Talvez alguma coisa compense todas as tensões proporcionadas pelo trabalho ou pelas guerras (caos em geral)... Alguma coisa que não consegue ser ditas pelas denotações, mas que sutilmente consegue expressar-se através dos enigmas exalados pelo corpo e pela alma; é, pois, através do sagrado e do profano que o corpo e a mente, enigmaticamente, encontram a sensação agradável da diversão...
Enamorei-me... Foi daí então que a conexão entre o erotismo e a sedução se tornou íntima da paixão... Não há subversão no amor; o amor também disciplina, ele acalma e faz-se no silêncio... Diferentemente do amor, a paixão exige subversão, transgressão e intensos movimentos... Há frenéticas disposições e alegria na paixão; ela não procura o silêncio, mas gosta de segredos: "Em lugar de um segredo absoluto; aí estaria a paixão... Não há paixão sem segredo, este segredo, mas não há segredo sem paixão" (Derrida)... O Segredo é uma qualidade sedutora... Porém não podemos nos iludir diante do processo de seduzir... Ao contrário, ele é carregado de exigências e intensas desordens; a sedução não pode parar de pensar; ela é incansável ao desnudar emoções... Capaz de construir um credo, a sedução busca a sabedoria, para fornecer a tolerância da espera ou meios de lidar com a encenação sem ligação com o real...
"O que se diz de imediato sobre a sedução é que é um jogo... Caçada silenciosa entre dois olhares: captura numa rede silenciosa de palavras... Jogo arriscado e fascinante - angústia e gozo - onde o vencedor não sabe o que fazer com seu trofeu e o perdedor só sabe que perdeu seu rumo: um jogo onde a única possibilidade de empate se chama amor"... Lembremos agora que a sedução é também descrita pelo sagrado como inclinação artificiosamente para o mal ou para o erro... Também os crédulos a vêem com o sentido de desencaminhar os indefesos, mas lembremos também que a função do sagrado é disciplinar a sexualidade, portanto evitemos os moralismos disciplinadores, que sufocam a sexualidade, e nos apercebamos da arte do encantamento exalado pela sedução... Há uma solução muito eficaz contra a encenação do processo de seduzir: o erotismo... É ele que leva a pessoa sedutora a cair ou se envolver plenamente no fascínio da sedução...
"O que se diz de imediato sobre a sedução é que é um jogo... Caçada silenciosa entre dois olhares: captura numa rede silenciosa de palavras... Jogo arriscado e fascinante - angústia e gozo - onde o vencedor não sabe o que fazer com seu trofeu e o perdedor só sabe que perdeu seu rumo: um jogo onde a única possibilidade de empate se chama amor"... Lembremos agora que a sedução é também descrita pelo sagrado como inclinação artificiosamente para o mal ou para o erro... Também os crédulos a vêem com o sentido de desencaminhar os indefesos, mas lembremos também que a função do sagrado é disciplinar a sexualidade, portanto evitemos os moralismos disciplinadores, que sufocam a sexualidade, e nos apercebamos da arte do encantamento exalado pela sedução... Há uma solução muito eficaz contra a encenação do processo de seduzir: o erotismo... É ele que leva a pessoa sedutora a cair ou se envolver plenamente no fascínio da sedução...
O ser erótico evita o segredo, se afasta do silêncio da sedução e se envolve plenamente na desordem para cair na armadilha que lhe foi preparada pela paixão: o erotismo exige movimentos e ultrapassa a encenação sedutora para fixar-se em envolventes ações... Aqui faz-se necessário relembrar que jamais e jamais devemos relacionar sedução e erotismo à pornografia; a pornografia é a ânsia dos perversos e desequilibrados, ela pertence à ignorância de quem desconhece a paixão e o amor; é um jogo sujo que dificilmente se joga à dois...
Só quem vivencia bem a sedução consegue expressar e absorver o erotismo... Lembremos: é quando nos deleitamos de paixão que um vento quente, mais desesperado se arrasta pelo corpo e nos desmancha de prazer; aí existe qualquer coisa de verdade... Convence-nos de que no céu as estrelas brilham para enamorar, e começa a nos apresentar a metamorfose dos sentimentos; há uma fusão de sentidos avermelhados e úmidos... São as preliminares da estratégia estética nos apresentando o lúdico de uma realidade encantada, que não exige nenhuma explicação, nenhuma verdade...
Uma poeira se espalha em nossa volta, inunda nossa alma, e avisa-nos que as coisas precisam ficar fora do lugar... É preciso aceitar que uma turbulência revire nosso coração, descompense nossa alma: é o vendaval da paixão deixando tudo fora de lugar... Até que os sentimentos agonizantes se vão, a poeira assenta e a solidão nos convida para uma conversa franca... Fala-nos que o tempo de espera findou... Foram, enfim, a sedução e o erotismo a prévia estética de um jogo lúdico anunciando a consumação do saudável e prazeroso ato sexual...
Por fim, as estações, que nos estremeceram, desfizeram nossas certezas, flexibilizaram nossa insensatez e tudo transformou-se em aceitação; novos sentimentos florescem e dão permissão para olharmos de frente as arrebentações da paixão... Aprendemos a apreciar o tempo de espera e a desafiar o vento... Na presença tanto da paixão quanto da sedução, a encenação do erotismo foi de concretizar o desejo: o prazer do gozo... Afinal, amantes apaixonados não se comportam e não dão espaço ao tédio... Querem fantasia, exigem outras íntimas companhias: a sedução, o erotismo... eles necessitam prolongar o tempo com teatro e poesia, exigem romances na intimidade das horas... É a arte de amar e de reinventar-se a cada novo dia...
*.*.*.*.*
Bibliografia Basilar...
Baudrillard, Jean. Da Sedução. Papirus Editora. São Paulo, 1992.
Derrida, Jacques. Paixões. Papirus Editora. São Paulo, 1995.
Foucault, Michel. História da Sexualidade I: a vontade do saber Edições Graal.Rio de Janeiro 1999.
____________. História da Sexualidade II: o uso dos prazeres. Edições Graal. Rio de Janeiro, 1990.
____________. História da sexualidade III: o cuidado de si. Edições Graal. Rio de Janeiro, 2007.
Paz, Octavio. A Dupla Chama: Amor e Erotismo. Editora Siciliano. São Paulo, 1995.