quinta-feira, 18 de fevereiro de 2016

As Mulheres e os Lobos: Eu e a Liberdade...


Desde que me senti plenamente contemplada com a Mulher Selvagem, da analista junguian Clarissa Pínkola Estes, necessitei confessar que para tecer uma nova condição de vida, o arquétipo da mulher selvagem, em mim, é a própria representação da fragilidade feminina que me domina nos instantes de tortuosas mesuras produzidas por um sistema hipócrita e tirânico... Daí é quando essa selvagem se refrigera em suas próprias angústias do cárcere privado, para se reconstituir através da sua verdadeira essência que foi dilacerada ao longo da estrada vida...

A mulher selvagem se surpreende a cada instante de prazeres e tristezas; anseios e decepções... São as incertezas do caos civilizatório que a impulsiona para além das fronteiras da ditadura desumana... Assim ela traça Novos Limites da Condição Humana...

Escutar com a alma sempre foi em mim, enquanto mulher livre, uma tática e estrategia de sobrevivência... Porque em mim a Mulher Moderna nunca vez morada; meus instintos sempre foram da 'velha sabedoria'... Vejamos se me fiz compreender com os trechos, a seguir, do livro Mulheres que Correm com os Lobos...

... “Minha vida e meu trabalho como analista junguiana cantadora e contadora de histórias, me ensinaram que a vitalidade esvaída das mulheres pode ser restaurada por meio de extensas escavações psíquico-arqueológicas nas ruínas do mundo subterrâneo feminino. Com esses métodos, podemos recuperar os processos da psique instintiva natural; e, através da sua incorporação ao arquétipo da Mulher Selvagem, conseguimos discernir os recursos da natureza mais profunda da mulher... A mulher moderna é um borrão de atividade... Ela sofre pressões no sentido de ser tudo para todos... A velha sabedoria há muito não se manifesta...

Os lobos saudáveis e as mulheres saudáveis têm certas características psíquicas em comum: percepção aguçada, espírito brincalhão e uma elevada capacidade para a devoção... Os lobos e as mulheres são gregários por natureza, curiosos, dotados de grande resistência e força...

O Uivo: A ressurreição da Mulher Selvagem...

... “Devo revelar que não sou um daqueles seres divinos que marcham deserto adentro e retornam repleto de sabedoria... Viajei por muitos lares e espalhei farelos ao redor de cada local em que dormi... Envolvi-me em inconvenientes episódios de giardíase... É esse o destino de uma mística de classe média provida de intestinos delicados.

Qualquer que fosse o conhecimento ou a idéia que vislumbrei nas minhas viagens e lugares estranhos e visitas a pessoas extraordinárias, aprendi a me proteger, pois às vezes o velho pai Academus, como Cronos, ainda tem uma tendência a devorar os filhos antes que eles comecem a curar ou a surpreender... Essa espécie de intelectualização exagerada oculta os modelos da Mulher Selvagem e a natureza instintiva das mulheres.

Assim, para promover nosso relacionamento de intimidade com a natureza instintiva, seria de grande ajuda se compreendêssemos as histórias como se estivéssemos dentro delas, em vez de as encararmos como se elas fossem alheias a nós... Penetramos numa história pela porta da escuta interior... A história falada toca no 
nervo auditivo, que atravessa a base do crânio até chegar ao bulbo do cérebro logo abaixo da ponte de Varólio. Ali, os impulsos auditivos são transmitidos para cima para o consciente ou, segundo dizem, para a alma... dependendo da atitude de quem ouve.

Antigos anatomistas falavam de o nervo auditivo dividir-se em três ou mais caminhos nas profundezas do cérebro... Eles concluíram que o ouvido devia, portanto, funcionar em três níveis diferentes. Um deles seria o das conversas rotineiras da vida... Um segundo seria dedicado à aprendizagem e à arte... E o terceiro existiria para que a própria alma pudesse ouvir orientações e adquirir conhecimentos enquanto 
estivesse aqui na terra...

Ouçam, portanto, com a escuta da alma agora, pois é essa a missão das histórias...

Osso a osso, fio a fio de cabelo, a Mulher Selvagem vem voltando... Através de sonhos noturnos, de acontecimentos mal compreendidos e parcialmente esquecidos, a Mulher Selvagem vem chegando... Ela volta através das histórias".
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