sábado, 31 de dezembro de 2011

Feliz 2012!...

Feliz Olhar Novo...

"O grande barato da vida é olhar para trás e sentir orgulho da sua história...

 O grande lance é viver cada momento como se a receita de felicidade fosse o AQUI e o AGORA...

Claro que a vida prega peças... É lógico que, por vezes, o pneu fura, chove demais..., mas, pensa só: tem graça viver sem rir de gargalhar pelo menos uma vez ao dia?... Tem sentido ficar chateado durante o dia todo por causa de uma discussão na ida pro trabalho?...

Quero viver bem!.. Este ano que passou foi um ano cheio... Foi cheio de coisas boas e realizações, mas também cheio de problemas e desilusões. Normal!... Às vezes a gente espera demais das pessoas... Normal!... A grana que não veio, o amigo que decepcionou, o amor que acabou... Normal!...

O ano que vai entrar vai ser diferente?... Muda o ano, mas o homem é cheio de imperfeições, a Natureza tem sua personalidade que nem sempre é a que a gente deseja, mas e aí?... Fazer o quê?.. Acabar com o seu dia?... Com seu bom humor?... Com sua esperança?...

O que desejo para todos é sabedoria!... E que todos saibamos transformar tudo em boa experiência!... Que todos consigamos perdoar o desconhecido, o mal educado... Ele passou na sua vida... Não pode ser responsável por um dia ruim... Entender o amigo que não merece nossa melhor parte. Se ele decepcionou, passe-o para a categoria 3... Ou mude-o de classe, transforme-o em colega... Além do mais, a gente, provavelmente, também já decepcionou alguém...

O nosso desejo não se realizou?... Beleza!, não estava na hora, não deveria ser a melhor coisa pra esse momento (me lembro sempre de um lance que eu adoro): CUIDADO COM SEUS DESEJOS, ELES PODEM SE TORNAR REALIDADE!!!...

Chorar de dor, de solidão, de tristeza, faz parte do ser humano... Não adianta lutar contra isso... Mas se a gente se entende e permite olhar o Outro e o Mundo com generosidade, as coisas ficam bem diferentes...

Desejo para todo mundo esse Olhar Especial!...

O ano que vai entrar pode ser um ano especial, muito legal, se entendermos nossas fragilidades e egoísmos e dermos a volta nisso... Somos fracos, mas podemos melhorar... Somos egoístas, mas podemos entender o Outro... O ano que vai entrar pode ser o bicho, o máximo, maravilhoso, lindo, espetacular... ou... Pode ser puro orgulho!... Depende de mim, de você!... Pode ser... E que seja!!!

Feliz Olhar Novo!!! Que o ano que se inicia seja do tamanho que você fizer...

Que a virada do ano não seja somente uma data, mas um momento para repensarmos tudo o que fizemos e que desejamos, afinal sonhos e desejos podem se tornar realidade somente se fizermos jus e acreditarmos neles"!...

(Carlos Drummond de Andrade)

domingo, 25 de dezembro de 2011

Um Bom Natal ao Rico e ao Pobre: que sejamos apenas um Coração...

A Fome do Natal...

                                                                  Veja a Imagem aqui...
 Neste momento eu gostava de encontrar uma maneira para romper com o Discurso Oficial do Natal sem me tornar insensata: eis uma sutileza, totalmente insustentável, da minha ruptura; então não me apetece mais nada, pois o discurso do luxo, do consumismo seria desconstruído e a ideologia oficial permaneceria, no entanto, mais legitimada...

Enfim, o prazer do Natal permanecerá ...sempre entre duas margens tênues: uns seguirão, excessivamente consumindo e sendo consumidos por suas hipocrisias; outros continuarão miseravelmente sentindo fome e sendo destruídos indiretamente... Ademais a solução para tais problemas supera medidas compensatórias e o êxito aqui poder ser reportado a todos que seguem fielmente Jesus Cristo, independentemente de Religião, credo raça ou cor...

Desejo mais ainda: encontrar uma maneira de acabar com a prática generalizada do desperdício e assumir, a cada ano, as angústias e tristezas; as alegrias e esperanças da gente sofrida, lesadas em seus direito de se alimentar; porquanto é impactante saber que existe alimento suficiente para todos e que a fome se deve à má repartição dos bens: o egoísmo e o individualismo...

No mais, eu também gostava de clamar por um desafio do princípio universal de dignidade humana, que fundamentasse o direito de todos à segurança alimentar e que se concretizasse em exigências éticas de defesa da Vida (de crianças, mulheres e homens)... Imbuída por um desejo de dever, compromisso e responsabilidade: quero me empenhar com eficácia e com ideias que possam me permitir a compreensão de atitudes que viabilizem a superação da miséria e da fome, para somente assim pensar num Natal pleno de Felicidade...

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

A Liberdade do meu Desejo...

Vivo em busca duma definição (através das minhas leiturinhas, claro!...), que se adéque ao meu pensar, sobre liberdade; porém todas me levam ao mesmo caminho (conforme a citação adiante de Stuart Mill)... E até concordo com quem diz que liberdade tornou-se uma palavra desgastada, quando é utilizada por aqueles que não a compreende na prática do fazer cotidiano, pois ela (a liberdade) nos remete ao humanismo da humanidade reconstruída por seus sonhos, por seus desejos e paixões...

Sim, liberdade: o ‘humanismo da humanidade religada pelo reconhecimento assumido da liberdade enquanto uma unidade de desejos e necessidades múltiplas, sempre aberta à transcendências de suas formas imaginárias’ e vividas. Assim penso...

“A Natureza é comum a todos os seres humanos, mas cada um a usufrui e a realiza de modo diverso... Disto decorre o pluralismo de formas de vida, de busca de prazer, nas quais o ser humano pode encontrar a felicidade... Pois liberdade e felicidade são reciprocamente necessárias, não se complementam, uma não é o suplemento da outra, mas ambas devem conviver em níveis e padrões idênticos... Na liberdade a moral, a vivência política e social têm suas expressões máximas e se realizam na arte de viver, na sublimidade da vida que, por gênese e princípio, é livre...

Stuart Mill ressalta que a liberdade do cidadão é de capital importância para a construção não só de uma sociedade justa, mas sobretudo dum Estado justo, próspero e benéfico para o bem-estar de cada indivíduo respeitado em sua liberdade plena: suas liberdades peculiares e particulares...

A primazia da individualidade é um princípio intocável... O erro do Estado e da sociedade em intervir na liberdade individual é insustentável; só pode ser aceita a interferência desde que seja em ações para promover, desenvolver e proteger os interesses do indivíduo que procura os meios mais apropriados para realizar plenamente sua vida”...

(trechinho da Apresentação do Ensaio sobre a Liberdade, de Stuart Mill)

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Paixões...

"Se o analista literário, de fato, encontra limites ao seu trabalho de objetivação cientifica, é bastante normal: ele é parte interessada do processo que desejaria analisar, pode virtualmente aí desempenhar (quer dizer, também aí arremedar) todos os papéis... Este limite dá positivamente a condição de sua inteligência, de sua leitura, de suas interpretações. Mas qual seria a condição dessa condição?... Ela consiste em que o próprio leitor crítico esteja exposto a priori e sem fim a alguma leitura crítica...

O que pode escapar a essa verificação sacrificial, assegurando assim o próprio espaço deste discurso, por exemplo?... Nenhuma questão, nenhuma resposta, nenhuma responsabilidade... Digamos que há um segredo aí... Testemunhemos: há segredo aí; ficarei neste ponto, mas não sem algum exercício de andar apofático sobre a essência e a existência de um tal segredo (...).

(...) O Segredo não dá lugar a processo algum. Nem mesmo é um ‘efeito de segredo’. Ele pode se prestar a isso, mas nunca se rende a isso... A ética da discussão sempre pode não o respeitar (ela lhe deve respeito, embora isso pareça difícil ou contraditório, pois o segredo é intratável), mas nunca o submeterá. (...) o segredo fica lá, impassível, a distância, fora de alcance.

Aí não há mais tempo nem lugar...

