quinta-feira, 5 de agosto de 2010

A Era do Vazio...


CAPÍTULO I

Sedução non stop

Como designar esta vaga de fundo característica do nosso tempo, que, por todo o lado, substitui a coerção pela comunicação, o interdito pela fruição, o anônimo pelo feito por medida, a reificação pela responsabilização, e que, por todo o lado, tende a instituir um clima de proximidade, de ritmo e de solicitude liberta do registo da Lei? Música, informação vinte e quatro sobre vinte e quatro horas, gentil organizador, SOS, amizade. Mesmo a polícia tende a humanizar a sua imagem de marca, abre as portas das es¬quadras, explica-se perante a população, enquanto o exército se entrega a tarefas civis. “Os camionistas são simpáticos”, porque o não seria a tropa? A sociedade pós-industrial foi definida como sendo uma sociedade de serviços, mas, mais directamente ainda, é o auto-serviço que pulveriza por inteiro o antigo quadriculado disciplinar, fazendo-o, não através das forças da Revo¬lução, mas das ondas radiosas da sedução. Longe de se circunscrever às re¬lações interpessoais, a sedução tornou-se o processo geral que tende a regu¬lar o consumo, as organizações, a informação, a educação, os costumes. To¬da a vida das sociedades contemporâneas é doravante governada por uma nova estratégia que destrona o primado das relações de produção em provei¬to de uma apoteose das relações de sedução.

Sedução à lista

Com a categoria de espectáculo os situacionistas anunciavam de algum modo esta generalização da sedução, embora com uma reserva, é verdade, na medida em que o espectáculo designava a “ocupação da parte principal do tempo vivido no exterior da produção moderna” (G. Debord). Libertan¬do-se do ghetto da superestrutura e da ideologia, a sedução tomava-se rela¬ção social dominante, princípio de organização global das sociedades da abundância. Todavia, esta promoção da sedução, assimilada à época do consumo, depressa revelava os seus limites, consistindo a acção do espectá¬culo em transformar o real em representação falsa, em alargar a esfera da alienação e do desapossamento. “Nova força de engano”, “ideologia materia¬lizada”, “impostura da satisfação”, o espectáculo, a despeito ou por obra da sua radicalidade, não se desembaraçava das categorias próprias da era revo¬lucionária (a alienação e o seu outro, o homem total, “senhor sem escravo”), então precisamente em vias de desaparecer em surdina sob o efeito do reino alargado da mercadoria. Seduzir, enganar por meio do jogo das aparências - o pensamento revolucionário, mesmo quando atento ao novo, continuava a ter que localizar uma sedução negativa para levar a cabo a sua inversão: tributária do tempo revolucionário-disciplinar, a teoria do espectáculo recon¬duzia a versão eterna da sedução, a astúcia, a mistificação e a alienação das consciências.

Sem dúvida, temos que partir do mundo do consumo. Com a profusão luxuriante dos seus produtos, imagens e serviços, com o hedonismo que in¬duz, com o seu clima eufórico de tentação e proximidade, a sociedade de consumo revela até à evidência a amplitude da estratégia da sedução. Esta não se reduz, no entanto, ao espectáculo da acumulação; mais exactamente, identifica-se com a ultra-simplificação das opções que a abundância toma possíveis, com a latitude dos indivíduos mergulhados num universo transpa¬rente, aberto, oferecendo um número cada vez maior de escolhas e combina¬ções por medida, permitindo uma circulação e uma selecção livres. E esta¬mos apenas no começo, esta lógica alargar-se-á inelutavelmente à medida que as tecnologias e o mercado puserem à disposição do público uma diver¬sificação cada vez mais vasta de bens e de serviços. Actualmente, a TV por cabo oferece em certos pontos dos Estados-Unidos a escolha entre oitenta canais especializados, sem contar com os programas «a pedido»; calcula-se em cerca de cento e cinquenta o número de canais por cabo necessários à satisfação das exigências do público dentro de seis ou sete anos. Já hoje, o self-service, a existência à lista, designam o modelo geral da vida nas socie¬dades contemporâneas que vêem proliferar de modo vertiginoso as fontes de informação, o leque dos produtos expostos nos centros comerciais e hiper¬mercados tentaculares, nos armazéns ou restaurantes especializados. É assim a sociedade pós-moderna, caracterizada por uma tendência global no sentido de reduzir as relações autoritárias e dirigistas e simultaneamente de aumen¬tar a gama das opções privadas, privilegiar a diversidade, oferecer fórmulas de “programas independentes”, nos desportos, nas tecnologias psi, no turis¬mo, na descontracção da moda, nas relações humanas e sexuais. A sedução nada tem a ver com a representação falsa e com a alienação das consciên¬cias; é ela que configura o nosso mundo e o remodela segundo um processo sistemático de personalização cuja obra consiste essencialmente em multipli¬car e diversificar a oferta, em propor mais para que nós decidamos mais, em substituir a coacção uniforme pela livre escolha, a homogeneidade pela plu¬ralidade, a austeridade pela realização dos desejos. A sedução remete para o nosso universo de gamas opcionais, de secções de produtos exóticos, de am¬biente psi, musical e informacional, no qual cada um pode à vontade com¬por a lista dos elementos da sua existência. A independência é um traço de carácter, é também uma maneira de viajar segundo um ritmo seu, de acordo com os seus próprios desejos; construa a «sua» viagem. Os itinerários pro¬postos nos nossos Globe-Trotters são apenas sugestões que podem ser combi¬nadas, mas também modificadas tendo em conta a sua vontade». Este anún¬cio diz a verdade da sociedade pós-moderna, sociedade aberta, plural, levan¬do em conta os desejos dos indivíduos e aumentando a sua liberdade combi¬natória. A vida sem imperativo categórico, a vida kit modulada em função das motivações individuais, a vida flexível da época das combinações, das opções, das fórmulas independentes tornadas possíveis por uma oferta infini¬ta - é assim que opera a sedução. Sedução no sentido em que o processo de personalização reduz os quadros rígidos e coercivos, funciona suavemente jogando a cartada da pessoa individual, do seu bem-estar, da sua liberdade, do seu interesse próprio.

