sábado, 14 de dezembro de 2013

Mil Platôs: O Sabor do Conceito...

Gostaria muitíssimo de dominar a simplicidade da escrita e assim apresentar, de forma concisa, os aspectos de sigmentaridade, do qual falam Gilles Deleuze e Félix Guattari, no livro Mil Platôs: Capitalismo e Esquizofrenia, onde eles exemplificam as minuciosas divisões do inevitável poder que assola nossas vidas, na ausência do fino trato com a palavra, contento-me em deixar registrado o fragmento que me sensibilizou... Todavia, eles iniciam o livro utilizando a simbologia do Corpo sem Órgãos (CsO) para delinear as possíveis artimanhas dos devires, desse modo eles conduzem a conceituação descrita:

... “Ao Corpo sem Órgão não se chega, não se pode chegar, nunca se acaba de chegar a ele, é um limite (...) mas já se sabe sobre ele – arrastando-se como um verme, tateando como um cego ou correndo como loucos, viajante do deserto e nômade da estepe... É sobre ele que dormimos, velamos, que lutamos, lutamos e somos vencidos, que procuramos nosso lugar, que descobrimos nossas felicidades inauditas e nossas quedas fabulosas, que penetramos e somos penetrados... que amamos (...) É uma experimentação não somente radiofônica, mas biológica, política, atraindo sobre si censura e repressão. Corpus e Socius, política e experimentação. Não deixarão você experimentar em seu canto” (p. 09 e 10, Editora 34, 1999)... 

Finalmente, sob aquele efeito da serena incerteza, cá ficarei a meditar sobre a apreciação questionadora/instigadora que o filósofo francês Jean-Clet Martins faz em relação aos conceitos descritos por GD e FG no já mencionado livro... Que Deleuze e Guattari me perdoem: certas Orelhas de livros são mais saborosas do que mesmo o próprio conteúdo deles... Com a palavra JCM, claro!: 

... “Um platô não é nada além disso: um encontro entre devires, um entrecruzamento de linhas, de fluxos, ou uma percolação – fluxos que, ao se encontrarem, modificam seu movimento e sua estrutura; é por isso que o mais importante dos operadores que este livro consegue construir concerne não ao relevo de um platô, mas àquele por meio do qual os platôs se chocam e se penetram, mudando todos os índices de ambiente e as coordenadas de territórios: é a desterritorialização... 

Um conceito, assim como uma flor ou um incerto, tem seus ambientes e seus territórios... Toda uma etnologia do conceito, por meio da qual não se pode mais separar seus componentes do ambiente concreto em que eles se depositam... 1 – O que ocorre, ao contrário, quando certo conceito é levado para um outro ambiente?... 2 - Quais são os acontecimentos que ocorrem com os conceitos quando estes se desterritorializam?...

A essa questão responde a ideia de ritornelo, uma ideia musical que proporá aos conceitos seu ritmo e seu canto, para posturas e acrobacias inauditas... Há, então, duas coisas diferentes: aquelas que se tramam procedimentos éticos, etológicos, mas que ainda não são conceitos... São condições dos conceitos, dos gritos, dos cantos que os afetam... O procedimento é um ritmo, ao passo que o processo é uma dança – duas asas que se abrem para este livro: suas longitudes e suas latitudes”... 

Para responder as perguntas 1 e 2 de JCM, digo que me permito ser penetrada por certos conceitos para reavivar meus sonhos e alimentar esperanças, aliviar a ansiedade, assim quando eles se desterritorializam dentro de mim começo a agir diferente e aumenta a serenidade, minha vida ganha um novo ritmo e saio por aí a bailar...

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Pintura de Hamish Blakely