quinta-feira, 11 de julho de 2013

História da Eternidade...

Falar sobre o ensaísta argentino, poeta, crítico literário e escritor Jorge Luis Borges não é uma tarefa simples, não, para uma pobre mortal, assim como eu, por exemplo... mais complexo ainda é fazer um comentário sobre o seu livro (que estou lendo) História da Eternidade: “uma antinomia que se opõe a noção de história: feita de sucessão temporal, movimento e mudança à uma ideia estática... O desejo de escrever uma espécie de “biografia da eternidade” que nos libertaria da opressão do tempo sucessivo sempre atraiu Borges”... Seguem aí dois saborosos parágrafos do citado livro daquele conceituado escritor... é uma leitura bastante estimulante e pode iluminar ideias desconfortáveis... 

... “Naquela passagem das Enéadas que pretende interrogar e definir a natureza do tempo, afirma-se que é indispensável conhecer previamente a eternidade, que – como todos sabem – é o modelo e arquétipo dele... Essa advertência preliminar, tanto mais grave se a consideramos sincera, parece aniquilar toda esperança de nos entendermos com o homem que a escreveu. (...) Lemos no Timeu de Platão que o tempo é uma imagem móvel da eternidade; e isso é apenas uma acorde que ninguém distrai da convicção de ser a eternidade imagem feita de substância de tempo (...).

Invertendo o método de Plotino (única maneira de aproveitá-lo), começarei por lembrar as obscuridades inerentes ao tempo: mistério metafísico, natural, que deve preceder a eternidade, filha dos homens... Uma dessas obscuridades, não a mais árdua nem a menos bela, é a que nos impede de precisar a direção do tempo: que flui do passado para o futuro é a crença comum; mas não mais ilógica é a contraria, aquela que Miguel de Unamuno gravou em verso espanhol: 

Noturno, o rio das horas flui
De seu manancial, que é o amanhã
Eterno... 

Borges, Jorge Luis. História da Eternidade. Editora Globo. Tradução: Carmen Cirne Lima. Revisão da Tradução: Maria Carolina de Araujo e Jorge Schwartz. São Paulo. 2006. (p. 11 e 12)