O processo de personalização começa a reordenar até a ordem da produ¬ção, muito timidamente ainda, e devemos deixá-lo dito aqui. Ê sem dúvida o mundo do trabalho que oferece a resistência mais tenaz à lógica da sedu¬ção, a despeito das revoluções tecnológicas em curso. A tendência para a personalização, no entanto, também aqui se manifesta. Em A Multidão Solitária. Riesman já a observava, mostrando como a cordialidade imposta, a personalização das relações de trabalho e dos serviços se substituíam pouco a pouco ao enquadramento funcional e mecânico da disciplina. Mais ainda, assistimos à multiplicação dos técnicos da comunicação e dos psicoterapeu¬tas de empresa. Abatem-se as paredes que separam os escritórios, o trabalho é feito em espaços abertos; a concentração e a participação são solicitadas por todos os lados. Fazem-se aqui e ali tentativas, muitas vezes apenas a título experimental, de humanização e de reorganização do trabalho ma¬nual: alargamento das tarefas, job enrichment, grupos autónomos de traba¬lho. A futura tecnologia electrónica, o número crescente de empregos de in¬formação permitem imaginar alguns cenários futuros: desconcentração das empresas, desenvolvimento do trabalho a domicílio, “casa electrónica”. Já hoje assistimos à flexibilização do tempo de trabalho: horários móveis ou à escolha, trabalho intermitente. Para além das características específicas des¬tes dispositivos, desenha-se uma mesma tendência, que define o processo de personalização: reduzir a rigidez das organizações, substituir os modelos uniformes e pesados por dispositivos flexíveis, privilegiar a comunicação em relação à coerção.

O processo conquista novos sectores e conhecerá uma extensão que nos é ainda difícil imaginar com as novas tecnologias com base no microprocessa¬dor e dos circuitos integrados. Eis o que actualmente se verifica já no ensino: trabalho independente, sistemas opcionais, programas individuais de tra¬balho e de auto-apoio por micro-computador; dentro de um prazo mais ou menos curto, haverá o diálogo com o teclado, a auto-avaliação, a manipula¬ção pessoal da informação. Os media estão em vias de experimentar uma reorganização que aponta no mesmo sentido; para além das redes por cabo, as rádios livres, os sistemas “interactivos”: a explosão do vídeo, o gravador, as video-cassettes, personalizando o acesso à informação, às imagens. Os conjuntos de vídeo e os milhares de fórmulas que proporcionam alargam e privatizam em grande escala as possibilidades lúdicas e interactivas (prevê-se que um lar americano em cada quatro esteja dentro de pouco tempo equipa¬do com conjuntos de vídeo). A micro-informática e a galáxia vídeo designam a nova vaga da sedução, o novo vector de aceleração da individualização dos seres, após a idade heróica do automóvel, do cinema, do electrodoméstico. “My computer likes me”: não nos enganemos, a sedução videomática não se refere apenas à magia das performances das novas tecnologias; enraíza-se profundamente no aumento da autonomia individual esperada, na possibilidade para cada indivíduo de ser um livre agente do seu tempo, menos pre¬gado às normas das organizações pesadas. A sedução em curso é uma sedu¬ção privática.

