sábado, 28 de maio de 2011

Dupla Imagem...

A sistematização da virtualidade
Em nosso viver
Efetua o infinito
Caminho dos desencontros

A variabilidade da tua amabilidade
São os princípios
Que norteiam
A produção duma verdade
Da inexistência real

Sim, duplicação de mim
Em ti: por nós...
Faces diferentes
E repentinas do genuíno Ser

Resenhemos, então, na história
A dupla imagem do inseguro pacto!...

Vulgar Ilusão...

Numa ordem descontínua
O jogo com tua parceria
Desmobiliza a concretude do real
Atinge o mais íntimo sentimento
Guardião do coração

Vão, não na dissolução
Na passagem do desejo
O caminho erótico
É o desequilíbrio das possibilidades
No êxtase de teu furioso amor

Freio a desordem
Da tua sensualidade destruidora

Vidas desumanas
Destemidamente avassaladoras
Invade o coração
No sabor da vulgar ilusão...

Em qual estrela você se escondeu?...

Existem mantras que, ao tocar no coração, preenchem o vazio de qualquer ilusão; espera: esperança vã!... E aí a permissão sagrada foi um caminhar nas artérias do teu coração enquanto o vento não chegava, mas veio o sonho em retalhos; as fantasias em pedaços: vislumbro a noite ouvindo uma canção e ouço teus passos construindo astros, estrelas cadentes na Lua vivente... Vem em passos leves ao encontro da praia sem dividir o mar... Anistia a minha fraqueza sem torturar meu medo, porque assim é o desejo... Vejo a chuva através da cortina transparente e diante do som telúrico onde dançam as folhas leve... Assim no silêncio dessa canção, na minha triste submissão: desfaço-me ouvindo a tua bela oração...

sexta-feira, 27 de maio de 2011

Saudade da prosa

Poesia, saudade da prosa;
escrevia "tu", escrevia "rosa";
mas nada me pertencia,

nem o mundo lá fora
nem a memória,
o que ignorava o que sabia.

E se regressava
pelo mesmo caminho
não encontrava

senão palavras
e lugares vazios:
símbolos, metáforas,

o rio não era rio
nem corria e a própria morte
era um problema de estilo.

Onde é que eu já lera
o que sentia, até a
minha alheia melancolia?

(Manuel António Pina, in )

Три дороги

terça-feira, 24 de maio de 2011

segunda-feira, 23 de maio de 2011

Alvorecer da Paixão...

Em instantes sublime do alvorecer
no verão ardente da paixão
O Sol vem brilhante
A me aquecer

Nele teus olhos
Me iluminam com os raios
Radiante da sedução

Aí o abraço é um suave envolver-se...

Errante em delírios
Estendo-te os braços

Por entre toques delicados
de duas mãos
Suspiro vagando na solidão...

Sinto-te na Paz que vem do Coração...

domingo, 22 de maio de 2011

Tudo de quanto necessitas está em Ti...

Um imperador da China se questiona sobre o sentido da vida. O encontro com um sábio ancião lhe permite ampliar o campo de consciência de uma forma inesperada e também vislumbrar outros aspectos assombrosos da vida das civilizações que se sucedem sobre a Terra. Com este sábio, o imperador aprende a viver o presente deixando-se guiar pela intuição para utilizar tudo quanto está em si.

FONTE...

sábado, 21 de maio de 2011

O vento que vem do outro lado da montanha....

J. Rentes de Carvalho: romeiro sem romaria...

É bem aqui... Já ninguém tira a J. Rentes de Carvalho a boa disposição de estar na Feira do Livro de Lisboa. Carimba os livros que vai autografando com um selo onde se lê "JRC- Romeiro sem Romaria". É uma variação da frase "apercebido como hu(m) romeiro" que o primeiro rabino português formado em Amesterdão, Menasseh ben Israel, tinha no seu selo. "Depois de mais de meio século a participar em feiras do livro na estranja", o autor português - que nos últimos 12 anos tem vivido três meses em Amesterdão e os três seguintes em Estevais, Mogadouro -, esteve este fim-de-semana pela primeira vez na Feira do Livro de Lisboa. "Em 60 anos de literatura publicada nunca me convidaram. Sinto-me festejado. É uma espécie de baptismo e, ao mesmo tempo, de retorno, porque quando eu era miúdo ia-se à Feira do Livro ver o Aquilino Ribeiro...

