sábado, 30 de abril de 2011

Нежность...

Código Florestal, o equilíbrio possível...

                                                                        Fazenda São Bento

Sobre a Defesa da Beleza...


     Óleo sobre tela, Les Bords du fleuve Sebou -Ferdinand-Victor-Eugène Delacroix 
O que eu sei é que muita gente por aí sente o que eu sinto. Eles concordam comigo que a beleza importa, que a profanação e o niilismo são crimes e que deveríamos encontrar um modo de exaltar nosso mundo e dotá-lo de uma significação mais do que mundana.

Para o bem e para o mal, eu sou identificado pelas elites britânicas como a pessoa com quem se pode contar para defender o indefensável e que se pode permitir defender o indefensável, mesmo em uma televisão estatal (quer dizer, a BBC), desde que a defesa seja suficientemente diluída por outros defendendo o óbvio. No código oficial, "indefensável" quer dizer "conservador", enquanto que "óbvio" quer dizer "liberal-esquerdista". Assim sendo, quando a BBC me pediu para participar de uma série de televisão sobre a beleza, esperava-se que eu sustentasse que uma tal coisa realmente existe, que não é só uma questão de gosto, que ela está ligada ao nobre, àquilo que se deve aspirar e ao que há de sagrado em nossos sentimentos, e que a cultura pós-moderna, que enfatiza a feiúra, o desalento e a profanação, é uma traição a um chamado divino. Então, foi isso o que eu disse, já que, afinal de contas, era para isto que eles estavam me pagando. Para alcançar o equilíbrio que a BBC é obrigada por seu regimento a apresentar, dois outros programas foram encomendados, reafirmando as ortodoxias. Eles afirmaram que a arte não tem a ver com a beleza, mas com a originalidade e a originalidade quer dizer você se exibir com a língua (ou algum outro órgão apropriado) para fora.

Em "Por que a beleza importa", eu falei um pouco sobre arte, mas estava mais preocupado em chamar atenção para o lugar da beleza na vida cotidiana -- nas maneiras, nas roupas, na decoração de interiores e em edifícios vernaculares comuns. Eu critiquei tanto a arquitetura funcional de concreto e vidro, que destruiu cidades em todo o mundo, quanto as maneiras egocêntricas que fizeram o mesmo com a vida doméstica. Tentei explicar por que os filósofos do Iluminismo acompanharam Shaftesbury ao colocarem a beleza no centro do novo código de valores seculares. Para Shaftesbury, Burke, Kant, Schiller e seus seguidores, sugeri eu, a beleza era o caminho de volta para o mundo que eles estavam perdendo, com a perda do Deus cristão -- o mundo do sentido, da ordem e da transcendência, que deve ser constantemente emulado neste mundo se quisermos que nossas vidas sejam verdadeiramente humanas e verdadeiramente plenas de significado. E afirmei em seguida que desde as piadas pueris de Marcel Duchamp, repetidas reiteradas vezes em toda mostra de faculdade de graduação em artes na Grã-Bretanha, um hábito de sarcasmo e profanação tinha se apoderado do exercício das artes visuais.

Por isso, os artistas britânicos de hoje - pelo menos os reconhecidos pela cultura oficial - não têm muito mais a nos mostrar além do quanto são repulsivos. Me parecia óbvio que a pintura de Delacroix mostrando sua cama por fazer, na Maison Delacroix, em Paris) era uma verdadeira obra de arte, que mostra algo sobre a condição espiritual humana, enquanto que a famosa cama de Tracey Emin, na galeria Tate Modern, em Londres) é só uma cama desarrumada. Podemos deduzir, pela visão desta cama, um bocado a respeito da pessoa que a desarrumou, mas isto não a distingue de nenhum outro entulho deixado no rastro de uma vida humana. O sentido superior que é a meta da arte -- o sentido que mostra por que a vida importa -- é algo que esta cama não alcança nem tem como meta.

Eu recebi mais de 500 e-mails de telespectadores, todos eles, exceto por um, dizendo: "Graças a Deus alguém está dizendo o que é preciso ser dito," metade deles acrescentando, "mas como é que deixaram você dizer isso na BBC?"  Enquanto isto, os colunistas juntaram-se em bandos para lamentar o caráter triste, anômalo e reacionário do pobre Scruton, e agradecer à BBC por mostrar o absurdo e o anacronismo das opiniões do professor, já bem idoso. Waldemar Januszczak, que fez um outro dos filmes da série sobre a beleza, preparou um verdadeiro libelo para assassinato de caráter no Sunday Times, a fim de aconselhar a seus leitores, antes da exibição de meu filme, a desconsiderarem o que quer que eu pudesse tentar lhes dizer.