Todas as esferas são actualmente anexadas, cada vez mais depressa, por um processo de personalização multiforme. Na ordem psicoterapêutica, surgiram novas técnicas (análise transaccional, grito primal, bioenergia) que exacerbam a personalização psicanalítica considerada demasiado “intelectua¬lista”; prioridade dada aos tratamentos rápidos, às terapias “humanistas” de grupo, à libertação directa do sentimento, das emoções, das energias corpo¬rais: a sedução investe todos os pólos, do software à descarga «primitiva». A medicina sofre uma evolução paralela: acupunctura, visualização do corpo interno, tratamento natural por meio de ervas, biofeedback, homeopatia, as terapias “suaves” conquistam terreno, advogando a subjectivização da doença, a gestão “holística” da saúde pelo próprio indivíduo, a exploração mental do corpo em ruptura com o dirigismo hospitalar; o doente já não deve conti¬nuar a sofrer passivamente o seu estado, é responsável pela sua saúde, pelos seus sistemas de defesa, graças às potencialidades da autonomia psíquica. Simultaneamente, o desporto assiste à proliferação das práticas livres de cro¬nómetro, de confronto, de competição, e que privilegiam o treino livremente escolhido, a sensação de planar, a audição do corpo (jogging, windsurf, gi¬nástica suave, etc.); o desporto é reciclado através da psicologização do corpo, da total tomada de consciência de si, do livre curso aberto à paixão dos ritmos individuais.

Os costumes inclinam-se também no sentido da lógica da personalização. O gosto do tempo privilegia a diferença, a fantasia, a descontracção; a es¬tandardização e a rigidez já não têm boa reputação. O culto da espontanei¬dade e a cultura psi estimulam o indivíduo a ser “mais” ele próprio, a «sen¬tir», a analisar-se, a libertar-se dos papéis e “complexos”. A cultura pós¬-moderna é a do feeling e da emancipação individual alargada a todos os grupos de idade e sexo. A educação, de autoritária que era, tornou-se alta¬mente permissiva, atenta aos desejos das crianças e dos adolescentes, en¬quanto que, por todos os lados, a vaga hedonista desculpabiliza o tempo li¬vre, encoraja cada um a realizar-se sem constrangimentos e a aumentar os seus ócios. A sedução: uma lógica que abre caminho, que nada poupa e que, deste modo, realiza uma socialização flexível, tolerante, empenhada na personalização-psicologização do indivíduo.

A sedução repercute-se na linguagem. Já não há surdos, cegos, coxos; estamos no tempo dos que ouvem mal, dos invisuais, dos deficientes; os velhos tornaram-se pessoas da terceira ou da quarta idade; as criadas, empregadas domésticas; os proletários, parceiros sociais; as mães solteiras, mães celiba¬tárias. Os cábulas são crianças com problemas ou casos sociais, o aborto é uma interrupção voluntária da gravidez. Até os analisados são analisandos. O processo de personalização asseptiza o vocabulário como o coração das ci¬dades, os centros comerciais e a morte. Tudo o que exibe uma conotação de inferioridade, de deformidade, de passividade, de agressividade, deve desa¬parecer em proveito de uma linguagem diáfana, neutra e objectiva - tal é o último estádio das sociedades individualistas. Paralelamente às organizações flexíveis e abertas organiza-se uma linguagem eufemística e lenitiva, um lif¬ting semântico conforme ao processo de personalização centrado no desen¬volvimento, no respeito e na tolerância relativamente às diferenças indivi¬duais. «Sou um ser humano. Não dobrar, estragar ou deformar». A sedução liquida numa mesma vaga as regras disciplinares e as últimas reminiscências do mundo do sangue e da crueldade. Tudo deve comunicar sem resistência, sem relegação, num hiper-espaço fluido e acósmico, na esteira das telas e cartazes de Folon.

