quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Ataque Antropológico: Do Outro Lado da História...

                                          Rio Acre - fotografia de Anderson Jardim
Estava eu, lá pela UFAC, tentando convencer ao Jacó Cesar Piccoli a providenciar meus Certificados de Pós-Graduação em Arqueologia e Antropologia, quando de repente, não mais que de repente, senti um desejo imenso de voltar às leituras antropológicas, mas bem sei que é apenas saudade da Antropologia no meu viver...

Talvez eu já tenha iniciada algum texto falado que, envolta a essa imensidão verde da floresta e sob o episodio da linguagem, sempre sinto por um instante a sensação de verdade... Neste momento, a sensação que sinto é a da face oculta em mim mesma: o sentido da descoberta da antropologia em meu viver e relacionada ao cotidiano acriano... Pois é o que proponho neste texto: rever certos conceitos da cultura da floresta, construindo um novo pensar sobre o modo de ser, agir e gerir na sociedade que me envolve, sob a luz antropológica...

Devo, porém, antes salientar (para melhor entendimento teórico) a conceituação que define a Antropologia no campo científico: pois esta é a ciência da humanidade entrelaçada com a cultura e enquanto ciência se preocupa com o ser humano na sua totalidade; ela se afirma em três dimensões: a) Natural, quando estuda o psicossomático do homem e sua evolução; b) Social, quando estuda o homem como elemento integrante de grupos organizados; c) Humana, quando se volta para o homem e suas histórias, suas crenças, usos e costumes, filosofia e linguagem...

Ora, a antropologia como instrumento de compreensão da realidade, principalmente, em relação à floreta como fator influenciador do ser amazônida, não procura retratar tão somente os aspectos culturais enquanto costumes do fazer humano, mesmo sendo estas influências que necessitam de muita clareza para serem relatadas posteriormente numa perspectiva condicionante da vivência na floresta... Aqui, Jean-Paul Sartre esclarece minha ideia basilar, quando diz: “O essencial não é o que foi feito do homem, mas o que ele faz daquilo que fizeram dele... O que foi feito dele são as estruturas, os conjuntos significantes estudados pelas ciências humanas... O que ele faz é sua própria história, a superação real dessas estruturas numa práxis totalizadora”...


Pois bem, esta superação das estruturas na práxis totalizadora, da antropologia como base, é o que desejo expor sobre o oculto de certos costumes culturais e influenciadores no ser humano: para isto deve-se entender melhor o grande contributo de Claude Lévi-Strauss ao desestruturar os conceitos difusos e mecanicistas de estrutura social da tradição sociológica e etnográfica de Emile Durkhein... Aí, Lévi-Strauss incorporou a teoria social do signo linguístico de Ferdinand de Saussure e acrescentou à antropologia a conotação de ciência semiológica; é quanto percebemos a linguagem enquanto aspecto da identidade cultural...

Ademais: esta nova concepção de estrutura não pode se limitar apenas à elaboração de modelos estruturais etnográficos do empírico, mas se estende ao próprio método das análises teóricas da etnologia; assumindo, dessa forma, a condição epistemológica... Assim o pensamento antropológico se transforma numa provisória ordenação dos fatos observados, até esta ordenação ir sendo trabalhada, afinada para atingir um aspecto de simplicidade; e ao atingir o grau de simplicidade, tais fatos observados chegam a um modelo próximo da verdade que corresponde às estruturas mentais dum povo, grupo, apresentados num primeiro momento etnográfico (Lévi-Struss, Antropologia Estrutural II, 1993 p. 52).