O episódio foi, para mim, revelador e instrutivo a respeito de meu país e sua cultura. Eu não digo que meu filme tivesse qualquer outro mérito além de sua honestidade. Mas ele gerou provas esmagadoras de que sua visão da arte e da estética é compartilhada por muitos espectadores britânicos e que a cultura oficial não está só divorciada destas pessoas, mas é profundamente hostil ao que elas acreditam, o que elas sentem e ao que elas aspiram. A arte niilista de nossa época é repassada ao povo britânico como uma reprimenda, que ele deve aceitar com toda humildade e em um espírito de desculpas por ter querido algo de "superior." Não há nada de superior , esta é a lição a ser aprendida com a Arte Jovem Britânica, e com as pilhas de lixo sem nexo que ela manda para nossos museus e galerias. Só podemos entender a condição humana, ela nos diz, se adotarmos uma postura de grosseria e confrontação e se pusermos a língua para fora.

Continuação aqui....

Música e filosofia: Roger Scruton em sua melhor forma...

Roger Scruton está frequentemente certo, mas costuma ser irritante na mesma frequência. Em Culture Counts, por exemplo, em meio a bons argumentos sobre a importância da alta cultura, defende que o ensino e transmissão dela não têm como fim o benefício do indivíduo que a recebe. Quem é o beneficiário visado, então? Resposta inicial: a própria cultura. É curioso que ele veja uma dissociação entre o bem do estudante e o bem da cultura, mas até aí tudo bem; é defensável em alguma concepção ultra-platônica da ordem das coisas, o que é respeitável. Só que em breve fica claro o real sentido dessa estranha posição: o bem visado não é nem o do receptor e nem da cultura considerada como uma entidade abstrata; é o bem da sociedade. No mínimo ultrajante; pois é óbvio que, embora toda a sociedade (os fazendeiros, os comerciantes, os acadêmicos, os músicos, as donas de casa, as empresárias) se beneficie de que pessoas transmitam e contribuam com a cultura, nem por isso é ela (ou seja, os membros que não transmitem e contribuem) a finalidade do processo. Se minha meta fundamental é ajudar os outros, vou socorrer os desabrigados das enchentes no Rio (um fim nobre, diga-se de passagem), e não estudar em minúcias as concepções de intelecto agente em Vital de Furno e Mateus de Aquasparta. Qual a causa de cegueira tão grande em Scruton? Parece-me que é a rejeição a qualquer coisa que cheire a individualismo, que perpassa toda a sua obra com efeitos em geral deletérios.

Enquanto minha mente faz essas considerações, contudo, a leitura segue indolente e chega a passagens em que Scruton analisa peças musicais. E aqui me deparo com um gigante inigualável. Sua exposição não só deixa claro o domínio do autor sobre o tema, mas é também capaz de torná-lo palatável a alguém como eu, analfabeto musical.

Neste texto do começo de 2010 para a The American, temos Scruton em sua melhor forma tratando do seu melhor tema. O artigo é muito similar a um publicado na The American Spectator na mesma época (linkado aqui no site meses atrás), mas com uma grande vantagem: uma análise detalhada de várias obras, tanto clássicas como populares, com vídeos delas anexados. Scruton não apenas fala, mas mostra onde, como e por quê certa música é construtiva ou destrutiva do espírito, o que faz a boa e a má música pop, e porque a erudita está num patamar destacado. O grande mérito dele é decantar seu profundo conhecimento musical de tal forma que um leigo absoluto possa ler e – acredito – entender pontos sobre a estrutura musical de uma peça e o que ela representa em termos sentimentais e filosóficos. Não é pouca coisa, dado que tanto do que se lê por aí oscila entre o técnico impenetrável e o vulgar mais boçal. Beneficio-me muito do amor de Scruton pela música; e bem sei que não sou eu e nem outros como eu a finalidade desse amor.

Fonte: Aqui...

As Vantagens do Pessimismo...

Na argumentação deste livro - provocadora e apaixonada - Roger Scruton defende a ideia de que o maior perigo e a maior ameaça adveio sempre dos que defenderam o idealismo ou o optimismo, fossem eles de esquerda ou de direita. E que chegou o momento de substituir a exuberância irracional pelo pessimismo humano.

