novidade do Mundo...”

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

De qué manera Te Olvido...

O Corpo e seus símbolos...

Com grande lucidez e sabedoria, da planta dos pés à cabeça, Leloup percorre o universo da corporeidade lendo-o, sempre, através de uma ótica trinitária; a somática, a psíquica e a espiritual, devolvendo-lhe a sua beleza e seu mistério. Cada parte do corpo, conta-nos múltiplas estórias, transpirando símbolos e aventuras míticas, desvelando o horizonte multicolorido da inteireza humana...

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

...

Pasmo sempre quando acabo qualquer coisa...

Pasmo sempre quando acabo qualquer coisa. Pasmo e desolo-me. O meu instinto de perfeição deveria inibir-me de acabar; deveria inibir-me até de dar começo. Mas distraio-me e faço. O que consigo é um produto, em mim, não de uma aplicação de vontade, mas de uma cedência dela. Começo porque não tenho força para pensar; acabo porque não tenho alma para suspender. Este livro é a minha cobardia.

A razão por que tantas vezes interrompo um pensamento com um trecho de paisagem, que de algum modo se integra no esquema, real ou suposto, das minhas impressões, é que essa paisagem é uma porta por onde fujo ao conhecimento da minha impotência criadora. Tenho a necessidade, em meio das conversas comigo que formam as palavras deste livro, de falar de repente com outra pessoa, e dirijo-me à luz que paira, como agora, sobre os telhados das casas, que parecem molhados de tê-la de lado; ao agitar brando das árvores altas na encosta citadina, que parecem perto, numa possibilidade de desabamento mudo; aos cartazes sobrepostos das casas ingremadas, com janelas por letras onde o sol morto doira goma húmida.

Por que escrevo, se não escrevo melhor? Mas que seria de mim se não escrevesse o que consigo escrever, por inferior a mim mesmo que nisso seja? Sou um plebeu da aspiração, porque tento realizar; não ouso o silêncio como quem receia um quarto escuro. Sou como os que prezam a medalha mais que o esforço, e gozam a glória na peliça.

Para mim, escrever é desprezar-me; mas não posso deixar de escrever. Escrever é como a droga que repugno e tomo, o vício que desprezo e em que vivo. Há venenos necessários, e há-os subtilíssimos, compostos de ingredientes da alma, ervas colhidas nos recantos das ruínas dos sonhos, papoilas negras achadas ao pé das sepulturas [...], folhas longas de árvores obscenas que agitam os ramos nas margens ouvidas dos rios infernais da alma.

Escrever, sim, é perder-me, mas todos se perdem, porque tudo é perda. Porém eu perco-me sem alegria, não como o rio na foz para que nasceu incógnito, mas como o lago feito na praia pela maré alta, e cuja água sumida nunca mais regressa ao mar.

Fonte do Livro do Desassossego por Bernardo Soares...

terça-feira, 13 de setembro de 2011

Zurzidela do Tempo...

Assim sei que cheguei,
mas sempre chegarei,
Tarde demais...

Aquele tempo
O qual me deste
Não foi o meu tempo

Foi no teu pensar temporal
Tempo Passado, tempo Presente

O meu
É o que virá
Em Tempos Futuros

E nessa espera da Fé
Sinto-te chegares...

Chegas chegando devagarzinho
Nas minhas Noites de agonia

E se houver ainda tempo
Quando raiar o Dia
Ouviremos o Canto dos passáros

Sentaremos à sombra das árvores
Juntos colheremos os Frutos...

domingo, 11 de setembro de 2011

sábado, 10 de setembro de 2011

Gurda contigo meu coração...

Ainda que seja pouco, ainda que ele não bata em ti, ainda que o destino dele seja a terra, guarda contigo meu coração. Mesmo que mude de corpo, guarda contigo, que comigo é pouco, também o tempo de espera, e ele quer revolução desarmada, quer do peito a flechada, te quer bem e me erra, carecendo de precisão.

Meu coração é teu, pulsou por ti. Quando pensou em parar, lembrou de ti, e ainda bate, aqui longe, ali perto, também em pensamento, no teu descompasso, supondo que é meu, o teu coração, é alucinação que suportou alegria e desilusão, que entrega mansidão. E como fosse pouco, nessa ocasião, quer a tua atenção, que foi nele o tormento que ficou.

