quinta-feira, 13 de novembro de 2014

Sem Sombra...

A apresentação da Sombra... 

... "Cada um de nós contém um Dr. Jekyll e um Mr. Hyde: uma persona agradável para o uso cotidiano e um eu oculto e noturno que permanece amordaçado a maior parte do tempo... Emoções e comportamentos negativos — raiva, inveja, vergonha, falsidade, ressentimento, lascívia, cobiça, tendências suicidas e homicidas — ficam escondidos logo abaixo da superfície, mascarados pelo nosso eu mais apropriado às conveniências... Em seu conjunto, são conhecidos na psicologia como a sombra pessoal, que continua a ser um território indomado e inexplorado para a maioria de nós...

A sombra pessoal desenvolve-se naturalmente em todas as crianças... A medida que nos identificamos com as características ideais de personalidade (tais como polidez e generosidade) que são encorajadas pelo nosso ambiente, vamos formando aquilo que W. Brugh Joy chama o "eu das decisões de Ano Novo"... Ao mesmo tempo, vamos enterrando na sombra aquelas qualidades que não são adequadas à nossa auto-imagem, como a rudeza e o egoísmo... O ego e a sombra, portanto, desenvolvem-se aos pares, criando-se mutuamente a partir da mesma experiência de vida"...

Em alguma data do passado, não muito distante, apresentei aqui uma instigante leitura que "oferece um vasto panorama do lado escuro da natureza humana, tal como este se manifesta no seio da família, nos relacionamentos íntimos, na sexualidade, no trabalho, na espiritualidade, na Nova Era, na política, na psicoterapia e na criatividade...

Nesse livro também conhecemos instrumentos para o desenvolvimento pessoal na forma de exercícios que nos possibilitam: alcançar uma auto-aceitação mais autêntica e completa; assim como transformar as emoções negativas que emergem na vida diária; liberar a culpa e a vergonha associadas com a negatividade; reconhecer as projeções que colorem nossas opiniões a respeito dos outros; equilibrar nossos relacionamentos através de uma autenticidade mais profunda e usar a escrita, o desenho e os sonhos para resgatar partes fragmentadas de nós mesmos... Embora sejamos levados a pensar que a sombra contenha apenas escuridão, conforme afirmou Jung: sua essência é "puro ouro"...

Bem sei da necessidade em fazer uma apurada consideração sobre alguns pontos do livro Ao Encontro da Sombra , porém deixarei para um momento de plena segurança argumentativa; por enquanto o interessante é saber que a sombra descrita neste livro nos faz repensar de forma simples sobre o nosso lado obscuro e confuso o qual nos leva às neuroses, melancolias e depressões e que nos impede de digerir conscientemente todos os anseios próprios de nossa condição humana...

Outro fator importante também é perceber, através dessa leitura, a desordem social enquanto reflexo dos desequilíbrios individuais, ou a desordem é essencialmente a extensão do desequilíbrio daqueles que nos governam: "A sombra, no entanto, não é apenas um problema individual... Grupos e nações têm uma sombra coletiva, que pode levar a ações perigosas, como racismo... bodes expiatórios... criação de inimigos... e a guerra"...


Ao 'Encontro da Sombra' é uma leitura para ser degustada lenta e suavemente, portanto voltarei depois com mais luz à nossa sombra, eis aí  a principal degustação:

... “E aqui existe um mistério, e eu não o compreendo: Sem esse toque de algo alheio e — até mesmo — selvagem, sem as terríveis energias do lado avesso da saúde, da sanidade e do juízo, nada funciona, nada pode funcionar... Pois afirmo que a bondade — aquilo que nós, em nosso eu diurno e comum, chamamos bondade: o comum, o decente — nada é sem os poderes ocultos que se despejam continuamente do lado da sombra...

Ah, se fosse assim tão simples!... Se houvesse pessoas más em um lugar, insidiosamente cometendo más ações, e se nos bastasse separá-las do resto de nós e destruí-las... Mas a linha que divide o bem do mal atravessa o coração de todo ser humano... E quem se disporia a destruir uma parte do seu próprio coração?"...

*.*.*.*
Crédito da imagem: Sergio Ranalli