Scruton demostra que as tragédias e os desastres da História europeia foram consequência do falso optimismo e das falácias que daí derivavam. Enquanto rejeita essas falácias, Scruton constrói uma defesa robusta tanto da sociedade civil como da liberdade, e mostra que o verdadeiro legado civilizacional não é o falso idealismo, que quase nos destruiu - com o fascismo, o nazismo e o comunismo. Temos, pelo contrário, de proteger a cultura do perdão e da ironia dos que se sentem ameaçados por estes valores.

As Vantagens do Pessimismo é um convincente argumento em favor da razão e da responsabilidade, escrito numa época de profunda mudança.
Fonte: Aqui...

As Vantagens do Pessimismo
Para os que se interrogam como é que o “aluno exemplar da Europa” se converteu em “lixo” em tão poucos anos, o filósofo Roger Scruton explicará que “a verdade moral fundamental [...] é que o crédito depende da confiança, que a confiança depende da responsabilidade e que, numa economia de crédito, em que as pessoas procuram desfrutar agora e pagar depois, a responsabilidade está constantemente a diminuir”.

Quando Scruton ataca os vendedores (e compradores) de “ilusões monetárias” não está a pensar no rectângulo luso. O seu alvo é universal e intemporal e os “optimistas inescrupulosos” têm muitos rostos. Mas, em todas as situações, argumenta Scruton, “a esperança, desligada da fé e sem ser mitigada pela evidência da História, é uma coisa perigosa” e o pessimismo informado é a arma mais eficaz contra a falsa esperança e a auto-ilusão.

Embora o livro abarque muitos dos grandes problemas do mundo actual, não é espesso, pois Scruton é conciso: as utopias políticas, o multiculturalismo, o anti-americanismo, o terrorismo islâmico, a fúria normativa da União Europeia, os visionários que prometem admiráveis mundos novos graças aos progressos da cibernética e da engenharia genética, a ruína do sistema de ensino às mãos dos pedagogos herdeiros de Rousseau que decretaram que a “educação não tem a ver com obediência e estudo mas com auto-expressão e recreação”, a obsessão com a ruptura e o desdém pela tradição que entregou as artes a “embusteiros incompetentes”, há balas para todos.

Nem todas são certeiras. Os argumentos de Scruton, explanados com admirável clareza, não estão acima da discussão e alguns são débeis ou falaciosos. Um exemplo: atribui a culpa da “erosão da família” ao Estado. Isto é ignorar que a “solidez” da família tradicional era conseguida à custa da subalternização da mulher, é não perceber as consequências da prevalência do “casamento por amor” e da emancipação da mulher, é não admitir que a família tradicional do século XIX, numerosa, multigeracional, de fronteiras porosas e envolta numa densa e complexa rede de relações, pouco tem a ver com a claustrofóbica família “tradicional” do século XXI, reduzida a um casal com um/dois filhos e barricada na solidão de um apartamento num prédio onde ninguém conhece os vizinhos.

Scruton é conhecido pelas posições conservadoras e pelo gosto pela polémica. Mesmo quando não se concorda, lê-lo é desafiador e intelectualmente estimulante. Se é entusiasta de “causas fracturantes”, vigie a tensão arterial durante a leitura.

Fonte: Aqui...

sexta-feira, 29 de abril de 2011

The Mystic's Dream...

The Librarian...

...

A Morte é a Curva da Estrada...

A morte é a curva da estrada,
Morrer é só não ser visto.
Se escuto, eu te oiço a passada
existir como eu existo.

A terra é feita de céu.
A mentira não tem ninho.
Nunca ninguém se perdeu.
Tudo é verdade e caminho.

Fernando Pessoa

Aqui

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Saudade de meu Pai...

A saudade de você, meu Pai
é um vazio de não saber caminhar
nas trilhas da vida

Na dor de tantas feridas
com suas histórias
eu sabia sempre
para onde seguir
mesmo que a estrada
não tivesse fim

Sua ausência
a cada dia
Dói mais em mim...

Eu também não sabia
Que doía tanto assim
a solidão das suas palavras

Feliz Aniversário lá onde o Sono é Eterno!

domingo, 24 de abril de 2011

El río...

Rio Douro...

           Régua, a hora da melhor luz. Fotografias de José Alfredo Almeida
Na Paixão do meu Olhar:

O teu rio
Tem a densidade
Das correntezas da memória

O teu rio
Tem o fluxo
Franco e sereno da Saudade...
Fonte: Aqui...

Soneto...

Resuelta en polvo ya, mas siempre hermosa,
sin dejarme vivir, vive serena
aquella luz, que fue mi gloria y pena,
y me hace guerra, cuando en paz reposa.