Guarda em ti as palavras que queriam ser do coração. Nessa disritmia elas não sabiam do mundo, só conheciam o que estava em mim, e assim se soltaram, livres, como se meus olhos refletissem a tua verdade, meus olhos ingênuos e pequenos, que não cresceram para a imensidão, que não deram cria, num tempo em que ninguém definia o que nos aconteceria.

E meu coração frágil, sonhador, agora que olha para trás, só te pede um cantinho, um bocadinho para ficar na perdição, guardado, que em ti é mais seguro, ainda que em sonho imaturo, pois sendo assim será apenas devoção. Pode ser gratidão, se o momento for versátil, se a vida for volátil. Será paixão?

Muitas coisas deixam, deixaram em mim grande saudade. Assim, meu coração estando em ti, apenas pulsando, quieto, algo de bonito e sensível vai emoldurar essa saudade, algo de infinito. Melhor do que estar comigo, aqui longe, aqui sem graça, aqui, sem irrigação. A manutenção também não seria boa, arritmia e desorientação, agonia e apressada pulsação. Vendo de perto, a normalidade perderia sua verdade.

E é isso. Meu sentimento à toa, que indo pra longe beirou o começo, se você me perdoa, nesse ciclo de quase amor, vou deixar contigo, ainda que seja pouco, rouco, meio mouco, disfarçado de submisso.

Até outro tempo. Até entender o que de mim destoa, o que despetala a flor, contigo vai ficando, batendo, vivendo, minha ilusão, ainda que seja pouca, como simples melodia, como lamento, toda indefinição e querer. Insisto e te peço, como numa canção, guarda contigo meu coração.

José Augusto Fontes. Aqui...

Princesas Incas...

Essa é uma história da nobreza feminina Inca pós-conquista do período colonial.

No dia 16 de Novembro de 1532, numa batalha na cidade inca de Cajamarca, nos Andes, em menos de uma hora e sem perder um único dos seus 160 homens, os conquistadores espanhóis chefiados por Francisco Pizarro mudaram para sempre o curso da História e estabeleceram as fundações do futuro Império espanhol na América do Sul... Stuart Stiirling escreveu este livro tendo como ponto de partida este episódio fundador e recorrendo a muito material de arquivo nunca publicado.

Este livro conta a história das mulheres da realeza inca, que subitamente se viram reduzidas à condição de amantes dos conquistadores, vindo muitas delas a sofrer um destino trágico. A par da narrativa da conquista do Império Inca vamos acompanhando o destino das suas princesas, num texto que é também um fresco da época colonial.

Aqui...

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

...

Um Garoto de Aluguel...

A Cidade das Letras...

A publicação de um livro sempre envolve uma certa magia. Da matemática à literatura estamos sempre diante de um universo novo de significações. A morte de um autor e a publicação póstuma de seus trabalhos permitem ao leitor o privilégio de reinstituir a magia da vida através da linguagem.

Angel Rama nos convida, com seu livro A Cidade das Letras, a participar do universo latino-americano. Para Vargas Llosa ninguém superou Rama nestas visões de conjunto: "Não é estranho, portanto, que fosse ele que concebesse e dirigisse o mais ambicioso projeto editorial dedicado a reunir o mais representativo da cultura latino-americana. A Biblioteca Ayacucho, patrocinada pelo Estado da Venezuela". Dentro de uma perspectiva macro-histórica Rama escreveu seu livro A Cidade das Letras. Meditou sobre a história latino-americana a partir do período colonial procurando desvendar seus significados simbólicos em meio às especificidades literárias, estéticas e culturais.

Hugo Achugar refere-se no prólogo à capacidade de Rama em escapar do exercício sociológico construindo uma visão totalizante como resultado de identidades culturais. Com a chegada do colonizador tem início este trabalho. É ele que institui a cidade ordenada. A palavra-chave deste momento é a ordem. Palavra obsessiva para o rei e todos aqueles que realizam a construção do império espanhol e português. O desenho da urbis reproduzia um tabuleiro de damas onde cada edifício expressava a estrutura hierárquica. A missão civilizadora coube a cidade letrada. A classe sacerdotal soube criar um universo de signos que servissem de maneira primorosa à monarquia absoluta. A cidade, sede administrativa, fixou a norma através de seu estilo barroco. A forma e a figura expressaram o exercício do poder constituído.

