quinta-feira, 23 de agosto de 2012

A Porta do Sol...

 Elias Khoury cria saga sobre a Palestina...

 ... "Parece compreensível que o primeiro épico contemporâneo sobre a saga palestina seja escrito por um libanês, mas o fato de o Líbano ter galvanizado a questão da identidade de um povo não justifica por si a fama de Porta do Sol (Editora Record, 504 págs., R$ 52), o delicado monumento literário de Elias Khoury, que completa 60 anos em 2008. O escritor conseguiu o que poucos autores envolvidos com temas políticos conseguem: unir a razão militante com a sensibilidade de quem vê no “outro” a própria imagem refletida no espelho. 

Para escrever A Porta do Sol, Khoury, um homem de esquerda, formado segundo os princípios do cristianismo, teve de se livrar de todos os estereótipos – palestinos e israelenses . Ao contrário de outros autores árabes, ele procurou ver o “outro” como fruto de uma experiência tão amarga como a dos refugiados nos campos palestinos. No entanto, reconhecer a alteridade não significa virar o outro. Khoury é adepto do monólogo interior, que marca parte de sua longa produção literária. Afinal, é só começar o diálogo para passar à discordância. Então, a solução encontrada pelo autor em Porta do Sol foi criar um narrador que fala sozinho. Ou melhor: com um outro que pode estar morto.

A Porta do Sol é um manifesto que prega não a tolerância, mas o diálogo real entre judeus e árabes, o que irritou alguns críticos de Israel, especialmente por conta do cruzamento entre história real e criação literária. Khoury deu o troco. Disse em sua defesa que a literatura israelense, com exceções, costuma reduzir os palestinos a beduínos estúpidos. E por que os escritores de Israel não conseguem enxergar o palestino? “Porque pisam em sua sombra.” Khoury não pisa em ninguém nesse livro lançado há dez anos e só agora traduzido para o português"...