 Tan vivo está el jazmín, la pura rosa,
que, blandamente ardiendo en azucena,
me abrasa el alma de memorias llena:
ceniza de su fénix amorosa.

¡Oh memorïa cruel de mis enojos!,
 ¿qué honor te puede dar mi sentimiento,
en polvo convertidos sus despojos?

ermíteme callar sólo un momento:
que ya no tienen lágrimas mis ojos...
ni conceptos de amor mi pensamiento.
Aqui

Desconfianza de sus versos...

Los que en sonoro verso y dulce rima
hacéis conceto de escuchar poeta
versificante en forma de estafeta,
que a toda dirección número imprima,

 oíd de un caos la materia prima,
no culta como cifras de receta,
que en lengua pura, fácil, limpia y neta,
yo invento, Amor escribe, el tiempo lima.

Éstas, en fin, reliquias de la llama
 dulce que me abrasó, si de provecho
nu fueren a la venta, ni a la fama,

sea mi dicha tal, que, a su despecho,
me traiga en el cartón quien me desama:
que basta por laurel su hermoso pecho.

sábado, 23 de abril de 2011

sexta-feira, 22 de abril de 2011

Soneto do amigo...

Enfim, depois de tanto erro passado
Tantas retaliações, tanto perigo
Eis que ressurge noutro o velho amigo
Nunca perdido, sempre reencontrado.

É bom sentá-lo novamente ao lado
Com olhos que contêm o olhar antigo
Sempre comigo um pouco atribulado
E como sempre singular comigo.

Um bicho igual a mim, simples e humano
Sabendo se mover e comover
E a disfarçar com o meu próprio engano.

O amigo: um ser que a vida não explica
Que só se vai ao ver outro nascer
E o espelho de minha alma multiplica...

Vinicius de Moraes

Fonte: Jansenista...

Como dizia o poeta...

Como dizia o poeta
Quem já passou por essa vida e não viveu
Pode ser mais, mas sabe menos do que eu
Porque a vida só se dá pra quem se deu
Pra quem amou, pra quem chorou, pra quem sofreu
Ah, quem nunca curtiu uma paixão nunca vai ter nada, não
Não há mal pior do que a descrença
Mesmo o amor que não compensa é melhor que a solidão
Abre os teus braços, meu irmão, deixa cair
Pra que somar se a gente pode dividir
Eu francamente já não quero nem saber
De quem não vai porque tem medo de sofrer
Ai de quem não rasga o coração, esse não vai ter perdão
Quem nunca curtiu uma paixão, nunca vai ter nada, não

Vinicius de Moraes

Você se lembra...

O Poder da Identidade...

                                                  Imagem do blog Estradas e Caminho

terça-feira, 19 de abril de 2011

Genocídio na Selva: O Massacre a Nações Indígenas

Festa de um Povo...

Mundurucania...

Kamikuã...

                                                         Eu, longe de Kamikuã, com o povo da nação Machinery
Xingané, festa de morte
desejos de Vida
Por ti fui múltiplos sentimentos
 Transtorno em emoção

Tua afabilidade
transformou-se em mim
em perene inspiração de ar
que busca Kamikuã
e sua gente

Ah, essência de morte
que transborda vidas
na mais efêmera alegria...

segunda-feira, 18 de abril de 2011

Dia Nacional do Livro Infantil ...

O Dia Nacional do Livro Infantil foi escolhido pelo então presidente Fernando Henrique Cardoso, em 2002, em homenagem ao escritor brasileiro José Bento Monteiro Lobato. Monteiro Lobato nasceu em 18 de abril de 1882 e foi o criador da literatura infantil no Brasil. Autor de inesquecíveis histórias infantis, entre elas O Sítio do Pica-pau Amarelo, cujos personagens Dona Benta, Visconde de Sabugosa, Pedrinho, Narizinho e Emília marcaram a história da literatura infantil.

O livro faz toda a diferença na formação de uma criança. Embora estejamos na era da informática, as histórias infantis fazem a criançada viajar num mundo de fantásticas aventuras e encantam todas as idades.

Fonte: Aqui... e  aqui também...

sábado, 16 de abril de 2011

You have been loved...

Reconhecimento do Amor...

Amiga, como são desnorteantes
Os caminhos da amizade.
Apareceste para ser o ombro suave
Onde se reclina a inquietação do forte
(Ou que forte se pensa ingenuamente).
Trazias nos olhos pensativos
A bruma da renúncia:
Não querias a vida plena,
Tinhas o prévio desencanto das uniões para toda a vida,
Não pedias nada,
Não reclamavas teu quinhão de luz.
E deslizavas em ritmo gratuito de ciranda.

