Estou perdida no tempo... e
pensando nele construí uma imagem: ao ler um texto qualquer, interpretei uma
escrita (este é o meu Tempo) que não me pertence; recolho-me, crio e recrio
vários significados... O Tempo então surgiu aí, não como uma dimensão do meu Mundo
exterior, mas como uma orientação significativa para meu ser...
Longe e muito longe do ser
exterior está o Tempo como criação duma realidade demasiadamente humana (creio
que não seja necessário dizer aqui que não se trata do Tempo Histórico)... Analisar o tempo é observar o ser
humano nas suas contradições: na tensão do ficar ou do ir; do fixo e do transitório;
da vida e da morte; do poder e da impotência; do mobilizador e do inerte...
No “Mito do Eterno Retorno”, o
teórico Mircea Eliade diz que os mitos
temporais organizam-se em grandes ciclos
que apresentam uma degradação e uma regeneração nos períodos do mundo histórico,
segundo ele: os Gregos, Hindus, Germanos
e Astecas contam que a humanidade passou por fases maravilhosas de
apogeus e áureas onde aos pouco foram escurecendo para chegar no tempo das trevas, assim haverá
o ressurgimento do paraíso primordial: aqui é apenas um enfoque tradicional do
tempo para compreender a percepção dele, mas questiona-se a consciência do
tempo vivido; durável; memorável e que
orienta o tempo social para situar o ser em sua historicidade!... Na tradição o
tempo é percebido como algo exterior ao ser, porém que para ele pode e deve de
ser manipulado em proveito próprio e mais tarde afirmar-se-á como o seu
Senhor...
Ainda informa Eliade: o tempo não existe como entidade, como
pressuposto anterior e exterior ao
homem... O tempo é apenas um ponto de
vista, numa perspectiva histórica... É uma direção irreversível para os indivíduos e as espécies... Não
somente os homens, como também os deuses, obedecem ao Tempo... Assim disse Prometeu a Zeus: “Quem forjou este homem que
sou, senão o Tempo todo-poderoso e o Destino eterno, meus amos, que são também
os teus?”... De acordo com Heidegger o
tempo situa-se “como horizonte da compreensão do ser, a partir da temporalidade
como componente do ser”... E assim, no “Mito do Eterno Retorno”, Mircea Eliade
acrescenta: “Somos devorados pelo tempo, não por nele vivermos, mas por
acreditarmos na realidade dum tempo”...
Voltando ao tempo mítico de nosso
interior - como superação da morte e da
redenção do sofrimento -, vivo um Tempo sagrado que assegura-me o acesso à
felicidade, dessa forma nego, com ele, a
impermanência, tornando-me irredutível (indomável, invencível somos o senhor do
Tempo)... Nosso tempo está no mundo da coexistência, definindo-nos como ser
social e de crescimento individual indo
ao encontro de Outros encontros... Por isso, envolvida de bons pensamentos e em
busca de ideias novas para uma vida melhor e harmoniosa: deixo, através dessas
palavras, um agradecimento pela portunidade (que teu Olhar me proporcionou)
de construir incansavelmente um caminho ao encontro sereno dos corações...