quinta-feira, 14 de abril de 2011

O homem sem qualidades...

A intuição poética de Musil, enriquecida por seu aguçado espírito científico, proporcionou ao autor a capacidade de traçar um vasto panorama ficcional de sua terra e da Europa do século XX. Postado à janela do mundo, Musil examina, em última instância, o valor da inteligência objetiva do homem diante das casualidades mundanas.

"A postura “contemplativa” de Robert Musil foi entendida como passiva, a “utopia do ensaísmo” pregada por Ulrich – seu personagem – como uma visão utópica do mundo. Na verdade, Musil fez apenas lutar pela recuperação da atividade de mensurar melhor, quantitativa e qualitativamente, os sentimentos e o “volume espiritual” das relações humanas; sem a ingenuidade do romantismo, mas sem a secura do realismo bruto. De quebra, deu nova fisionomia ao sujeito, nova potência ao “eu”, tornando-o estética e radicalmente consciente, ainda que fazendo-o perambular no âmbito daquilo que um outro crítico – Wolfgang Lange – chamou de “loucura calculada” ou “suspensão calculada da razão”.