Este é o primeiro volume da trilogia Os Prazeres e as Sombras – completada com Onde os Ventos Mudam e Páscoa Triste
–, ciclo com o qual Ballester atesta a fecundidade da sua veia
narrativa, a sua capacidade para construir um amplo, denso e variado
microcosmos literário e o seu talento para definir os homens e as
mulheres que o habitam.
A uma cidade da Galiza – Pueblanova del Conde – regressa, após longa
ausência, Carlos Deza, O Senhor, amante da liberdade e apologista do
desprendimento e da pobreza, um dos últimos descendentes da família mais
aristocrática da localidade, desafiada nas suas aspirações à hegemonia
social por um burguês enriquecido, o plebeu Cayetano Salgado, O Patrão,
para quem os ídolos supremos são o poder e o dinheiro. As tensões e os
conflitos neste meio provinciano e o inapelável desmoronar da dinastia
constituem a trama de todo o ciclo.
Na realidade, esta trilogia pode reduzir-se, na sua essência, à luta de
morte entre dois mundos e dois homens. O velho mundo rural e piscatório
tradicional dominado pela dinastia feudal dos Churruchaos, em decadência
acentuada, vai-se desmoronando aos poucos. Face a ele, suplantando-o e
destruindo-o em ritmo acelerado, emerge o novo mundo industrial,
capitalista e proletário, liderado por uma família de burgueses
novos-ricos, os Salgados.
Em torno desta rivalidade, o grande escritor galego traçou um quadro
magistral entre o caciquismo aristocrático da Galiza feudal e o novo
poderio económico do industrialismo nascente.