Talvez eu apenas quisesse confiar ou confirmar meu gosto (provavelmente incondicional) pela literatura, mais precisamente, pela escritura literária. Não que eu ame a literatura em geral nem que a prefira ao que quer que seja (...). Entretanto, se, sem amar a literatura em geral e por ela mesma, amo alguma coisa nela que não se reduz de modo algum a uma qualidade estética, a uma fonte de fruição formal, isto seria em lugar do segredo... Em lugar de um segredo absoluto... Aí estaria a paixão: não há paixão sem segredo, este segredo, mas não há segredo sem paixão...

A literatura liga seu destino a uma determinada não-censura, ao espaço da liberdade democrática (liberdade de imprensa, liberdade de opinião etc.). Não há democracia sem literatura, não há literatura sem democracia... Sempre é possível não querer saber nem de uma nem de outra, mas ninguém deixa de passar sem elas sob qualquer regime... Cada vez que uma obra de arte literária é censurada, a democracia corre perigo... A possibilidade da literatura, a autorização que uma sociedade lhe dá, o fato de levantar suspeitas ou terror a seu respeito, tudo isso vai junto – politicamente – com o direito ilimitado de fazer todas as perguntas, de suspeitar de todos os dogmatismos, de analisar todas as pressuposições, quer as da ética, quer as da política da responsabilidade...

Há na literatura, no segredo exemplar da literatura, uma chance de dizer tudo sem tocar no segredo"...  (prometo que vou concluir no próximo ano)...

(Jacques Derrida. Paixões, Papirus Editora, Campinas, SP. 1995. Tradução Lóris Z. Machado )

sábado, 17 de dezembro de 2011

Olhares sobre Tela...

‎''Pinto a mim mesmo porque sou sozinha e porque sou o assunto que conheço melhor"...

(Frida Kahlo)

sábado, 10 de dezembro de 2011

Alguma Semelhança?...

"Sou o que se chama de pessoa impulsiva. Como descrever? Acho que assim: vem-me uma idéia ou um sentimento e eu, em vez de refletir sobre o que me veio, ajo quase que imediatamente. O resultado tem sido meio a meio: às vezes acontece que agi sob uma intuição dessas que não falham, às vezes erro completamente, o que prova que não se tratava de intuição, mas de simples infantilidade.

Trata-se de sa...ber se devo prosseguir nos meus impulsos. E até que ponto posso controlá-los. [...] Deverei continuar a acertar e a errar, aceitando os resultados resignadamente? Ou devo lutar e tornar-me uma pessoa mais adulta? E também tenho medo de tornar-me adulta demais: eu perderia um dos prazeres do que é um jogo infantil, do que tantas vezes é uma alegria pura. Vou pensar no assunto. E certamente o resultado ainda virá sob a forma de um impulso. Não sou madura bastante ainda. Ou nunca serei”...

(Clarice Lispector)

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

domingo, 4 de dezembro de 2011

O lugar de Rosa Luxemburgo na história...

"Rosa Luxemburgo sabia que onde há tragédia humana em uma escala épica, as lágrimas não ajudam. Seu lema, como de Spinoza, poderia ter sido: "Não chore, não ria, mas compreenda", embora ela mesma teve sua cota de lágrimas e risos. Seu método voltava-se para a revelação das tendências da vida social, a fim de ajudar a classe trabalhadora a usar o seu potencial da melhor maneira possível em conjunto com o desenvolvimento objetivo"... 

"Em Rosa Luxemburgo a ideia socialista foi uma paixão dominante e poderosa do coração e do cérebro, uma paixão verdadeiramente criativa que queimava incessantemente. A principal tarefa e a ambição dominante desta incrível mulher foi preparar o caminho para a revolução social, abrindo o caminho da história para o socialismo. Sua maior felicidade foi a experiência da revolução, lutar em todas suas batalhas. Devotou sua vida inteira e todo o seu ser para o socialismo com uma vontade, determinação, desprendimento e fervor que as palavras não podem expressar. Ela se entregou totalmente à causa do socialismo, não só pela sua morte trágica, mas ao longo de sua vida, cada dia e a cada minuto, através das lutas de muitos anos ... Foi a espada afiada, a chama viva da revolução ".

1. Marx, K; O Capital, Vol.I, p.649... (para uma leitura completa: aqui)

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Ao longe, ao luar...

Ao longe, ao luar,
No rio uma vela,
Serena a passar,
Que é que me revela ?
Não sei, mas meu ser
Tornou-se-me estranho,
E eu sonho sem ver
Os sonhos que tenho.
Que angústia me enlaça ?
Que amor não se explica ?
É a vela que passa
Na noite que fica

(Fernando Pessoa)

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

domingo, 27 de novembro de 2011

People Help The People...

O silêncio dos Inocentes...

Las Palabras...

Dales la vuelta,
cógelas del rabo (chillen, putas),
azótalas,
dales azúcar en la boca a las rejegas,
ínflalas, globos, pínchalas,
sórbeles sangre y tuétanos,
sécalas,
cápalas,
písalas, gallo galante,
tuérceles el gaznate, cocinero,
desplúmalas,
destrípalas, toro,
buey, arrástralas,
hazlas, poeta,
haz que se traguen todas sus palabras.

(Octavio Paz)

terça-feira, 22 de novembro de 2011

O Gosto da Criação...

Somos o Mundo girando no meio da imensidão

Algo que tem a verdade e o gosto da criação
Somos o muito e o pouco na múltipla sensação
Quando sacode a poeira do sagrado chão

Luzes explodem além do espelho que refletiu
Ao se afastar a imagem de alguém que você não viu
Não adianta mudar o destino que prosseguiu
Nem afastar o desejo que você sentiu

Como saber da final esperança pra saber
Que há fartura e muita bonança pra dizer
Onde fica o mágico fim é assim
É você e o gosto de mim

Pra saber onde fica o mágico fim

domingo, 20 de novembro de 2011

Água Revolucionária...

Nem sei ao certo o que é exatamente uma revolução, mas ultimamente sinto um imenso desejo de fazer uma Revolução: no meu jeito de ser; de falar; de vestir; de sorrir; de ver e sentir, creio que – em mim – seria uma revolução interior; primeiramente, verei o significado de revolução para saber se isso faz sentido... Para a Wikipédia, a palavra revolução significa: “(do latim revolutìo, ónis: ato de revolver), é datada do século XV e designa grande transformação, mudança sensível de qualquer natureza, seja de modo progressivo, contínuo, seja de maneira repentina; movimento de revolta contra um poder estabelecido, e que visa promover mudanças profundas nas instituições políticas, econômicas, culturais e morais”... Talvez minha revolução se encaixe na promoção duma profunda transformação ou numa mudança sensível de âmbito moral, mas não é nenhuma revolta contra qualquer Poder estabelecido; enquanto não consigo fazer a minha revolução vou apreendendo com os grandes revolucionários... A ver vamos como se inicia uma revolução...

“Como uma árvore, a revolução tem sua origem na poesia (no revolver da terra). E a revolução se ramifica. E a poesia cria suas raízes sob a Terra Revolucionária, como se fossem asas – eis que, dentro do elemento Terra, uma imagem voa. Como um rio, a revolução tem sua origem na poesia (ou no ondular das águas). E a revolução cria seus afluentes por meio da filosofia internacionalista. E a revolução cria um leito aquático sob a Água Revolucionária, como se fossem barbatanas – eis que, dentro do elemento Água, uma imagem nada. Sonhar bem dentro de dois elementos da natureza, ao mesmo tempo, é acreditar na necessidade de mudança radical na estrutura da sociedade como também é compor um poema que cante o canto do Nilo. Tudo é revolução” (Piedade carvalho).

Canto al Nilo

Enorme es tu pasado
insumiso mar de dos mareas.

Tu sinfonía de inquietos cocodrilos
dio marco al monolítico arquitecto;
las plegarias del hombre labraron su futuro
a partir del concepto que aprendiste de la vida,
tu sangre legamosa llenó las tierras de blancos
trinos vegetales;
tu mecanismo de cósmico impulso
llevó al África a través de eras
desde antes que a los toros venerara.

