terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Homem e Sociedade de Controle: a Marca dos Números...

                                                                                                    Imagem Bing
A única certeza de que o homem tem na vida, em qualquer tempo, é a de mudança. À medida que passa o tempo fica mais intensos os debates e as preocupações sobre o Futuro, cujas surpresas podem ser ainda maiores que as do Passado recente, por isso que o pensamento da humanidade vêm mudando por diversos motivos irreversíveis. A consciência global liberta o Homem de dogmas anteriores, levando-o, pois, à preferência pela imagem ao objeto, da cópia ao original, do simulacro ao real, desde à perspectiva renascentista, até a televisão que pega o fato ao vivo... A cultura ocidental vem sendo uma corrida em busca do Simulacro no afã de substituir à realidade que não oferece o vislumbrar de um futuro seguro, o homem vive, como diz Balandier em O Contorno, sob “o paradoxo que parece ser a única forma de qualquer coisa. A única forma da condição imposta a todo ser. O saber cientifico acelera seus avanços nos domínio da complexidade, recorrendo a tecnologia de inteligência crescente. Vai mais fundo e ,mais longe, junto conjuga-se à técnica e juntos não cessam de surpreender e revolucionar a produção humana” (p. 08)...

O momento atual é o de simular por imagens como na TV, que dá o mundo em acontecimentos, apagando as diferenças entre o real e o imaginário; ser e aparência. Fica apenas o simulacro passando por real. Mas o simulacro que intensifica o real: fabrica um hiper-real espetacular, um real mais colorido e interessante que a própria realidade, tornando o homem o escravo das flutuações da ciência: “Mas esta ciência vencedora tem menos segurança, menos certeza que a antiga; não ousa mais afirmar que o universo já não tem mais mistério. Admite que suas construções do real sejam revogáveis e que a antiga seus efeitos possam ser perversos (...) As técnicas da comunicação, material e imaterial, encolhem o espaço; uma porque extinguem a distancia através da velocidade outra porque se equipam de maquinas que realizam transferência – de palavras, textos, imagens, agora de trabalho – sem movimentar pessoas.” (Balandier, 09)...

Assim surge a cada instante a necessidade de se adquirir uma nova linguagem para que o sujeito estilhaçado da atualidade não passe a representar mais, e sim a vivenciar livremente a realidade de acordo com a particularidade de cada espaço. “As diversas telas, que se liga à distância e, imediatamente, multiplicam o encontro ao infinito, desmaterializando, o espaço já não é mais obstáculo, mas alguma coisa desaparece nesses buracos negros que se tornam os lugares onde nada fica e onde as pessoas estão sempre separadas. Agora que e a era visual estar estabelecida, que a exploração óptica pode degradar em inquisição panoptica, que as imagens proliferam, tudo parece estar progressivamente em estado de transparência; para o melhor (o conhecimento) e para o pior (o controle)” (BALANDIER, p. 9 ).

Foi com a sociedade industrial incorporando o design do novo nas artes gráficas, nos costumes na estética, nas ciências: o verdadeiro culto à moda que o poder criativo do novo se esgota. Quanto à subjetivação do sujeito fica entregue a própria realidade que na falta de sustância dilui-se na extrema diferenciação que as pessoas procuram através da moda ou o padrão pré-estabelicido, personalizando-se pela aparência levando ao narcisismo, à extravagância; ou então na busca de modelos exóticos que ora pode representar o passado. Sublimando as palavras que falam do presente como verdadeiras senhas para invocar os fantasmas da pós modernidade: chip, saturação, sedução, niilismo, simulacro, hiper-real, virtual, digital. “São as sociedades de controle que estão substituindo as sociedades disciplinares, controle é o nome que Burroughs propõe para designar o novo monstro, e que Foucault reconhece como nosso futuro próximo. Paul Virilio também analisa sem parar as formas ultra-rápidas de controle ao ar livre, que substituem as antigas disciplinas que operavam na duração de um sistema fechado.” (Conversações de Deleuze p. 220)

O Sujeito atual desfaz princípios, regras, valores, práticas. Cria e recria a realidade através da des-referenciação do real e da des-substanciação da subjetividade, motivadas pela saturação do cotidiano, pelos signos, o momento é do ecletismo, a própria mistura das várias tendências e estilos de vidas sob o mesmo nome. Mas que não se forma uma unidade; é aberto, plural e muda de aspecto se passado da tecnociência para as artes, da sociedade para a filosofia: são flutuações que constitui a atualidade de acordo com o trecho de Conversações “Nas sociedades de controle, ao contrário, o essencial não é mais uma assinatura e nem um número, mas uma cifra: a cifra uma senha, ao passo que as sociedades disciplinares são reguladoras por palavras de ordem. “ (Deleuze, 222)

É contra o cientificismo e o hermetismo no Poder do Passado que emerge um outro olhar sobre o homem, convertido na anti sociedade, ele sai do interior das fábricas, das igrejas, dos partidos, das escolas e de suas famílias: sai do silêncio de seu passado para a construção de sua própria história, assim com a arte: ele sai dos museus, das galerias e dos teatros e vão às ruas; a História também é lançada nas ruas com outra linguagem, assimilável ao seu grande público (na historicidade), assim o homem da sociedade de controle, para fugir das senhas numéricas, junto-se à arte de viver para agora trilhar seu próprio caminho no devir. O cotidiano ganha seu valor artístico, tanto a iteratura como as ciências buscam a fusão da arte com a vida...

