domingo, 13 de março de 2011

A HAIJIN SEDUTORA...

O último livro de Alice Ruiz, "Desorientais", é um diário poético, uma espécie de haibun - dias e noites vividos e revelados em vários haikais. Nenhuma invenção, nada artificial, nada arranjado, nada forçado, nada limado, nada "transpirado". Cada verso é expressão sincera e única de momentos em que ela se deixou entregar com a alma em estado de "grata aceitação". Simplesmente isso. E, no fundo, não é aquilo que Tohô nos ensina?

"Quando o espírito está embebido de haikai, o sentimento interior se funde com as coisas exteriores para determinar a forma do verso, e tão bem que o objeto é apreendido tal qual ele se apresenta, sem que a visão própria crie a menor divergência. Se o espírito, pelo contrário, não se depurou, a visão própria entra em ação e a pessoa tende a buscar a perfeição no arranjo das palavras. E isso constitui apenas a vulgaridade de um espírito que não se esforça para encontrar a verdade."*

"fim de tarde
depois do trovão
o silêncio é maior"

"entre uma estrela
e um vagalume
o sol se põe"

"varal vazio
um só fio
lua ao meio"

"rede ao vento
se torce de saudade
sem você dentro"

(*) citações retiradas do livro "Haikai", de Paulo Franchetti


 Fonte: Doc PDF