sábado, 29 de junho de 2013

As Palavras...

Um Voo com a Palavra...

Somente com as palavras, em certos momentos, sinto-me na presença da multidão... Elas apresentam-me ao desconhecido e levam-me ao mais profundo de meu ser... também me sinto realizada com a intimidade delas... Por vezes, procuro uma linguagem prazerosa – que possa se movimentar em direção à oralidade nunca mencionada... 

Com efeito, cabe a mim a faculdade de desejar para estabelecer um conjunto de imagens que satisfaçam ao meu prazer de jogar com o verbo em ação; quanto mais me aproximo duma objetividade, tanto mais a imaginação interfere na minha sensibilidade... Em outros termos: sempre estarei pressupondo o ciclo Natural da Criação... Com a autodeterminação da finalidade subjetiva, o poder da autonomia redireciona a outra realidade... 

Ouço o silêncio daqueles que se dispersaram ao longo do caminho; da amálgama desconhecida dos imprudentes, restam-nos os odores e sabores dos desencontros desses que celebram o ódio... Atenuar tal sentimento é o que nos motiva a saborear o conhecido prazer do aroma poético... Descompromissados com a objetividade do real, seguiremos ao encontro dos discursos recheados de boas intenções dd semiologia/estilística, com na tênue proporção da celebração figurativa, ao sabor da solidão semântica... 

Por fim: espero-te na sutileza dos sujeitos que negam o determinismo mecanizado das hierarquias humanas... Amar e amar, donde sempre haverá o verbo amar: eis a consciência ética do viver; nessa dimensão é constituído o sentido real de si mesmo... Pois bem, sempre, adiante, retomarei a velha nova ideia pela qual, na medida do compreensível, se situa o interior do coração que sente...

Ilustração: Rio Purus... Foto: Arison jardim...

quinta-feira, 27 de junho de 2013

A Solidão das Palavras...

 
Sim, sempre de sim
Fui vivendo
E agora estou cá
Sem as flores da primavera
Sem as cores da  aquarela
Vivo assim minha solidão
Com as palavras
Não sigo em vão
Nessa imensidão
Elas lavam-me e levam-me

Ao fundo do meu coração...
Ilustração: Google Imagem...

segunda-feira, 24 de junho de 2013

A Velha Nova História: De Penélope a Penápolis...


Sem nenhuma intenção em deixar margens à imaginação fértil dos hipócritas nem tão pouco quero fantasiar a Odisséia de Homero, mas sinto muito em informar: felizmente a Guerra de Tróia já chegou ao Fim há muito tempo... A espera e a consciência, sobre os dias atuais, já foram relatadas anteriormente... Será que Ulisses está a esperar que Penélope empunhe a espada para abafar o canto das sereias (e a fúria dos tubarões) na Velha Penápolis?...

Pois bem, creio que foi assim: como a brisa do mar... Penélope sabe que sua espera é inútil... Alguém mais está a saber?... Ela não se preocupa com esta inutilidade e nem com quem sabe disto... Sua fidelidade é mais importante do que tudo que envolve essa História...

O que há a mais para explorar na Velha Penápolis?... É esta a preocupação, pois Ulisses nunca existiu, e eu não sou Penélope, enfim... Eu habito a Amazônia Legal e sei que essa constante preocupação é o eterno tecer e retorcer o Verde de nossas vidas... 

Afinal, somos terráqueos, gosto de habitar o Planeta Terra, ainda que não somos deuses e não habitamos nenhuma camada divina que se sobrepõe as outras: a história já se efetuou; nada existe mais para corrigir... E quem não tiver consciência, e tão pouco se preocupa com o devir, construa suas armaduras de ferro, pois é impossível aceitar que se cometa os Velhos erros...

Finalmente, o Gigante Acordou, o fluxo natural da correnteza: jamais correrá de volta para a nascente... Assim seguirá nossos caminhos ao Futuro; mesmo que nossa história faça parte apenas na imaginação de alguns: os adversários existem... E não existe mais tempo para tanta espera; esta é uma verdade entre tantas outras possíveis de perceber; quando chegar o momento exato de agir: é simples reconhecer os sinais... O movimento natural do nosso Planeta não pode nos deter mais do que o suficiente ao nosso amadurecimento, para o momento certo do nosso florir; mas também se movimenta e segue assim nossos inimigos... E o Sol jamais existirá brilhando na aquarela dos nossos sonhos de inverno e nem serão repintadas as flores da primavera... Será o nosso verão um cinza da ausência de cores?...

