segunda-feira, 18 de junho de 2012

Por Uma Ética na Linguagem Política: Um Grito de Consciência...



Devo confessar que tenho necessidade em iniciar meu texto com um breve Grito, mesmo que seja um desabafo meio que sem nexo... Francamente, chego a sentir um profundo nojo, enjôo, náusea, asco, uma total aversão e um verdadeiro mal-estar quando leio ou ouço as hipocrisias e todas as falácias dos discursos políticos Oficiais em relação ao Desenvolvimento Sustentável do Acre... E o pior de  toda a falta de ética discursiva (dos governantes e não-governantes: gestores, assessores e puxa-sacos em geral) é – para mim – quando  tais políticos querem nos obrigar a acreditar em suas mentiras; logo é muito angustiante constatar todas as aberrações discursivas em nome de uma mudança inexistente... É claro que houve mudança, sim; porém, não como eles afirmam... Ai, ai como dói a alma!... 

Acredito que dias melhores virão, já que tudo faz parte de um processo em formação, mas enquanto esses dias não chegam, quero refletir sobre nossa incapacidade de compreender o que representa em nossas vidas ter ‘consciência’, para assim entender melhor e aceitar as diferenças  que nos rodeiam, em todos os sentidos, (culturais, políticas, econômicas e pessoais), diferenças estas que muitas vezes não são compreendidas e nem respeitadas por falta de uma mentalidade estruturada com consciência, consequentemente não conseguimos perceber nenhuma falta de ética ou valores humanos que nos possibilitam firmeza na forma de encarar o mundo em nossa volta... 

Contudo, decidi por recorrer ao neurologista Antônio Damásio com uma breve passagem de seu livro “O Mistério da Consciência”, assim a partir dessa leitura fazer uma comparação entre falta de consciência e submissão-dominção, também entre falta de ética e persuasão... então, inicio com este questionamento que muito me instigou: “O que poderia ser mais difícil de conhecer do que conhecer o modo como conhecemos?”... Pois é, fomos tão determinados a conhecer de um modo que convém a um sistema de dominação e submissão que desconhecemos nossa própria consciência, e como também desconhecemos que existem outras formas de conhecimentos; enfim, acabamos não conhecendo nem a nós mesmos...

Por outro lado, lembrei das consequências da colonização sobre a qual Silviano Santiago analisa com muito primor, em seu ensaio “Literatura nos Trópicos”, nessa obra ele afirma, através da literatura, que tudo vem da dependência cultural, por isso, acredito que até mesmo nossa falta de consciência; porque enquanto complexidade da colonização, temos uma obsessão pelos costumes de nossos colonizadores, por assim dizer: existe uma relação muito forte entre o criador dos países periféricos e a cultura das antigas metrópoles... Para ele, "o escritor latino-americano vive entre a assimilação do modelo original e a necessidade de produzir um texto que afronte o primeiro... Então não há distanciamento na convenção do crítico literário"... 

"Para Silviano Santiago, faz-se necessária uma inversão de valores, buscar para a Latino-América seu lugar no mundo da cultura, e da literatura... O  “ensaios sobre a dependência cultural", desde o próprio título O entre-lugar do discurso latino-americano, até mesmo em suas duas epígrafes, devemos partir da idéia de que o autor se situa realmente como um ensaísta (como já esboçamos no parágrafo anterior) que se arma de pressupostos não só dos Estudos Literários, em esferas mais estritas, mas também do conhecimento dos horizontes mais largos dos Estudos Culturais, cujas 'ferramentas' metodológicas vai buscar nas pesquisas mais contemporâneas dentro do âmbito da Filosofia, Sociologia, História, Geografia, Etnologia, etc., todavia não de maneira superposta ou sob forma de miscelânea, mas de modo transdisciplinar, de forma extremamente coesa e coerente com os tópicos que procura analisar, comparar e (re)interpretar, buscando soluções novas para problemas não tão novos assim, como o preconceito entre metrópole e colônia, colonizador e colonizado, europeu e latino-americano, etc., com o caráter de superior sempre atribuído aos membros primeiros destes pares dicotômicos, ficando os segundos com o estigma de inferiores”... 

Assim o problema sobre a falta de consciência se apresenta sempre, seja na sociedade, grupos de interesses políticos, ou entre os "autores latino-americanos e a literatura européia, seja no modo como o português Eça de Queiroz, autor de O primo Basílio, desarticula seu modelo Madame Bovary, de Flaubert, ou ainda na forma como a geração do tropicalismo repensou suas relações com a cultura americana”, por exemplo... E, por aí vai se repetindo ou se reconstruindo a estrutura do pensamento; principalmente no sistema sócio-político, e em muitos casos sem consciência; diferentemente de alguns exemplos de textos literários que se afirmam com uma identidade sócio-cultural própria;  é, certamente, por isto que a Literatura é por excelência uma formadora de consciência... 

"Hoje, quando interrogamos o político o histórico e o social a partir da literatura, temos naturalmente que ter em conta essas mudanças, esses questionamentos teóricos, essas outras viagens dos olhares, sob pena de não estarmos a entender as práticas literárias de Garcia Marquez, Vargas Llosa, Guimarães Rosa, Assia Djebar, Salman Rushdie, V. S. Naipaul, Chinua Achebe, Simbene Ousmane, José Luandino Vieira, Manuel Rui, Mia Couto, Ana Paula Tavares, Conceição Lima, José Saramago, António Lobo Antunes ou Lídia Jorge, e tantos outros que têm transformado não só a nossa visão dos processos históricos, sociais e políticos como estão também desafiando o conceito ocidental de conhecimento e o lugar social de enunciação, enquanto espaço de enunciação cultural da história colectiva de uma nação, como sempre nos lembraram as vozes literárias de outras geografias"...
Continuarei com as Partes II, III e IV em outro momento!...