Pero cuánto dormiste;
cuarenta siglos fueron hasta el grito de coraje
que sólo estremeciera tu músculo atrevido.

Si hoy le canto al ayer de muerta piedra
y convoco los recuerdos de Tebas,
es que el presente aflora en tu pasado,
es que vive en la presa de Asuán
en el Suez reconquistado.

Canto al nuevo grito de tu garganta sonora,
al hondo retumbar de las pisadas solemnes
uniendo su destino en el polvo del desierto.
Canto a la mano sobria que estrecha su certeza
con la certeza inculta del último beduino.
Va el canto hacia los hijos que defienden tu suelo
con los firmes morteros de los rifles del pueblo.
¿Alguien puede afirmar sin sonrojarse
el triunfo de la fuerza sobre la fe del hombre?

Te admiro y te presento en tus almas sustanciales
con toda su justicia de arteria nutritiva,
te quiero porque hermano mi aurora con tu aurora
y en mis carnes se adentra la feroz mordedura de coloniales fauces
(decadentes mandíbulas celadores de Israel)
y retumba en mis sienes, en el clásico son,
el eco de las bombas que caen sobre tu hermano
rectilíneo y sosegado hermano artificial,
sin doblegar tu cielo de impávidas alburas.

Hoy que mi patria está llena de jalones huecos
y yo inicio mi pistola en hazañas menores,
tu epopeya acicatea mis ideales
espuela de la lucha nos recuerda
badajo de la furia más sublime.

Si tu impulso no emerge en las riberas del Plata
y es vano tu ejemplo para ahuyentar la modorra,
llevaré mis pupilas cargadas de tu esperma
para derramarlas sobre la tierra en derrota.
Al fin,
¿alguien puede afirmar sin sonrojarse
el triunfo de la espada sobre la fe del hombre?



(Ernesto Rafael Guevara Lynch de la Serna, El Che)

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Ataque Antropológico II: O Reflexo do Espelho Narcisista...

                                                                                                Imagem da Internet
Bem, deixando as teorias de lado, vou ao meu interesse fundamental... Para melhor compreensão do contexto sócio-histórico, pensei no Acre, de acordo com a colonização da Amazônia, ao longo de sua história como um espaço de sucessivas ondas de ocupação humana das mais diversas características étnicas, culturais e religiosas em um movimento contínuo de transformações protagonizadas por grupamento que, de alguma forma, impingiram suas múltiplas experiências na história acriana. A década de 90 do século XX foi mais um momento desse intenso movimento; não apenas mais migratório para a região acriana e, sim, de intensa exploração dos recursos naturais, fomentado pelo projeto desenvolvimentista de Governo com o estigma da floresta. Ademais, tentei compreender a sociedade acriana de acordo com as discussões, dos últimos 50 anos, sobre a Amazônia que, sob a ótica global, é considerada a principal fonte de riqueza material do Brasil, mesmo vista como o “pulmão do mundo”, esta região sofreu uma forte atração de migrantes e empresários que iniciaram uma exploração sem precedentes, pois a Amazônia é o maior conjunto contínuo de floresta tropical do planeta, sua riqueza e densidade não está somente na floresta, mas, sim, na diversidade de cultura e línguas indígenas, porém o que efetivamente mudou (da coroa Portuguesa, à República) o cenário da região amazônica foi a abrupta valorização da borracha, agora da madeira de lei, e foi em consequência dessa (ou dessas) valorização que o Brasil passa a se interessar pela Amazônia. Doravante, é nesse processo sócio-político que emerge a formação histórica do Acre (maiores detalhes deixo para os historiadores).

Perante este contexto, dentre os homens e mulheres que trilharam em direção ao Acre, de ocupação e exploração,  destacam-se as marcas de religiosidade e culturalidade de brasileiros urbano e rural, tendo em vista as sequências históricas do Acre na formação dos seringais. Por isso, pensei em refletir sobre os processos de transformação cultural a partir das interfaces entre o campo urbano e rural, neste caso da floresta, na esfera social, com atenção especial a incorporação da marca ambientalista como estratégia para legitimar antigas e novas reivindicações culturais de grupos sociais, cuja existência na organização social está baseada no mundo caracterizado pela floresta. Conforme nos afirma Maria de Jesus em sua tese que: “o discurso identitário da acreanidade vale-se de algumas ‘sequencias da história’, de certos ‘espaços de referencias identitária’ tanto do passado quanto do presente e da construção de um discurso que particulariza uma certa relação do acreano com a floresta, com a natureza, estimulando também a criação de novos referenciais simbólicos, e de novas lembranças no presente”.

Entretanto, dentro desse quadro histórico, a sociedade atual vive, com base na democracia do Estado Moderno, um momento de extrema contradição, onde a base dos conflitos é perceptível para além dos grupos sociais, sobretudo nas famílias – que ao possibilitar a reflexão e o planejamento para o futuro e direitos de cidadãos, com base nos seus valores da localidade, que necessitam se posicionar diante às desigualdades e exclusões que a dinâmica global do capitalista moderno produz, entregam-nos aos desígnios dos condicionamentos locais. Porque para exercermos plenamente a cidadania, e sermos os protagonistas das nossas próprias histórias na afirmação duma identidade cultural, passamos por uma situação muito complexa, onde a globalização econômica, financeira e tecnológica coexistem, ao mesmo tempo, com nossas experiências cotidiana da localidade das singularidades, especificidades culturais, religiosa e política.

E levando em consideração as leis que regulamentam nossos direitos como alternativas para garantir a manutenção de nossa cultura, assim como melhores condições de sobrevivência para nossas famílias e a própria manutenção dos nossos bons costumes tradicionais, principalmente na região amazônica, onde é foco permanente dos interesses internacionais; para, assim, superar e entender o dualismo convergente nos projetos de Governo - que nos colocam em igual condição de ocuparmos, por um momento, o local; e em outro momento, o global. Lembrando, aqui, que a nossa região Amazônica é essencialmente jovem: a nova cultura da florestania é cabocla, e que a prioridade oficial é a valorização da auto-estima como uma saída para definir o que é bom para nós acrianos. Segundo o discurso oficial: é preciso financiar as ideias dos jovens na própria comunidade, resgatando nossa cultura para não acharmos que a cultura é apenas o que está na TV, evitando o consumismo desnecessário e, assim se construirá o real valor local da cultura, do modo de ser, de viver, de comer, de trabalhar valorizando os costume da própria região.

Ainda no discurso - nos garantem que a fase desenvolvimentista da Amazônia: dos garimpos criminosos; dos grandes rebanhos bovinos; da exploração madeireira; dos mega-projetos desenvolvimentistas já não fazem mais sentidos e nem são a solução para o pleno desenvolvimento do estado acriano. Então, a solução da florestania é conhecer o que nos torna autênticos perante a floresta tropical brasileira. É enfrentar o desafio das cobiças e das corrupções. É sabermos que no projeto de desenvolvimento sustentável (antes de sermos cidadãos brasileiros) somos cidadãos amazônidas e pertencemos ao Planeta Terra e não aos costumes do capitalismo global. Porém tudo está muito escuro na realidade: a violência e outras misérias que assolam nossa região estão apontando que a verdade está para além do discurso Oficial, bem como também demonstra a falta de ética desenvolvimentista... Somos pressionados a fazermos nossa parte de cidadãos conscientes, enquanto que as ações governamentais apontam suas contradições.

 E como compreender e conviver com estas contradições e tais problemas?... É a motivação da minha constante busca...


Aqui para compreender Maria de Jesus Morais

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Ataque Antropológico: Do Outro Lado da História...

                                          Rio Acre - fotografia de Anderson Jardim
Estava eu, lá pela UFAC, tentando convencer ao Jacó Cesar Piccoli a providenciar meus Certificados de Pós-Graduação em Arqueologia e Antropologia, quando de repente, não mais que de repente, senti um desejo imenso de voltar às leituras antropológicas, mas bem sei que é apenas saudade da Antropologia no meu viver...

