Como minha expressão da mais profunda gratidão pelo sopro da vida e todas as atitudes solidárias aos desalojados da alagação do Acre, sigo acreditando na mudança de mentalidade da humanidade: evoluir é necessário, bem sei... Ainda creio que a sensibilidade será disseminada por entre os homens, e um novo método surgirá para nos garantir o pleno relacionamento entre as pessoas, bem como o pleno zelo e o cuidado com nossa natureza...
Em tempos de caos climático, penso com mais assiduidade que devemos reunir esforços para encontrar uma nova forma de agir e gerir nossas emoções, nossas necessidades, pois o sistema dos Senhores do Poder continua a estimular a comunidade apenas a valorizar e a adaptar-se a revolução tecnológica, de modo a mudar nosso jeito de ser, e ver o futuro sendo administrado pela dinâmica dessa tecnologia em detrimento do vasto mundo natural global, sem maiores preocupação com as consequências... Entretanto a Natureza a cada dia grita mais forte que é Ela a apontar os ditames de nossa Cultura... Pouco importa se vivemos num Continente americano (Acre) ou no asiático (Tóquio), nosso olhar deve estar sempre direcionado ao chão que pisamos e, ao mesmo tempo, aos Pólos com suas imensas montanhas de gelos se descongelando...
Eu, uma criatura sonhadora que sempre nutriu um profundo amor telúrico e também um grande temor pela fúria das correntezas dos rios de nosso estado, sinto-me uma impotente, com essa drástica e triste situação das enchentes nos municípios e em Rio Branco, por isso me resigno em orações, na esperança de ver esse drama passar logo e todos sendo uns vencedores nessa batalha de socorrer essa gente desalojada; é doloroso ver os depoimentos de quem diz que levou toda uma vida construindo seus bens para perderem num breve segundo de instante...
Todavia, sigo compreendendo que o mês de Março é um mês de profunda limpeza... Leio e ouço nos noticiários sobre os trabalhos, nos Municípios afetados pela enchente, de retirada da lama que cobriram esses municípios... Assim imagino uma profunda limpeza em nós também; que seja retirada toda a lama de nossas mentalidades e corações: aquela lama que nos impede de olhar para os perigos do futuro; aquela lama que nos faz supervalorizar a cultura local sem respeitar as fronteiras geográficas das diferenças climáticas, a lama que limita nossos conhecimentos e só aumenta nosso egocentrismo e individualismo... Felizmente, com essas calamidades, aprendemos a olhar nosso Governo com outra perspectiva, aí percebemos a responsabilidade e o desempenho Oficial para socorrer as famílias vítimas de tantas aflições...
Domada por uma sensação de impossibilidade física e econômica, deixo um poema, de Emily Dickinson, no ensejo de repensar sobre nossas fragilidades e condição de sermos livres ou uma forma de pensar sobre nossa liberdade de escolha apenas como possibilidades...
... "Habito a Possibilidade
Casa melhor que a Prosa
De Janelas mais pródiga
Superior — em Portas —
Cômodos como Cedros
Impermeáveis ao Olho
E por Eterno Teto
Os Dosséis do Céu
De Visitantes — o mais justo —
Por Ofício — Isto —
Só as asas destas parcas Mãos
Para o meu Paraíso”...
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