Escritores dormem no quarto de Fernando Pessoa e escrevem sobre a experiência...

Dia 19 de Maio, o escritor brasileiro João Gilberto Noll inaugurarou o ciclo Uma Noite com Pessoa na Casa Fernando Pessoa, tornando-se o primeiro escritor a dormir no quarto onde Pessoa viveu durante os últimos quinze anos da sua vida. A proposta da Casa Fernando Pessoa consiste em convidar escritores a dormirem no quarto de Fernando Pessoa, escrevendo depois sobre essa noite, para um livro a editar durante o próximo ano.

Próximos hóspedes: Valter Hugo Mãe (8 Jun), Eduardo Pitta, Lídia Jorge, Luísa Costa Gomes (13 Jun), Nuno Júdice, Rui Zink, Jacinto Lucas Pires, José Eduardo Agualusa, José Mário Silva, José Tolentino Mendonça (6 Jul)...

quarta-feira, 18 de maio de 2011

Ave Maria...

Edgar Allan Poe, o escaravelho bêbado...

Edgar Allan Poe, nascido em Boston em 19 de janeiro de 1809, um dos modernos escritores de contos policiais e fantásticos, um decadentista assumido, foi um dos maiores nomes das letras dos Estados Unidos. No século em que ele viveu somente foi superado em fama mundial por Mark Twain, um escritor sulista.

O que os separou foi o humor. Twain era um soberbo contador de casos divertidos e pitorescos da vida de garotos nas margens do rio Mississipi; a literatura de Poe, ao contrário, era gótica, sombria, um relato por vezes apavorante da vida portuária tenebrosa daqueles tempos. De certo modo ambos apresentaram as duas faces da América em momentos históricos e geográficos distintos.  Continua...

terça-feira, 17 de maio de 2011

O Desfile de Primavera...

Considerado o grande romance de Richard Yates, a par de Revolutionary Road, O Desfile da Primavera conta a história de duas irmãs, Sarah e Emily Grimes. Conhecêmo-las quando ainda são pequenas, com os pais recém-divorciados. E ao longo de quarenta anos, acompanhamos os caminhos que as tornam mulheres muito diferentes, embora ambas tentando lidar com um mesmo passado difícil. Sarah, a estável, a determinada, vai para Long Island, vive um casamento infeliz, e acaba por sucumbir ao seu desespero silencioso; Emily, a precoce, a independente, fica em Nova Iorque, percorre vários empregos sem interesse, dorme com vários homens, perde a carreira e perde-se no álcool.

Neste sombrio e magistral romance, e com mestria que caracteriza toda a sua obra, Richard Yates reforça a ideia de que não existe aquilo a que se chama uma vida normal.

FONTE...

Amor como em Casa...

Regresso devagar ao teu
sorriso como quem volta a casa. Faço de conta que
não é nada comigo. Distraído percorro
o caminho familiar da saudade,
pequeninas coisas me prendem,
uma tarde num café, um livro. Devagar
te amo e às vezes depressa,
meu amor, e às vezes faço coisas que não devo,
regresso devagar a tua casa,
compro um livro, entro no
amor como em casa.

(Manuel António Pina, in "Ainda não é o Fim nem o Princípio do Mundo. Calma é Apenas um Pouco Tarde")

FONTE...

segunda-feira, 16 de maio de 2011

...

Ser humano: poético e prosaico....

Disse um dos mais inspirados poetas alemães Friedrich Hölderin (1770-1843):”é poeticamente que o ser humano habita a Terra”. Completou-o mais tarde um pensador francês, Edgar Morin: ”é também prosaicamente que o ser humano habita a Terra”. Poesia e prosa além de gêneros literários, expressam dois modos distintos de ser.

A poesia supõe a criação que faz com que a pessoa se sinta tomada por uma força maior que ela, que lhe traz conexões inusitadas, iluminações novas, rumos novos. Sob a força da criação, a pessoa canta, sai da rotina e assume caminhos diferentes. Emerge então o xamã que se esconde dentro de cada um, aquela disposição que nos faz sintonizar com as energias do universo, que capta o pulsar do coração do outro, da natureza e do próprio Deus. Por esta capacidade se desocultam supreendentes sentidos do real.