Talvez eu já tenha iniciada algum texto falado que, envolta a essa imensidão verde da floresta e sob o episodio da linguagem, sempre sinto por um instante a sensação de verdade... Neste momento, a sensação que sinto é a da face oculta em mim mesma: o sentido da descoberta da antropologia em meu viver e relacionada ao cotidiano acriano... Pois é o que proponho neste texto: rever certos conceitos da cultura da floresta, construindo um novo pensar sobre o modo de ser, agir e gerir na sociedade que me envolve, sob a luz antropológica...

Devo, porém, antes salientar (para melhor entendimento teórico) a conceituação que define a Antropologia no campo científico: pois esta é a ciência da humanidade entrelaçada com a cultura e enquanto ciência se preocupa com o ser humano na sua totalidade; ela se afirma em três dimensões: a) Natural, quando estuda o psicossomático do homem e sua evolução; b) Social, quando estuda o homem como elemento integrante de grupos organizados; c) Humana, quando se volta para o homem e suas histórias, suas crenças, usos e costumes, filosofia e linguagem...

Ora, a antropologia como instrumento de compreensão da realidade, principalmente, em relação à floreta como fator influenciador do ser amazônida, não procura retratar tão somente os aspectos culturais enquanto costumes do fazer humano, mesmo sendo estas influências que necessitam de muita clareza para serem relatadas posteriormente numa perspectiva condicionante da vivência na floresta... Aqui, Jean-Paul Sartre esclarece minha ideia basilar, quando diz: “O essencial não é o que foi feito do homem, mas o que ele faz daquilo que fizeram dele... O que foi feito dele são as estruturas, os conjuntos significantes estudados pelas ciências humanas... O que ele faz é sua própria história, a superação real dessas estruturas numa práxis totalizadora”...


Pois bem, esta superação das estruturas na práxis totalizadora, da antropologia como base, é o que desejo expor sobre o oculto de certos costumes culturais e influenciadores no ser humano: para isto deve-se entender melhor o grande contributo de Claude Lévi-Strauss ao desestruturar os conceitos difusos e mecanicistas de estrutura social da tradição sociológica e etnográfica de Emile Durkhein... Aí, Lévi-Strauss incorporou a teoria social do signo linguístico de Ferdinand de Saussure e acrescentou à antropologia a conotação de ciência semiológica; é quanto percebemos a linguagem enquanto aspecto da identidade cultural...

Ademais: esta nova concepção de estrutura não pode se limitar apenas à elaboração de modelos estruturais etnográficos do empírico, mas se estende ao próprio método das análises teóricas da etnologia; assumindo, dessa forma, a condição epistemológica... Assim o pensamento antropológico se transforma numa provisória ordenação dos fatos observados, até esta ordenação ir sendo trabalhada, afinada para atingir um aspecto de simplicidade; e ao atingir o grau de simplicidade, tais fatos observados chegam a um modelo próximo da verdade que corresponde às estruturas mentais dum povo, grupo, apresentados num primeiro momento etnográfico (Lévi-Struss, Antropologia Estrutural II, 1993 p. 52).

domingo, 13 de novembro de 2011

Meu pobre Pequeno Coração...

Eu bem que não queria falar sobre isto, mas vou ter que falar sobre tudo que tu não gostas de ouvir, pois também sei que as estrelas do Céu não significam NADA para ti...

domingo, 23 de outubro de 2011

E Você sabe como me sinto?...

Serenata...

Permita que eu feche os meus olhos,
pois é muito longe e tão tarde!
Pensei que era apenas demora,
e cantando pus-me a esperar-te.
Permita que agora emudeça:
que me conforme em ser sozinha.
Há uma doce luz no silêncio,
e a dor é de origem divina.
Permita que eu volte o meu rosto
 para um céu maior que este mundo,
e aprenda a ser dócil no sonho
 como as estrelas no seu rumo...

(Cecília Meireles)

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Sísifo desce a Montanha...

Affonso Romano de SantAnna expôs em diversas oportunidades a ideia que um livro de poesia não é a reunião aleatória de textos, mas um projeto poético-pensante - como o definia Heidegger. Este livro, portanto, faz parte de seu projeto em progresso e se articula organicamente com seus livros de crônica e de ensaios.

Fonte...

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Amazônia... Eu e Deus...

Revoluções no Bosque Sagrado...

                                                                                       JBConrado-Overmundo
Na tentativa de aliviar a estagnação do meu pensamento: eis aqui, mais uma vez, o apelo da minha recente releitura:

“Da estagnação do espírito em toda a Europa, nesses dois decênios do século XIX, elevara-se bruscamente uma febre alada. Ninguém sabia ao certo o que estava na forja; ninguém poderia dizer se se tratava de uma arte nova, de um homem novo, de uma nova divisão de classes na sociedade. Por isso cada um afirmava o que muito bem lhe apetece. Mas em toda a parte os homens se erguiam para combater as velharias. Bruscamente, aqui e ali, surgia sempre o homem necessário; finalmente, fato essencial, os inventores intelectuais aliavam-se aos inventores práticos. Desenvolviam-se talentos que noutros tempos haviam sido abafados e mantidos à parte da vida pública. São tão diversos quanto possível e as contradições que os separavam revelavam-se insuperáveis.

Amavam-se os super-homens mas amavam-se também os subhomens; adoram-se a saúde e o sol, mas adoravam também os jovens tísicos; havia entusiasmo pela profissão de fé dos heróis e pelo credo social do homem da rua; é-se crédulo e cético, naturalista e exato, robusto e mórbido; sonhava-se com alamedas de castelos, com jardins no outono, lagos vítreos, pedras preciosas; sonhava-se com haxixe, com doenças e com demônios, mas também com planícies, com grandes horizontes, forja e laminagens; vê-se lutadores, proletários em revolta. Adão e Eva do Paraíso, a sociedade de pernas para o ar. Isto representava sem dúvida uma série de contradições e de gritos de guerra tão diferentes quanto possível, mas tendo um certo sopro comum.

Ao analisar-se essa época encontrar-se-ia sem dúvida no fundo uma certa falta de senso, qualquer coisa como a quadratura do círculo ou uma pedra de madeira. Mas na realidade tudo se baseava na cintilação de um sentido único. Esta ilusão, que se encarna na data mágica da mudança de século, era tão forte que alguns se precipitaram com entusiasmo no século novo, ainda intacto, ao passo que outros aproveitavam os derradeiros instantes do velho para se deixarem viver, como acontece numa casa em mudança entre as respectivas atitude.” (Robert Musil, O homem sem qualidades. Vol; 1, Lisboa. Edições Livros do Brasil, p. 63-4.)

Eis aí uma velha citação dizendo que a história se repete: inicialmente como tragédia, em seguida como farsa. Neste caso, talvez tenha acontecido o oposto: a primeira vez foi, sem dúvida, engraçada. Era bom dissolver as certezas excessivamente confiantes do século XIX, e o modernismo fin de siècle fez justamente isso.

Desta vez, contudo, não é o óbvio que ainda haja quaisquer certezas para destruir. O ceticismo ou derrubada de truísmos produz agora um efeito inverso, de bumerangue: ao solapar os critérios de toda a crítica racional, confere uma carte blanche a qualquer comodismo intelectual. O relativismo total termina sustentando o dogmatismo barato. Se vale tudo, então o indivíduo pode ser tão dogmático quanto quiser: os padrões críticos, que anteriormente poderiam tê-lo inibido, foram revogados. O que poderia haver para controlá-lo? Os que tentaram restringi-lo, em nome do fato ou da lógica, serão acusados de positivistas, imperialistas, ou das duas coisas: afinal de contas, o objetivismo esteve à serviço da dominação. A permissividade total termina em dogmatismo arbitrário.