 Uma sociedade marcada pelo analfabetismo sacralizava a cultura européia. A cidade barroca mantém-se como ideal. É uma imagem sempre presente mesmo para aqueles que não são seus artífices diretos. O estreito convívio com o poder, com as leis, regulamentos e proclamações instituiu a cidade escriturária. Advogados, escrivães, escreventes e burocratas da administração realizam a arte da "obscura predominância". Usaram a língua como instrumento de dominação contra o mundo "inferior". Intensificam a adesão à norma culta para limitar o acesso ao poder. A cidade escriturária encontra nos escritores de grafite uma prazerosa oposição. Com inscrições "indecorosas" ou apaixonadas cobriam as paredes das pousadas do Alto Peru: "Além das desonestidades que com carvão imprimiam as paredes, não há nem mesa nem banco em que não esteja esculpido o sobrenome e o nome a golpe de ferro desses idiotas".

Em 1870 a modernização favorecia o crescimento do circuito letrado. O desafio ao poder constituído crescia com as facilidades de divulgação criadas pelas gazetas populares. Novos grupos sociais introduzem leis de educação comum que se estendem pela América Latina. O grande ator da cidade modernizada é o conhecido self made man. Aquele homem que venceu graças ao seu esforço pessoal. O jornalista e o advogado constituem com precisão este perfil. A pólis se politiza com um estilo nacionalista de 1911 a 1930 e depois com um estilo populista de 1930 a 1972. Ao mesmo tempo o século XX latino-americano produz uma doutrina de regeneração social como um processo idealista, emocional e espiritualista que se desenvolve negando a modernização. As estruturas mentais se organizam de forma antitética desembocando na "triunfante cidade da unificação nacional".

A era da revoluções finaliza este estudo. Ela gerou a cidade revolucionada, critério de Abelardo Villegas, para analisar a profunda mudança social tanto na sociedade mexicana como na uruguaia. Alguns traços deste processo poderão ser observados também no radicalismo de Hipólito Yrigoyen na Argentina de 1916, e de Arturo Alessandri no Chile de 1920, com Getúlio Vargas desde 1930, No México com Lázaro Cárdenas, na Argentina com Perón e na Venezuela com Rômulo Gallegos. Já a revolução cubana encontraria continuidade em Salvador Allende e no sandinismo nicaragüense. Rama observa como em meio as revoluções latino-americanas sempre se concedeu considerável importância à presença dos "intelectuais nos campos de luta, quer ser trate de conselheiros privados ou de secretários que dominam a pena, quer dos burocratas sobreviventes de todas as administrações possíveis que esperam o momento em que se reclame deles os inevitáveis serviços". Afinal sempre voltamos à antiga cidade das letras. Desta cidade sobrou um pouco em todos nós: uma

Angel Rama: Fonte...

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Perdoa-me e será feliz, Perfídio!...

Pássaro Solitário sob o Mediterrâneo...

Caramba, Amigo, fiquei deveras fascinada com a descrição de tuas férias, até parece que assisti a um filme que já havia visto antes...
 
Depois de degustar melhor o teu mail, e olhar os mapas da internet, senti uma sensação maravilhosa de uma imaginária viagem pelas praias do teu Corpo e teu país...
Eu sempre nutri uma enorme paixão pelo Mar; o Mediterrâneo, então, exerce um verdadeiro fascínio na minha imaginação... Assim, como aquele pássaro solitário, percorri por cima dos mapas da minha fantasia; e:
Meditar
Meditando
Saí do Subterrâneo

E, do além-profundezas das imagens
Submergi como fagulhas das desvantagens
No Mar Mediterrâneo
Imaginário em fortaleza de infinitas fantasias

Sim!... Porto sem partida
Sem Investidas...

Sem El-Rei D. Sebastião
Serei apenas uma aquéia...

Fui ali
Fui além
Por um triz no aquém

E quem sou?
E como fui?
Se não existe nenhum passo...

Nenhuma pegada na multidão?
Não!, não há passos
E jamais existirão pegadas no turbilhão...

Apenas fagulhas
Nos estilhaços da solidão...

Assim,
Como no voo do pássaro só
Percorri por trilhas
das fantásticas fantasias...

E num corpo que não me pertencia
As ondas das turbulências do desejo
Foram o cais dos teus prazeres mundanos
Mundo teu: mundo que jamais será meu...

E sob o efeito
Do zunzum de teu zurzir
Sonho sonhar
Irreal-ilusão...