segunda-feira, 7 de março de 2011

Último Soneto...

 A Carta de Amor, François Boucher – 1750 – óleo sobre tela
Que rosas fugitivas foste ali!
Requeriam-te os tapetes, e vieste...
 Se me dói hoje o bem que me fizeste,
É justo, porque muito te devi.

Em que seda de afagos me envolvi
Quando entraste, nas tardes que apareceste!
Como fui de percal quando me deste
Tua boca a beijar, que remordi...

Pensei que fosse o meu o teu cansaço ---
Que seria entre nós um longo abraço
O tédio que, tão esbelta, te curvava...

E fugiste... Que importa? Se deixaste
A lembrança violeta que animaste,
Onde a minha saudade a Cor se trava?...

Mário de Sá-Carneiro

Fonte: Mundo Pessoa