O fin de sièle foi libertador, o fim de millénaire talvez seja intencionalmente destrutivo. Precisamos ter cautela com alguns de nossos auto-escolhidos libertadores. Esse estado de espírito talvez não seja o dominante, mas, em algumas esferas das humanidades, ciências sociais, filosofia, ele faz tanto barulho que poderíamos até pensar que é... Uma vez que reprovamos a dominação mundial, temos que abjurar também a lei da não-contradição. Isso parece uma inferência curiosa... Ainda assim, ela tem uma espécie de lógica extravagante: os europeus escutaram filósofo que lhes disseram que sua preeminência era também o triunfo da razão sobre a terra... Assim, talvez o término dessa eminência traga também o repúdio à razão... O raciocínio é egocêntrico, de qualquer maneira...

Poderá esse estado de espírito geral, com sua grande variedade de origens sociais e intelectuais (que tenho certeza que não esgotei) receber um caracterização geral?... Robert Musil, ao descrever o último fin de sièle, contentou-se em fazer uma lista das contradições e compará-las com a complacente tranquilidade anterior. Poderemos fazer mais do que isso?... O que satura este estado de espírito é a insistência no relativismo, na subjetividade, na permissividade intelectual, no antinomismo e na consequente obscuridade.... Estamos na presença da orgia conceitual, na qual as regras são suspensas e desprezadas e, os que se apegam a elas tornam-se alvos de zombarias... Os violadores das velhas regras são agressivamente presunçosos e mostram-se ansiosos para estigmatizar os que não os seguem moral e politicamente”... ( Ernest Gellner, Antropologia Política: Revoluções do Bosque Sagrado. Rio de Janeiro, Jorge ZAHAR Editor, p. 244; 253)

sábado, 1 de outubro de 2011

Convite...

                                                                                  JBConrado-Overmundo
Não sou a areia
onde se desenha um par de asas
ou grades diante de uma janela.
Não sou apenas a pedra que rola
nas marés do mundo,
em cada praia renascendo outra.
Sou a orelha encostada na concha da vida,
sou construção e desmoronamento,
servo e senhor,
e sou mistério

A quatro mãos escrevemos este roteiro
para o palco de meu tempo:
o meu destino e eu.
Nem sempre estamos afinados,
nem sempre nos levamos
a sério.

Lya Luft, aqui...

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Berekekê...

Ka Uluwehi O Ke Kai...

Extermínio Silencioso...

"Os índios guaranis vivem situação de extermínio silencioso. Ninguém no governo federal ousa enfrentar os interesses do agronegócio no estado comandado pelo governador do PMDB André Puccinelli, enquanto que a mídia mostra sua total insensibilidade”. A opinião sobre as populações indígenas no Mato Grosso do Sul é de Marta Azevedo, professora do Núcleo de Estudos da População (NEPO) da Unicamp em entrevista a Gabriel Brito e publicado pelo Correio da Cidadania...

Uma tragédia brasileira...

A dizimação que as populações indígenas vivem hoje é parte de uma tragédia que começa no dia 22 de abril de 1500, com a chegada dos europeus ao Brasil, iniciando o processo de destruição de uma raça e sua cultura, exterminando os donos legítimos desta terra e tomando posse de um país que, a partir daquele instante, passava a pertencer ao novo mundo, mais precisamente a Portugal. Novos costumes – anunciados como superiores, por virem de povos desenvolvidos – foram impostos e assim, a partir do momento em que aquelas três caravelas aportaram na costa brasileira, começava o calvário das populações indígenas.

A mentira que tenta justificar o poder português nos foi contada a vida inteira, desde as escolas primárias, como a saga fascinante de um grande navegador, Pedro Álvares Cabral, que, depois de tanto vagar pelos mares em direção às Índias, se deparou com uma terra nova. Esse grande aventureiro teria então descoberto o Brasil. “Fala-se em descobrimento, mas como descobrir uma terra já descoberta e habitada?, pergunta José Luiz Quadros, professor de Direito da PUC-Minas.

Ou seja, não houve descobrimento algum e todo o conto de fadas relatado nas escolas não passa de uma invenção, já que o que aconteceu depois que os portugueses puseram os pés nessas terras o que aconteceu foi um grande genocídio, uma devastação sem precedentes de um povo e de sua cultura tida como pecaminosa pela Igreja por se tratar de uma gente preguiçosa que, aos olhos europeus, não gostava de trabalhar, juntar riquezas, só se preocupava em conseguir o necessário para a sua sobrevivência.

“O europeu nunca viu o índio como igual, como um detentor de direitos, como uma pessoa. Ele viu o índio, desde a sua chegada, como um facilitador na exploração da nova terra, como um conhecedor dos produtos das florestas, como mão de obra, as belas mulheres como forma de matar seus desejos sexuais, na falta de mulheres portuguesas”, ressalta Wilson Matos da Silva, índio, advogado e presidente da Comissão Especial de Assuntos Indígenas da OAB/MS.
 
O índio sempre foi usado pelo português, seja para a reprodução, seja para a guerra contra tribos tidas como inimigas que atrapalhavam os planos mercantilistas de Lisboa, seja como escravo, mas nunca visto como um indivíduo detentor de costumes próprios, legítimo dono da terra e das riquezas nela existentes. Ao contrário, eram considerados um povo sem religião que deveria assimilar uma nova cultura, ou serem banidos, dando lugar à nova civilização européia. Em poucos séculos, essa nova civilização expulsaria os índios para o interior do país, acabaria com seus costumes e sua forma sustentável de lidar com a floresta até que não restasse sequer uma aldeia que não se rendesse ao domínio português...
 
Por Marco Lacerda, Dom Total: aqui para uma leitura completa...

terça-feira, 27 de setembro de 2011

domingo, 25 de setembro de 2011

Rio-Linguagem-Identidade...

O meu Amigo A.G.S. é incrível; apaixono-me sempre por ele a cada mail que me envia: o último – no qual ele descreve um período histórico de seu país, ainda relata-me sobre o rio e ponte que divide a fronteira natural, a sudeste, entre os dois países dos meus sonhos; aí ele fala-me também a respeito da homenagem aos Infantes, Reis, navegadores e seus Senhores – como eu ia dizer, naquele mail eu senti uma história viva e vivi um mar de vidas; cheguei a ficar constrangida (diante da precisão e minuciosidade da sua escrita) por ter falado que se eu fosse sua aluna me esforçaria o máximo para obter a melhor nota, sinto-me uma indigna perante sua perfeição...

Mas sempre é assim: todas as suas missivas me inspiram poesia; até fazem-me lembrar às imagens de filmes, ou até mesmo alguma narrativa de romance burlesco, que conduz a sua trama com determinação e muita fluidez numa serenidade sentimental apaixonante...

Enfim, assim percebo o A.G.S. (o meu único Amigo): é como se ele fosse um artesão da escrita que, minuciosamente com sua arte, dá um tratamento às palavras com sabores e cores, tanto que fico toda dissolvida, e sempre que leio seus mails me recolho ao meu interior e volto à vida com mais vida; foi o que me inspirou esse rio de linguagem, a seguir:
 Oh! Rio da linguagem
O discurso do teu espaço-tempo
É a pura memória
Duma história
Em infinita desconstrução

Reconstruo-te

E nos traços verdes
Do fino horizonte
Que adiante de te ficou
Estão as luzes oscilantes
Crepúsculos dos reflexos coloridos
Da mítica prosa-lírica
em fluvial semântica

Racionalizo-te
Identifico-te
Em representações ideológicas
Dentre tantos imaginários mitológicos

E numa definição identitária,
Pelo fluxo ardente da expressão simbólica
Sob a correnteza sintática...
Fui o duplo gesto duma análise discursiva

Assim sou, em ardente linguagem,
a destemida fluidez das amazônidas... 

sábado, 24 de setembro de 2011

Oração por uma Bênção das Palavras...

 “... Olho para o Céu e estendo as mãos; faço a Deus minha oração”... Abençoa as minhas palavras, Senhor; quero consagrá-las para Ti porque são elas a minha salvação, pois mesmo cheia de erros buscam uma perfeição...

Para eu compreender o meu próprio desespero, deixo aqui algumas linhas duma canção, de Dayana e Sacramento, em forma de oração: “Não sou um distante Deus escondido atrás do céu; não sou um Deus de páginas de um livro qualquer que alguém rasga quando quiser... Sou o Deus que quis sentir o chorar, a dor e o sofrer; foi por isso então que me fiz carne por ti, para tua vida viver...”