Ilustração: Google Imagem...

domingo, 23 de junho de 2013

Manifestações Brasileira: Panaceia Desvairada Apolítica...


Será que a onda de manifestos em 2013 é um furacão em erupção?... Ou será um terremoto com sua energia se dissipando em cadeia mundial?... Lembrei-me que, nas artes, o Simbolismo surgiu para reafirmar os ideais românticos (no século XIX) em oposição ao Naturalismo/Realismo; assim, creio que na política atual estamos vivenciando o Neo-simbolismo, já que esta é a nova tendência das artes, na hipermodernidade, onde tudo se vive no excesso da superficialidade imagística....

Hoje acordei maluquinha, agora tenho plena certeza de que sou anormal... Enquanto uns gritam para acordar o Gigante, outros fazem suas profundas análises políticas... Enquanto tudo isso está acontecendo, eu aqui fico em guerra com as palavras... São tantas opiniões (que leio) numa diversidade tão maluca, daí sinto-me na obrigação de escrever algumas maluquices também: eis uma situação para lá de sutil, chega a ser insustentável... 

Mas antes, porém, devo confessar que a euforia das manifestações pelo Brasil a fora me deixou muito surpresa e, ao mesmo tempo, muito estonteada e enfadada com o que leio a respeito; principalmente sobre o resultado eufórico cá em Rio Branco... Por outro lado, e, diante das minhas conclusões, estou convicta de que não representa, em nenhum momento, um manifesto apartidário, pelo contrário: o que dá para perceber mesmo é o efeito do jogo fascista da oposição; isso é o que confirma a grande presença de manifestantes opositores acreanos...

Para assegurar uma certa compreensão do assunto, busco as análises daqueles que se sentem seguros sobre o que dizem a respeito da atual situação política do Brasil... Cheguei a ficar estarrecida, perplexa, confusa, tonta etc., diante de tantas outras, com a idéia, de um Possível Golpe de Estado, relatado pela socióloga Marília Moschkovich, esta socióloga se intitula militante de esquerda)... 

Mais atordoada fiquei com a leitura que fiz, sobre a crise social brasileira, no Blog Origem das Espécies do escritor, editor, jornalista e político português Francisco José Viegas, este escritor é um profundo conhecedor da política socioeconômica do Brasil, ele (FJV) foi Ministro da Cultura do Atual Governo de Direita de Portugal... Tem mais: algumas opiniões afirmam veemente que tudo que está acontecendo é contra o Governo da FP, outras já dizem ser uma revolta da extrema esquerda; ainda têm aqueles que garantem ser uma manifestação apartidária... ... O que pensar, sobre tudo isso, afinal?...

Olho ao meu lado e vejo uma luz que vem de Roland Barthes (escritor, sociólogo, crítico literário, semiólogo e filósofo francês), sinto-me atraída por algumas frases soltas do livro o Prazer do Texto, ei-las: “Nada há a fazer: o enfado não é simples... Do enfado, a gente não se livra com gesto de irritação ou de desafogo... Assim como o prazer do texto supões toda uma produção indireta (...): não há enfado sincero... Quando mais uma história é contada de uma maneira decente, eloqüente, sem malícia, num tom adocicado, tanto mais fácil é invertê-la, lê-la às avessas... Essa inversão sendo uma produção, desenvolve soberbamente o prazer do texto... O texto é um objeto de fetiche e esse fetiche me deseja... 

O texto me escolheu, através de toda uma disposição de telas invisíveis (...) e perdido no meio do texto (não atrás dele ao modo de um deus de maquinaria) há sempre o Outro: o autor (...): estamos todos presos na verdade das linguagens, quer dizer, em sua regionalidade, arrastados pela formidável rivalidade que regula sua vizinhança... Pois cada falar se tem por si o poder; estende-se por toda a parte no cotidiano da vida social: é o falar pretensamente apolítico dos homens políticos; dos agentes do Estado; é o da imprensa; do rádio; da televisão; é o da conversação; mas mesmo fora do poder, e contra ele, a rivalidade renasce, os falares se fracionam, lutam entre si... Um piedoso tópico regula a vida da linguagem: a linguagem vem sempre de algum lugar...

