sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Pássaro Contra a Vidraça...

Qual o segredo que reside na paixão?... Qual é o mapa mais certeiro da trilha para se chegar ao nosso próprio interior?... Bem, são tantas as dúvidas que pairam por sobre minha cabeça, em relação às dificuldades que sentimos em compreender, com um mínimo de nitidez, tudo aquilo que nos leva a um condicionamento... Ou mais ainda: quais são os fatores externos que nos levam a uma cegueira total, a ponto de não nos compreendermos nas mais superficiais necessidades humanas: em nossas fragilidades e sensibilidades, e que nos conduz, na maioria das vezes, aos vícios e degradações... As complexidades de compreensão desses fatores são-me sempre uma boa companhia... 

Ora, tento desafiar a mim mesma com estes questionamentos e dúvidas; pois sou um tanto contraditória quando se trata de controlar os impulsos, neste caso: a paixão!... Apesar de que sou movida por este sentimento, mantenho-o sempre sob controle, na tentativa de evitar as desordens do interior (seria isso o racionalismo necessário às emoções?)... Essas dúvidas são desafiantes e, ao mesmo tempo – para mim –, um deleite, porque aí mergulho num enigmático oceano desconhecido: faço uma regressão aos primórdios da vida humana, como forma de estágio primevo do viver... onde tudo ainda está por aprender e apreender... Assim encontro uma resposta para as minhas próprias inquietações...

Mas é claro que a paixão deve correr junto com o mergulho ao desconhecido, já que é ela a mobilizadora e que nos encoraja em todas as nossas buscas, contudo sempre com moderação... Na tentativa de colaborar com aqueles seres pueris – que estão perdidos no seu próprio caos interior e dominados por vícios e supostos amigos ou falsas amizades (dos oportunistas/individualistas), sempre sem rumo – daí surgiu-me a ideia de expor a paixão irracional como causadora dos vícios/dependência que levam as mais variadas formas de degradação humana, destruindo famílias e, às vezes, tendo drástico fim... 

No entanto, tendo a prevenção de problemas como um bom caminho para evitar as armadilhas do destino (ele, o destino, claro!, também tem seus dois lados), mudei de ideia e pensei em apresentar (às crianças perdidas no mundo de ilusão) a personagem Igor do livro, de Literatura Infanto-Juvenil, Pássaro Contra a Vidraça, de Giselda Laporta Nicolelis, porque ele, mesmo no fundo do poço e confuso, pode reencontrar a direção da sua vida, teve coragem: deu um basta em seus vícios (qualquer forma de condicionamento) e tomou seu destino em suas próprias mãos para ser verdadeiramente livre...    
    
Por fim, decidi deixar os últimos, e significativos, parágrafos do citado livro como forma de percepção dos obstáculos que, muitas vezes, são criados por nós mesmo... “O pássaro vem voando e bate contra a vidraça: é um beija-flor, e fica pairando no ar, minúsculo helicóptero... Olha à sua frente e vê outro pássaro, igual a ele... Então agora são dois que pairam no ar. De um lado, o pássaro verdadeiro, do outro, pássaro refletido na vidraça... O pássaro real não sabe disso e continua ali, curioso, tentando alcançar o refexo de si mesmo... 

Assim fica por um longo tempo... o tempo que consegue suportar... porém, não desiste, quer alcançar o companheiro que é tão agitado e curioso quanto ele... Acima do pássaro, a vidraça tem abertura laterais. Se voasse mais alto, encontraria a passagem para ele e para o outro que julga estar preso. Mas ele não faz isso... apenas tenta ultrapassar a barreira que o impede de chegar ao companheiro... O pássaro é prisioneiro da sua própria ilusão... Da sala onde o observo – torturado e infeliz, debatendo-se já extenuado – grito: 

- Voe, voe para o alto, para o alto! – Tento, de todas as formas, indicar-lhe o caminho... 

Para mim parece tão simples, tão fácil... Mas será que ele me entende?... O que sei da linguagem dos pássaros?... Vai depender mais dele do que de mim... Só mudando o curso do voo ele transformará o seu destino, que pode ser como agora: uma dura vidraça; mas talvez seja... o espaço infinito!"...