“Habitar poeticamente a Terra” significa senti-la como algo vivo, evocativo, grandioso e mágico. A Terra são paisagens, cores, odores, imensidão, fascínio e mistério.

Como não se extasiar diante da majestade da floresta amazônica com suas árvores quais mãos ao alto tentando tocar as nuvens, com o emaranhado de seus cipós e trepadeiras, com as nuances sutis de seus verdes, vermelhos e amarelos, com os trinados das aves e a profusão de frutos? Como não quedar-se boquiaberto pela imensidão das águas que se espraiam mato adentro e descem molemente para o oceano? Como não sentir-se tomado de temor reverencial quando se anda horas e horas pela floresta virgem como me tocou várias vezes com Chico Mendes? Com não sentir-se pequeno, perdido, bichinho insignificante face à incontável biodiversidade? Habitamos poeticamente o mundo quando sentimos na pele o frescor da manhã, quando padecemos sob a canícula do sol a pino, quando serenamos com o cair esmaecido da tarde, quando nos invade o mistério da escuridão da noite. Estremecemos, vibramos, nos enternecemos, nos aterramos extasiados diante da Terra em sua inesgotável vitalidade e no encontro com a pessoa amada. Então todos vivemos o modo de ser poético.

Lamentavelmente, são cegos e surdos e vítimas da lobotomia do paradigma positivista moderno aqueles que vêem a Terra simplesmente como laboratório de elementos físico-químicos, como um conglomerado desconexo de coisas justapostas. Não. Ela é viva, Mãe e Pacha Mama.

Mas habitamos também prosaicamente a Terra. A prosa recolhe o cotidiano e o dia-a-dia cinzento, feito de tensões familiares e sociais, com os horários e os deveres profissionais, com discretas alegrias e disfarçadas tristezas. Mas o prosaico esconde também valores inestimáveis, descobertos depois de longa internação num hospital ou quando regressamos, pressurosos, após penosos meses fora de casa. Nada mais suave que o desenrolar sereno e doce dos horários e dos afazeres caseiros e profissionais. Temos a sensação de uma navegação tranquila pelo mar da vida.

Poético e prosaico convivem, se complementam e se revezam de tempos em tempos. Temos que zelar pelo poético e pelo prosaico de nossas vidas, pois ambos se complementam e estão ameaçados de banalização.

A cultura de massas desnaturou o poético. O lazer que seria ocasião de ruptura do prosaico foi aprisionado pela cultura do entretenimento que incita ao excesso, ao consumo de álcool, de drogas e de sexo. É um poético domesticado, sem êxtase, um desfrute e sem encantamento.

O prosaico foi transformado em simples luta darwiniana pela sobrevivência, extenuando as pessoas com trabalhos monótomos, sem esperança de gozar de merecido lazer. E quando chega o lazer, ficam reféns daqueles que já pensaram tudo para elas, organizaram suas viagens e fabricaram-lhes experiência inesquecíveis. E conseguiram. Mas como tudo é artificialmente induzido, o efeito final é um doloroso vazio existencial. E ai dá-lhes depressivos.

Saber viver com leveza o prosaico e com entusiasmo o poético, é indicativo de uma vida densamente humana...

Por Leonardo Boff

...Eis a Fonte...

domingo, 15 de maio de 2011

Quando estou chorando...

Orgasmo do Olhar...

Com o Cheiro forte do Corpo
Suave fica as minhas mãos
A deslizar por entre canções
Que vêm lá da profunda imaginação

Vento ventila
Trazendo
O Aroma da Paixão

Vem...
Determina o tom
Da rígida decisão

Vem...

Na erótica Sedução
Transborda-me no gozo gemido
Delirante da excitação...

Tenso, teso sobre a brisa da erotização
Sob corpos consumidos no prazer
Da língua, nos lábios, salivante
Dissolvida sucedendo
A viril decisão...

Ápice!
Clímax!
Vértice!

Na única Sensação
E gemendo na dor do gozo

Quem somos nós?

Katyusha...

sábado, 14 de maio de 2011

Hino do Soldado da Borracha...