Espanta o fato de a linguagem do poder capitalista não comportar, a primeira vista, uma tal figura de sistema (pois que os oponentes são sempre aí apresentados como ‘teleguiados’); compreendia então que a pressão da linguagem capitalista não é de ordem sistemática, argumentativa, articulada: é um empesamento implacável de maneira inconsciente: uma ideologia em sua essência... Para que esses sistemas falados cessem de enlouquecer ou incomodar, não há outro meio exceto habitar um deles... Senão: e eu, e eu, o que é que estou fazendo no meio disso tudo?”... 

Sinceramente, para mim foi bastante esclarecedor o que Roland Barthes descreve sobre a linguagem ideológica de todos os autores, e, em todos os falares induzindo ou persuadindo o interlocutor: escritos e discursivos; felizmente ou infelizmente, ainda assim não consigo habitar num sistema ideológico para dá peso ao que tento refletir (escrever) sobre todos os comentários que leio a respeito das manifestações brasis a fora, no sentido de teleguiar este ou aquele ideal de leitura... Para finalizar essa confusão: uma das ideias mais enlouquecedoras e incômodas, (pois nada acrescenta) lida por mim, sobre as manifestações, foi dum sociólogo da UFAC que sempre demonstrou aversão ao governo da FP/AC... Pois bem: ele comparou esses movimentos a um furacão em erupção vulcão em erupção; para ele as lavas contidas dos direitos negados, ao longo do governo da FP/BR, resolveram entrar em explosões agora, justamente nas vésperas de eleição... Não é por acaso que o grito de revolta eclodiu na grande São Paulo onde o Governo (PSDB) é oposição à Prefeitura (PT)... 


E ainda existe petista se culpando... Valha-me, ó grande Zeus!... É exatamente esse questionamento que me faço sempre que possível: “ e eu o que é que estou fazendo no meio disso tudo?”... 


1 - Foto Lucas Bonolo 

2 - Roland Barthes. Prazer do Texto. Editora Perspectiva. Tradução J. Guinsburg... São Paulo, 2008. Pg. 33, 35 e 37.

quinta-feira, 13 de junho de 2013

Servant of Peace...

Digo que as Flores Sorriem...


Se às vezes digo que as flores sorriem 
E se eu disser que os rios cantam, 
Não é porque eu julgue que há sorrisos nas flores 
E cantos no correr dos rios... 
É porque assim faço mais sentir aos homens falsos 
A existência verdadeiramente real das flores e dos rios. 
Porque escrevo para eles me lerem sacrifico-me às vezes 
À sua estupidez de sentidos... 
Não concordo comigo mas absolvo-me, 
Porque só sou essa cousa séria, um intérprete da Natureza, 
Porque há homens que não percebem a sua linguagem, 
Por ela não ser linguagem nenhuma.


Alberto Caeiro, in "O Guardador de Rebanhos - Poema XXXI" 
Heterónimo de Fernando Pessoa

Tema(s): Natureza Ler outros poemas de Alberto Caeiro
(Heterónimo de Fernando Pessoa)
 


quarta-feira, 12 de junho de 2013

NIKITA

O Teu Olhar...

Passam no teu olhar nobres cortejos, 
Frotas, pendões ao vento sobranceiros, 
Lindos versos de antigos romanceiros, 
Céus do Oriente, em brasa, como beijos, 

Mares onde não cabem teus desejos; 
Passam no teu olhar mundos inteiros, 
Todo um povo de heróis e marinheiros, 
Lanças nuas em rútilos lampejos; 

Passam lendas e sonhos e milagres! 
Passa a Índia, a visão do Infante em Sagres, 
Em centelhas de crença e de certeza! 

E ao sentir-se tão grande, ao ver-te assim, 
Amor, julgo trazer dentro de mim 
Um pedaço da terra portuguesa! 


Florbela Espanca, in "A Mensageira das Violetas"

segunda-feira, 10 de junho de 2013

Peixinhos da Horta...


... "Muitos de nós conhecemos a "tempura" japonesa. Mas será que sabemos todos qual é a origem deste prato? Pois bem, a "tempura" foi introduzida no Japão, em meados do século XVI, por nós, Portugueses; e foram também os Portugueses que aí introduziram outros pratos, como o "panko" e o "tonkatsu"...