Se o processo de personalização é inseparável de uma esterilização acon¬dicionada do espaço público e da linguagem, de uma sedução irreal à ma¬neira das vozes adocicadas das hospedeiras dos aeroportos, é igualmente in¬separável de uma animação rítmica da vida privada. Vivemos uma formidável explosão musical: música ininterrupta, hit-parade, a sedução pós-moderna é hi-fi. Doravante, a aparelhagem sonora é um bem de primeira necessi¬dade; faz-se desporto, deambula-se, trabalha-se, sempre no meio de música; anda-se de automóvel em estéreo, a música e o ritmo tornaram-se, no espaço de algumas décadas, um ambiente quase permanente, um engodo de massa. Para o homem disciplinar-autoritário, a música circunscrevia-se a lugares e momentos específicos, concerto, dancing. music-hall, baile, rádio; o indiví¬duo pós-moderno, pelo contrário, está ligado à música de manhã à noite; tudo se passa como se tivesse necessidade de estar sempre noutro lugar, de ser transportado e envolvido por uma atmosfera ambiente sincopada; tudo se passa como se precisasse de uma desrealização estimulante, eufórica ou inebriante do mundo. Revolução musical ligada, sem dúvida, às inovações tecnológicas, ao império da ordem mercantil, do show-business. mas que nem por isso manifesta menos o processo de personalização, uma das faces da transformação pós-moderna do indivíduo. Da mesma maneira que as ins¬tituições se tornam flexíveis e móveis, o indivíduo torna-se cinético, aspira ao ritmo, a uma participação de todo o corpo e de todos os sentidos, participa¬ção hoje possível através da estereofonia, do walkman, dos sons cósmicos ou paroxísticos das músicas da idade electrónica. À personalização por medida da sociedade corresponde uma personalização do indivíduo, que se traduz no desejo de sentir «mais», de planar, de vibrar em directo, de experimentar sensações imediatas, de ser posto integralmente em movimento numa espécie de trip sensorial e pulsional. As realizações técnicas da estereofonia, os sons eléctricos, a cultura do ritmo inaugurada pelo jazz e prolongada pelo rock. permitiram à música tornar-se esse medium privilegiado do nosso tempo, porque em consonância estreita com o novo perfil do indivíduo personaliza¬do, narcísico, sedento de imersão instantânea, sedento de «descarregar» não apenas ao ritmo dos últimos êxitos, mas das mais diversas espécies de músi¬ca, das variedades mais sofisticadas, actualmente postas à sua constante dis¬posição.

A sedução pós-moderna não é um ersatz de comunicação ausente nem um cenário destinado a ocultar a abjecção das relações mercantis. Seria vê¬-la de novo como um consumo de objectos e de signos artificiais, reinjectar o logro onde existe, antes do mais, uma operação sistemática de personaliza¬ção, ou, por outras palavras, uma atomização do social ou uma extensão em abismo da lógica individualista. Fazer da sedução uma “representação ilusó¬ria do não-vivido” (Debord) é reconduzir o imaginário das pseudo-necessida¬des, a oposição moral entre o real e a aparência, um real objectivo ao abrigo da sedução, quando esta se define, sobretudo, como processo de transforma¬ção do real e do indivíduo. Longe de ser um agente de mistificação e de pas¬sividade, a sedução é destruição cool do social através de um processo de isolamento, que já não surge administrado pela força bruta ou pelo quadri¬culado regulamentar, mas através do hedonismo, da informação e da res¬ponsabilização. Com o reino dos media, dos objectos e do sexo, cada indiví¬duo se observa, se testa, se vira mais para si próprio à espreita da sua pró¬pria verdade e do seu bem-estar, tornando-se responsável pela sua vida, de¬vendo gerir o melhor possível o seu capital estético, afectivo, físico, libidinal, etc. Aqui, socialização e dessocialização identificam-se; no centro do deserto social ergue-se o indivíduo soberano, informado, livre, prudente administrador da sua vida: ao volante, cada um aperta o seu próprio cinto de seguran¬ça. Fase pós-moderna da socialização, o processo de personalização é um novo tipo de controlo social desembaraçado dos processos pesados de massi¬ficação-reificação-repressão. A integração realiza-se por meio da persuasão, invocando a saúde, a segurança e a racionalidade: anúncios e sensibilizações médicas, mas também conselhos das associações de consumidores. Dentro em breve, o vídeotex passará a apresentar «árvores de decisão», sistemas de pergunta-resposta permitindo ao consumidor dar a conhecer ao computador os seus próprios critérios a fim de efectuar uma escolha racional e, ao mes¬mo tempo, porém, personalizada. A sedução deixou de ser libertina.

Sem dúvida, nem tudo isto data de agora. Foi já há séculos que as socie¬dades modernas inventaram a ideologia do indivíduo livre, autónomo e se¬melhante aos outros. Paralelamente, ou com inevitáveis desfasamentos históricos, edificou-se uma economia livre baseada no empresário independente e no mercado, ao mesmo tempo que se instalaram regimes políticos democráticos. Neste quadro, no que se refere à vida quotidiana, ao modo de vida, à sexualidade, o individualismo viu-se, até uma data recente, contido na sua expansão por estruturas ideológicas rígidas, instituições, costumes ainda tra¬dicionais ou disciplinares-autoritários. É esta última fronteira que se desfaz ante os nossos olhos a uma velocidade prodigiosa. O processo de personalização impulsionado pela aceleração das técnicas, pela gestão, pelo consumo de massa, pelos media, pelos desenvolvimentos da ideologia individualista, pelo psicologismo, leva ao seu ponto culminante o reino do indivíduo, faz explodir as últimas barreiras. A sociedade pós-moderna ou, por outras palavras, a sociedade que generaliza o processo de personalização em ruptura com a organização moderna disciplinar-coerciva, realiza de algum modo, no interior do quotidiano e através de novas estratégias, o ideal moderno da au¬tonomia individual, ainda que esta se revele, até à evidência, de um teor iné¬dito.