Destemido Soldado da Borracha
Desse lindo exército modesto varonil
Não se esqueça de cumprir o seu dever
Trabalhando em defesa do Brasil

Envolvido na Floresta estás esquecido
Em funestos empecilhos
O Brasil nessa fase já precisa
Do amor dedicado dos seus filhos

Viva o soldado brasileiro
Seu produto servirá ao mundo inteiro

Quando os dias tocar no rádio
Fulgurante da vitória virá nosso país
Aí veremos que nossos esforços
Assegurou a liberdade tão feliz

Se sofreres injustiças e episódios,
Noticiemos a negra solidão
Mas um dia liberto desse cárcere
Cantaremos a Glória da Nação

No momento que entraste na fileira
Do batalhão verossímil da floresta
E, que pensaste na vitória do Brasil,
Esquecendo a larga vida funesta
Destemido soldado triunfante
Esse solo também o pertence

Com o peito vibrando de alegria
Nas estradas consagradas do Dever
Viva o soldado brasileiro
Seu produto servirá ao mundo inteiro

(Transcrição do vídeo sobre tia Vicência Bezerra da Costa)

sexta-feira, 13 de maio de 2011

O Sabor Sagrado da Alimentação...

 
                                                      Fotos de Marmitex Refeições Coletivas
 Feijão com Arroz
E muita Salada...
No Prazer
Do Alimento
É sabor
Paladar
Ingerir
Degustar
Servir
Mastigar
Fartar-se
Na refeição
Que consumo
Para alimentar
O corpo
Que fortalece
A Alma
Caminho caminhando
Sigo seguindo
Almoçando
Jantando
Comendo
Na delícia
De saborear
Os grãos mágicos
Legumes Sagrados
E as verduras encantadas...
Hummm... Delicioso.... 

Pense à vous et vous aimer...

Otra realidad...

De nuestros miedos
nacen nuestros corajes
y en nuestras dudas
viven nuestras certezas.
Los sueños anuncian
otra realidad posible
y los delirios otra razón.
En los extravios
nos esperan hallazgos,
porque es preciso perderse
para volver a encontrarse.

(Eduardo Galeano )

Leve, breve, suave...

                                                                                            Fonte e Imagem...
Leve, breve, suave,
Um canto de ave
Sobe no ar com que principia

O dia.

Escuto, e passou...
Parece que foi só porque escutei
Que parou.

Nunca, nunca em nada,
Raie a madrugada,
Ou 'splenda o dia, ou doure no declive,
Tive
Prazer a durar
Mais do que o nada, a perda, antes de eu o ir
Gozar.

(Fernando Pessoa)

Je contemple souvent le ciel de ma mémoire...

Le temps efface tout comme effacent les vagues
Les travaux des enfants sur le sable aplani
Nous oublierons ces mots si précis et si vagues
Derrière qui chacun nous sentions l'infini.

Le temps efface tout il n'éteint pas les yeux
Qu'ils soient d'opale ou d'étoile ou d'eau claire
Beaux comme dans le ciel ou chez un lapidaire
Ils brûleront pour nous d'un feu triste ou joyeux.

Les uns joyaux volés de leur écrin vivant
Jetteront dans mon coeur leurs durs reflets de pierre
Comme au jour où sertis, scellés dans la paupière
Ils luisaient d'un éclat précieux et décevant.

D'autres doux feux ravis encor par Prométhée
Étincelle d'amour qui brillait dans leurs yeux
Pour notre cher tourment nous l'avons emportée
Clartés trop pures ou bijoux trop précieux.

Constellez à jamais le ciel de ma mémoire
Inextinguibles yeux de celles que j'aimai
Rêvez comme des morts, luisez comme des gloires
Mon coeur sera brillant comme une nuit de Mai.

L'oubli comme une brume efface les visages
Les gestes adorés au divin autrefois,
Par qui nous fûmes fous, par qui nous fûmes sages
Charmes d'égarement et symboles de foi.

Le temps efface tout l'intimité des soirs
Mes deux mains dans son cou vierge comme la neige
Ses regards caressants mes nerfs comme un arpège
Le printemps secouant sur nous ses encensoirs.

D'autres, les yeux pourtant d'une joyeuse femme,
Ainsi que des chagrins étaient vastes et noirs
Épouvante des nuits et mystère des soirs
Entre ces cils charmants tenait toute son âme

Et son coeur était vain comme un regard joyeux.
D'autres comme la mer si changeante et si douce
Nous égaraient vers l'âme enfouie en ses yeux
Comme en ces soirs marins où l'inconnu nous pousse.

