sábado, 5 de março de 2011

Linguagem e Silêncio...

Sem querer criticar a maior festa popular de todos os povos: passarei mais um carnaval a ouvir o meu silêncio, pois já que sou huni kuin (gente verdadeira) e não povo... não irei à avenida festejar a vida: ficarei a reviver uma antiga paixão com um reconhecido crítico contemporâneo, George Steiner, mas a minha paixão por ele aconteceu através duma breve leitura em um trecho do seu ensaio sobre a crise da palavra em “Linguagem e Silêncio”, este ensaio, como o próprio título indica, é uma instigante coletânea sobre a linguagem e suas crises nesse tempo de caos, apesar de suas críticas e minha leitura ter sido a duas décadas atrás, tudo está acontecendo exatamente de acordo com o pavor que senti naquela época... 23 anos da edição brasileira pela Companhia Das Letras se passaram e alguns da minha superficial silenciosa leitura, mas eu cá estou na mesma agonia dum carnaval sem fim, pois é nele que a ficção ganha nova forma, novos contornos e a arte é a própria alegoria dos foliões que seduzidos pela magia da festa vive sua ficção no real da comédia...

Neste ensaio Steiner ‘aborda desde assuntos mais abrangentes como a pornografia; o silêncio na literatura moderna ou o papel nefasto que o nazismo exerceu sobre a língua alemã, aborda também a obra de autores como o tcheco Franz Kafka; o húngaro Georg Lukács; a norte americana Sylvia Plath; o Frances Claude Lévi-Strauss e o alemão Günther Grass’... Pois Linguagem e Silêncio trata, antes de tudo, da linguagem e sua relação com a política, da linguagem e o futuro da literatura, das pressões exercidas sobre a linguagem e outros códigos de significados como música e teatro; tradução e ideologias...

Muito me despertou a atenção uma reflexão onde ele expõe que para Platão, Stendhal e Mozar, a arte é o riso da inteligência, essencialmente em nosso tempo atual onde a sociedade segue os contornos do comunismo falido, pois os indivíduos sem disciplinar seus impulsos reproduzem a selva na cidade e suas revoltas tornam-se a própria realidade cotidiana na polis dos homens selvagens, daí a arte ser a própria representação da tragédia real... “Mas é duvidoso se os modos relevantes serão os da tragédia... Se a sociedade futura assumir os previstos pelo marxismo, se a selva de nossa cidades tornar-se a polis do Homem e os sonhos de revolta tornarem-se reais, a arte representativa será a alta comédia” (p. 337)...

“As utopias embutidas nas revoluções têm necessariamente um contorno ideal e indistinto. É da essência da situação revolucionária que o Agora deva apropriar-se do Amanhã, que a imaginação, quando possuída pelo tempo Futuro, deva concentrar-se no curto prazo... Os sonhos devem ser disciplinados para cobrir o terreno do possível... O marxismo não é o único a deixar seu objetivo final vago. A maioria das religiões e filosofia da esperança fizeram o mesmo... Aí pode ser uma das fraquezas do Islão ter feito seu paraíso exato demais. Mesmo a perfeição perde o viço quando é entregue simples a imaginação. Como Dante sabia, a mente projeta o sonho para a frente, para dentro duma luz tão forte que ofusca todos detalhes (p 326).

“Em qualquer teoria sobre a sociedade pós-histórica – nosso sentido de ‘estar na historia’ é determinado em grande parte pela pressão dos conflitos políticos e sociais – terá que se considerar o dilema das motivações humanas na cidade justa... Então, o que viria a substituir o mecanismo primordial da esperança frustrada? De que modo seriam estimuladas as energias do movimento para a frente, que parecem integrais à personalidade humana, e como seria mantidas, ou, nos termos do paradoxo freudiano, como existirá civilização sem descontentamento? Nessa área de futuras incertezas, a circunstância da literatura apresenta um problema especifico: na medida em que a literatura é expectativas dramatizada, na medida em que é uma crítica do real à luz do possível, haverá necessidade dela? A literatura está enraizada na imperfeição do ser histórico? Os homens irão conseguir em dedicar suas idéias à ficção, quando o real satisfazer e seduzir as capacidades plenas de percepção e de ação? ” (p. 327)...

Mas Trotski afirma que a arte irá durar para além da vitoria: “o poeta da nova época irá repensar de um novo modo os pensamentos da humanidade, e re-sentir seus sentimentos... A muralha irá desabar entre arte e natureza”!... E tudo aconteceu: a muralha desabou e uma Nova Arte Renascerá...