quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Ataque Antropológico II: O Reflexo do Espelho Narcisista...

                                                                                                Imagem da Internet
Bem, deixando as teorias de lado, vou ao meu interesse fundamental... Para melhor compreensão do contexto sócio-histórico, pensei no Acre, de acordo com a colonização da Amazônia, ao longo de sua história como um espaço de sucessivas ondas de ocupação humana das mais diversas características étnicas, culturais e religiosas em um movimento contínuo de transformações protagonizadas por grupamento que, de alguma forma, impingiram suas múltiplas experiências na história acriana. A década de 90 do século XX foi mais um momento desse intenso movimento; não apenas mais migratório para a região acriana e, sim, de intensa exploração dos recursos naturais, fomentado pelo projeto desenvolvimentista de Governo com o estigma da floresta. Ademais, tentei compreender a sociedade acriana de acordo com as discussões, dos últimos 50 anos, sobre a Amazônia que, sob a ótica global, é considerada a principal fonte de riqueza material do Brasil, mesmo vista como o “pulmão do mundo”, esta região sofreu uma forte atração de migrantes e empresários que iniciaram uma exploração sem precedentes, pois a Amazônia é o maior conjunto contínuo de floresta tropical do planeta, sua riqueza e densidade não está somente na floresta, mas, sim, na diversidade de cultura e línguas indígenas, porém o que efetivamente mudou (da coroa Portuguesa, à República) o cenário da região amazônica foi a abrupta valorização da borracha, agora da madeira de lei, e foi em consequência dessa (ou dessas) valorização que o Brasil passa a se interessar pela Amazônia. Doravante, é nesse processo sócio-político que emerge a formação histórica do Acre (maiores detalhes deixo para os historiadores).

Perante este contexto, dentre os homens e mulheres que trilharam em direção ao Acre, de ocupação e exploração,  destacam-se as marcas de religiosidade e culturalidade de brasileiros urbano e rural, tendo em vista as sequências históricas do Acre na formação dos seringais. Por isso, pensei em refletir sobre os processos de transformação cultural a partir das interfaces entre o campo urbano e rural, neste caso da floresta, na esfera social, com atenção especial a incorporação da marca ambientalista como estratégia para legitimar antigas e novas reivindicações culturais de grupos sociais, cuja existência na organização social está baseada no mundo caracterizado pela floresta. Conforme nos afirma Maria de Jesus em sua tese que: “o discurso identitário da acreanidade vale-se de algumas ‘sequencias da história’, de certos ‘espaços de referencias identitária’ tanto do passado quanto do presente e da construção de um discurso que particulariza uma certa relação do acreano com a floresta, com a natureza, estimulando também a criação de novos referenciais simbólicos, e de novas lembranças no presente”.

Entretanto, dentro desse quadro histórico, a sociedade atual vive, com base na democracia do Estado Moderno, um momento de extrema contradição, onde a base dos conflitos é perceptível para além dos grupos sociais, sobretudo nas famílias – que ao possibilitar a reflexão e o planejamento para o futuro e direitos de cidadãos, com base nos seus valores da localidade, que necessitam se posicionar diante às desigualdades e exclusões que a dinâmica global do capitalista moderno produz, entregam-nos aos desígnios dos condicionamentos locais. Porque para exercermos plenamente a cidadania, e sermos os protagonistas das nossas próprias histórias na afirmação duma identidade cultural, passamos por uma situação muito complexa, onde a globalização econômica, financeira e tecnológica coexistem, ao mesmo tempo, com nossas experiências cotidiana da localidade das singularidades, especificidades culturais, religiosa e política.

E levando em consideração as leis que regulamentam nossos direitos como alternativas para garantir a manutenção de nossa cultura, assim como melhores condições de sobrevivência para nossas famílias e a própria manutenção dos nossos bons costumes tradicionais, principalmente na região amazônica, onde é foco permanente dos interesses internacionais; para, assim, superar e entender o dualismo convergente nos projetos de Governo - que nos colocam em igual condição de ocuparmos, por um momento, o local; e em outro momento, o global. Lembrando, aqui, que a nossa região Amazônica é essencialmente jovem: a nova cultura da florestania é cabocla, e que a prioridade oficial é a valorização da auto-estima como uma saída para definir o que é bom para nós acrianos. Segundo o discurso oficial: é preciso financiar as ideias dos jovens na própria comunidade, resgatando nossa cultura para não acharmos que a cultura é apenas o que está na TV, evitando o consumismo desnecessário e, assim se construirá o real valor local da cultura, do modo de ser, de viver, de comer, de trabalhar valorizando os costume da própria região.

Ainda no discurso - nos garantem que a fase desenvolvimentista da Amazônia: dos garimpos criminosos; dos grandes rebanhos bovinos; da exploração madeireira; dos mega-projetos desenvolvimentistas já não fazem mais sentidos e nem são a solução para o pleno desenvolvimento do estado acriano. Então, a solução da florestania é conhecer o que nos torna autênticos perante a floresta tropical brasileira. É enfrentar o desafio das cobiças e das corrupções. É sabermos que no projeto de desenvolvimento sustentável (antes de sermos cidadãos brasileiros) somos cidadãos amazônidas e pertencemos ao Planeta Terra e não aos costumes do capitalismo global. Porém tudo está muito escuro na realidade: a violência e outras misérias que assolam nossa região estão apontando que a verdade está para além do discurso Oficial, bem como também demonstra a falta de ética desenvolvimentista... Somos pressionados a fazermos nossa parte de cidadãos conscientes, enquanto que as ações governamentais apontam suas contradições.

 E como compreender e conviver com estas contradições e tais problemas?... É a motivação da minha constante busca...


Aqui para compreender Maria de Jesus Morais