Na sociedade de controle o homem nem representa nem interpreta: apresenta a vida diretamente aos seus objetivos, pois ele intervém sobre a realidade para modificá-la, desorganizá-la de modo criativo e inventivo com o valor supremo e eterno da arte, pois “Os diferentes internatos ou meios de confinamento pelos quais passa o indivíduo são variáveis independentes: supõe-se que cada vez ele recomece do zero, e a linguagem comum a todos esses meios existe, mas é analógica(...) Nas sociedades de disciplina não se parava de recomeçar (da Escola à caserna à fábrica), enquanto nas sociedades de controle nunca se termina nada, a empresa, a formação, o serviço sendo os estados meta estáveis e coexistentes de uma modulação ” (Deleuze, 221,222), é assim que na Sociedade Disciplinar os princípios não são bem claros, definidos e as modificações se manifestam através de escândalos...

Enquanto que a sociedade de controle, as idéias representadas, não são apriore bem definidas, não há idéias de movimentos evolutivos e sim umas misturas de estilos de pensamento, onde o movimento se constitui através das diferenças, no equilíbrio da desordem, é o próprio principio da transgressão das fronteiras... em alguns setores como na política e ideologia se apresenta um certo niilismo: a vitória do político não depende das idéias do partido, pois o partido não representa o povo; e a família não é concebida como o centro da existência individualistas; a religião é mais personalizada, os indivíduos procuram rituais menos coletivos; na empresa o trabalhador não tem utopias, sabe que sempre estará submetido a um sistema (socialista ou capitalista) onde ele (o trabalhador) não existe.

A sociedade se caracteriza pelo domínio da tecnociência aplicada aos serviços de informação, comunicação e à vida cotidiana, num ambiente de constante show de estímulos desconexos, onde o design, a moda da publicidade, os meios de comunicação fundamentam o neo-indivíduo no pluralismo e na rapidez dos acontecimentos que dão à condição imprecisa do homem se representar a si mesmo no mundo em que vive, assim diante das dificuldades de sentir e apresentar a realidade, a imaginação e a inteligência criativa declinam... sem uma identidade definida não se distingue do verdadeiro diante das combinações do ecletismo, não pode se isolar nem entrar na ordem, representa o limite da fronteira da condição pós-humana... sem identidade, hierarquias e no chão tudo se mistura, o Homem contemporâneo é isto e aquilo num presente aberto para o Devir.

A tecnociência avança, maravilhosamente, programando tudo, mas sem rumo, o homem sem seguir uma identidade vive a vida justapondo lado à lado suas vivências... Vivências às vezes pequenas e fragmentadas, porque não crê mais nos valores maiúsculos do tipo Deus, Pátria, Revolução, Trabalho, mas vive a pátria na micriologia do cotidiano flutuando no indecidível (inexcedível). Não há o que decidir...

Solitário o homem é o começo de uma nova condição pós-humana: ele o demônio terminal, destruidor e o anjo anunciador na condição humana que não ver a vida como um problema a ser resolvido, mas uma séries de experiências para se construir o futuro infinito nas pequenas aberturas que o mundo permitir, pois são nas experiências que o Homem descobre e purifica as inspirações que lhe tiram do vazio que determina a dimensão da eternidade. Assim, como eu tentei expressar nos versos abaixo (a segui), o homem também vive:
Em Busca do Passado
Na moral e no útil
Nas palavras guardando sentido
No desejo da direção
Na ideia e na lógica

No Mundo Dito e Desejado
O Homem conheceu:

A invasão e o ladrão
A luta e as guerras
As rapinas e a astúcia
Os disfarces e as máscaras

Assim:
O Homem perdeu a direção

Na Tradição busca
Um Novo Rumo
Ao Ser em Fragmentação...

*Trabalho apresentado (em 2001) ao Prof. Dr. Edgar em Poder, Estado e Fronteira - na PUC-SP!...

Bibliografia Inspiradoras:

BALANDIER, Georges. O Contorno: Poder e Modernidade. Editora Betrand Brasil, Rio de Janeiro, 1997.
... O Dédalo: Para Finalizar o Século XX. Editora Betrand Brasil. Rio de Janeiro, 1997.
... A Desordem: Elogio do Movimento. Editora Betrand Brasil. Rio de Janeiro, 1997.
... O Poder em Cena. Editora Universidade de Brasília. Brasília, 1982.
DELEUZE, Gilles. Conversações. Editora 34, Rio de Janeiro. 3ª Reimpressão, 2000.