Foram necessários muitos constrangimentos,
muitas procuras e muitas incompreensões para, enfim, eu encontrar o livro cujo trechinho do prefácio me inspirou nesses humildes versos:
Caminho com o Tempo...
Sigo com Ele
Os desvios e as peregrinações...
Caminhando até o Futuro
Sou impulsionada pelo Tempo
Não por inteira
Mas em fragmentos e estilhaços...
Desviada do meu próprio espaço
E da forma de ser tão diferente
Para continuar seguindo sempre juntos...
Jean-Pierre Vernant no livro ‘Entre Mitos e
Políticas’ inicia o Prefácio nos dizendo que: “É quando se chega na reta final
que nos perguntamos – ou, mais exatamente, que nos perguntam – qual o caminho
que foi seguido?... Haviam sido fixadas, no início, algumas direções... Eu
gostava de proclamar, em minha juventude, como um lema em uma bandeira: um
grande amor, uma grande tarefa,
uma grande esperança... Fora o amor, sobre o qual nada direi, percebo hoje que,
no lugar de um itinerário único cujo traçado poderia ser reconstituído a
posteriori, existiam vias múltiplas que me atraíram tanto quanto as escolhi os desvios,
peregrinações...
Caminhamos com o tempo, melhor dizendo:
somos deslocados por ele, não por
inteiros, mas por pedaços, para
finalmente chegar em um ponto em que não acreditávamos
dever chegar, deslocados no lugar que nos era mais conhecido, diferentes em
nossa forma de continuarmos iguais...
Foi, contundo, a palavra ‘percurso que me
ocorreu para o título deste livro... Uma compilação é um pouco como uma vida:
um amontoado feito de peças e pedaços... Aliás, será Possível percorrer a vida
como se percorre uma terra que desejamos explorar ou como se percorre um livro,
folheando-o em diagonal, pulando páginas... sem realmente conhecê-lo?”...
Jean-Pierre Vernant: Entre Mitos e
Políticas (p. 19 – tradução de
Cristina Murachco – Editora da Universidade São Paulo. 2001)