Mer des yeux sur tes eaux claires nous naviguâmes
Le désir gonflait nos voiles si rapiécées
Nous partions oublieux des tempêtes passées
Sur les regards à la découverte des âmes.

Tant de regards divers, les âmes si pareilles
Vieux prisonniers des yeux nous sommes bien déçus
Nous aurions dû rester à dormir sous la treille
Mais vous seriez parti même eussiez-vous tout su

Pour avoir dans le coeur ces yeux pleins de promesses
Comme une mer le soir rêveuse de soleil
Vous avez accompli d'inutiles prouesses
Pour atteindre au pays de rêve qui, vermeil,

Se lamentait d'extase au-delà des eaux vraies
Sous l'arche sainte d'un nuage cru prophète
Mais il est doux d'avoir pour un rêve ces plaies
Et votre souvenir brille comme une fête.
Voici le code source ici...

terça-feira, 10 de maio de 2011

segunda-feira, 9 de maio de 2011

...

Aji de Galinha...

A receita de aji de galinha, um prato tradicional da culinária peruana (pode ser feita também com camarão), para quatro pessoas leva:

2 peitos de galinha cozidos em 1 ½ litro de água e com sal a gosto;
1 pacote de pão de forma sem borda;
½ litro de leite;
1 cebola;
3 dentes de alho;
4 batatas cozidas;
2 ovos cozidos;
2 pimentas peruanas (amarelas) trituradas, sem sementes;
pitada de cominho;
pitada de açafrão;
salsinha;
nozes;
azeitonas pretas;
óleo.

Eis alguns detalhes

Llagas de Amor...

Esta luz, este fuego que devora.
Este paisaje gris que me rodea.
Este dolor por una sola idea.
Esta angustia de cielo, mundo y hora.

Este llanto de sangre que decora
lira sin pulso ya, lúbrica tea.
Este peso del mar que me golpea.
Este alacrán que por mi pecho mora.

Son guirnaldas de amor, cama de herido,
donde sin sueño, sueño tu presencia
entre las ruinas de mi pecho hundido.

Y aunque busco la cumbre de prudencia
me da tu corazón valle tendido
con cicuta y pasión de amarga ciencia.

(Federico Garcia Lorca)

sábado, 7 de maio de 2011

sexta-feira, 6 de maio de 2011

Milagre do Povo...

Surpresa AmoRosa...

                                                                                                                                             Aqui...

high fives...

Guess Who?...

Quem é Importante?...

Certo dia, num caderno,
Numa pagina interna,
Deu-se a grande reunião
Dos sinais de pontuação,
Para decidir, num instante,
Qual o que é mais importante.

Chegou correndo, afobadão,
O ponto de Exclamação,
Bufando, muito excitado,
Entusiasmado ou assustado.
- Socorro!
- Viva!
- Saravá!
- Dá o fora! – sempre a berrar!

E logo, todo sinuoso,
A rebolar-se, entrou o pimpão,
O enxerido e mui curioso
Dom Ponto de Interrogação:
- Quem é?
- Por quê?
- Aonde?
- Quando? – ele só vive perguntando...
(...)
E vêm as Vírgulas dengosas,
Muitos falantes, muito prosas,
E anunciam: - Nós meninas
Somos as pausas pequeninas,
Que, pelas frases espalhadas,
São sempre tão solicitadas!
(...)
Til e Acento Circunflexo,
Numa discussão sem nexo,
Cara a cara, bravos, quase
Se engalfinham. Mas a Crase
Corta a briga, ao declarar:
- Poucos sabem pois bastante,
Já que eu sou tão importante!
(...)
A cedilha e o Travessão
Já se enfrentam, mas então,
Bem na hora, firme e pronto
Se apresenta o senhor Ponto:
- Importante é sinal.
Basta. Fim. PONTO FINAL.

NOTA: Tradução de poema de Samuil Marchak

Eis a fonte...

quinta-feira, 5 de maio de 2011

Lamento para a língua portuguesa...

