terça-feira, 30 de julho de 2013

Magnolia...

Nocturnamente...

Nocturnamente te construo 
para que sejas palavra do meu corpo 
Peito que em mim respira 
olhar em que me despojo...

Na rouquidão da tua carne 
me inicio 
me anuncio 
e me denuncio... 

Sabes agora para o que venho 
e por isso me desconheces.. 
(Mia Couto)
Pintura: Goyo Dominguez

Nights From The Alhambra...

sábado, 27 de julho de 2013

Palavra Mágica...

Certa palavra dorme na sombra 
de um livro raro. 
Como desencantá-la? 
É a senha da vida, 
a senha do mundo. 
Vou procurá-la...

Vou procurá-la a vida inteira 
no mundo todo. 
Se tarda o encontro, se não a encontro, 
não desanimo, 
procuro sempre...

Procuro sempre, e minha procura 
ficará sendo 
minha palavra. 
nós gritamos: sim!, ao eterno...
(Carlos Drummond de Andrade)
Pintura: Fernand Toussaint

segunda-feira, 22 de julho de 2013

Ave Maria...

Da Felicidade do Existir...

 
Serenamente, sentada à margem dum rio contemplo as águas que, pela infinitude do tempo, incessantemente, já passaram por baixo daquela ponte... Sofre-se quando se sabe que tudo, mesmo as páginas dum livro, pode perder o seu valor, ao ser escrito de modo vivo, ágil e antenado com as transformações tecnológicas da atualidade sem as profundas emoções do Passado... Dentre tantas histórias, todas as informações  devem, necessariamente, vir precedidas, com base contextual, do passado mais que distante...

Pois Bem, pelas páginas da vida, vai  se acompanhando as buscas incessantes de informações as quais possam nortear um caminho seguro nas escolhas que a existência exige... Tempos fadados de esperanças, monotonia que agoniza a alma... incertezas geradoras  de melancolia e construtoras de penumbras em todo amanhecer...  Afogar-se em fantasias aceleradas é fugir do medo apavorante do futuro incerto...

Viver... sentir... desafiar... buscar... Na juventude, sonhamos em ter vida própria... Na fase dita adulta, perguntamos: o que seria essa vida própria perante um mundo onde a privacidade é uma extensão do domínio  global?... Ou ainda: existirá vida própria sob o domínio dum Sistema que dita as normas, regras e aponta o caminho a seguir?... A importância da redenção, em todas as fases do viver, é o fator fundamental  para a compreensão de nossos próprios limites ou é necessário se redimir sempre para uma plena visualização da linha que limita todo horizonte duma mulher frágil e ameaçadora, involuntariamente provocadora de invejas...

E, com aquela sensação que um dia acreditei  ser o alimento do existir, nutri grandes sonhos e fortes desejos... também acreditei veementes que eram os sonhos e desejos a luz que condizia ao infinito horizonte das veredas seguras e  desmistificadoras dos enigmas... Mas sob essa tortura de tentar entender o sentidos das coisas,  ao querer saber qual seria o lugar certo para eu estar, acabei compreendendo o sentindo do mal ao lado do bem; aceitei minha impotência...


Afinal, todas essas inquietudes não passam de uma ponte servindo para o destino se mobilizar... Desfiz-me dos meus costumes habituais: já não nutro sonhos e desejos,  para tanto parei de planejar; sentada à porta da minha casa aprecio a vida passar e com muito apresso, espero ser surpreendida pelos acasos inesperados da felicidade...  

sábado, 20 de julho de 2013

Agonia...

Pintura: Soledad Fernández
Sonho do silêncio alheio
Espaço de tempo coberto
Com as  pétalas melodiosas
Sequência da orquestra  existencial
Onde a alma acolhe as flores
Dos frutos elfo de gnomos esquecidos...

Parada  repentina
Nas árvores da sagrada vida  
Com os múrmuros da passarada
E com os sussurros das folhas
Imperfeita agonia
De inclinações da esperança...

Território da Existência...

 
Pintura: Robert Ducan
Constantemente, estou reconhecendo que tenho muito a aprender... Penso que isso é o verdadeiro sentindo de viver: aprender sempre para saber morrer; mas mesmo com essa minha consciência, existem aqueles dias em que o desânimo me domina, aí tudo que eu desejo é sucumbir logo...

Era, realmente, tudo verdadeiro... Por mais que eu parecesse uma monstra selvagem, e escrevesse com aqueles erros de rebeldia; era verdade minhas revelações, bem como a minha admiração, carinho e gratidão por ti... Eu sempre sinto que sobrevivi às torturas e todos os sofrimentos somente para te conhecer; foi aí que nutri grande esperanças no sentido de que tu poderias aliviar os meus tormentos e apontasse-me um caminho para eu continuar a viver... 

