quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

PQ as Mulheres Legitimam a Dominação?...

... “é ainda mais surpreendente, que a ordem estabelecida, com suas relações de dominação, seus direitos e suas imunidades, seus privilégios e suas injustiças, salvo uns poucos acidentes históricos, perpetue-se apesar de tudo tão facilmente, e que condições de existência das mais intoleráveis possam permanentemente ser vistas como aceitáveis ou até mesmo como naturais” (Pierre Bourdieu)... 

Incansavelmente, busco a mágica; pergunto-me: qual o mistério inexplicável para a eterna dominação das mulheres?... Será inexistente a resposta coerente para tal mistério?... Assim como a mulher saudita, eu também quero ter meu Gurdião...

Acredito que a psicanálise ou os grandes especialistas sobre esse tema já devem saberem quais são os princípios que regem a relação entre homens e mulheres, porém não consegui encontrá-los nem muito menos formular uma resposta coerente para meus próprios questionamentos (no entanto, sou consciente ao que me submeto, sem fazer uso de máscara feminista, tão pouco fantasias da livre intelectual), mas deparei-me com um texto, no Blog do Professor Antonio Ozaí da Silva , bem interessante; apesar da situação no Brasil e no nosso Acre não ser muito diferente, ele consegue explicitar com certa clareza a legitimação das mulheres, na Arábia Saudita, frente ao domínio masculino... 

Talvez a diferença, diante de algumas conquistas das mulheres ocidentais, seja apenas o modo pela qual o sistema opera no impulso dessa relação: Homem x mulher, ou melhor: o sistema ocidental hipocritamente afirma que as mulheres vivem no apogeu de seus direitos, enquanto os orientais estabelem uma relação de domínio honestamente com regras e valores esbalecidos numa relação sincera... Vejamos como um homem ocidental retrata a relação de domínio das mulheres orientais... Bom mesmo seria o retrato fiel da situação da mulher no Brasil e no nosso Acre...  Gostei da sintaxe e do ritmo desse texto: 

... “Não obstante, na minha desorganização organizada encontro tempo para dar conta das pendências. Então, termino por me surpreender com as coisas que guardo: umas nem fazem mais sentido, pois eram conjunturais e o tempo anulou a motivação; outras, simplesmente deixam de despertar o interesse – o que me faz pensar no tempo que consumimos com algo que nos parece muito interessante em determinados contextos da vida, mas que, passado o momento, dilue-se e torna-se descartáveis. Mas, há aqueles assuntos que, infelizmente, permanecem atuais. Seria melhor que também eles tivessem perdido o sentido de ser. A realidade, contudo, teima em persistir... 

Fico ainda mais perplexo ao ler o depoimento de mulheres que apoiam a tutela masculina – o que ilustra bem a complexidade da questão de gênero, na medida em que lá, como aqui, as mulheres introjetam os valores considerados machistas e reproduzem-nos como esposas, mães, etc. Noura Abdulrah, a primeira mulher a ocupar um cargo ministerial na Arábia Saudita, também defende a tutela masculina: “Como mulher saudita, quero ter meu guardião. Meu trabalho requer de mim ir a diferentes regiões da Arábia Saudita e, durante minhas viagens, sempre levo meu marido ou meu irmão. Eles não solicitam nada em troca – eles somente querem estar comigo...

Estamos no século XXI, mas as trevas de regimes políticos conservadores-teocráticos persistem como se fossem naturais. A fusão do Estado com uma concepção estreita e intolerante da religião são os pilares que sustentam a exclusão das mulheres e perpetuam a dominação masculina. Mas também devemos considerar os valores e costumes arraigados na sociedade, cuja influência é tão forte que conquista a legitimação até mesmo das mulheres. Como explicar isto? O que diz o multiculturalismo e o feminismo? A realidade social é bem mais complexa do que os nossos ismos!” Blog do Ozaí )...