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

terça-feira, 20 de setembro de 2011

Sonda-me...

Refletindo com a Palavra...

                                                                                    Santorini - Imagem do MSN.Viagem

"... Seus Caminhos estão semeados de Delícias, e suas Veredas são Pacíficas..." (Provérbio 3:17)

O Mundo se Despedaça...

O mundo se despedaça conta a história de um guerreiro chamado Okonkwo, da etnia ibo, estabelecida no sudeste da Nigéria, às margens do rio Níger. O momento que a narrativa retrata é o da gradual desintegração da vida tribal, graças à chegada do colonizador branco. Os valores da Ibolândia são colocados em xeque pelos missionários britânicos que trazem consigo o cristianismo, uma nova forma de governo e a força da polícia.

O delicado equilíbrio de costumes do clã vinha sendo mantido por gerações, mas então atravessa um momento de desestabilização, pois os missionários europeus e seus seguidores, africanos convertidos, começam a acorrer às aldeias de Umuófia pregando em favor de uma nova crença, organizada em torno de um único Deus. A nova religião contraria a crença nas forças anímicas e na sabedoria dos antepassados, em que acreditam os ibos. Além disso, os homens brancos trazem novas instituições: a escola, a lei, a polícia.

Okonkwo, o mais bravo guerreiro do clã, é dos principais opositores dos missionários, mas ele não contava com a adesão à nova crença de muitos de seus conterrâneos, vizinhos e companheiros de aldeia. Entre eles está ninguém menos que seu primogênito, Nwoye. Também aderem à religião do homem branco aqueles que foram marginalizados pela sociedade tradicional, os párias ou osus, as mulheres, os jovens sem perspectiva.

Como escreve o diplomata e estudioso das literaturas africanas Alberto da Costa e Silva, no prefácio ao livro, o romance de Achebe é uma das obras fundadoras do romance nigeriano contemporâneo. Segundo ele, o livro "narra a desintegração de uma cultura, com a chegada do estrangeiro, com armas mais poderosas e de pele, costumes e ideias diferentes". Mas, para o ensaísta, Chinua Achebe, que escreve em inglês,"é cidadão de uma Nigéria criada pelo colonizador" e sabe que a "História não é boa nem má, nascemos dela, de seus sofrimentos e remorsos, de seus sonhos e pesadelos".

O romance é considerado um dos livros mais importantes da literatura africana do século XX e fundador da moderna literatura nigeriana. Foi publicado originalmente em 1958, dois anos antes da independência da Nigéria. Primeiro romance do autor, foi publicado em mais de quarenta línguas.

"Chinua Achebe é um escritor mágico - um dos maiores do século XX." - Margaret Atwood

"Uma imaginação vívida ilumina cada página [...] Um romance que enxerga a vida tribal de um ponto de vista interno, genuíno." - Times Literary Supplement...

O Mundo se Despedaça...

Ler O Mundo Se Despedaça, de Chinua Achebe, é uma experiência às vezes desconfortável, às vezes arrebatadora. O autor nigeriano que faz 79 anos no próximo dia 16 escreveu o seu livro de estreia quando ainda era um jovem de 20 e tantos anos. Redigiu à mão, em inglês, e enviou o texto para um escritório em Londres datilografar, com as despesas pagas. Eram os anos 1950.

Por pouco o texto não se perdeu. Graças à intervenção de um conhecido de Achebe, o manuscrito foi “desencavado” depois de passar meses ignorado num canto da empresa e, finalmente, passado a limpo. Aquela era a única cópia que havia e, se ela tivesse desaparecido, é muito provável que o escritor mais conhecido e lido da África jamais publicasse coisa alguma.

E foi com O Mundo Se Despedaça que Chinua Achebe (a pronúncia é algo próximo de “tchinua tchebei”) ganhou o mundo. Publicado pela primeira vez em 1958, depois de ter sido rejeitado por inúmeras editoras, o romance virou referência sobre como vivia o povo ibo na Nigéria até o fim do século 19 e o impacto que a chegada do homem branco teve sobre a região. A obra é considerada também fundadora da literatura moderna nigeriana.

Uma tradução brasileira foi publicada pela Ática em 1983 e era disputada a tapa no circuito de sebos. A nova edição, da Companhia das Letras, tem uma introdução minuciosa do escritor e historiador Alberto da Costa e Silva.

“Os ibos têm sua pátria no sudeste da Nigéria, ao norte do delta do Níger e ao sul do Benué, numa larga faixa que vai do sudoeste do Níger até as águas do rio Cross. Seus vizinhos ao norte são os igalas e os idomas; a oeste, os binis; a leste, os ecóis e os efiques; ao sul, os ibíbios e os ijós. As tradições colocam a fonte da nação ibo na área de Nri-Awka e dizem que a principal rua de Nri é a rua dos deuses, e que por ela transitam, a caminho da terra dos espíritos, todos os que morrem em outras da Ibolândia”, escreve Costa e Silva.
(...)
O modo como Achebe escreve parece refletir a tradição oral do povo sobre o qual fala. Na descrição de Costa e Silva, os ibos amam a eloquência e têm o dom da palavra no mais alto conceito, além de jogar com palavras e adorar provérbios.

O Mundo Se Despedaça tem poucas descrições – o que torna o glossário ao final do volume ainda mais útil –, o enredo é ralo e mal consegue amarrar os acontecimentos de um capítulo aos do outro. Assim como as histórias narradas pelos pais aos filhos, Achebe sempre guarda uma lição atrás de cada fato. Seu protagonista perde a humanidade para virar uma ideia, ou um exemplo.

Okonkwo não é apenas um, mas sim um povo inteiro. Por mais que sofra as consequências de seus atos e viva um cotidiano que parece bárbaro aos olhos de um leitor de hoje, Achebe mostra o valor das tradições e o faz de maneira afetuosa.

sábado, 17 de setembro de 2011

Our Days Live...

Desire...

Bajo El Cielo...

"Saúde em Movimento": A Linguagem do Corpo...

"Existe senão um só templo no universo,
É o corpo do Homem. (...) Curvar-se
Diante do homem é um ato de reverência
Diante desta revelação da Carne.
Tocamos o céu quando colocamos
Nossas mãos num corpo humano.” (Novalis) 

Venho através deste, de forma muito sincera, agradecer e parabenizar aos idealizadores, executores e todos os profissionais envolvidos no Programa Saúde em Movimento, como já falaram, esse é um programa de estímulo na adoção de práticas saudáveis junto às comunidades de Rio Branco... Tendo como objetivo maior, a prevenção de doenças e uma melhor qualidade de vida. Assim, esse programa vem oferecendo várias atividades nas regionais dessa cidade.

Sistematicamente é realizado um encontro para agrupar e promover a integração entre os oito Núcleos de Vida Saudável das regionais (confesso que, por falta de disponibilidade nos dias dos encontros, ainda não participei de nenhum, o Professor Fábio que me perdoe pelo desprestígio a sua dedicação). Entre as atividades desenvolvidas estão dança, aeróbica, alongamentos e exercícios localizados, como abdominais. Os “núcleos estão localizados na Concha Acústica do Parque da Maternidade, Centro da Juventude do São Francisco, espaço cultural Lídia Hammes, Espaço Ágora (Parque da Maternidade), Arena da Floresta, Parque do Tucumã, Calçadão da Gameleira e Horto Florestal... Além da atividade física, trimestralmente é feito o acompanhamento de cada pessoa, com a aferição do peso, da pressão, colesterol e glicemia.” Mais informações aqui...

Bem, o motivo maior para meu agradecimento é o efeito benéfico que já sinto no corpo e na alma; os resultados impactantes das atividades que venho praticando, há cinco meses, são bem perceptíveis... Minha satisfação não é somente física, é também emocional, pela grandiosidade de algumas amizades conquistadas no Núcleo Parque do Tucumã, no qual participo...