Descansei em ti meu feixe de desencontros
E de encontros funestos.
Queria talvez - sem o perceber, juro -
Sadicamente massacrar-se
Sob o ferro de culpas e vacilações e angústias que doíam
Desde a hora do nascimento,
Senão desde o instante da concepção em certo mês perdido na História,
Ou mais longe, desde aquele momento intemporal
Em que os seres são apenas hipóteses não formuladas
No caos universal

Como nos enganamos fugindo ao amor!
Como o desconhecemos, talvez com receio de enfrentar
Sua espada coruscante, seu formidável
Poder de penetrar o sangue e nele imprimir
Uma orquídea de fogo e lágrimas.

Entretanto, ele chegou de manso e me envolveu
Em doçura e celestes amavios.
Não queimava, não siderava; sorria.
Mal entendi, tonto que fui, esse sorriso.
Feri-me pelas próprias mãos, não pelo amor
Que trazias para mim e que teus dedos confirmavam
Ao se juntarem aos meus, na infantil procura do Outro,
O Outro que eu me supunha, o Outro que te imaginava,
Quando - por esperteza do amor - senti que éramos um só.

Amiga, amada, amada amiga, assim o amor
Dissolve o mesquinho desejo de existir em face do mundo
Com o olhar pervagante e larga ciência das coisas.
Já não defrontamos o mundo: nele nos diluímos,
E a pura essência em que nos transmutamos dispensa
Alegorias, circunstâncias, referências temporais,
Imaginações oníricas,
O vôo do Pássaro Azul, a aurora boreal,
As chaves de ouro dos sonetos e dos castelos medievos,
Todas as imposturas da razão e da experiência,
Para existir em si e por si,
À revelia de corpos amantes,
Pois já nem somos nós, somos o número perfeito: UM.

Levou tempo, eu sei, para que o Eu renunciasse
à vacuidade de persistir, fixo e solar,
E se confessasse jubilosamente vencido,
Até respirar o júbilo maior da integração.
Agora, amada minha para sempre,
Nem olhar temos de ver nem ouvidos de captar
A melodia, a paisagem, a transparência da vida,
Perdidos que estamos na concha ultramarina de amar...

(CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE) Aqui:..

sexta-feira, 15 de abril de 2011

Revoluções no Bosque Sagrado...

                                          Indios isolados - Blog Altino Machado 
“Da estagnação do espírito em toda a Europa, nesses dois decênios do século XIX, elevara-se bruscamente uma febre alada. Ninguém sabia ao certo o que estava na forja; ninguém poderia dizer se se tratava de uma arte nova, de um homem novo, de uma nova divisão de classes na sociedade. Por isso cada um afirmava o que muito bem lhe apetecia. Mas em toda a parte os homens se erguiam para combater as velharias. Bruscamente, aqui e ali, surgia sempre o homem necessário; finalmente, fato essencial, os inventores intelectuais aliavam-se aos inventores práticos. Desenvolviam-se talentos que noutros tempos haviam sido abafados e mantidos à parte da vida pública. São tão diversos quanto possível e as contradições que os separavam revelavam-se insuperáveis.

Amavam-se os super-homens mas amavam-se também os subhomens; adoram-se a saúde e o sol, mas adoravam também os jovens tísicos; havia entusiasmo pela profissão de fé dos heróis e pelo credo social do homem da rua; era-se crédulo e cético, naturalista e exato, robusto e mórbido; sonhava-se com alamedas de castelos, com jardins no outono, lagos vítreos, pedras preciosas; sonhava-se com haxixe, com doenças e com demônios, mas também com planícies, com grandes horizontes, forja e laminagens; via-se lutadores, proletários em revolta. Adão e Eva do Paraíso, a sociedade de pernas para o ar. Isto representava sem dúvida uma série de contradições e de gritos de guerra tão diferentes quanto possível, mas tendo um certo sopro comum.

Ao analisar-se essa época encontrar-se-ia sem dúvida no fundo uma certa falta de senso, qualquer coisa como a quadratura do círculo ou uma pedra de madeira. Mas na realidade tudo se baseava na cintilação de um sentido único. Esta ilusão, que se encarna na data mágica da mudança de século, era tão forte que alguns se precipitaram com entusiasmo no século novo, ainda intacto, ao passo que outros aproveitavam os derradeiros instantes do velho para se deixarem viver, como acontece numa casa em mudança entre as respectivas atitude.” (Robert Musil, O homem sem qualidades. Vol; 1, Lisboa. Edições Livros do Brasil, p. 63-4.)

