quinta-feira, 26 de março de 2015

Homens e Rios se Parecem!...

Bom, eles – homens e rios – se encontraram na Amazônia com boa dose de misticismo. Se conheceram, se apalparam e teceram vida nova num espaço selvagem e lúdico. Por isso surgiu o Acre das águas e da floresta, por onde fervilham, por alguns séculos, índios e cariús, negros e pardos, borracha e sucuris, botos e iaras…

Quando criança, também tive a felicidade de viver às margens de um rio, o Iaco, e de me envolver com seus mistérios. Sabia da morada de uma sucuri no poço fundo em frente à nossa casa, acreditava que em noites de festa dançarino vestidos de branco saíam de suas águas e tinha medo que a Iara aparecesse, até imaginando que o rio tinha um espírito.

Observando o rio, eu marcava as estações: porque no verão andava por suas praias desertas catando ovos de tracajá e, no inverno, quando me recolhia, temeroso, queria ver de perto o que descia das cabeceiras: melancias, troncos e árvores inteiras arrastadas pela correnteza...
(...)
Ah! Mas ando desanimado porque vejo como as pessoas traem a amizade antiga com esses rios de água mítica. Esquecem das vantagens usufruídas e os maltratam: com lixo, exploração excessiva de seus recursos, destruição das matas ciliares… E ainda se zangam quando a natureza reage com enxurradas, quem sabe pedindo socorro, agonizando!

Até meados do século passado a relação dos acreanos com esses rios incluía troca, zelo e muito respeito entre ambos. Agora, homens e rios se mostram apartados, se estranham e se agridem mutuamente. Como se a sobrevivência de ambos não dependesse de uma reaproximação"...
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Fotografia: AJ...