Convido-te agora a escutar: não as minhas palavras e sim a linguagem do meu corpo, porque sinto nesse instante um imenso desejo de falar sobre as dores que outrora impuseram ao meu corpo e que agora agem, em mim, como obstáculos na prática de certos movimentos... Entretanto, será necessário uma breve leitura dum trecho dos livros O Corpo e seus símbolos e Repressão Sexual: Essa nossa (des)conhecida; talvez assim fique mais claro, até mesmo para mim, ouvir a voz do meu corpo; digo isso pela grande dificuldade que estou sentindo, conforme já falara; aí necessito compreender a simbologia do meu corpo perante minha impossibilidade em praticar tais movimentos... Pois, o interessante foi perceber que os movimentos ritmados, como na aeróbica, faço-os sem nenhum obstáculo; exigem muita habilidade do corpo, porém eu vou que vou, sem dificuldade; no entanto os movimentos localizados são tortuosos: como o abdominal, por exemplo, que exerce um profundo impacto no útero... Questiono-me: qual a relação desse obstáculo com os traumas da repressão sexual sofridos na minha educação?...

Daí, lembrei-me das palavras do Jean-Yves Leloup, quando ele diz: “que o corpo não mente, mais que isso, ele conta muitas histórias e em cada uma delas há um sentido a ser descoberto, como, por exemplo, o significado dos acontecimentos, das doenças ou do prazer que anima algumas de suas partes. O corpo é nossa memória mais arcaica. Nele, nada é esquecido. Cada acontecimento vivido, particularmente na primeira infância e também na vida adulta, deixa no corpo sua marca profunda...” Bem, só me resta agora descobrir quais são as profundas marcas existentes no meu corpo que me impedem de avançar na ginástica... Pensei em solicitar auxilio a um terapeuta, mas recordei-me da leitura do Livro “As Mentiras do Divã”, a qual se imbricou perfeitamente com as tentativas de terapias que fiz há anos atrás; mesmo porque, em Rio Branco, desconheço a existência dum profissional que se inspire nos Terapeutas de Alexandria com suas escutas físicas, psicológicas e espiritual...

Bem, parei para refletir sobre o “Sopro da vida”, na tentativa de entrar numa relação íntima com cada parte do meu corpo e compreender como é acolhido esse “Sopro” no reavivamento de cada parte... Refleti também sobre as diferentes ocupações a que me entreguei na escravização de meu corpo, em consequência de torturas da repressão sexual na educação, nem será necessário contar aqui... Pois, sob certos aspectos, eu poderia recorrer ao que me diz Marilena Chauí, no livro Repressão Sexual, quando afirma o seguinte: “desde que o mundo é mundo, seres humanos são dotados de corpos sexuados e as práticas sexuais obedecem a regras (...). A repressão sexual pode ser considerada como um conjunto de interdições, permissões, normas, valores, regras estabelecidos histórica e culturalmente para controlar o exercício da sexualidade, pois o sexo é encarado como uma torrente impetuosa e cheia de perigos (...). As proibições e permissões são interiorizadas pela consciência individual, graças a inúmeros procedimentos sócias (como a educação, por exemplo) e também expulsas para longe da consciência, quando transgredidas porque, nesse caso, trazem sentimentos de dor, sofrimento e culpa que desejamos esquecer ou ocultar.” E tais sentimentos de dor, que muitas vezes não conseguimos ocultar, são expressadas pelo corpo...

Enfim, ao concluir deixo o texto aberto às possíveis possibilidades de compreensão, contudo não pretendo esgotar o assunto e desejo manifestar outras expressões corporais, noutro momento; pois as regras sociais que reprimem a sexualidade são as múltiplas consequências do contínuo exercício do poder, em detrimento dos controles que causam os ‘sentimentos de dor, sofrimento e culpa’, conforme Chauí; porque “Os mecanismos que provocam o sofrimento se auto-sustentam. Nutrem-se da energia da alma para fazê-la voltar-se contra o corpo ( Pierry Lévy)... Porquanto, “O corpo é o inconsciente visível. É o nosso texto mais concreto, nossa mensagem mais primordial. É também o templo onde outros corpos mais sutis se abrigam. A pele é a ponte sensível do contato com o mundo e pode ser também um abismo. É nosso código mais intenso, um lar de profundas memórias. O Corpo sente, toca, fala e comunga”, afirma Leloup.
E assim finalizo com as palavras de Fernando Pessoa:
“O meu olhar é nítido como um girassol.
Tenho o costume de andar pelas estradas
Olhando para a direita e para a esquerda,
E de vez em quando olhando para trás...
E o que vejo a cada momento
É aquilo que nunca antes eu tinha visto,
E eu sei dar por isso muito bem
Sei ter o pasmo essencial
Que tem uma criança se, ao nascer,
Reparasse que nascera deveras...
Sinto-me nascido a cada momento
Para a eterna novidade do Mundo...”

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

De qué manera Te Olvido...

O Corpo e seus símbolos...

Com grande lucidez e sabedoria, da planta dos pés à cabeça, Leloup percorre o universo da corporeidade lendo-o, sempre, através de uma ótica trinitária; a somática, a psíquica e a espiritual, devolvendo-lhe a sua beleza e seu mistério. Cada parte do corpo, conta-nos múltiplas estórias, transpirando símbolos e aventuras míticas, desvelando o horizonte multicolorido da inteireza humana...

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

...

Pasmo sempre quando acabo qualquer coisa...

Pasmo sempre quando acabo qualquer coisa. Pasmo e desolo-me. O meu instinto de perfeição deveria inibir-me de acabar; deveria inibir-me até de dar começo. Mas distraio-me e faço. O que consigo é um produto, em mim, não de uma aplicação de vontade, mas de uma cedência dela. Começo porque não tenho força para pensar; acabo porque não tenho alma para suspender. Este livro é a minha cobardia.

A razão por que tantas vezes interrompo um pensamento com um trecho de paisagem, que de algum modo se integra no esquema, real ou suposto, das minhas impressões, é que essa paisagem é uma porta por onde fujo ao conhecimento da minha impotência criadora. Tenho a necessidade, em meio das conversas comigo que formam as palavras deste livro, de falar de repente com outra pessoa, e dirijo-me à luz que paira, como agora, sobre os telhados das casas, que parecem molhados de tê-la de lado; ao agitar brando das árvores altas na encosta citadina, que parecem perto, numa possibilidade de desabamento mudo; aos cartazes sobrepostos das casas ingremadas, com janelas por letras onde o sol morto doira goma húmida.

Por que escrevo, se não escrevo melhor? Mas que seria de mim se não escrevesse o que consigo escrever, por inferior a mim mesmo que nisso seja? Sou um plebeu da aspiração, porque tento realizar; não ouso o silêncio como quem receia um quarto escuro. Sou como os que prezam a medalha mais que o esforço, e gozam a glória na peliça.

Para mim, escrever é desprezar-me; mas não posso deixar de escrever. Escrever é como a droga que repugno e tomo, o vício que desprezo e em que vivo. Há venenos necessários, e há-os subtilíssimos, compostos de ingredientes da alma, ervas colhidas nos recantos das ruínas dos sonhos, papoilas negras achadas ao pé das sepulturas [...], folhas longas de árvores obscenas que agitam os ramos nas margens ouvidas dos rios infernais da alma.

Escrever, sim, é perder-me, mas todos se perdem, porque tudo é perda. Porém eu perco-me sem alegria, não como o rio na foz para que nasceu incógnito, mas como o lago feito na praia pela maré alta, e cuja água sumida nunca mais regressa ao mar.

Fonte do Livro do Desassossego por Bernardo Soares...

terça-feira, 13 de setembro de 2011

Zurzidela do Tempo...

Assim sei que cheguei,
mas sempre chegarei,
Tarde demais...

Aquele tempo
O qual me deste
Não foi o meu tempo

Foi no teu pensar temporal
Tempo Passado, tempo Presente

O meu
É o que virá
Em Tempos Futuros

E nessa espera da Fé
Sinto-te chegares...