“Eis aí uma velha citação dizendo que a história se repete: inicialmente como tragédia, em seguida como farsa. Neste caso, talvez tenha acontecido o oposto: a primeira vez foi, sem dúvida, engraçada. Era bom dissolver as certezas excessivamente confiantes do século XIX, e o modernismo fin de siècle fez justamente isso.

Desta vez, contudo, não é o óbvio que ainda haja quaisquer certezas para destruir. O ceticismo ou derrubada de truísmos produz agora um efeito inverso, de bumerangue: ao solapar os critérios de toda a crítica racional, confere uma carte blanche a qualquer comodismo intelectual. O relativismo total termina sustentando o dogmatismo barato. Se vale tudo, então o indivíduo pode ser tão dogmático quanto quiser: os padrões críticos, que anteriormente poderiam tê-lo inibido, foram revogados. O que poderia haver para controlá-lo? Os que tentaram restringi-lo, em nome do fato ou da lógica, serão acusados de positivistas, imperialistas, ou das duas coisas: afinal de contas, o objetivismo esteve à serviço da dominação. A permissividade total termina em dogmatismo arbitrário.

O fin de sièle foi libertador, o fim de millénaire talvez seja intencionalmente destrutivo. Precisamos ter cautela com alguns de nossos auto-escolhidos libertadores. Esse estado de espírito talvez não seja o dominante, mas, em algumas esferas das humanidades, ciências sociais, filosofia, ele faz tanto barulho que poderíamos até pensar que é... Uma vez que reprovamos a dominação mundial, temos que abjurar também a lei da não-contradição. Isso parece uma inferência curiosa... Ainda assim, ela tem uma espécie de lógica extravagante: os europeus escutaram filosofo que lhes disseram que sua preeminência era também o triunfo da razão sobre a terra... Assim, talvez o término dessa eminência traga também o repúdio à razão... O raciocínio é egocêntrico, de qualquer maneira...

Poderá esse estado de espírito geral, com sua grande variedade de origens sociais e intelectuais (que tenho certeza que não esgotei) receber um caracterização geral?... Robert Musil, ao descrever o último fin de sièle, contentou-se em fazer uma lista das contradições e compará-las com a complacente tranquilidade anterior. Poderemos fazer mais do que isso?... O que satura este estado de espírito é a insistência no relativismo, na subjetividade, na permissividade intelectual, no antinomismo e na consequente obscuridade.... Estamos na presença da orgia conceitual, na qual as regras são suspensas e desprezadas e, os que se apegam a elas tornam-se alvos de zombarias... Os violadores das velhas regras são agressivamente presunçosos e mostram-se ansiosos para estigmatizar os que não os seguem moral e politicamente... ( Ernest Gellner, Antropologia Política: Revoluções do Bosque Sagrado. Rio de Janeiro, Jorge ZAHAR Editor, p. 244;253)

quinta-feira, 14 de abril de 2011

...

O homem sem qualidades...

A intuição poética de Musil, enriquecida por seu aguçado espírito científico, proporcionou ao autor a capacidade de traçar um vasto panorama ficcional de sua terra e da Europa do século XX. Postado à janela do mundo, Musil examina, em última instância, o valor da inteligência objetiva do homem diante das casualidades mundanas.

"A postura “contemplativa” de Robert Musil foi entendida como passiva, a “utopia do ensaísmo” pregada por Ulrich – seu personagem – como uma visão utópica do mundo. Na verdade, Musil fez apenas lutar pela recuperação da atividade de mensurar melhor, quantitativa e qualitativamente, os sentimentos e o “volume espiritual” das relações humanas; sem a ingenuidade do romantismo, mas sem a secura do realismo bruto. De quebra, deu nova fisionomia ao sujeito, nova potência ao “eu”, tornando-o estética e radicalmente consciente, ainda que fazendo-o perambular no âmbito daquilo que um outro crítico – Wolfgang Lange – chamou de “loucura calculada” ou “suspensão calculada da razão”.

quarta-feira, 13 de abril de 2011

terça-feira, 12 de abril de 2011

segunda-feira, 11 de abril de 2011

A Dupla Chama: Amor e Erotismo...

"Haveria de fato diferenças assim tão sutis (pelo menos aos olhos dos menos atentos) entre amor e erotismo?... Ou seriam tão tênues e requintadas essas diferenças que só mesmo a fina sensibilidade do grande poeta poderia captá-las e sobre elas meditar de forma apaixonada, mas nem por isso menos sábia?”...