Os discretos encantos da política

O mundo político não se mantém à margem da sedução. A começar pela personalização imposta da imagem dos dirigentes ocidentais: simplicidade ostensiva, o homem político surge de jeans ou pull-over, reconhece humildemente os seus limites e fraquezas, faz entrar em cena a família, o seu boletim de saúde, a sua juventude. Em França, Giscard, na esteira de Kennedy ou de P.-E. Trudeau, foi o símbolo autêntico desta humanização¬-psicologização do poder: um presidente à “escala humana”, que declara não querer sacrificar a sua vida privada, toma o pequeno-almoço com os homens dos serviços de limpeza, janta fora com esta ou aquela família francesa. Não nos iludamos: o desenvolvimento dos novos media, da televisão em particu¬lar, por capital que seja nesta questão, não pode explicar no fundamental esta promoção da personalidade, esta necessidade de confeccionar semelhan¬te imagem de marca. A política personalizada corresponde à emergência desses novos valores que são a cordialidade, as confidências íntimas, a proxi¬midade, a autenticidade, a personalidade, valores individualistas-democráti¬cos por excelência, difundidos em larga escala pelo consumo de massa. A se¬dução: filha do individualismo hedonista e psi, muito mais do que do ma¬quiavelismo político. Perversão das democracias, intoxicação, manipulação do eleitorado por um espectáculo de ilusões? Sim e não, porque se é exacto que existe realmente um marketing político programado e cínico, é igual¬mente correcto dizer que as vedetas políticas não fazem senão adaptar-se ao habitus pós-moderno do homo democraticus. com uma sociedade já personalizada desejosa de contacto humano, refractária ao anonimato, às lições pe¬dagógicas abstractas, à linguagem estereotipada, aos papéis distantes e con¬vencionais. Quanto ao impacto real do design da personalização, poderemos perguntar-nos se não será este consideravelmente sobrevalorizado pelos pu¬blicistas e pelos políticos[1], eles próprios amplamente seduzidos pelos meca¬nismos de sedução do star system: na medida em que actualmente todas as cabeças de cartaz se submetem mais ou menos à mesma lógica, o seu efeito anula-se por difusão e saturação mediática; a sedução surge como uma at¬mosfera soft. imperativa e sem surpresas, que distrai epidermicamente um público que está muito longe de ser tão ingénuo e passivo como imaginam os actuais detractores do “espectáculo”.

Mais significativa ainda no que se refere à sedução é a tendência que as democracias hoje revelam para jogarem a cartada da descentralização. De¬pois da unificação nacional e da supremacia das administrações centrais, o recente poder dos conselhos regionais e de eleição local, as políticas culturais regionais. A época é a do desprendimento do Estado, das iniciativas locais e regionais, do reconhecimento dos particularismos e identidades territoriais; a nova distribuição do jogo da sedução democrática humaniza a nação, ventila os poderes, aproxima as instâncias de decisão dos cidadãos, redistribui uma dignidade às periferias. O Estado nacional-jacobino esboça uma reconversão centrífuga destinada a reduzir a rigidez das burocracias, reavalia o “país”, promove de certo modo uma democracia do contacto, da proximidade, atra¬vés de uma reterritorialização-personalização regionalista. Simultaneamente, organiza-se uma política do património que se inscreve na mesma linha que a da descentralização ou da ecologia: deixar de devastar, de desenraizar ou de inferiorizar, para proteger e valorizar as riquezas regionais, memoriais ou naturais. A nova política museográfica tem como correspondente a política de regionalismo administrativo e cultural, aplicando-se a desenvolver do mesmo modo forças e entidades excentradas, montando um mesmo disposi¬tivo de diálogo entre presente e passado, entre população e torrão natal. Não se trata de um efeito de nostalgia de uma sociedade devastada pela conquis¬ta do futuro, e ainda menos de um show media-político; mais obscuramente, mas mais profundamente, trata-se de uma personalização do presente através da salvaguarda do passado, de uma humanização dos objectos e monu¬mentos antigos análoga à das instituições públicas e das relações interindivi¬duais. De modo nenhum imposto do exterior, de modo nenhum conjuntural, este interesse museográfico encontra-se em consonância com a sensibilidade pós-moderna em busca de identidade e de comunicação, nada apaixonada pelo futuro histórico, acabrunhada com a ideia de destruições irreversíveis. Aniquilar os vestígios é como devastar a natureza; uma mesma repulsa se apodera dos nossos espíritos hoje curiosamente inclinados a dotarem de al¬ma, a psicologizarem toda a realidade, homens, pedras, plantas, meio am¬biente. O efeito património é indissociável da suavização dos costumes, do crescente sentimento de respeito e de tolerância, de uma psicologização sem limites.

