sexta-feira, 16 de agosto de 2013

Um Território de Errância e Misericórdia...

Às vezes, perante os sentimentos misericordiosos, tenho uma imensa certeza de que o hoje sempre sofrerá as influências dum passado longínquo; eis a questão para eu considerar meus semelhantes apenas como mais um ser humano na eterna reconstrução do ser... Vamos lá de volta ao futuro pensando no passado?... Sejam sempre bem-vindos ao admirável mundo velho... Pois bem: como palavra ilustrativa de minha compaixão, rememorarei, através de nossa herança cristã, a tirania machista (para legitimar a violência atual {intelectual, psicológica, espiritual, política e física, até virtual} contra a mulher), porém sempre numa fiel tentativa de superar meus limites...
Com isto quero dizer também: desejo imensamente evitar toda e qualquer possibilidade dos equívocos da subestimação... Por favor, não queira subestimar a mínima capacidade por mim adquirida, ao longo de tantas vis e benévolas experiências, de perceber o meu entorno e suas adversidades, nem tão pouco será preciso escrever de forma clara e denotativa para que Vossa Excelência faça uma sincera argumentação... Pois eu aprecio por demais a magia do poder da percepção... 
Pensando dessa maneira, li algures que Santo Agostinho proferiu, em seu Sermão 322, isto: “Homem, tu és o mestre, a mulher é tua escrava, Deus assim o quis”... Não lembro em qual sermão ele afirmou ainda: “A mulher sozinha não é a imagem de Deus; porém o homem sozinho é a imagem de Deus tão plena e completamente quanto a mulher junto ao homem”... Para complementar o Sermão de Santo Agostinho, temos também as palavras de Tomás de Aquino, na Suma Teológica XCII:1, quando ele afirma: “Como indivíduo, a mulher é um ser medíocre e defeituoso”... 
No entanto, numa busca de melhor compreensão de minhas angústias feminina, e também numa tentativa de encontrar um pensamento que pudesse exemplificar os princípios femininos dos quais gosto de comungar, encontrei um livro, na internet, “O resgate do feminino: A força da sensibilidade e da ternura em homens e mulheres”, de Isabelle Ludovico, uma psicóloga possivelmente religiosa (não consegui encontrar sua biografia), mas ela retrata a feminilidade dentro dos princípios da espiritualidade, que, de certa forma, representa a ideologia feminina pela qual quero sempre trilhar e ser uma eterna aprendiz, levando em consideração o “resgate feminino” analisado por essa escritora, pois ali penso que possa ser uma trajetória realista... 
Não li o livro em sua totalidade, mas pelos fragmentos apreciados por minha pessoa dá para se ter uma breve noção da ideologia defendida por ela... Deixo-vos a conclusão do livro e o link dele:
Uma palavra final...
... "O princípio feminino faz desabrochar a mulher e propicia uma nova masculinidade... Quando eu finalizava este livro, encontrei em Paris uma coletânea que tratava exatamente deste tema e começava com a seguinte história:
Dois monges caminham no campo em direção ao monastério. Então, chegam a um rio, cujo volume de água estava muito acima do normal devido às recentes chuvas. Com isso, a passagem a pé, habitualmente acessível, ficara submersa...
Na beira do rio, uma jovem lhes pede: “Tenho medo de atravessar, vocês podem me ajudar?”... Um dos monges entrega sua trouxa ao outro e põe a mulher nos ombros...
Avançando prudentemente, eles conseguem atravessar. A mulher lhes agradece com um largo sorriso e toma a direção do vilarejo, enquanto os dois monges seguem seu caminho... 
Um deles assobia, olha a natureza que desperta na primavera, admira as sombras e as luzes, ouve o canto dos pássaros; o outro parece bravo e perdido em seus pensamentos...
— Ah! — alegra-se o primeiro. — Já estamos chegando! Mas que cara é essa? Você não está bem?
E o outro estoura:
— Você fez o voto de não tocar mais em mulher e ousou carregar essa
jovem!
Olhando-o calmamente, o monge responde:
— Ah, então é isso. Mas, veja, eu só carreguei a mulher para ajudá-la a atravessar o rio, enquanto você a carregou até aqui!...
Essa história ilustra bem a diferença entre uma relação saudável e fértil, fruto de um coração amoroso, e uma relação mutiladora, enfermiça, repressora, rígida e legalista... Em vez de ser reprimido ou idealizado, o principio feminino precisa ser resgatado tanto pelos homens quanto pelas mulheres para nos tornar mais inteiros e ternos. Ele poderá então cumprir sua missão de abrir a via da interioridade e da intimidade, tornando-nos receptivos ao amor de Deus, que nos fecunda e nos transforma à sua imagem...

Fomos criados para participar da comunhão da Trindade... Nesse amor inclusivo, somos convidados a reconciliar o feminino e o masculino em nós, para construir uma relação reconciliadora com o outro, conduzindo-nos a uma unidade além da dicotomia: sermos um em Cristo.
Assim, poderemos construir, juntos, um mundo mais justo e solidário, que sinalize o Reino de Deus em nós e entre nós"...
Pintura: Gertrude Jameson Barnes