Durante esses longos-saborosos dias olhando a chuva cair sem cessar com um copo de vinho ao lado: vez ou outra eu ia à janela para deixar os pingos d’água deslizar sobre o rosto, e senti a suavidade do vento que se aproximava depois de longe balançar incessantemente as árvores... Para acompanhar o ritmo desses dias, que se passaram muito lentamente, busquei refúgio na música, e vasculhei alguns livros em busca de poesia, ou uma leitura que cominasse com o ritmo dos dias melancólico, encontrei logo em minha frente uns fragmentos de antigas leituras que novamente ( mais uma vez) instigou meu desejo de liberdade, assim de novo questionei-me através das palavras do mexicano Octavio Paz, onde dedica-se, neste livro, “com o irretocável e deslumbrante ofício de sempre, a deslindar o que denomina de ‘A Dupla Chama’, ou seja, o enigma das relações, entre a liberdade e o destino que formam o nó do amor... Nó, este, feito de contrários em contínua transformação: a liberdade escolhe a escravidão; a fatalidade se transforma em escolha voluntária; a alma é corpo o corpo é alma... Pois é: logo de início é destacado as afinidades entre erotismo e poesia, o primeiro é uma metáfora da paixão; a segunda, uma erotização da linguagem; mas a relação entre amor e poesia não é menos e nem mais íntima: é o que nos têm dito os poetas sobre o amor e não é menos precioso e profundo que as meditações dos filósofos.”

Na Dupla Chama está a ampla e fascinante visão cultural e humanística do amor, e do erotismo através dos tempos; numa prosa poética e envolvente e plena de revelações e nexos luminosos – como por exemplo, a natureza subversiva do amor: doce e ao mesmo tempo um perturbador fenômeno que tanto tem afetado o Homem e a trajetória civilizacional... O subversivo aqui tem um sentido saudável, pois ao amar, renunciamos à nossa própria soberania, mas esta autonegação traz a grande contrapartida, a aceitação do outro... O Outro não é a sombra, e sim uma realidade carnal e espiritual!”...

E, afinal, o que nos acrescenta Octavio Paz sobre a poesia?... Com as palavras dele: “A realidade sensível sempre foi para mim uma fonte de surpresa, e também de evidências: aludi à poesia como um testemunho dos sentidos. Testemunho verídico; suas imagens são palpáveis, visíveis e audíveis. É verdade, a poesia é feita de palavras enlaçadas que emitem reflexos, vislumbres e nuances: o que ela nos ensina são realidades ou ilusões? Rimbaud disse: “Et j’ai vu CE que l’bomme a cru voir”, é a fusão do ver e crer. Na conjunção dessas duas palavras está o segredo da poesia e de seus testemunhos: aquilo que nos mostra o poema não vemos com nossos olho da matéria, e sim com os do espírito.

A poesia nos faz tocar o impalpável e escutar a maré do silêncio cobrindo uma paisagem devastada pela insônia. O testemunho poético nos revela outro mundo deste; o mundo outro que é este mundo. Os sentidos, sem perder seus poderes, converte-se em servidores da imaginação e nos fazem ouvir o inaudito e ver o imperceptível. Não é isso, afinal, o que acontece no sonho e no encontro erótico?... Tanto no sonho como no ato sexual abraçamos fantasmas. Nosso parceiro tem corpo, rosto, nome, mas sua realidade, precisamente no momento mais intenso do Abraço, dispersa-se em uma cascata de sensações que, por sua vez, dissipam-se.

Há uma pergunta que se fazem todos os apaixonados e que condensa em si o mistério erótico: “Quem é você?” Pergunta sem resposta... Os sentidos são e não são deste mundo. Por meio deles, a poesia ergue uma ponte entre o ver e o crer... Por essa ponte a imaginação ganha corpo e os corpos se convertem em imagens... A relação entre erotismo e poesia é tal que se pode dizer, sem afetação, que o primeiro é uma poética corporal e a segunda uma erótica verbal: ambos são feitos de uma oposição complementar”...

Continuação... breve...

PAZ, Octavio. A Dupla Chama: Amor e Erotismo. Editora Siciliano, São Paulo, 1994.

Summertime.

domingo, 10 de abril de 2011

sábado, 9 de abril de 2011

On your Shore

Além-rio-pro-mar...

Assim, sou apenas
mais uma fugitiva

da Tua guerra

Não sou amazon
muito menos serei
Lenda...

