quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Os Dias de Glória...


              Envelheces tanto de cada vez que o dia termina e olhas para trás... Tens medo do começo do fim, das tardes de domingo; um dia, distraído, tens medo do sexo, da amabilidade e da noite, e dos rostos que foram belos – e não são mais. Envelheces muito quando o mundo contraria as pequenas coisas, sentes esse cansaço, nada a fazer!...
             Mesmo da poesia, que iluminava o tempo, vais colhendo apenas a amargura; os outros procuram nela sinais de um destino, datas curiosas, zangas, ventanias, armadilhas, mas tu sabes – e só tu sabes – que a tua vida é a tua vida e que o poema é empurrado por outro sopro, por um reflexo, um medo brutal, pela memória dos que morreram e levaram uma parte de ti, um pouco do que havia de comum entre ti e a vida, esse desperdício – às vezes –, esses momentos de glória em dias felizes. Envelheces com os ossos que envelhecem. Envelheces sem querer...
            Por ti serias eternamente jovem, adolescente, e percorrerias as estradas das serras, as florestas, não para viveres sempre, mas para estares vivo mais um instante, porque o spectáculo é belo uma vez por outra. Envelheces pouco a pouco, porque as coisas não são o que foram nem são o que são.

(FJV)

FONTE: A ORIGEM DAS ESPÉCIES