A autogestão cujo projecto consiste em suprimir as relações burocráticas de poder, em fazer de cada indivíduo um sujeito político autónomo, repre¬senta um outro aspecto da sedução. Abolição da separação dirigente¬-executante, descentralização e disseminação do poder, é à liquidação da me¬cânica do poder clássico e da sua ordem linear que se aplica a autogestão, sistema cibernético de distribuição e de circulação da informação. A auto¬gestão é a mobilização e o tratamento optimizado de todas as fontes de in¬formação, a instituição de um banco de dados universal, relativamento ao qual cada um é ao mesmo tempo e a todo o momento emissor e receptor ¬é a informatização política da sociedade. Doravante, torna-se necessário ven¬cer a entropia constitutiva das organizações burocráticas, reduzir os blo¬queamentos da informação, os segredos e desafecções. A sedução não fun¬ciona graças ao mistério, mas graças à informação, ao feed-back, à ilumina¬ção sem resíduos do social, à maneira de um strip-tease integral e generali¬zado. Nestas condições, não é surpreendente que numerosas correntes ecoló¬gicas adoptem no seu programa a autogestão. Rejeitando a predominância da espécie humana e a unilateralidade da relação entre o homem e a nature¬za, que conduzem à poluição e à expansão cega, a ecologia substitui à mecâ¬nica pesada do crescimento a regulação cibernética, a comunicação, o feed¬back, deixando a natureza de ser um tesouro a pilhar, uma força a explorar, para se converter num interlocutor a ouvir e a respeitar. Solidariedade das espécies vivas, protecção e saúde do meio ambiente, toda a ecologia repousa num processo de personalização da natureza, no tomar em consideração essa unidade insubstituível, não-negociável, finita, ainda que planetária, que é a natureza. Correlativamente, é no sentido da responsabilização do homem que a ecologia trabalha, alargando o campo dos deveres, do social ao plane¬tário: se a ecologia se esforça efectivamente por travar e deter o processo ili¬mitado da expansão económica, contribui, em contrapartida, para uma ex¬pansão do sujeito. Recusando o modelo produtivista, a ecologia aspira a uma mutação tecnológica, à utilização de técnicas suaves, não poluentes e, para os mais radicais, a uma reconversão total dos métodos e unidades de trabalho: reimplantação e redisseminação das unidades industriais e da po¬pulação, pequenas oficinas autogeridas, integradas em comunidades à escala humana, de dimensões reduzidas. A cosmogonia ecológica não conseguiu es¬capar aos encantos do humanismo. Redução das relações hierárquicas e da temperatura histórica, personalização, crescimento do sujeito, a sedução desdobra a sua panóplia cobrindo até os espaços verdes da natureza.

