Numa concepção pouco dialética da vida, vivencio a ternura das flores,
como uma intensa possibilidade de apreender uma lição de amor... Aqui estou sem nenhuma intenção específica de argumentar
sobre conceitos (que expressem as contradições das sínteses socrática)
contidos nas dúvidas sistemáticas e
elucidativas das leis da dialética, porque
assim encontro a verdade: eis a lógica da Natureza!...
Às vezes, piso na brisa suave das palavras, quando ouço uma canção
interpretada com emoção... Também gosto de observar a beleza singela da Natureza,
pois sinto nela, mesmo nos dias nublados, todo o poder da criação através do
brilho da luz do Sol... Tudo que vem do Universo é-me motivo para refletir e
silenciar-me: tanto que descubro o segredo da linguagem da Lua, e sua ternura irresistível se transformam em
meigas líricas sob a revelação do olhar... O aroma das flores exala perfumes
tão leves que penetram em meu corpo e se transformam em sonhos fascinantes...
Por conseguinte, não consigo ficar indiferente perante as gotinhas de orvalho;
do mesmo modo que, ao observar a densidade das correntezas dos rios, percebo um denso
fluxo de memória correndo em busca do mar...
Bem, isso é somente para esclarecer: de maneira desinteressada, entretanto,
me aproprio das teorias e conceitos quando estou com falta de inspiração, apenas faço
uso deles, em alguns momentos, para complementar alguma ideia; ação esta
totalmente permissiva por normas e convenções, pois existem as aspas para
legitimarem, porque as teorias e conceitos jamais foram questão de propriedade
de alguém, mas sim de inspiração no discorrer dum pensamento; pois as palavras são
livres quando estão num dicionário, livro, enciclopédia, ensaio, etc; mas
quando elas são resultado da experiência de alguém, não: bem sei disso... Inclusive
já travei grandes lutas contra àquela
velha forma hipócrita do pensamento científico e literário que se beneficiam da
Propriedade Intelectual Empírica, e acabam
por fazerem grandes publicações com fins muito, muito, mas muito mesmo,
lucrativos; e com total ausência de critério que favoreça ao proprietário da
ideia; diferentemente de quem apenas utiliza com propósitos ilustrativos
de suas próprias idéias ou pensamento...
Enfim, para Deleuze os grandes pensadores necessitam do inesperado para
produzir, da mesma forma que necessitam do ar para respirar... Assim, eu também
necessito subitamente da arte e da natureza como fonte de inspiração, bem como para relaxar; da mesma forma que necessito do
oxigênio para viver... Para mim, a Natureza é uma questão de vida, principalmente... E
daí? :)... Tens alguma dúvida quanto a isto? ;)... Vamos a ver onde estar à ‘razão quando a
razão erra’?...
Então eis um trechinho da
orelha de “Conversações” que pode muito bem reafirmar o que eu digo: ... ‘Um
pouco de possível, senão eu sufoco’: “Foram com estas palavras que Gilles
Deleuze definiu o motivo que teria levado Michel Foucault, na última fase da
sua obra e vida, a se lançar de forma tão inesperada à descoberta dos processos
de subjetivação... Um grande pensador precisa do inesperado, assim como
necessita do ar para respirar; o pensamento, de acordo com Deleuze, jamais foi
questão de teoria, mas sim de vida”... aqui quem escreveu isto: (Peter Pál
Pelbart: tradutor do livro “ Conversações” de Gilles Deleuze)...