Não és mais do que as outras, mas és nossa,
e crescemos em ti. nem se imagina
que alguma vez uma outra língua possa
pôr-te incolor, ou inodora, insossa,
ser remédio brutal, mera aspirina,
ou tirar-nos de vez de alguma fossa,
ou dar-nos vida nova e repentina.
mas é o teu país que te destroça,
o teu próprio país quer-te esquecer
e a sua condição te contamina
e no seu dia-a-dia te assassina.
mostras por ti o que lhe vais fazer:
vai-se por cá mingando e desistindo,
e desde ti nos deitas a perder
e fazes com que fuja o teu poder
enquanto o mundo vai de nós fugindo:
ruiu a casa que és do nosso ser
e este anda por isso desavindo
connosco, no sentir e no entender,
mas sem que a desavença nos importe
nós já falamos nem sequer fingindo
que só ruínas vamos repetindo.
talvez seja o processo ou o desnorte
que mostra como é realidade
a relação da língua com a morte,
o nó que faz com ela e que entrecorte
a corrente da vida na cidade.
mais valia que fossem de outra sorte
em cada um a força da vontade
e tão filosofais melancolias
nessa escusada busca da verdade,
e que a ti nos prendesse melhor grade.
bem que ao longo do tempo ensurdecias,
nublando-se entre nós os teus cristais,
e entre gentes remotas descobrias
o que não eram notas tropicais
mas coisas tuas que não tinhas mais,
perdidas no enredar das nossas vias
por desvairados, lúgubres sinais,
mísera sorte, estranha condição,
mas cá e lá do que eras tu te esvais,
por ser combate de armas desiguais.
matam-te a casa, a escola, a profissão,
a técnica, a ciência, a propaganda,
o discurso político, a paixão
de estranhas novidades, a ciranda
de violência alvar que não abranda
entre rádios, jornais, televisão.
e toda a gente o diz, mesmo essa que anda
por tal degradação tão mais feliz
que o repete por luxo e não comanda,
com o bafo de hienas dos covis,
mais que uma vela vã nos ventos panda
cheia do podre cheiro a que tresanda.
foste memória, música e matriz
de um áspero combate: apreender
e dominar o mundo e as mais subtis
equações em que é igual a xis
qualquer das dimensões do conhecer,
dizer de amor e morte, e a quem quis
e soube utilizar-te, do viver,
do mais simples viver quotidiano,
de ilusões e silêncios, desengano,
sombras e luz, risadas e prazer
e dor e sofrimento, e de ano a ano,
passarem aves, ceifas, estações,
o trabalho, o sossego, o tempo insano
do sobressalto a vir a todo o pano,
e bonanças também e tais razões
que no mundo costumam suceder
e deslumbram na só variedade
de seu modo, lugar e qualidade,
e coisas certas, inexactidões,
venturas, infortúnios, cativeiros,
e paisagens e luas e monções,
e os caminhos da terra a percorrer,
e arados, atrelagens e veleiros,
pedacinhos de conchas, verde jade,
doces luminescências e luzeiros,
que podias dizer e desdizer
no teu corpo de tempo e liberdade.
agora que és refugo e cicatriz
esperança nenhuma hás-de manter:
o teu próprio domínio foi proscrito,
laje de lousa gasta em que algum giz
se esborratou informe em borrões vis.
de assim acontecer, ficou-te o mito
de haver milhões que te uivam triunfantes
na raiva e na oração, no amor, no grito
de desespero, mas foi noutro atrito
que tu partiste até as próprias jantes
nos estradões da história: estava escrito
que iam desconjuntar-te os teus falantes
na terra em que nasceste, eu acredito
que te fizeram avaria grossa.
não rodarás nas rotas como dantes,
quer murmures, escrevas, fales, cantes,
mas apesar de tudo ainda és nossa,
e crescemos em ti. nem imaginas
que alguma vez uma outra língua possa
pôr-te incolor, ou inodora, insossa,
ser remédio brutal, vãs aspirinas,
ou tirar-nos de vez de alguma fossa,
ou dar-nos vidas novas repentinas.
enredada em vilezas, ódios, troça,
no teu próprio país te contaminas
e é dele essa miséria que te roça.
mas com o que te resta me iluminas.

Vasco Graça Moura, in "Antologia dos Sessenta Anos"

Eis a fonte...

Uma casa portuguesa...

...

Maya...

