sábado, 3 de outubro de 2015

Amor, Poesia e Sabedoria...

Normalmente, não gosto de falar com meus botões porque os estudiosos estão sempre com a palavra certa para um bom diálogo...

No livro titulado Amor, Poesia, Sabedoria Edgar Morin inicia refletindo sobre a loucura do ódio como fonte da crueldade barbara do Homo, aí apresenta-nos as contradições atribuída-lhes a qualidade de sapien: de um ser racional e sábio... Assim, logo no Prefácio, ele nos esclarece tudo e expõe a poesia como uma das alternativas para o alívio das dores prosaicas do cotidiano: "Ser Homo implica ser igualmente demens, em manifestar uma afetividade extrema, convulsiva, com paixões, cóleras, gritos, mudanças brutais de humor; em carregar consigo uma fonte permanente de delírio... O Ser humano é um animal insuficiente, não apenas na razão...

Temos, entretanto, necessidade de controlar o homo demens para exercer um pensamento racional... Temos necessidade de inibir em nós o que o demens tem de homicida, malvado, imbecil... Temos necessidade de sabedoria, o que nos requer prudência, temperança, comedimento, desprendimento...

1 - Prudência, sim, mas isso não significa esterilizar nossas vidas, evitar riscos a qualquer custo?...

2 - Temperança, sim, mas será mesmo necessário evitar a experiência da consumação e do êxtase?... 

3 - Desprendimento, sim, mas será mesmo necessário renunciar aos laços de amizade e amor?...

O mundo em que vivemos talvez seja um mundo de aparências, a espuma de uma realidade mais profunda que escapa ao tempo, ao espaço, a nossos sentidos e a nosso entendimento... Mas nosso mundo de separação, da dispersão, da finitude significa também o mundo da atração, do reencontro, da exaltação... E estamos plenamente imersos neste mundo que é o de nossos sofrimentos, felicidades e amores... Não experimentá-lo é evitar o sofrimento, mas também o gozo...

Estamos condenados ao paradoxo de manter em nós, simultaneamente, a consciência da vacuidade do mundo e da plenitude que nos propicia a vida quando pode ou quando quer (...) reconheceremos o amor como o ápice mais perfeito da loucura e da sabedoria: no amor, sabedoria e loucura não apenas são inseparáveis mas se interpenetram mutuamente... Veremos a poesia não apenas como modo de expressão literária, mas como um estado segundo do se que advém da participação, do fervor, da admiração, da comunhão, da embriaguez, da exaltação e, obviamente, do amor, contendo em si todas as expressões desse estado segundo... O estado poético nos transporta através da loucura e da sabedoria, e para alem delas... O excesso de sabedoria pode transformar-se em loucura, mas a sabedoria só a impede, misturando-se à loucura da poesia e do amor"...

P.S.: Mais esclarecimentos será na conclusão que seguirá nos próximos dias...