domingo, 23 de outubro de 2011

E Você sabe como me sinto?...

Serenata...

Permita que eu feche os meus olhos,
pois é muito longe e tão tarde!
Pensei que era apenas demora,
e cantando pus-me a esperar-te.
Permita que agora emudeça:
que me conforme em ser sozinha.
Há uma doce luz no silêncio,
e a dor é de origem divina.
Permita que eu volte o meu rosto
 para um céu maior que este mundo,
e aprenda a ser dócil no sonho
 como as estrelas no seu rumo...

(Cecília Meireles)

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Sísifo desce a Montanha...

Affonso Romano de SantAnna expôs em diversas oportunidades a ideia que um livro de poesia não é a reunião aleatória de textos, mas um projeto poético-pensante - como o definia Heidegger. Este livro, portanto, faz parte de seu projeto em progresso e se articula organicamente com seus livros de crônica e de ensaios.

Fonte...

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Amazônia... Eu e Deus...

Revoluções no Bosque Sagrado...

                                                                                       JBConrado-Overmundo
Na tentativa de aliviar a estagnação do meu pensamento: eis aqui, mais uma vez, o apelo da minha recente releitura:

“Da estagnação do espírito em toda a Europa, nesses dois decênios do século XIX, elevara-se bruscamente uma febre alada. Ninguém sabia ao certo o que estava na forja; ninguém poderia dizer se se tratava de uma arte nova, de um homem novo, de uma nova divisão de classes na sociedade. Por isso cada um afirmava o que muito bem lhe apetece. Mas em toda a parte os homens se erguiam para combater as velharias. Bruscamente, aqui e ali, surgia sempre o homem necessário; finalmente, fato essencial, os inventores intelectuais aliavam-se aos inventores práticos. Desenvolviam-se talentos que noutros tempos haviam sido abafados e mantidos à parte da vida pública. São tão diversos quanto possível e as contradições que os separavam revelavam-se insuperáveis.

Amavam-se os super-homens mas amavam-se também os subhomens; adoram-se a saúde e o sol, mas adoravam também os jovens tísicos; havia entusiasmo pela profissão de fé dos heróis e pelo credo social do homem da rua; é-se crédulo e cético, naturalista e exato, robusto e mórbido; sonhava-se com alamedas de castelos, com jardins no outono, lagos vítreos, pedras preciosas; sonhava-se com haxixe, com doenças e com demônios, mas também com planícies, com grandes horizontes, forja e laminagens; vê-se lutadores, proletários em revolta. Adão e Eva do Paraíso, a sociedade de pernas para o ar. Isto representava sem dúvida uma série de contradições e de gritos de guerra tão diferentes quanto possível, mas tendo um certo sopro comum.

Ao analisar-se essa época encontrar-se-ia sem dúvida no fundo uma certa falta de senso, qualquer coisa como a quadratura do círculo ou uma pedra de madeira. Mas na realidade tudo se baseava na cintilação de um sentido único. Esta ilusão, que se encarna na data mágica da mudança de século, era tão forte que alguns se precipitaram com entusiasmo no século novo, ainda intacto, ao passo que outros aproveitavam os derradeiros instantes do velho para se deixarem viver, como acontece numa casa em mudança entre as respectivas atitude.” (Robert Musil, O homem sem qualidades. Vol; 1, Lisboa. Edições Livros do Brasil, p. 63-4.)

Eis aí uma velha citação dizendo que a história se repete: inicialmente como tragédia, em seguida como farsa. Neste caso, talvez tenha acontecido o oposto: a primeira vez foi, sem dúvida, engraçada. Era bom dissolver as certezas excessivamente confiantes do século XIX, e o modernismo fin de siècle fez justamente isso.

Desta vez, contudo, não é o óbvio que ainda haja quaisquer certezas para destruir. O ceticismo ou derrubada de truísmos produz agora um efeito inverso, de bumerangue: ao solapar os critérios de toda a crítica racional, confere uma carte blanche a qualquer comodismo intelectual. O relativismo total termina sustentando o dogmatismo barato. Se vale tudo, então o indivíduo pode ser tão dogmático quanto quiser: os padrões críticos, que anteriormente poderiam tê-lo inibido, foram revogados. O que poderia haver para controlá-lo? Os que tentaram restringi-lo, em nome do fato ou da lógica, serão acusados de positivistas, imperialistas, ou das duas coisas: afinal de contas, o objetivismo esteve à serviço da dominação. A permissividade total termina em dogmatismo arbitrário.

O fin de sièle foi libertador, o fim de millénaire talvez seja intencionalmente destrutivo. Precisamos ter cautela com alguns de nossos auto-escolhidos libertadores. Esse estado de espírito talvez não seja o dominante, mas, em algumas esferas das humanidades, ciências sociais, filosofia, ele faz tanto barulho que poderíamos até pensar que é... Uma vez que reprovamos a dominação mundial, temos que abjurar também a lei da não-contradição. Isso parece uma inferência curiosa... Ainda assim, ela tem uma espécie de lógica extravagante: os europeus escutaram filósofo que lhes disseram que sua preeminência era também o triunfo da razão sobre a terra... Assim, talvez o término dessa eminência traga também o repúdio à razão... O raciocínio é egocêntrico, de qualquer maneira...

Poderá esse estado de espírito geral, com sua grande variedade de origens sociais e intelectuais (que tenho certeza que não esgotei) receber um caracterização geral?... Robert Musil, ao descrever o último fin de sièle, contentou-se em fazer uma lista das contradições e compará-las com a complacente tranquilidade anterior. Poderemos fazer mais do que isso?... O que satura este estado de espírito é a insistência no relativismo, na subjetividade, na permissividade intelectual, no antinomismo e na consequente obscuridade.... Estamos na presença da orgia conceitual, na qual as regras são suspensas e desprezadas e, os que se apegam a elas tornam-se alvos de zombarias... Os violadores das velhas regras são agressivamente presunçosos e mostram-se ansiosos para estigmatizar os que não os seguem moral e politicamente”... ( Ernest Gellner, Antropologia Política: Revoluções do Bosque Sagrado. Rio de Janeiro, Jorge ZAHAR Editor, p. 244; 253)

sábado, 1 de outubro de 2011

Convite...

                                                                                  JBConrado-Overmundo
Não sou a areia
onde se desenha um par de asas
ou grades diante de uma janela.
Não sou apenas a pedra que rola
nas marés do mundo,
em cada praia renascendo outra.
Sou a orelha encostada na concha da vida,
sou construção e desmoronamento,
servo e senhor,
e sou mistério

A quatro mãos escrevemos este roteiro
para o palco de meu tempo:
o meu destino e eu.
Nem sempre estamos afinados,
nem sempre nos levamos
a sério.

Lya Luft, aqui...