Frank é um paleontólogo que faz pesquisas no arquipélago de Fiji, na Oceania. Pouco a pouco, estranhas criaturas começam a perturbar seus estudos. Por exemplo: Ana, a linda dançarina de flamenco que parece ser capaz de ler pensamentos e cartas de baralho, de enxergar o passado e o futuro. Mais intrigante é a salamandra que toda noite, aboletada em cima da garrafa de gim que Frank pretende beber, se lança em reflexões sobre as origens da vida e repreende o cientista porque os primatas de sua laia agem como se quisessem destruir este planeta que levou milhões de anos para ser feito.

Um anfíbio filósofo, uma bailarina vidente: Frank começa a duvidar da lógica das coisas, e acaba se convencendo de que a relatividade do tempo é uma teoria muito esquisita. O mundo virou do avesso. Ainda bem que, nesta história, nem tudo o que acontece é exatamente o que parece.

Como em seus livros anteriores, Jostein Gaarder parte de uma estrutura ficcional muito bem arquitetada para refletir sobre diferentes campos do conhecimento humano. Aqui ele convoca o leitor para uma viagem pelas origens do Universo e da vida, numa narrativa que, através da compreensão da evolução das espécies, busca respostas para uma de nossas perguntas eternas: "Quem sou eu?".

Leão, o Africano...

A autobiografia imaginada de uma apaixonante figura histórica: o geógrafo Hasan as-Wazzan, que ficou conhecido como Jean-Léon de Médicis, ou Leão, o Africano. Em 1518, no regrasso de uma peregrinação a Meca, o embaixador magrebino é capturado por piratas sicilianos que o oferecem de presente a Leão X, o grande papa da Renascença. A sua vida, feita de aventuras, paixões e perigos, é marcada pelos grandes acontecimentos do seu tempo: durante a Reconquista, encontrava-se em Granada, de onde teve de fugir à Inquisição, acompanhado pela família; esava no Egipto aquando da sua tomada pelo Otomanos; na África negra, durante o apogeu de Askia Mohamed Touré; e em Roma no período áureo do Renascimento e no momento do saque da cidade pelo soldados de Carlos V. Figura do Oriente e do Ocidente, homem de África e da Europa, Leão, o Africano viveu em pleno o fascinante século XVI.

Eis a fonte...

O Senhor vai Entender ...

Lançado em 2006, O senhor vai entender é um mergulho introspectivo na memória afetiva daquele que a crítica italiana e européia em geral reputa como um dos maiores escritores vivos. Neste relato breve e intenso, Claudio Magris retoma o antigo mito grego de Orfeu - poeta e músico que após a morte da amada, Eurídice, desce aos infernos para buscá-la, mas termina por perdê-la para sempre - a fim de explorar não só as complexas relações entre homem e mulher nos dias de hoje, mas também para falar de sua experiência amorosa com a escritora Marisa Madieri (1938-96).

A narradora é a mulher perdida para sempre, que, de dentro de uma estranha e imensa Casa de Repouso, expõe a um senhor oculto e desconhecido os motivos que a levaram a querer continuar ali. Durante seu monólogo, aos poucos vem à tona sua difícil história de amor com um poeta admirado e cortejado por todos. À medida que a voz feminina faz sua confissão, percebe-se que quem fala é Eurídice, a quem agora caberá dar uma nova versão à trajetória de Orfeu.

Emprestando a palavra a quem sempre viveu na sombra e já não pode falar, o autor faz pela voz do outro um auto-retrato corajoso e demolidor, revelando as vaidades do escritor, o gosto pela fama, suas leviandades e incompetências. A narradora, por sua vez, com força e lucidez surpreendentes, reafirma apesar de tudo - as traições, as pequenas humilhações, o eterno papel de coadjuvante - seu profundo amor pelo companheiro, concluindo o relato com uma espécie de compaixão pelo outro. O mito de Orfeu e Eurídice é, então, invertido. E, por meio deste diálogo impossível, Magris desce aos infernos para exorcizar seus fantasmas.

Eis a fonte...

O Velho Expresso da Patagónia...

Tudo começou com uma viagem no metro de Boston, à hora de ponta, até South Station, de onde partiu no Lake Shore Limited para Chicago. O que se seguiu foi a longa descida do continente Americano, que culminou com o percurso no velho expresso da Patagónia que o levou a uma terra desolada, de montanhas ressequidas e arbustos espinhosos.Mas esta foi também uma viagem literária, em que procurou (e encontrou) Jorge Luis Borges, a quem teve o privilégio de ler trechos de Stevenson.