Nem gozo e sem glória; desejo que tu entendas: acho que corre nas minhas veias sangue Real, até cheguei a pensar que todas as minhas monstruosidade e loucuras foram apenas uma vã tentativa de sobrevivência, penso que assim soube criar estratégias que manteve meu corpo em movimento... Até há dez anos eu estava fadada à vitória; mas veio o inesperado, acabei violando os segredos do Estado; agora existem certas situações que me impossibilitam a fuga da prisão domiciliar... Assim permanece o sagrado território da existência... Nas veredas da agonia, vou seguindo com meus sublimes dias...

segunda-feira, 15 de julho de 2013

Sessão de Cinema: Desejo e Reparação...

Tenho reservado os meus momentos livres para assistir a todos os gêneros cinematográficos; dentre dramas e melodramas, fiquei deveras impactada com dois gêneros totalmente opostos: o primeiro, uma comédia/romance: Antes Só do que Mal Casado, foi muito relaxante, diverti-me muito com os conflitos existenciais do personagem solteirão Eddie ((Ben Stiller) que totalmente influenciado por seu pai Doc (Jerry Stiller) decide casar com Lila (Malin Akerman), a partir daí é só riso... 

Enquanto perspectiva terapêutica, a arte cinematográfica é tão eficaz quanto a arte musical, foi com uma sensação de catarse, ao sabor do drama/romance e guerra do filme: Desejo e Reparação, que me libertei do desconfortável sentimento de traição social ou familiar (como queiram); pois, foi quando também - no último ato da cruel bondade da personagem Briony Tallis (Saoise Ronan) prestado no reparo de sua traição ao Amor das personagens Robbie Turner (James McAvov) e Cecília Tallis (Keira Knightlev) - percebi o quanto certos filmes retratam realisticamente nossas vidas, e sem floreios ou rodeios eu não saberia organizar as palavras de forma a expressar o efeito impactante do filme... como também não arrisco fazer qualquer fugaz comentário ou crítica... valerá sempre a pena refletir a vida a partir da ficção... Ou transformar a vida numa ficção?...

Deixo-vos esse trecho da crítica feita por Fábio Andrade sobre esse filme:

(...) “a busca por imagens em perfeita idealização reforça a ficção dentro da ficção que move o filme... No fundo, Desejo e Reparação é, como sua última parte faz questão de frisar, um exercício de wishful thinking de alguém que aprendeu que o mundo não é um só, de que tudo que ela enxerga é reflexo de si mesma. É a idéia de que a ficção – e a memória não deixa de ser um grande exercício ficcional – é o espaço onde a vida que gostaríamos de ter tido pode, de fato, se realizar. Mesmo que o curso da vida real venha se materializar na enxurrada que inunda as tubulações subterrâneas onde Cecilia se escondia, tirando sua vida. A enxurrada que faz as lâmpadas explodirem, devolvendo o corredor à escuridão, como a concretude da vida destrói a memória, a ficção. É a morte como esquecimento.

Não deixa de ser decepcionante, portanto, que Desejo e Reparação perca momentos de força em uma mínima falta de confiança, que no plano final toma uma proporção bastante incômoda. Que a sutileza do domínio de linguagem de Wright por vezes se mostre abalada pela aparente necessidade de redundância que ajuda os espectadores menos atentos. São vacilos que ferem Desejo e Reparação como os grandes filmes não costumam permitir. Por outro lado, os acertos são tantos e tão preciosos que torna difícil situar Desejo e Reparação como um filme abaixo dos grandes. No fim das contas, esse estranho limbo em que ele se inscreve não é um lugar mau para se estar”...

domingo, 14 de julho de 2013

Cheiro de Mato...

Caminhando pelo Campo...


... “Eu cresci nos subúrbios, mas todas as chances que tinha, eu fugia para campos próximos para observar os pássaros ou brincar no riacho, e os verões que passei na fazenda do meu avô me ensinaram, realmente, o quanto todos nós precisamos da natureza nas nossas vidas. Mas a mudança está ao nosso redor.

A agricultura familiar está desaparecendo a um ritmo alarmante. O desenvolvimento e a expansão cobrem os campos férteis a cada minuto...

Quero que meus netos possam ter oportunidade de andar por um campo e ouvir uma cotovia. Nós não temos que viver numa fazenda, mas precisamos ver as vacas pastando ou apenas sabermos que há lugares selvagens sendo mantidos selvagens, o que torna a nossa vida melhor...

Os Meus quadros são um convite a pensar sobre as coisas que tocaram nossas vidas e espero que todos possam estar dispostos a fazer a sua parte para salvar essas coisas para as gerações futuras"...

(Robert Duncan)

Para conhecer mais sobre o pintor, eis os links: Robert Duncan...
1 - Blog do Texto...

sábado, 13 de julho de 2013

Sob a Humilde Herança da Simplicidade...

Diante da minha fragilidade, os Sábios que me orientam nas trilhas do bom viver são os meu filhos; é a eles que recorro nos momentos de dúvidas sobre a vida: aí certa vez um filhote me falou que sou anti-social; creio que sou mesmo é anti-hipocrisia... Ele fez-me pensar nas contradições da vida, e lembrei-me que é muito difícil aprender, com os Grandes Sábios, a transformar a negatividade em potencialidade... Pois sou uma herdeira daquela tradição de bons costumes que presa pelo respeito mútuo ao Outro... 

