segunda-feira, 5 de agosto de 2013

Um Breve Olhar num Passado de Leitura...

Evito aceitar que sou pessimista e luto com todas as forças contra esse sentimento; mas, vendo e relendo os meus relatórios de trabalhos acadêmicos  sinto um profundo desânimo ao perceber que eu era bem esforçada e (fui banida, excluída, rejeitada, anulada depois de longa fidedigna dedicação) cheia de disposição para com os estudos e as leituras voltadas às ciências sociais... No entanto, a maquiavelice ou o jogo sujo, de certo suposto douto da academia acreana, me levaram a muitas dúvidas, em relação ao papel do cientista social e da própria ciências sociais na sociedade, principalmente pela falta de praticidade nas resoluções do problemas frente ao caos social moderno... começando pelo próprio caos acadêmico... 

Tudo isto permanece a fragmentar e espoliar meus anseios e desejos de ser uma útil educadora social; tenho sérias dificuldades de me enquadrar nas idéias desses senhores que fazem do conhecimento a prática da arbitrariedade... Sinto na pele a tirania machista do conhecimento científico e é muito mais tortuoso de que qualquer outro ato tirânico ou fascista... 

Revendo um trecho de meu relatório, releio o pertinente raciocínio de Louis Dumond acerca da sociedade e seus seres individualistas, no livro O Individualismo: Uma Perspectiva Antropológica da Ideologia Moderna”... Ele (Dumond, claro!) pode ser considerando um autêntico representante da antropologia estruturalista francesa, tanto quanto Lévi-Strauss, e há quem se sinta incomodado com os estruturalistas, mas eu, pelo contrario, me sinto mesmo é muito segura ao tentar compreender o mundo através da visão simbólica dos estruturalistas... 

Posteriormente acrescento a ideia central das minhas preocupações, como também trechos da ultima proposta de estudo que fiz 'ao Departamento de Letras sobre a construção da identidade acreana a partir do conceito e prática da florestania...

Por fim, estava pescando na internet livros de publicação atual, sobre a elaboração de textos acadêmicos, quando me deparei com uma saborosa leitura criticando a inutilidade das teses científicas, eis aí:

"UMA TESE É UMA TESE...

Sabe tese, de faculdade?... Aquela que defendem?... Com unhas e dentes?... É essa tese que eu estou falando... Você deve conhecer pelo menos uma pessoa que já defendeu uma tese. Ou esteja defendendo. Sim, uma tese é defendida... Ela é feita para ser atacada pela banca, que são aquelas pessoas que gostam de botar banca... As teses são todas maravilhosas...

Em tese. Você acompanha uma pessoa meses, anos, séculos, defendendo uma tese. Palpitantes assuntos. Tem tese que não acaba nunca, que
acompanha o elemento para a velhice... Tem até teses pós-morte...

O mais interessante na tese é que, quando nos contam, são maravilhosas,
intrigantes... A gente fica curiosa, acompanha o sofrimento do autor, anos a fio...

Aí ele publica, te dá uma cópia e é sempre — sempre — uma decepção. Em tese... Impossível ler uma tese de cabo a rabo... São chatíssimas. É uma pena que as teses sejam escritas apenas para o julgamento da banca circunspecta, sisuda e compenetrada em si mesma. E nós?...

Sim, porque os assuntos, já disse, são maravilhosos, cativantes, as pessoas são inteligentíssimas. Temas do arco-da-velha. Mas toda tese fica no rodapé da história. Pra que tanto sic e tanto apud?... Sic me lembra o Pasquim e apud não parece candidato do PFL para vereador?.. Apud Neto....

Escrever uma tese é quase um voto de pobreza que a pessoa se autodecreta... O mundo pára, o dinheiro entra apertado, os filhos são abandonados, o marido que se vire... Estou acabando a tese. Essa frase significa que a pessoa vai sair do mundo. Não por alguns dias, mas anos. Tem gente que nunca mais volta...

E, depois de terminada a tese, tem a revisão da tese, depois tem a defesa da tese. E, depois da defesa, tem a publicação. E, é claro, intelectual que se preze, logo em seguida embarca noutra tese. São os profissionais, em tese. O pior é quando convidam a gente para assistir à defesa. Meu Deus, que sono... Não em tese, na prática mesmo..

Orientados e orientandos (que nomes atuais!) são unânimes em afirmar que toda tese tem de ser — tem de ser! — daquele jeito. É pra não entender, mesmo.... 

Tem de ser formatada assim. Que na Sorbonne é assim, que em Coimbra
também. Na Sorbonne, desde 1257. Em Coimbra, mais moderna, desde 1290...

Em tese (e na prática) são 700 anos de muita tese e pouca prática....

Acho que, nas teses, tinha de ter uma norma em que, além da tese, o elemento teria de fazer também uma tesão (tese grande). Ou seja, uma versão para nós, pobres teóricos ignorantes que não votamos no Apud Neto.

Ou seja, o elemento (ou a elementa) passa a vida a estudar um assunto que nos interessa e nada. Pra quê? Pra virar mestre, doutor? E daí? Se ele estudou tanto aquilo, acho impossível que ele não queira que a gente saiba a que conclusões chegou. Mas jamais saberemos onde fica o bicho da goiaba quando não é tempo de goiaba. No bolso do Apud Neto?...

Tem gente que vai para os Estados Unidos, para a Europa, para terminar a tese... Vão lá nas fontes. Descobrem maravilhas. E a gente não fica sabendo de nada...

Só aqueles sisudos da banca... E o cara dá logo um dez com louvor... Louvor para quem?... Que exaltação, que encômio é isso?...

E tem mais: as bolsas para os que defendem as teses são uma pobreza... Tem viagens, compra de livros caros, horas na Internet da vida, separações, pensão para os filhos que a mulher levou embora. É, defender uma tese é mesmo um voto de pobreza, já diria São Francisco de Assis. Em tese...

Tenho um casal de amigos que há uns dez anos prepara suas teses... Cada um, uma... Dia desses a filha, de 10 anos, no café da manhã, ameaçou:

— Não vou mais estudar! Não vou mais na escola.
Os dois pararam — momentaneamente — de pensar nas teses...

— O quê? Pirou?

— Quero estudar mais, não. Olha vocês dois. Não fazem mais nada na vida.... É só a tese, a tese, a tese... Não pode comprar bicicleta por causa da tese... A gente não pode ir para a praia por causa da tese... Tudo é pra quando acabar a tese... Até trocar o pano do sofá... Se eu estudar vou acabar numa tese... Quero estudar mais, não... Não me deixam nem mexer mais no computador... Vocês acham mesmo que eu vou deletar a tese de vocês?...

- Pensando bem, até que não é uma má idéia!...

Quando é que alguém vai ter a prática idéia de escrever uma tese sobre a tese?... Ou uma outra sobre a vida nos rodapés da história?...

Acho que seria uma tesão"!...
Pintura: Albert Anker 
A preparação inicial para a escrita acadêmica...