Malaika...

quarta-feira, 4 de maio de 2011

O Besouro e a Rosa...

Mário de Andrade traz em O besouro e a Rosa a temática do subúrbio de São Paulo, inclinando-se sobre os desvalidos da sorte, movido pelo sentimento fraterno do cristão, pela solidariedade e pela crítica das estruturas sociais, conhecidas no expressionismo alemão. O humilde, o periférico, as vidas fora do brilho da metrópole, minguadas e medíocres despontam neste conto urbano.

O besouro e a Rosa dilata o alcance do cronista-jornalista, levando-o para as águas da efabulação, onde se transforma em narrador e personagem. No conto, o narrador encadeia a Lapa; monta o painel em que as personagens nunca são sujeitos da História que, para elas, se resume em cega engrenagem. A descrição do ambiente é, por se tratar de um conto, sem detalhes ou minúcias, ficando a cargo do leitor imaginá-lo e gradualmente construí-lo. As personagens, por sua vez, são criaturas infelizes, como no caso das tias solteironas com suas vidas monótonas e sem perspectivas novas, ou se tornam infelizes, como no caso da protagonista que ao perder a inocência fica obcecada pela idéia de não acabar seus dias solteira como as referidas tias.

Outra personagem que passa a vivenciar extrema infelicidade e amargura é o padeiro João, dada a não reciprocidade de Rosa em relação a seus sentimentos e, mais ainda, pela enorme decepção frente ao enlace entre sua amada e Pedro Mulato. A trama como é próprio de um conto, é objetiva seguindo o tempo cronológico e os pormenores se acumulam numa ordem lógica, de fácil percepção. O conto se divide em antes e depois do ataque do besouro, pois, após tal fato, a protagonista da trama passa por uma conversão, uma quase metamorfose na alma, onde os sentimentos antigos são sepultados e a outrora jovem inocente e apegada as tias passa a assumir uma nova personalidade ( imperativa, enérgica), bem como, uma nova maneira de enxergar as pessoas que a cercam, passando sobretudo a ansiar desesperadamente um futuro diferente do presente vivenciado por suas tias.

É importante mencionar que O Besouro e a Rosa provém das Crônicas de Malazarte, série de dez textos publicados na revista América Brasileira do Rio de Janeiro em 1923. Nesses textos, inclusive no que mais nos interessa nesta análise, o autor cria uma trindade para repartir a narração, com isso, desenham-se diferentes modos de ver, movimentando o foco narrativo que acaba por sair da esfera da tríade, para, com o narrador solidário, tingir-se no olhar e no discurso daqueles cuja história é captada. Malazarte e Belazarte, amigos íntimos, fazem a recriação do real na invenção e na fantasia. Belazarte é o cronista dos outros. Malazarte é o cronista de si e do tempo dele; subverte e imagina dentro da arte, reflete, teoriza. Malazarte e Belazarte apresentam maneiras de ver o mundo totalmente opostas, porém, numa coisa se igualam: na mentira. Belazarte é comprometido com as pequenas dificuldades do cotidiano, ilusionista no persuadir, conta o que não vê; Malazarte por sua vez, é mais analítico e conta o que julga ver, se mostrando, contudo, não raramente sarcástico e sem sonhos. O terceiro é aquele que concretiza o texto, o cronista, receptáculo das confidências de ambos”, experimentando distanciamentos e aproximações no duplo com que se envolve.

 Desse modo o conto comporta três pontos de vista, três linhas formadoras que seguem paralelas e às vezes se cruzam. Belazarte é aquele que conta oralmente para ter as histórias concretizadas no papel pelo cronista-narrador da ficção, e Malazarte, o que fala e é contado sempre dentro da discussão sobre a arte desdobrando o mundo do cronista-narrador e historiador jornalístico, possuem, os dois, no estrato fônico dos nomes, a palavra azar. Belazarte acusa a falta de saída das vidas pobres, o infortúnio inevitável, não se esquivando da dor conclui seus relatos negando a fórmula do conto de fada: “Rosa foi muito infeliz”.