Sob esse e tantos outros aspectos, vivo num constante exercício de não me deixar levar pelas ofensas as quais somos submetidos perante as inter-relações sociais, pois nada me convence em ter a mesma atitude; amenizar os insultos, através de palavras confortáveis, é (normalmente, com algumas exceções, claro!) um dos meus objetivos, principalmente, nessa tosca sintaxe, que delineio agora, suavemente...

Porém, sem nenhuma intenção de expressar o mal-estar causado por certas indiretas incultas, geralmente, planeadas por seres infelizes e vazios de sentimentos verdadeiramente humanos, penso que ainda estou aprendendo a potencializar as ofensas: de forma a transformá-las em aprendizados, isto é tão delicado, para mim que vivo com a sensibilidade à flor da pele... 

Na presença das dúvidas, retomei a uma leitura na qual eu estava me deleitando... Reflexiva e desatenta, voltei ao início do livro; e percebi, em dois parágrafos, uma fina sintonia, contraditoriamente, com os achavascados comentários dos rudes comentadores das fronteiras da vizinhança virtual...

Pintura: Albert Anker

quinta-feira, 11 de julho de 2013

Alone With You...

Parola Bazofiada da Multidão...

Hubert Von Herkomer
Mesmo sem querer ser influenciada
Pela egrégia Arte da Guerra..

Existem certas turbulências
Do interior de um ser
Que jamais saberei 
Se ainda é guerra 
Ou já faz parte da Paz...

Como uma guerra sem guerrilha 
A turbulenta correnteza do meu interior 
Se predispõe à potência do parolar 
Bazofiado da multidão...

Vã correnteza
Trava da compensação... 

História da Eternidade...

Falar sobre o ensaísta argentino, poeta, crítico literário e escritor Jorge Luis Borges não é uma tarefa simples, não, para uma pobre mortal, assim como eu, por exemplo... mais complexo ainda é fazer um comentário sobre o seu livro (que estou lendo) História da Eternidade: “uma antinomia que se opõe a noção de história: feita de sucessão temporal, movimento e mudança à uma ideia estática... O desejo de escrever uma espécie de “biografia da eternidade” que nos libertaria da opressão do tempo sucessivo sempre atraiu Borges”... Seguem aí dois saborosos parágrafos do citado livro daquele conceituado escritor... é uma leitura bastante estimulante e pode iluminar ideias desconfortáveis... 

... “Naquela passagem das Enéadas que pretende interrogar e definir a natureza do tempo, afirma-se que é indispensável conhecer previamente a eternidade, que – como todos sabem – é o modelo e arquétipo dele... Essa advertência preliminar, tanto mais grave se a consideramos sincera, parece aniquilar toda esperança de nos entendermos com o homem que a escreveu. (...) Lemos no Timeu de Platão que o tempo é uma imagem móvel da eternidade; e isso é apenas uma acorde que ninguém distrai da convicção de ser a eternidade imagem feita de substância de tempo (...).

Invertendo o método de Plotino (única maneira de aproveitá-lo), começarei por lembrar as obscuridades inerentes ao tempo: mistério metafísico, natural, que deve preceder a eternidade, filha dos homens... Uma dessas obscuridades, não a mais árdua nem a menos bela, é a que nos impede de precisar a direção do tempo: que flui do passado para o futuro é a crença comum; mas não mais ilógica é a contraria, aquela que Miguel de Unamuno gravou em verso espanhol: 

Noturno, o rio das horas flui
De seu manancial, que é o amanhã
Eterno... 

Borges, Jorge Luis. História da Eternidade. Editora Globo. Tradução: Carmen Cirne Lima. Revisão da Tradução: Maria Carolina de Araujo e Jorge Schwartz. São Paulo. 2006. (p. 11 e 12)

terça-feira, 9 de julho de 2013

Melancolia...

                                                                                                                 George Dunlop Leslie...
... "No mesmo templo do deleite... A velada Melancolia tem o seu santuário"...

( John Keats )

quarta-feira, 3 de julho de 2013

Presença...

                                                                                                               Francis Danby 
... "É preciso que a saudade desenhe tuas linhas perfeitas, 
teu perfil exato e que, apenas, levemente, o vento 
das horas ponha um frêmito em teus cabelos… 
É preciso que a tua ausência trescale 
sutilmente, no ar, a trevo machucado, 
as folhas de alecrim desde há muito guardadas 
não se sabe por quem nalgum móvel antigo… 
Mas é preciso, também, que seja como abrir uma janela 
e respirar-te, azul e luminosa, no ar. 
É preciso a saudade para eu sentir 
como sinto – em mim – a presença misteriosa da vida… 
Mas quando surges és tão outra e múltipla e imprevista 
que nunca te pareces com o teu retrato… 
E eu tenho de fechar meus olhos para ver-te"...

(Mario Quintana)

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