O próprio PCF não quer ficar para trás e apanha o comboio em andamento abandonando a ditadura do proletariado, último dispositivo sangrento da época revolucionária e da teleologia da história. A sedução abole a Revolução e o emprego da força, destrói as grandes finalidades históricas, mas também emancipa o Partido do autoritarismo estaliniano e da sua sujeição ao grande Centro; a partir daqui, o PCF pode começar a admoestar timida¬mente Moscovo e a “tolerar” as críticas dos seus intelectuais sem praticar purgas nem exclusões. A luta final não terá lugar: grande operadora de sínteses, de unidade, a sedução, na esteira de Eros, actua por ligação, coe¬são e aproximação. O engate por meio de estatísticas, o compromisso histó¬rico, a união do povo de França substituem a guerra de classes. Quer flirtar comigo? Só a Revolução fascina, porque se coloca do lado de Thanatos, da descontinuidade, do desligamento. A sedução, essa, rompeu todos os laços que a uniam ainda, no dispositivo donjuanesco, à morte, à subversão. Sem dúvida, o PCF continua a ser na sua ideologia e na sua organização o parti¬do menos inclinado a ceder às piscadelas de olho da sedução, o partido mais rétro, o mais preso ao moralismo, ao centralismo, ao burocratismo, e é mes¬mo essa rigidez congénita que, em parte, está na origem dos retumbantes fracassos eleitorais que sabemos. Mas, por outro lado, o PCF apresenta-se como um partido dinâmico e responsável, identificando-se cada vez mais com um organismo de gestão sem missão histórica, tendo adoptado, por sua vez, após prolongadas hesitações, os vectores-chave da sedução management, inquéritos através de sondagens, reciclagens regulares, etc., incluindo a ar¬quitectura da sua sede, prédio de vidro sem segredo, montra iluminada pe¬las luzes das metamorfoses «in» do aparelho. Formação de compromisso en¬tre a sedução e a era passada da revolução, o PC joga duas cartadas ao mes¬mo tempo, condenando-se obstinadamente ao papel de sedutor envergonha¬do e infeliz. O mesmo perfil se encontra no marxismo deles, para falarmos aqui à maneira de Lenine. Por exemplo, a voga do althusserianismo: rigor e austeridade do conceito, anti-humanismo teórico, o marxismo faz sua uma imagem de marca dura, sem concessões, nos atípodas da sedução. Mas em¬penhando-se na via da articulação dos conceitos, o marxismo entra simulta¬neamente na sua fase de desarmamento: o seu objectivo já não é a formação revolucionária de uma consciência de classe unificada e disciplinada, mas a formação de uma consciência epistemológica. A sedução triste do marxismo envergou o fato completo dos homens de “ciência”.

Sexdução

Em torno da inflação erótica actual e da pornografia, uma espécie de denúncia unânime reconcilia as feministas, os moralistas, os estetas, escandali¬zados pelo aviltamento do ser humano reduzido à categoria de objecto e pelo sexo-máquina que faz desaparecer as relações de sedução num deboche re¬petitivo e sem mistério. Mas se o essencial não estivesse aí - se a pornografia não fosse afinal senão mais uma figura da sedução? Que faz a pornografia, com efeito, senão suspender a ordem arcaica da Lei e do Interdito, abo¬lir a ordem coerciva da Censura e do recalcamento em benefício de um ver¬-tudo, fazer-tudo, dizer-tudo, que define exactamente o trabalho da sedução?

É ainda o ponto de vista moral que reduz a ponografia à reificação e à or¬dem industrial ou serial do sexo: aqui tudo é permitido, é preciso ir cada vez mais longe, procurar dispositivos inéditos, novas combinações numa livre disposição do corpo, numa livre empresa do sexo que faz do porno, contra¬riamente ao que dizem os seus detractores, um agente de desestandartização e de subjectivização do sexo e pelo sexo, à semelhança dos movimentos de li¬bertação sexual. Diversificação libidinal, constelação de «pequenos anúncios»singulares: depois da economia, da educação, da política, a sedução anexa o sexo e o corpo de acordo com o mesmo imperativo de personalização do in¬divíduo. Na hora do self-service libidinal, o corpo e o sexo tornam-se instru¬mentos de subjectivização-responsabilização; é preciso acumular as experiên¬cias, explorar o capital libidinal pessoal, inovar em matéria de combinações. Tudo o que se pareça com a imobilidade, com a estabilidade tem que desa¬parecer em proveito da experimentação e da iniciativa. Assim se produz um sujeito já não através da disciplina, mas da personalização do corpo sob a égide do sexo. O seu corpo é você, o corpo deve ser cuidado, amado, exibi¬do; já nada tem a ver com a máquina. A sedução alarga o ser-sujeito atri¬buindo ao corpo outrora oculto uma dignidade e uma integridade novas: nu¬dismo, seios nus, são os sintomas espectaculares desta mutação através da qual o corpo se torna pessoa a respeitar, a acarinhar ao calor do sol. O jerk é um outro sintoma desta emancipação: se, com o rock ou o twist, o corpo estava ainda submetido a certas regras, com o jerk caem todas as imposições das figuras codificadas, o corpo já só tem que se exprimir, tornando-se, na esteira do Inconsciente, linguagem singular. Nas pistas dos night-clubs, gra¬vitam sujeitos autónomos, seres activos, já ninguém convida ninguém, as ra¬parigas já não fazem “renda” e os “tipos” já não monopolizam a iniciativa. Ficam apenas mónadas silenciosas cujas trajectórias aleatórias se cruzam nu¬ma dinâmica de grupo açaimada pelo feitiço do som.

