quinta-feira, 21 de julho de 2011

Francisco José Viegas: Um pouco de biografia...

Francisco José Pereira de Almeida Viegas, conhecido do grande público pelo seu percurso jornalístico, é sobretudo um escritor versátil que já publicou obras de divulgação, de poesia, romances, contos, teatro e relatos de viagens. Nascido em 14 de Março de 1962, em Vila Nova de Foz Côa, viveu na aldeia de Pocinho (Alto Douro) até aos oito anos, altura em que os pais, ambos professores primários, se mudaram para Chaves.

As reminiscências de uma infância passada no campo servem-lhe frequentemente de referência para a escrita, nomeadamente no primeiro romance, Regresso por um Rio, que o autor caracterizou como «um cântico de louvor e de saudades, da minha terra, dos meus lugares, do meu rio, da minha família, da minha infância». Além de ser a última paragem da ferrovia do Douro, percurso apreciado pelo esplendor de uma beleza natural ímpar, que o autor viria a homenagear no álbum Comboios Portugueses, a aldeia de Pocinho está situada na confluência de três rios, o Sabor, o Côa e o Douro. Resulta talvez daí, além da metáfora e do simbolismo próprio do elemento água, a imagem recorrente do Rio presente na poesia e na prosa de Viegas, uma vez que, apesar de cultivar géneros diversos, a suas obras apresentam perspectivas temáticas e referenciais comuns.

Para o autor, o género poético situa-se fora da literatura, como se se tratasse de uma arte distinta dos restantes géneros literários, algo que emerge do sentimento religioso, uma vez que, segundo considera: a Poesia «não deriva da linguagem mas do sagrado». Deste modo, muitos dos seus textos reflectem uma demanda religiosa que o levou a abandonar o catolicismo da sua tradição e a converter-se à religião judaica.

O poeta João Luís Barreto Guimarães caracteriza a obra poética de Francisco José Viegas como «envolvente e melancólica, lugar da perda e da inevitabilidade, palco de um recorrente apelo ao ancestral em que a partida e o regresso reflectem aturadamente a eterna procura de um lugar onde mereça a pena existir». Para Fernando Pinto do Amaral tratam-se de poemas próximos de «um equilíbrio entre o real, os sentidos e a memória».

Escritor multifacetado, Francisco José Viegas afirma, por outro lado, que «toda a literatura é policial», tendo parodiado em vários romances, desde 1989, um género que admira, no qual conjuga a prosa poética, a gastronomia, o futebol (outras das suas paixões) e os lugares a que o ligam elos emocionais: Açores, Galiza, México, Irlanda, Escandinávia, Brasil. Naqueles romances aborda questões como a solidão masculina, o desencontro, o desencanto, dúvidas existenciais e pequenos prazeres. O crime é apenas o mote para enredos centrados na relação de amizade entre as duas personagens principais que criou, a dupla de inspectores Jaime Ramos e Filipe Castanheira. Alguns dos seus policiais (Um Crime na Exposição e Um Crime Capital) foram publicados, em jeito de folhetim, nos jornais Diário de Notícias e Jornal de Notícias, respectivamente.

O seu mais recente romance, Lourenço Marques (2002), foi sendo escrito e reescrito durante sete anos. O plano inicial contemplava mais uma aventura da dupla Ramos/Castanheira, mas a narrativa foi amadurecendo até se transformar numa história de amor e nostalgia em que a “averiguação” gira em torno da alegria da «África dos portugueses», evitando e circundando o complexo colonial. O escritor angolano José Eduardo Agualusa refere-se a este romance como parecendo «ter sido escrito por um africano».

Licenciado em Estudos Portugueses na Universidade Nova de Lisboa, leccionou Linguística (Teoria do Texto, Semântica e Teoria da Linguagem) na Universidade de Évora entre 1983 e 1987. O Alentejo, aliás, viria a marcar a sua escrita, também muito influenciada pela cultura açoriana, galega, irlandesa e africana, como se Francisco José Viegas preferisse os últimos redutos de uma vivência autêntica, em que reencontra a infância transmontana, ao cosmopolitanismo das grandes cidades onde o indivíduo perde a identidade no meio da multidão.

Perante a possibilidade de prosseguir a carreira académica, o autor optou pelo jornalismo, onde já se estreara enquanto crítico literário. Colaborou nos periódicos Jornal de Letras, Expresso e Semanário e foi editor da área cultural de um semanário de curta duração, O Liberal. Em 1987 tornou-se chefe de redacção da revista trimestral Ler, cuja qualidade de formato e conteúdos, à época inovadores no nosso país, muito deveram à direcção de Viegas entre 1989 e 2000. Foi talvez o único escritor português que dirigiu em simultâneo uma revista literária e um jornal desportivo (o quadrissemanário Gazeta dos Desportos, em 1995).

Enquanto divulgador cultural, as qualidades inovadoras de Francisco José Viegas manifestaram-se também em programas cujo formato é pouco usual nas televisões portuguesas: a promoção do Livro e dos Autores Portugueses em «Escrita em Dia» (na SIC) e «Ler para Crer» (na RTP2). Foi editor da revista Oceanos – publicada pela Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses – e director da revista de grande informação Grande Reportagem, tendo colaborado em quase todos os principais órgãos de comunicação social portugueses: na imprensa (O Jornal, Sete, Jornal de Notícias, Visão, Diário de Notícias, O Independente, Record), na televisão («Falatório», «Prazeres», «Primeira Página» e «Avenida Brasil», para a RTP), na rádio (TSF, Antena 1, RCL). Mantém alguns blogs sobre temas variados: língua portuguesa, gastronomia, música, viagens... É responsável pelo único programa totalmente dedicado à literatura actualmente em exibição na televisão portuguesa – «Livro Aberto», na RTPN – além de apresentar e conceber o magazine radiofónico «Escrita em Dia», na Antena 1.