Nunca fui rainha
menos ainda serei
Hipó(li)(cri)ta...

Desertei porque sou
na Guerra
a Paz do vulcão
em erupção...

Paixão
do desejo
de desejar

E, na aventura
do Olhar...

Seguirei por correntezas
muito além-rio-pro-mar

Aqui está a Lenda...

Hoy...

quinta-feira, 7 de abril de 2011

CURUMINZIN...

 Vem meu Curumim
Barranqueiro
Bandoleiro
De las plagas
Lá do deus Tupã

Meu Curuminzin
Varejeiro
Caçador
Aventureiro
Rei Apurinã

Mostra-me
As histórias
Das noites de breu
Dos sacis e mortalhas
Inúteis batalhas
Pra sobreviver
Sabe Deus

Traz pra mim
As cantigas
As cores, os sons
Os penachos,
Tambores e flautas
Os balangandãs, as maracas
O arco e flecha-me

Vamos dançar o mariri
Na boca-da-noite
Vamos tomar cipó
Na beira do rio

(Sérgio Souto, Zé Carlos e Altino Machado)

Fonte: Bolg Altino Machado

quarta-feira, 6 de abril de 2011

Varanda do Tempo

                                                                        Imagem Blog Taringa
Na varanda a Olhar...

É chegado o tempo
em que verás
não só a Terra e o Céu,
as Colinas e nem o Mar
Luzes, jamais!

E, na plena alegria do viver
dirás: esta é a porta
que se abrirá e o futuro
logo ali estar

Na história
que nos trouxe em memória
não mas a razão

E sim mais dois corações
em Um-semente-Um...

terça-feira, 5 de abril de 2011

A arte de seduzir...

                                                                                           Imagem do Blog Altino Machado

domingo, 3 de abril de 2011

Hijo de la Luna...

“Filho da Lua, uma música triste e belamente cantada por Mario Frangoulis,  dedicada a um mago que conquistou o coração de uma ladina”...

sexta-feira, 1 de abril de 2011

A Glória nunca mais...

Celebrando a Vida...

                            Óleo sobre tela de Delphin Enjoiras (1857 – 1945)
Na celebração da vida
em dimensão mística
e sensível companhia

A canção tocará na Rádio
o desespero do Passado
em silenciosas fotografias

Hoje, no Presente
sem imagens,
sem discurso

A vida do Futuro 
é toque em mãos seguras
o corpo nu em outro corpo nu
É desejo
É sentimento
É Vida...

Desejo de Envolvimento...

                                                Imagem do Blog Ricardo- Mar português
Desejar-te-ei bem mais além do ar
que eu respiro

Amar-te-ei para além do infinito
Azul do Mar

Mas me libertarei muito além
do Cosmo que movimenta
o Universo de nossas Vidas...

Paixão dos Trópicos...

Cheiro da Terra
Natureza vivo

No distante verde
conservo-te

Nos cânticos dos pássaros
ouço tua Voz

No sabor das frutas
degusto teu Corpo

Nos raios do Sol
sinto teu Calor

Admirável Mundo Primeiro: Longe da Amazônia Legal, Perto do Acre...

Depois de muito tempo acompanhando os blogs cheios de compromissos com o diálogo democrático e informações precisas, sobretudo com muitas discussões em política atual, sinto a necessidade em falar mais uma vez que “O Mundo da Rosa” é a expressão da minha alma feminina perante o caos produzido na modernidade...

Ele é o espaço (este) da tirania dos meus desejos, portanto tudo aqui deve e tem que ser caótico; cheio de lapso e erros em geral (por que não quero ter um mundo cor-de-rosa, e ainda representa meus devaneios existenciais) e serve também apenas como uma ‘Página Arquivo’ para guardar temas de meu interesse, além da minha preocupação em apresentar aos meus filhos aquilo de que gosto no universo virtual, na esperança de expor alguns bons exemplos, mesmo que seguindo a direção da desordem busco uma ordem...

Outro detalhe singular: é que eu nunca tive a menor intenção de ser uma mulher de Primeiro Mundo (nem virtualmente com meu mundinho), nunca ninguém conseguiu me convencer disso, mesmo diante dos pronunciamentos dos governantes acreanos: quando dizem que os avanços em todos os setores no Acre estão de acordo com a governança dos  países de Primeiro Mundo: grande falácia!... "Eis a prova do que afirmo: vai tu mesmo a Delfos"... "Apelo de Sérgio Souto ao governador Tião Viana"