A receita portuguesa que está na origem da "tempura" é a que vou apresentar-vos hoje - Peixinhos da horta, uma delícia do tempo dos nossos avós, ou melhor, das nossas avós, pois eram elas que os faziam... Por isso é que esta receita é “da minha avó”... A garotada adora estes peixinhos da horta e devora-os mais depressa do que nós somos capazes de os ir fritando"...

 Bom apetite!...

Ingredientes (para 4-5 pessoas)

. 600 g de feijão verde
. 4 ovos
. 25 cl vinho branco
. 100 g farinha
. 1 colher de sopa de azeite
. sal e pimenta a gosto
. óleo (ou azeite) para fritar
Preparação 

1 - Lave o feijão e retire os fios e corte as pontas.

2 - Coza o feijão em água com sal suficiente para os cobrir uns 3 cm, durante cerca de 3 mn. Escorra bem.

3 - Prepare um polme para fritar com os ovos inteiros, a farinha, o vinho branco e o azeite ; tempere com sal e pimenta.

4 - Num recipiente fundo, aqueça óleo (ou azeite) para fritar os feijões. Mergulhe os feijões, dois a dois, no polme antes de os fritar; os feijões devem ficar juntos durante a fritura, mas às vezes acontece que se separem. Quando estiverem dourados de ambos os lados, retire-os e escorra-os em papel absorvente.

5 - Sirva de preferência quente, como entrada.
Fonte: Receita da minha avó... Este é o link

1 - Outro link...

2 - E mais outro...





Os Sem-Memórias...

 
Como eterna fonte de sabedoria, nossa memória deve ser revisitada constantemente... A ver vamos: o que aconteceu há 13 anos no governo da oposição, que hoje exige democracia e medidas justas na política social do atual Governo brasileiro... 

Em 11 junho de 2000, no caderno Mais! da Folha de São Paulo, li dois artigos que (transcreverei, a seguir, aqui uns trechinhos para constatar minha memória) muito me despertaram a atenção: o primeiro, do jornalista Otávio Dias, intitulado Sociedade de Incerteza, assim, com base no pensamento do livro O Novo Século, diz o jornalista: “Para o historiador Eric Hobsbawm, a nova economia terá impacto semelhante ao da Revolução Industrial, mas será dominada apenas pelos países com alto investimento em educação... É uma tarefa de alto risco para um historiador ousar prever o futuro (...) Consciente do perigo de cair na imitação caricatural de uma vidente, Hobsbawa sustenta, no entanto, ser tarefa do historiador identificar probabilidade a partir de seu conhecimento do passado e da análise do presente... A previsão do futuro deve necessariamente se basear sobre o conhecimento do passado... Os acontecimentos próximos estão fortemente ligados aos fatos passados, e é aí que intervêm os historiadores” (...)... 

Vamos lá ao segundo artigo, onde tem uma fotografia minha fantasiada de índia guerreira para saber o que é ‘ser um indígena’ (e eu só dizia assim ao policial: não precisa machucar, não, por favor!); aliás, nunca fui vender meu Povo e meu País aos sanguinários americanos, não... a opressão que conheço é o efeito político cá de casa (Acre) mesmo (por aí imagino a pressão das Relações Internacionais)... No artigo intitulado O Ovo da Serpente, do professor de História da UFRJ José M. de Carvalho, diz o seguinte: “O Brasil pode estar diante dos primeiros sintomas do deslanchamento do velho mecanismo de preservação da ordem social contra as ameaças dos que buscam alterar, pela ação política, os escandalosos padrões de desigualdade social... No Brasil, quando autoridades e editoriais da imprensa começam a acusar de baderneiros movimentos políticos de oposição, é preciso botar as barbas de molho... Faça democracia ou ditadura, essa é a senha de que o sistema está chegando ao limite de sua capacidade de absorver participação e que tempos difíceis aguardam os democratas...

Aumentam as razões de preocupação se, alem do xingamento de baderneiro, revive-se pela a Lei de Segurança, proíbem-se opositores de falar em TV estatal, raspa-se a cabeça de presos, viola-se pela força o direito de ir e vir, fala-se em reestruturar o serviço de inteligência da segurança pública federal, em criar uma Guarda Nacional, em usar o Exército como polícia... O pacto de poder selado pela Constituição de 1988 pode estar fazendo água (...). Os índios pela primeira vez tentam falar com a própria voz, o MST intensifica a luta contra 500 anos de baderna legislativa e governamental na questão agrária, o tráfico inferniza as grandes cidades, aposentados e funcionários mal pagos protestam ou entram em greve... A reação é essa pelo exemplo que representa os “sem”: os sem-emprempo, sem-educação, sem-salários, sem-saúde, sem-dignidade” (...)... 

