Por fim, para encerrar as reflexões sobre a inveja do texto inspirador, acrescento que em nenhum momento percebi a inveja como um vício maléfico, cuja moral desclassifica o invejoso, ou como a autora diz: “A inveja cria um abismo entre o invejoso e o invejado: o sucesso do segundo é o fracasso do primeiro, porque a inveja é inimiga da paz de espírito e comparsa da solidão”... Concordo que a inveja cria um vazio e submete o invejoso ao isolamento, mas a própria inveja pode construir uma ponte entre o invejoso e aquilo o qual ele almeja alcançar com sua inveja....
Por conseguinte, não acredito que o sucesso do invejado seja o fracasso do invejoso; pelo contrario: o invejoso, através do sucesso do invejado, constrói seus degraus em busca do sucesso também; sobretudo quando esse sentimento foi o instrumento impulsionador para o movimento natural de recriação da persona humana; ou até mesmo foi parâmetro para o aperfeiçoamento profissional, para uma mudança de hábitos ou comportamento, assim pode ser que: o fracasso do invejado transforma-se no sucesso do invejoso... Deu pra perceber que uma pitada de inveja não faz mal a ninguém?...
Felizmente ou infelizmente, não existe uma resposta única à questão benévola da inveja, porque são várias as propostas de identificação da ponte benéfica entre invejado e invejoso... A seguir destacarei mais um exemplo; para, finalmente, concluir esta exposição de ideia apresentando minha inveja, ou um pouco daquilo que sinto inveja em ti; e como essa inveja vem proporcionando uma mudança de atitude em nós... Acima de tudo, te proponho uma viagem sobre a forma que nós tecemos nossos textos, sinto-me na obrigação de esclarecer mais uma vez essa diferença, pois o modo que tu expõe tuas críticas levam-me a crer que sejam os resquícios de tua inveja...
Amiúde, toda escrita se concretiza através de um texto, do latim textum que significa entrelaçamento; esse entrelaçamento pode ser tecido através da linguagem simbólica e conotativa ou da linguagem conceitual e denotativa... Costumo optar pela primeira linguagem, pois é um desejo meu de aprender expressar emoção, amabilidade e afeto, isto por meio de metáforas, onde todo significado fica implícito; logo a segunda linguagem, esta que está te levando ao sucesso, parece mais um enumerado de frases ou uma sequência de orações, com ausência de analogia, sem sentimento, sem emoção... É por meio desse entrelaçamento que explicitamos nossas experiências, forjamos sentimentos, trilhamos longas estradas, construimos mundo, expomos o aroma da flora e damos voz à fauna; e o olho do leitor só avista o horizonte que limita suas experiências: sua interpretação é do tamanho de sua imaginação... Enfim, invejo essa tua capacidade de ser tão explícita, tão realista e positivista através da tua icástica escrita, no entanto teu óbvio não me seduz... Afinal, uma parte de ti sempre foi sucesso, a tua outra parte toda inveja... E eu cá querendo aprender a dominar a linguagem conceitual, para ver se faço sucesso também... Fundamentalmente, nossas linguagens agregam os termos que nos distinguem: será arte?...
*.*.*.*.*
A Ponte - Pintura de J. Fernando