terça-feira, 23 de agosto de 2011

O Éden ao lado do Inferno...

                                                                              Charles Burchfield  aqui...
A cena parece irreal. Na maior democracia do Ocidente, ícone do capitalismo mundial, a pobreza espraia-se por territórios ocupados por uma classe média que, menos de cinco anos atrás, exibia vitalidade e brandia com orgulho a bandeira dos direitos. A paisagem agora é de devastação. Milhares de famílias nos Estados Unidos perderam suas casas e hoje vivem em acampamentos. Na Inglaterra, o flagrante de lojas estilhaçadas, prédios e carros incendiados borra a imagem de Londres, uma das capitais do glamour mundial. Levantes no mundo árabe, revoltas em Tel-Aviv, manifestações violentas na Grécia e na Espanha, piqueteiros batendo panelas no Chile e até movimentos de insatisfação na controlada China parecem expressar o que o professor Samuel P. Huntington designa, em seu clássico O Choque das Civilizações, como paradigma do "puro caos": quebra da lei e da ordem, Estados fracassados e anarquia crescente, violência étnica, religiosa e civilizacional, declínio de confiança e uso da força.

Mas esses são os efeitos, fato que sugere indagar: que fatores explicam a escalada de barbárie que invade parcela do planeta neste início de segunda década do século 21?
(...)
O estado de insolvência que envolve economias centrais e os distúrbios em praças civilizadas e incivilizadas impõem a pergunta: e o Brasil, como se comporta na moldura? Não dá para escapar pela tangente e argumentar que nossa terra é uma ilha de segurança no oceano revolto. É evidente que ondas concêntricas, formadas pelos sismos, acabarão batendo em nossas plagas. O País pode se dar ao luxo de exibir sua dimensão continental, riquezas naturais incomparáveis, reservas de US$ 350 bilhões e uma classe média inflada com a inserção de 32 milhões que saíram das margens sociais. E dizer que alargou o meio da pirâmide, ao contrário do que ocorre com a conformação social de outras nações. A questão é: sustentará a posição? Não há o risco de o dragão político devorar o leão econômico? Na era das incertezas, tal risco é possível. E as distâncias entre o Bem e o Mal são curtas. O éden fica ao lado do inferno.

Gaudêncio Torquato nO Estado de S.Paulo...