segunda-feira, 10 de junho de 2013

Os Sem-Memórias...

 
Como eterna fonte de sabedoria, nossa memória deve ser revisitada constantemente... A ver vamos: o que aconteceu há 13 anos no governo da oposição, que hoje exige democracia e medidas justas na política social do atual Governo brasileiro... 

Em 11 junho de 2000, no caderno Mais! da Folha de São Paulo, li dois artigos que (transcreverei, a seguir, aqui uns trechinhos para constatar minha memória) muito me despertaram a atenção: o primeiro, do jornalista Otávio Dias, intitulado Sociedade de Incerteza, assim, com base no pensamento do livro O Novo Século, diz o jornalista: “Para o historiador Eric Hobsbawm, a nova economia terá impacto semelhante ao da Revolução Industrial, mas será dominada apenas pelos países com alto investimento em educação... É uma tarefa de alto risco para um historiador ousar prever o futuro (...) Consciente do perigo de cair na imitação caricatural de uma vidente, Hobsbawa sustenta, no entanto, ser tarefa do historiador identificar probabilidade a partir de seu conhecimento do passado e da análise do presente... A previsão do futuro deve necessariamente se basear sobre o conhecimento do passado... Os acontecimentos próximos estão fortemente ligados aos fatos passados, e é aí que intervêm os historiadores” (...)... 

Vamos lá ao segundo artigo, onde tem uma fotografia minha fantasiada de índia guerreira para saber o que é ‘ser um indígena’ (e eu só dizia assim ao policial: não precisa machucar, não, por favor!); aliás, nunca fui vender meu Povo e meu País aos sanguinários americanos, não... a opressão que conheço é o efeito político cá de casa (Acre) mesmo (por aí imagino a pressão das Relações Internacionais)... No artigo intitulado O Ovo da Serpente, do professor de História da UFRJ José M. de Carvalho, diz o seguinte: “O Brasil pode estar diante dos primeiros sintomas do deslanchamento do velho mecanismo de preservação da ordem social contra as ameaças dos que buscam alterar, pela ação política, os escandalosos padrões de desigualdade social... No Brasil, quando autoridades e editoriais da imprensa começam a acusar de baderneiros movimentos políticos de oposição, é preciso botar as barbas de molho... Faça democracia ou ditadura, essa é a senha de que o sistema está chegando ao limite de sua capacidade de absorver participação e que tempos difíceis aguardam os democratas...

Aumentam as razões de preocupação se, alem do xingamento de baderneiro, revive-se pela a Lei de Segurança, proíbem-se opositores de falar em TV estatal, raspa-se a cabeça de presos, viola-se pela força o direito de ir e vir, fala-se em reestruturar o serviço de inteligência da segurança pública federal, em criar uma Guarda Nacional, em usar o Exército como polícia... O pacto de poder selado pela Constituição de 1988 pode estar fazendo água (...). Os índios pela primeira vez tentam falar com a própria voz, o MST intensifica a luta contra 500 anos de baderna legislativa e governamental na questão agrária, o tráfico inferniza as grandes cidades, aposentados e funcionários mal pagos protestam ou entram em greve... A reação é essa pelo exemplo que representa os “sem”: os sem-emprempo, sem-educação, sem-salários, sem-saúde, sem-dignidade” (...)... 

Por fim... basta imaginar esse curto espaço de tempo para sabermos o que queremos para o futuro de nossos filhos, netos e o que vier adiante... 

Jamais quero ser compreendida como sendo apenas mais uma situacionista perante o caos social brasileiro; nem tão pouco desejo influenciar oposição ou situação, mas se necessário for empunharei a minha velha espada (coragem de enfrentar o caos político), que outrora defendi os movimentos sociais, para agora enfrentar a luta social em defesa do Governo da Presidente Dilma, principalmente, no que diz respeito a questão indígena no Brasil... Pois tal política como a conhecemos hoje é, sabidamente, um resultado histórico bastante complexo, e pior foi em governos anteriores... 

Bem sabemos que as Hidrelétricas não foram iniciativas dos Governos do ex presidente Lula, muito menos da presidente Dilma, no entanto esse drástico drama vem sendo tratado para motivar sérios conflitos, no atual governo, que não valem nem a pena mencionar nesse momento, pois os supostos conhecedores do assunto estão detalhando em seus escritos duma forma muito tendenciosa, o melhor é evitar mais conflitos (apresentarei alguns links com exemplos)... Mas a impressão repassada pelos aliados é que os ativistas indígenas estão sendo usados como ponta de lança para motivar a Terceira Guerra Mundial... 

Dentre tantos atos antidemocráticos, do governo do Fernando Henrique Cardoso, que enfrentei – simplesmente, vou, em outro parágrafo, rememorar apenas um fato (fora os projetos sociais que eram, aqui no Acre, executados irresponsavelmente: as provas existem, basta abrirmos os arquivos da memória)... 

Agora, o interessante mesmo é o tratamento que os aliados/defensores dão aos problemas indígenas no atual governo, é como se eles tivessem surgido este ano ou hoje, não percebo, nos artigos e comentários, nenhuma contextualização de fundo histórico... 

Como, acima, eu ia dizer, quero, através da foto ilustrativa, dizer que senti na pele a dor de ser uma indígena... Foi na comemoração da passagem dos 500 Anos do Brasil, lá em Porto Seguro, e não foi numa manifestação para impedir nenhuma ação governamental, não... foi apenas uma tentativa de mostrar aos Governantes Portugueses, participantes do evento, que os povos indígenas ainda resistiam ao processo de colonização ocidental... Além de não ter sido possível os ativistas indígenas, e nós aliados, fazermos nenhuma demonstração de resistência, o arsenal bélico que lá em Porto Seguro foi utilizado era totalmente desnecessário, assim como era desnecessário a violência por que passamos... Aí nessa foto e nesse dia, aprendi também a parcialidade da mídia, o policial da foto já havia me machucado, ao me arrastar, violentamente, pelo braço (deixando marcas no meu braço, além das feridas nas pernas resultado das balas de borracha e o pavor do gás lacrimogêneo) só não me jogou no chão porque chegaram dois lideranças com suas bordunas e deram a devida proteção sem nenhum enfrentamento... Eis a Ordem de Comando do Movimento Social: não enfrentar nunca um homem armado; resistir sempre, mas sem nenhuma ação de confronto e sim com inteligência ou sabedoria criativa... podemos chamar essa atitude de bons principios para uma iniciativa de democracia... 

Talvez a primeira situação a ser exposta, para compreendermos todo os problemas da questão indígena, desde o processo de colonização, seria apresentar a política de governos anteriores, mas as indefinições da política indígena no Brasil, assim como o ideal democrático, transcendem qualquer perspectiva que configure uma plena direção para ser discutida em rede social, principalmente, levando em consideração que as Multilaterais financiadoras dos conflitos indígenas são mais ferozes que todo o arsenal bélico de nosso País... Por tudo isso, e muito mais que eu vivenciei no Movimento Indígena, me esquivo perante a questão indígena: tenho preferência por, junto as ações governamentais, tentar encontrar uma forma mais construtiva e menos violenta para essa problemática...


(Foto que ilustra o artigo O Ovo da Serpente, do caderno Mais da Folha de São Paulo, em junho de 2000)