sábado, 17 de setembro de 2011

"Saúde em Movimento": A Linguagem do Corpo...

"Existe senão um só templo no universo,
É o corpo do Homem. (...) Curvar-se
Diante do homem é um ato de reverência
Diante desta revelação da Carne.
Tocamos o céu quando colocamos
Nossas mãos num corpo humano.” (Novalis) 

Venho através deste, de forma muito sincera, agradecer e parabenizar aos idealizadores, executores e todos os profissionais envolvidos no Programa Saúde em Movimento, como já falaram, esse é um programa de estímulo na adoção de práticas saudáveis junto às comunidades de Rio Branco... Tendo como objetivo maior, a prevenção de doenças e uma melhor qualidade de vida. Assim, esse programa vem oferecendo várias atividades nas regionais dessa cidade.

Sistematicamente é realizado um encontro para agrupar e promover a integração entre os oito Núcleos de Vida Saudável das regionais (confesso que, por falta de disponibilidade nos dias dos encontros, ainda não participei de nenhum, o Professor Fábio que me perdoe pelo desprestígio a sua dedicação). Entre as atividades desenvolvidas estão dança, aeróbica, alongamentos e exercícios localizados, como abdominais. Os “núcleos estão localizados na Concha Acústica do Parque da Maternidade, Centro da Juventude do São Francisco, espaço cultural Lídia Hammes, Espaço Ágora (Parque da Maternidade), Arena da Floresta, Parque do Tucumã, Calçadão da Gameleira e Horto Florestal... Além da atividade física, trimestralmente é feito o acompanhamento de cada pessoa, com a aferição do peso, da pressão, colesterol e glicemia.” Mais informações aqui...

Bem, o motivo maior para meu agradecimento é o efeito benéfico que já sinto no corpo e na alma; os resultados impactantes das atividades que venho praticando, há cinco meses, são bem perceptíveis... Minha satisfação não é somente física, é também emocional, pela grandiosidade de algumas amizades conquistadas no Núcleo Parque do Tucumã, no qual participo...

Convido-te agora a escutar: não as minhas palavras e sim a linguagem do meu corpo, porque sinto nesse instante um imenso desejo de falar sobre as dores que outrora impuseram ao meu corpo e que agora agem, em mim, como obstáculos na prática de certos movimentos... Entretanto, será necessário uma breve leitura dum trecho dos livros O Corpo e seus símbolos e Repressão Sexual: Essa nossa (des)conhecida; talvez assim fique mais claro, até mesmo para mim, ouvir a voz do meu corpo; digo isso pela grande dificuldade que estou sentindo, conforme já falara; aí necessito compreender a simbologia do meu corpo perante minha impossibilidade em praticar tais movimentos... Pois, o interessante foi perceber que os movimentos ritmados, como na aeróbica, faço-os sem nenhum obstáculo; exigem muita habilidade do corpo, porém eu vou que vou, sem dificuldade; no entanto os movimentos localizados são tortuosos: como o abdominal, por exemplo, que exerce um profundo impacto no útero... Questiono-me: qual a relação desse obstáculo com os traumas da repressão sexual sofridos na minha educação?...

Daí, lembrei-me das palavras do Jean-Yves Leloup, quando ele diz: “que o corpo não mente, mais que isso, ele conta muitas histórias e em cada uma delas há um sentido a ser descoberto, como, por exemplo, o significado dos acontecimentos, das doenças ou do prazer que anima algumas de suas partes. O corpo é nossa memória mais arcaica. Nele, nada é esquecido. Cada acontecimento vivido, particularmente na primeira infância e também na vida adulta, deixa no corpo sua marca profunda...” Bem, só me resta agora descobrir quais são as profundas marcas existentes no meu corpo que me impedem de avançar na ginástica... Pensei em solicitar auxilio a um terapeuta, mas recordei-me da leitura do Livro “As Mentiras do Divã”, a qual se imbricou perfeitamente com as tentativas de terapias que fiz há anos atrás; mesmo porque, em Rio Branco, desconheço a existência dum profissional que se inspire nos Terapeutas de Alexandria com suas escutas físicas, psicológicas e espiritual...

Bem, parei para refletir sobre o “Sopro da vida”, na tentativa de entrar numa relação íntima com cada parte do meu corpo e compreender como é acolhido esse “Sopro” no reavivamento de cada parte... Refleti também sobre as diferentes ocupações a que me entreguei na escravização de meu corpo, em consequência de torturas da repressão sexual na educação, nem será necessário contar aqui... Pois, sob certos aspectos, eu poderia recorrer ao que me diz Marilena Chauí, no livro Repressão Sexual, quando afirma o seguinte: “desde que o mundo é mundo, seres humanos são dotados de corpos sexuados e as práticas sexuais obedecem a regras (...). A repressão sexual pode ser considerada como um conjunto de interdições, permissões, normas, valores, regras estabelecidos histórica e culturalmente para controlar o exercício da sexualidade, pois o sexo é encarado como uma torrente impetuosa e cheia de perigos (...). As proibições e permissões são interiorizadas pela consciência individual, graças a inúmeros procedimentos sócias (como a educação, por exemplo) e também expulsas para longe da consciência, quando transgredidas porque, nesse caso, trazem sentimentos de dor, sofrimento e culpa que desejamos esquecer ou ocultar.” E tais sentimentos de dor, que muitas vezes não conseguimos ocultar, são expressadas pelo corpo...

Enfim, ao concluir deixo o texto aberto às possíveis possibilidades de compreensão, contudo não pretendo esgotar o assunto e desejo manifestar outras expressões corporais, noutro momento; pois as regras sociais que reprimem a sexualidade são as múltiplas consequências do contínuo exercício do poder, em detrimento dos controles que causam os ‘sentimentos de dor, sofrimento e culpa’, conforme Chauí; porque “Os mecanismos que provocam o sofrimento se auto-sustentam. Nutrem-se da energia da alma para fazê-la voltar-se contra o corpo ( Pierry Lévy)... Porquanto, “O corpo é o inconsciente visível. É o nosso texto mais concreto, nossa mensagem mais primordial. É também o templo onde outros corpos mais sutis se abrigam. A pele é a ponte sensível do contato com o mundo e pode ser também um abismo. É nosso código mais intenso, um lar de profundas memórias. O Corpo sente, toca, fala e comunga”, afirma Leloup.
E assim finalizo com as palavras de Fernando Pessoa:
“O meu olhar é nítido como um girassol.
Tenho o costume de andar pelas estradas
Olhando para a direita e para a esquerda,
E de vez em quando olhando para trás...
E o que vejo a cada momento
É aquilo que nunca antes eu tinha visto,
E eu sei dar por isso muito bem
Sei ter o pasmo essencial
Que tem uma criança se, ao nascer,
Reparasse que nascera deveras...
Sinto-me nascido a cada momento
Para a eterna novidade do Mundo...”