quinta-feira, 20 de agosto de 2015

O Corpo e seus Símbolos: Somos Perecíveis...

Assim sendo, quando a Paz reina em nosso interior, a leitura sobre a vida torna-se praze(rosa)... Daí pensei em unir 3 escritos que podem, de início, parecerem distintos, mas que se complementam em suas particularidades, apresentando-nos uma nítida noção de completude ou unidade do ser: a primeira acabei de encontrar; as outras duas são antigas leituras que não canso de frisar alguns trechos que vão me encantado....

Primeiramente, retirei do Obviuos fragmentos do texto ‘Somos Perecíveis’: Olhemos para os nossos pés, com o devido respeito que merecem os alicerces... Contemplemos nossas mãos com a humilde reverência destinada aos milagres... Dediquemos aos nossos olhos e ouvidos a atenção devida aos portais de sabedoria... Que a nossa boca seja provida e provedora de delicadezas puras... Que nossa pele seja proteção e contato com o sentimento antes do toque... Que nosso prazer seja alimento e alento para nos ensinar que, ao nos diluirmos uns nos outros, é que nos reencontramos inteiros no líquido universal da vida...

Temos prazo de validade... Estamos sujeitos à ação do tempo, do ambiente, da nossa irrefletida forma de usufruir de nossos corpos... Entretanto, diferente dos produtos que de forma tão automática consumimos, não temos gravado em nossa pele um código de barras, tampouco uma data determinando que estamos impróprios para consumo... Mesmo assim, nosso prazo de validade existe... E, pasme, pode ser abreviado... No entanto, seguimos esbanjando tempo, como se fôssemos viver pra sempre"...

Ainda sobre nosso corpo, achei interessante o pensamento do filósofo Jean-Yves Leloup, no livro ‘O Corpo e seus Símbolos’, eis: “ Alguns já disseram que o corpo não mente... Mais que isso, ele conta muitas estórias e em cada uma delas há um sentindo a descobrir... como o significado dos acontecimentos, das doenças ou do prazer que anima algumas de suas partes... O corpo é nossa memória mais arcaica... Nele, nada é esquecido... Cada acontecimento vivido, particularmente na primeira infância e na vida adulta, deixa marca profunda... O Corpo é o inconsciente visível... É o nosso texto mais concreto, nossa mensagem mais primordial, a escritura de argila que somos... É também o templo onde outros corpos mais sutis se abrigam...

A pele é a ponte sensível do contato com o mundo e pode ser também um abismo... É nosso órgão mais extenso, é nosso código mais intenso: um lar de profundas memórias... O corpo sente, toca, fala, comunga... Vida incorporada, corpo da vida... Hoje sabemos o quanto nos desviou da saúde integral a concepção moderna que dissociou o corpo da alma e do espírito... Perdemos a coesão e a congruência; mais do que isto, perdemos a transparência...

A fragmentação epistemológica também refletiu-se no individuo e na sociedade, separando o organismo do meio ambiente, enfatizando as fronteiras e os conflitos... Alienação diabólica, já que o diablos é o que divide, o fator tanatológico básico... Divino é o que vincula, unifica e restaura a inteireza vital”... 

Para finalizar com um sutil toque de magia e sedução, deixo umas frases do livro ‘Dançar a Vida’, do pensador francês Roger Garaudy, onde ele apresenta a dança como símbolo de ação máxima do viver, exprimindo o vivenciar com toda sua intensidade: “O que aconteceria se, em vez de apenas construir nossa vida, nós nos entregássemos à loucura ou à sabedoria de dançá-la... Dança Sagrada, Dança Profana: o solista só diante do desconhecido metafísico; o grupo unido em sua função social – a origem e a realidade de toda dança deve ser procurada nessas duas formas essenciais...

É lugar comum falar de solidão do homem moderno no seio de uma civilização dilacerada... O homem, contudo, não sofre apenas dessa solidão, mas também e principalmente de uma divisão profunda de seu ser... Nós dissociamos a educação do corpo da educação do espírito e ambas estão nesse centro a que chamamos, segundo nossos costumes, alma, coração, intuição: conhecimento transcendente... As ciências físicas e naturais fazem abstração desse principio e de sua difusão no universo... Nossa religião não satisfaz às necessidades da inteligência... Nosso intelecto nega o corpo ao passo que a medicina nada quer saber da alma ou do espírito... 

A dança é uma das raras atividades humanas em que o homem se encontra totalmente engajado: corpo, espírito e coração... A dança é um esperte completo, é também uma meditação, um meio de conhecimento, a um só tempo introspectivo e do mundo exterior... A técnica é o que permite ao corpo chegar a sua plena expressividade... Adquirir a técnica da dança tem apenas um fim: treinar o corpo para responder a qualquer exigência do espírito que tenha a visão do que quer dizer”...

Imagem: Mikeeis