sexta-feira, 18 de junho de 2010

Provavelmente com Alegria... Descansa em Paz, Josè Saramago!...

                                                                              Foto blog Pastoret
A segunda escrita poética de José Saramago surge quatro anos após "Os Poemas Possíveis". São poemas de sombra e de luz, entrançados, de uma elaboração feita através do seu próprio avesso, simultaneamente de mar e de trevas.

Provavelmente Alegria
"Devagar, vou descendo entre corais.
Abro, dissolvo o corpo: fontes minhas
De águas brancas, secretas, reunidas
Ao orvalho das rosas escondidas.

"Poemas na altura inovadores, marcados pelo amor dito-escrito em transparências breves, imprecisas, e uma certa amargura-tristeza bem portuguesas, na sua raiz claramente lírica. A paixão parece sobrepor-se à militância:

"Branco o teu peito, ou sob a pele doirado?
E os agudos cristais, ou rosas encrespadas
Como acesos sinais na fortuna do seio?
Que morangos macios, que sede inconformada,
Que vertigem nas dunas que se alteiam
Quando o vento do sangue dobra as águas
E em brancura vogamos, mortos de oiro...

E o erotismo faz, de forma decidida, a sua aparição em verso:

"Teu corpo de terra e água

Onde a quilha do meu barco

Onde a relha do arado

Abrem rotas e caminho."

(Diário de Notícias, 9 de Outubro de 1998)

(FONTE: Caminho)