segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Saudades do Georges Balandier...

                                                                                                                              Imagem Bing
Entrei em contato com O Poder em Cena, de Georges Balandier, quando preparava a base teórica para minha tese de doutoramento, em 1989. Desde então, perdi a conta de quantas vezes voltei às suas páginas. Balandier concebe o poder como um jogo dramático, uma “teatrocracia”. O autor mostra que as cenas e os personagens, revelam as figuras imaginárias e os ritos do jogo da ordem e da desordem. Considera que o mundo inteiro é uma cena. O imaginário ilumina o fenômeno político de dentro, pois é dele uma parte constituinte.

O poder só se realiza e se conserva pela transposição, pela produção de imagens, pela manipulação de símbolos e sua organização em um quadro cerimonial. Da Idade Antiga à Contemporânea, o circo, o teatro, as telas apresentam personagens que perturbam toda a lógica social, contradizem as convenções e a moral comum, revelam o que está oculto, por meio do exagero e da farsa. O modo de produção das imagens políticas modificou-se profundamente. Elas podem ser feitas em grande quantidade e, graças aos meios audiovisuais e à imprensa escrita uma irradiação e uma presença jamais encontrada em sociedades do passado. Para Balandier, as técnicas audiovisuais de que o poder dispõe permitem uma dramatização permanente. Os governantes têm que aprender a dominar uma nova tecnologia do simbólico e do imaginário, uma nova forma de dramaturgia política.

A entrada do mundo na era de um desenvolvimento tecnológico avançado não termina com a representação. O mistério pelo qual um poder se constitui e subordina permanece intacto; práticas rituais marcam o seu lugar – à parte – e o tornam espetacular. Como ocorreu nas sociedades arcaicas ou tradicionais. Permanece atual a afirmação de Valery de que no domínio político tudo se sustenta apenas por magia. A reivindicação de racionalidade e a tecnização dos meios do poder não atuam neste campo de ação. Deste modo, razão e a ciência pouco podem fazer. Precisamente, porque a relação política permanece de uma outra natureza ela se estabelece sobre outra coisa realidade: os dispositivos simbólicos, as práticas codificadas com base nas regras do ritual, o imaginário e suas projeções dramatizadas. É por meio destes artifícios que se realiza o domínio da sociedade, eles produzem as imagens de uma supra-realidade que não se identificam com as da realidade social.

As técnicas de audiovisuais de que o poder dispõe permitem uma dramatização quase permanente. Isto obriga aos governantes a aprenderem a dominar uma nova tecnologia do simbólico e do imaginário, uma nova forma de dramaturgia política. Balandier reforça a idéia de que qualquer universo político é um cenário ou mais genericamente um lugar dramático em que são produzidos efeitos. O que mudou substancialmente foram as técnicas que podem ser utilizadas para tal finalidade, cujo emprego se modifica conforme os tipos de sociedade.

Balandier conclui que há necessidade de encontrar novas terapias capazes de tirar os homens do efeito das fascinações e reensinar a eles a governar as imagens e a não suportar que elas sirvam à captura de sua liberdade. A leitura deste livro mostra que o poder é a forma suprema do jogo dramático “a teatrocracia” rege as aparências que fazem com que as sociedades possam ser governadas. A análise do poder em sua trajetória histórica sob a ótica de sua encenação teve uma grande influência em minha formação de pesquisadora. Deste autor destaco, ainda, A Desordem E O Contorno.

Fragmento dos LIVROS QUE MARCARAM a FORMAÇÃO PROFISSIONAL de Nadir Domingues Mendonça

Fonte: DOC PDF