Chegas chegando devagarzinho
Nas minhas Noites de agonia

E se houver ainda tempo
Quando raiar o Dia
Ouviremos o Canto dos passáros

Sentaremos à sombra das árvores
Juntos colheremos os Frutos...

domingo, 11 de setembro de 2011

sábado, 10 de setembro de 2011

Gurda contigo meu coração...

Ainda que seja pouco, ainda que ele não bata em ti, ainda que o destino dele seja a terra, guarda contigo meu coração. Mesmo que mude de corpo, guarda contigo, que comigo é pouco, também o tempo de espera, e ele quer revolução desarmada, quer do peito a flechada, te quer bem e me erra, carecendo de precisão.

Meu coração é teu, pulsou por ti. Quando pensou em parar, lembrou de ti, e ainda bate, aqui longe, ali perto, também em pensamento, no teu descompasso, supondo que é meu, o teu coração, é alucinação que suportou alegria e desilusão, que entrega mansidão. E como fosse pouco, nessa ocasião, quer a tua atenção, que foi nele o tormento que ficou.

Guarda em ti as palavras que queriam ser do coração. Nessa disritmia elas não sabiam do mundo, só conheciam o que estava em mim, e assim se soltaram, livres, como se meus olhos refletissem a tua verdade, meus olhos ingênuos e pequenos, que não cresceram para a imensidão, que não deram cria, num tempo em que ninguém definia o que nos aconteceria.

E meu coração frágil, sonhador, agora que olha para trás, só te pede um cantinho, um bocadinho para ficar na perdição, guardado, que em ti é mais seguro, ainda que em sonho imaturo, pois sendo assim será apenas devoção. Pode ser gratidão, se o momento for versátil, se a vida for volátil. Será paixão?

Muitas coisas deixam, deixaram em mim grande saudade. Assim, meu coração estando em ti, apenas pulsando, quieto, algo de bonito e sensível vai emoldurar essa saudade, algo de infinito. Melhor do que estar comigo, aqui longe, aqui sem graça, aqui, sem irrigação. A manutenção também não seria boa, arritmia e desorientação, agonia e apressada pulsação. Vendo de perto, a normalidade perderia sua verdade.

E é isso. Meu sentimento à toa, que indo pra longe beirou o começo, se você me perdoa, nesse ciclo de quase amor, vou deixar contigo, ainda que seja pouco, rouco, meio mouco, disfarçado de submisso.

Até outro tempo. Até entender o que de mim destoa, o que despetala a flor, contigo vai ficando, batendo, vivendo, minha ilusão, ainda que seja pouca, como simples melodia, como lamento, toda indefinição e querer. Insisto e te peço, como numa canção, guarda contigo meu coração.

José Augusto Fontes. Aqui...

Princesas Incas...

Essa é uma história da nobreza feminina Inca pós-conquista do período colonial.

No dia 16 de Novembro de 1532, numa batalha na cidade inca de Cajamarca, nos Andes, em menos de uma hora e sem perder um único dos seus 160 homens, os conquistadores espanhóis chefiados por Francisco Pizarro mudaram para sempre o curso da História e estabeleceram as fundações do futuro Império espanhol na América do Sul... Stuart Stiirling escreveu este livro tendo como ponto de partida este episódio fundador e recorrendo a muito material de arquivo nunca publicado.

Este livro conta a história das mulheres da realeza inca, que subitamente se viram reduzidas à condição de amantes dos conquistadores, vindo muitas delas a sofrer um destino trágico. A par da narrativa da conquista do Império Inca vamos acompanhando o destino das suas princesas, num texto que é também um fresco da época colonial.

Aqui...

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

...

Um Garoto de Aluguel...

A Cidade das Letras...

A publicação de um livro sempre envolve uma certa magia. Da matemática à literatura estamos sempre diante de um universo novo de significações. A morte de um autor e a publicação póstuma de seus trabalhos permitem ao leitor o privilégio de reinstituir a magia da vida através da linguagem.

Angel Rama nos convida, com seu livro A Cidade das Letras, a participar do universo latino-americano. Para Vargas Llosa ninguém superou Rama nestas visões de conjunto: "Não é estranho, portanto, que fosse ele que concebesse e dirigisse o mais ambicioso projeto editorial dedicado a reunir o mais representativo da cultura latino-americana. A Biblioteca Ayacucho, patrocinada pelo Estado da Venezuela". Dentro de uma perspectiva macro-histórica Rama escreveu seu livro A Cidade das Letras. Meditou sobre a história latino-americana a partir do período colonial procurando desvendar seus significados simbólicos em meio às especificidades literárias, estéticas e culturais.

Hugo Achugar refere-se no prólogo à capacidade de Rama em escapar do exercício sociológico construindo uma visão totalizante como resultado de identidades culturais. Com a chegada do colonizador tem início este trabalho. É ele que institui a cidade ordenada. A palavra-chave deste momento é a ordem. Palavra obsessiva para o rei e todos aqueles que realizam a construção do império espanhol e português. O desenho da urbis reproduzia um tabuleiro de damas onde cada edifício expressava a estrutura hierárquica. A missão civilizadora coube a cidade letrada. A classe sacerdotal soube criar um universo de signos que servissem de maneira primorosa à monarquia absoluta. A cidade, sede administrativa, fixou a norma através de seu estilo barroco. A forma e a figura expressaram o exercício do poder constituído.

 Uma sociedade marcada pelo analfabetismo sacralizava a cultura européia. A cidade barroca mantém-se como ideal. É uma imagem sempre presente mesmo para aqueles que não são seus artífices diretos. O estreito convívio com o poder, com as leis, regulamentos e proclamações instituiu a cidade escriturária. Advogados, escrivães, escreventes e burocratas da administração realizam a arte da "obscura predominância". Usaram a língua como instrumento de dominação contra o mundo "inferior". Intensificam a adesão à norma culta para limitar o acesso ao poder. A cidade escriturária encontra nos escritores de grafite uma prazerosa oposição. Com inscrições "indecorosas" ou apaixonadas cobriam as paredes das pousadas do Alto Peru: "Além das desonestidades que com carvão imprimiam as paredes, não há nem mesa nem banco em que não esteja esculpido o sobrenome e o nome a golpe de ferro desses idiotas".

Em 1870 a modernização favorecia o crescimento do circuito letrado. O desafio ao poder constituído crescia com as facilidades de divulgação criadas pelas gazetas populares. Novos grupos sociais introduzem leis de educação comum que se estendem pela América Latina. O grande ator da cidade modernizada é o conhecido self made man. Aquele homem que venceu graças ao seu esforço pessoal. O jornalista e o advogado constituem com precisão este perfil. A pólis se politiza com um estilo nacionalista de 1911 a 1930 e depois com um estilo populista de 1930 a 1972. Ao mesmo tempo o século XX latino-americano produz uma doutrina de regeneração social como um processo idealista, emocional e espiritualista que se desenvolve negando a modernização. As estruturas mentais se organizam de forma antitética desembocando na "triunfante cidade da unificação nacional".

A era da revoluções finaliza este estudo. Ela gerou a cidade revolucionada, critério de Abelardo Villegas, para analisar a profunda mudança social tanto na sociedade mexicana como na uruguaia. Alguns traços deste processo poderão ser observados também no radicalismo de Hipólito Yrigoyen na Argentina de 1916, e de Arturo Alessandri no Chile de 1920, com Getúlio Vargas desde 1930, No México com Lázaro Cárdenas, na Argentina com Perón e na Venezuela com Rômulo Gallegos. Já a revolução cubana encontraria continuidade em Salvador Allende e no sandinismo nicaragüense. Rama observa como em meio as revoluções latino-americanas sempre se concedeu considerável importância à presença dos "intelectuais nos campos de luta, quer ser trate de conselheiros privados ou de secretários que dominam a pena, quer dos burocratas sobreviventes de todas as administrações possíveis que esperam o momento em que se reclame deles os inevitáveis serviços". Afinal sempre voltamos à antiga cidade das letras. Desta cidade sobrou um pouco em todos nós: uma

Angel Rama: Fonte...