Querido Dr. Sabichão,
Venho, através desta tosca sintaxe, reafirmar-lhe que estou sempre a querer sim, mas de tanto querer e não conseguir me locomover fico sempre a esperar... É sincero!... Tenho espraiado todas as minhas dificuldades, do mesmo modo: esperado muito por minha libertação (quando digo esperado, isto não significa comodismo, pois luto com todas as minhas garras: fragilizei-me), no entanto a espera tem sido vã...
Por outro lado, ao mesmo instante que espero, persisto em construir paisagens por meio das simples e desgastadas palavras de sempre, no intuito de fazer o Senhor entender meu apelo, porém falta-me habilidade para lidar coerentemente com elas e com a vida também... Infelizmente, ainda não conheci nenhum eficiente cirurgião para fazer as devidas correções e assim explicitar mais uma essência subjetiva...
Bem, há muito tempo venho assinalando sobre as deficiências de meu casulo e demonstrando a profundidade de meu cansaço, ao que me levou cair em desespero e ser dominada completamente por ele... Perante tanta obscuridade deixarei um poema como possibilidade de Vossa Excelência chegar a uma clarividência... Acredito que vossa sabedoria irá me entender através d'A estrada não trilhada' de Robert Frost:
... "Num bosque, em pleno outono,
a estrada bifurcou-se,
mas, sendo um só,
só um caminho eu tomaria.
Assim, por longo tempo eu ali me detive,
e um deles observei até um longe declive
no qual, dobrando, desaparecia…
Porém tomei o outro, igualmente viável,
tendo mesmo um atrativo especial,
pois mais ramos possuía e talvez mais capim,
embora, quanto a isso, o caminhar, no fim,
os tivesse marcado por igual.
E ambos, nessa manhã, jaziam recobertos
de folhas que nenhum pisar enegrecera.
O primeiro deixei, oh, para um outro dia!
E, intuindo que um caminho outro caminho gera,
duvidei se algum dia eu voltaria.
Isto eu hei de contar mais tarde, num suspiro,
nalgum tempo ou lugar desta jornada extensa:
a estrada divergiu naquele bosque – e eu
segui pela que mais ínvia me pareceu,
e foi o que fez toda a diferença"...
*.*.*.*
