O filme de James Cameron, Avatar, não é o primeiro de inspiração socioambientalista e seguramente não será o último. Não me parece que ele tenha reempacotado coisas que já foram ditas ou feitas no cinema, tanto quanto fez beber na mesma fonte que sempre nutriu as artes em geral: a contemporaneidade...
Isso porque ambos - o estrondo de James Cameron e o simpático filme da Disney - abordam a mesma relação conturbada entre humanidade e seu meio, combinada ao eterno conflito entre a civilização auto-intitulada e outras culturas. Mas não acho que isso seja um problema.
O que me fascinou mais foi a quantidade de conexões com a realidade que o SciFi de Avatar provocou em mim enquanto assistia. Pensei muito na Amazônia, nos conflitos entre populações tradicionais e grandes empresas. Por isso, não foi nenhuma surpresa quando indígenas da Amazônia equatoriana, mesmo indo ao cinema pela primeira vez a convite de uma ONG local, e com todo o aparato de experiência sensorial inovadora, avaliaram secamente: ‘É similar ao que vivemos, mas para nós não é algo novo’. No equador, o embate entre as populações indígenas e a indústria do petróleo já completa décadas, com desdobramentos monstruosos.
Lembrei imediatamente da guerra do Iraque, já que a busca por fontes de energia é o que motiva a cobiça da humanidade sobre a terra de Pandora. Quando um dos personagens exclama atônico, ‘mas são apenas árvores!’, pensei da reprecificação de ativos, tentativa atual de reposicionar o valor das coisas numa linguagem que a humanidade compreende bem: a monetária.
Teve gente que viu até uma referência clara ao atentado contra as torres gêmeas, embora eu já ache que qualquer ataque a uma população não militar na telona, agora e por muito tempo, sempre vai nos levar de volta a 11 de setembro…
E em meio a tantas referências políticas, culturais, econômicas e ambientais, acho que o filme provou refinamento ao traduzir a Teoria de Gaia, do ícone ambientalista James Lovelock, segundo a qual a Terra é um único organismo vivo com infinitas conexões. Mais do que isso, a vida conspiraria para sua perpetuidade, garantindo as condições no planeta para tanto.
Por isso, ao contrário dos filmes de aventura comuns, o trabalho de salvar a todos fica menos para o herói e mais para a própria natureza. Outra sinapse: seriam os eventos climáticos extremos alguma espécie de anticorpos destinados a varrer a nós, os vírus, do mapa da vida?
Muita gente considera que efeitos especiais são um tipo de maquiagem feita para encobrir um roteiro ruim e atuação sofrível. Eu, que não manjo quase nada do assunto, digo que cinema é emoção. A emoção que senti ao ver aqueles dinossauros de Jurassik Park (Spielberg, 1993) pela primeira vez no cinema, quando era menina, não fica devendo nada à comoção das conversas, por exemplo, em Antes do Pôr do Sol (Richard Linklater, 2004) – para citar um filme super singelo, tecnicamente. São apenas emoções diferentes.
Ainda assim me pergunto se eu sairia tão embasbacada do cinema se Avatar não tivesse o recurso 3D… Mas, enfim, talvez seja só mais uma reflexão interessante na conta de James Cameron.
* Este texto foi originalmente escrito para o site da revista Página 22, na qual Carolina Derivi é repórter. Aqui no Planeta Sustentável ela assina o blog Ecobalaio
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* Este texto foi originalmente escrito para o site da revista Página 22, na qual Carolina Derivi é repórter. Aqui no Planeta Sustentável ela assina o blog
(FONTE: Planeta Sustentável)