Por fim... basta imaginar esse curto espaço de tempo para sabermos o que queremos para o futuro de nossos filhos, netos e o que vier adiante... 

Jamais quero ser compreendida como sendo apenas mais uma situacionista perante o caos social brasileiro; nem tão pouco desejo influenciar oposição ou situação, mas se necessário for empunharei a minha velha espada (coragem de enfrentar o caos político), que outrora defendi os movimentos sociais, para agora enfrentar a luta social em defesa do Governo da Presidente Dilma, principalmente, no que diz respeito a questão indígena no Brasil... Pois tal política como a conhecemos hoje é, sabidamente, um resultado histórico bastante complexo, e pior foi em governos anteriores... 

Bem sabemos que as Hidrelétricas não foram iniciativas dos Governos do ex presidente Lula, muito menos da presidente Dilma, no entanto esse drástico drama vem sendo tratado para motivar sérios conflitos, no atual governo, que não valem nem a pena mencionar nesse momento, pois os supostos conhecedores do assunto estão detalhando em seus escritos duma forma muito tendenciosa, o melhor é evitar mais conflitos (apresentarei alguns links com exemplos)... Mas a impressão repassada pelos aliados é que os ativistas indígenas estão sendo usados como ponta de lança para motivar a Terceira Guerra Mundial... 

Dentre tantos atos antidemocráticos, do governo do Fernando Henrique Cardoso, que enfrentei – simplesmente, vou, em outro parágrafo, rememorar apenas um fato (fora os projetos sociais que eram, aqui no Acre, executados irresponsavelmente: as provas existem, basta abrirmos os arquivos da memória)... 

Agora, o interessante mesmo é o tratamento que os aliados/defensores dão aos problemas indígenas no atual governo, é como se eles tivessem surgido este ano ou hoje, não percebo, nos artigos e comentários, nenhuma contextualização de fundo histórico... 

Como, acima, eu ia dizer, quero, através da foto ilustrativa, dizer que senti na pele a dor de ser uma indígena... Foi na comemoração da passagem dos 500 Anos do Brasil, lá em Porto Seguro, e não foi numa manifestação para impedir nenhuma ação governamental, não... foi apenas uma tentativa de mostrar aos Governantes Portugueses, participantes do evento, que os povos indígenas ainda resistiam ao processo de colonização ocidental... Além de não ter sido possível os ativistas indígenas, e nós aliados, fazermos nenhuma demonstração de resistência, o arsenal bélico que lá em Porto Seguro foi utilizado era totalmente desnecessário, assim como era desnecessário a violência por que passamos... Aí nessa foto e nesse dia, aprendi também a parcialidade da mídia, o policial da foto já havia me machucado, ao me arrastar, violentamente, pelo braço (deixando marcas no meu braço, além das feridas nas pernas resultado das balas de borracha e o pavor do gás lacrimogêneo) só não me jogou no chão porque chegaram dois lideranças com suas bordunas e deram a devida proteção sem nenhum enfrentamento... Eis a Ordem de Comando do Movimento Social: não enfrentar nunca um homem armado; resistir sempre, mas sem nenhuma ação de confronto e sim com inteligência ou sabedoria criativa... podemos chamar essa atitude de bons principios para uma iniciativa de democracia... 

Talvez a primeira situação a ser exposta, para compreendermos todo os problemas da questão indígena, desde o processo de colonização, seria apresentar a política de governos anteriores, mas as indefinições da política indígena no Brasil, assim como o ideal democrático, transcendem qualquer perspectiva que configure uma plena direção para ser discutida em rede social, principalmente, levando em consideração que as Multilaterais financiadoras dos conflitos indígenas são mais ferozes que todo o arsenal bélico de nosso País... Por tudo isso, e muito mais que eu vivenciei no Movimento Indígena, me esquivo perante a questão indígena: tenho preferência por, junto as ações governamentais, tentar encontrar uma forma mais construtiva e menos violenta para essa problemática...


(Foto que ilustra o artigo O Ovo da Serpente, do caderno Mais da Folha de São Paulo, em junho de 2000)