segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Poesia Erótica...



O erotismo está presente na literatura da antigüidade até nossos dias. Sua manifestação se dá segundo determinado meio social concebe, de forma predominante, o corpo. Mesmo nos períodos de forte repressão, como a chamada Idade Média européia, em que aprendemos ter sido de predomínio da igreja católica, houve significativa manifestação do erotismo. Por exemplo, as cantigas de escárnio e maldizer portuguesas são alguns testemunhos de transgressão do moralismo dominante naquele período.

Quando vemos que hoje o acesso a filmes, revistas, livros, utensílios e serviços sexuais é tão simples, mediatizado pelo dinheiro, podemos nos perguntar: o que resta à arte, em termos de abordagem do erotismo? Antes de nos aventurarmos pelos caminhos desta resposta, coloquemo-nos outra, mais precisa, ao que pretendemos tratar aqui: a poesia acompanhou tal disseminação informativa e excitante do sexo?

É preciso estabelecer que o erotismo é uma transgressão baseada no desejo impedido de encontrar sua satisfação.

Esse desejo de se perder, que trabalha intimamente cada ser humano, difere entretanto do desejo de morrer na medida em que ele é ambíguo: trata-se, sem dúvida do desejo de morrer, mas é, ao mesmo tempo, o desejo de viver nos limites do possível e do impossível. (Bataille, 1987, p.223).

O erotismo na Literatura Brasileira tomou as feições derivadas da "moral e bons costumes" do "faça o que eu digo mas não faça o que eu faço". Trafegou através dos quatro séculos passados com raras ousadias eróticas, a primeira Gregório de Matos. Os autores que se aventuraram a tratar de sexo em poesia, quase sempre o fizeram às escondidas, apelando para pseudônimos. Suas obras foram relegadas ao plano da má ou subliteratura. Merecidamente? Apesar dos critérios de julgamento estarem comprometidos com a moral vigente, a circunstância de marginalidade temática e perseguição redundava em desleixo, usado até mesmo como disfarce de estilo, como é o caso do Elixir do Pajé, de Bernardo Guimarães, o mesmo autor de Escrava Isaura.

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Por outro lado, não é tradição dos movimentos revolucionários colocarem o sexo em suas propostas. Nisso assemelham-se àqueles que combatem, mantendo-lhes os pressupostos moralistas. Os movimentos sociais contemporâneos, sendo setoriais, não encaram a vida como um todo integrado. Prevalece a visão de ser humano dividido entre o corpo e a alma (ou espírito). O primeiro, menos importante que o segundo, deve ser mantido sobre severo controle. O Movimento Negro segue o mesmo diapasão, desprezando a sexualidade enquanto tema, não a enxergando em sua análise do racismo, a não ser como denúncia à "exploração sexual da mulher negra". O puritanismo ainda permeia o discurso militante.

O fenômeno que ocorreu com as entidades da igreja católica, em que ‘os desejos da carne passam a ser vistos como uma doença da alma que é preciso extirpar para salvá-la da danação. Daí que, em vez do domínio de si, o Cristianismo recomende aos fiéis a renúncia de si, a abdicação dos desejos em nome de uma pureza cujo modelo é a virgindade. Sob a égide do mito da Virgem procriadora, mas de todo dessexualizada, a carnalidade feminina é desterrada para a ordem do demoníaco’. (Paes, 1990, p.18).

Assim, ao fazer uso de certos elementos religiosos, os poetas traçam a reversão dos significados:

Te amo...

A lembrança é concreta
Teu hálito roça-me a face
O desejo afasta o ridículo
No suor o visco do esperma
Na boca o gosto
do falo
Indecentes
Tuas mãos
Tateiam meu corpo

o orgasmo varre
valores, pecados
Te amo.

Por Luiz Silva... Cadernos Negros, aqui...