quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Um Amor Colonial...

«O que se passou é que eu me senti perseguido pela PIDE.
Eu sentava-me num café e via uma pessoa a olhar para mim. Eu saio do café, vou-me embora, sento-me noutro café, vejo o mesmo homem a olhar para mim! E é claro, eu começo a ficar um bocado «Que é isto?» Então, propositadamente, mudo para outro ponto da cidade completamente oposto e, passado um bocado de eu estar noutro sítio, vejo o mesmo indivíduo. Então, aí ganho medo!

Ganho medo, falo com um chefe meu, que era o Nascimento:

- É normal que isso aconteça porque... eu vou-te explicar: Todas as pessoas que a sua profissão é uma profissão que passa fronteiras, portanto tripulantes de navios, comboios, aviões e tal, normalmente são perseguidos pela PIDE. Porque eles podem pensar que são correios ou qualquer coisa. Então, perseguem! Isso não quer dizer que venham a fazer mal. É para ver a vida da pessoa. E, depois, largam.

Mas, é claro, depois de uma pessoa ser apanhada por eles, eu não sei o que é se passaria lá. Eu não tinha nada a ver com política, mas as pessoas sabiam o que é que eles faziam. E esse medo continuou dentro de mim. Então, eu faço um pedido ao Presidente do Conselho de Administração da TAP, para me transferir para Luanda ou para a Beira (…) como ele se recusa, eu apresento a minha demissão. E foi isto uma das coisas que deu uma volta na minha vida profissional. Porque eu fui obrigado a largar um dos melhores empregos que tive na minha vida por causa da... Não foi por causa da rapariga, mas as duas coisas juntas, foi por causa da PIDE! Senti-me perseguido, senão ainda hoje estaria lá, talvez...»

(capítulo 5)

Fonte: Blog Antropocoiso