Que se passa quando o sexo se torna político, quando as relações sexuais se traduzem em relações de forças, em relações de poder? Denunciando a mulher-mercadoria, chamando à mobilização de massa em torno de um “programa comum”, constituindo-se em movimento específico que exclui os homens, o neo-feminismo não introduzirá uma linha dura, maniqueísta, e por isso irredutível ao processo de sedução? Não é, de resto, assim que os movimentos feministas se apresentam? No entanto, algo de mais fundamen¬tal se encontra em jogo: assim, através do combate pelo aborto livre e gra¬tuito, é o direito à autonomia e à responsabilidade em matéria de procriação que se visa; trata-se de retirar a mulher do seu estatuto de passividade e de resignação relativamente ao carácter aleatório da procriação. Dispor de si, escolher, deixar para trás a máquina reprodutora e o destino biológico e so¬cial - o neo-feminismo é também uma das figuras do processo de personali¬zação. Com as recentes campanhas contra a violação, surgiu uma publicida¬de inédita em torno de um fenómeno outrora mantido em segredo e na ver¬gonha, como se nada devesse continuar oculto, obedecendo ao imperativo de transparência e de iluminação sistemática do presente que governa as nossas sociedades. Por meio desta redução das sombras e das obscuridades, o movi¬mento de libertação das mulheres, seja qual for o seu radicalismo, faz parte integrante do strip-tease generalizado dos tempos modernos. Informação, co¬municação, tais são os caminhos da sedução. Empenhado, por outro lado, em não dissociar o nível político do psicanalítico, o neo-feminismo veícula uma vontade explícita de psicologização, como mostram os pequenos grupos chamados de self-help ou de tomada de consciência em que as mulheres se escutam, se analisam, falam procurando descobrir os seus desejos e os seus corpos. É o “vivido” que doravante vem em primeiro lugar: prevenção com o teórico, com o conceptual, que são o poder, a máquina imperial masculina. “Comissões de experiências pessoais”: a emancipação, a busca de uma iden¬tidade própria passa pela expressão e pelo confronto das experiências exis¬tenciais.

Igualmente característica é a questão do “discurso feminino” em deman¬da de uma diferença, de uma afirmação independente do referencial mascu¬lino. Nas suas versões mais radicais, trata-se de abandonar a economia do logos, da coerência discursiva, afirmando o feminino numa auto-de¬terminação, numa “auto-afecção” (Luce Irigaray) desembaraçada de todo o centrismo, de todo o falocentrismo enquanto última posição panóptica do poder. Mais importante do que a reinscrição de um território marcado é a flutuação deste lugar em si próprio, a impossibilidade de o circunscrever e de o identificar: nunca idêntico a si próprio, nunca idêntico a nada, “espécie de universo em expansão ao qual não é possível fixar quaisquer limites, mas que não é por tão pouco incoerência”[2],o feminino é plural, todo fluência, contiguidade e proximidade, ignora o “próprio” e, portanto, a posição de su¬jeito. Nem sequer se trata já de elaborar um outro conceito de feminilidade, que não deixaria de retomar a máquina teórico-fálica e de reintroduzir a economia do Mesmo e do Um. Para se definir, o hiperfeminismo reivindica o estilo. a sintaxe Outra, “táctil” e fluida, sem sujeito nem objecto. Como não reconhecer nesta economia dos fluidos, nesta multiplicidade condutível, o próprio trabalho da sedução que, por toda a parte, abole o Mesmo, o Centro, a linearidade e procede à diluição das formas rígidas e dos “sóli¬dos”? Longe de representar uma involução, a suspensão da vontade teórica não é mais do que um último estádio da racionalidade psicológica; longe de se identificar ao recalcado da história, o feminino assim definido é um pro¬duto e uma manifestação da sedução pós-moderna, libertando e desestan¬dartizando, no mesmo movimento, a identidade pessoal e o sexo: “A mulher tem sexos um pouco por toda a parte”[3]. Nada mais errado, então, do que partir em guerra contra esta mecânica dos fluidos acusada de restabelecer a imagem arcaica e falocrática da mulher[4]. É o contrário que é verdade: sexdução generalizada, o neo-feminismo apenas exacerba o processo de perso¬nalização, organiza uma figura inédita do feminino, polimorfa e sexuada, emancipada dos papéis e identidades estritas de grupo, em consonância com a instituição da sociedade aberta. Tanto ao nível teórico como militante, o neo-feminismo trabalha para a reciclagem do ser-feminino, valorizando-o sob todas as perspectivas: psicológica, sexual, política, linguística. Trata-se, antes do mais, de responsabilizar e psicologizar a mulher, liquidando uma última “parte maldita”, ou, por outras palavras, de promover a mulher a uma categoria de individualidade plena, adaptada a sistemas democráticos hedonistas incompatíveis com seres presos a códigos de socialização arcaicos, feitos de silêncio, de submissão casta, de histerias misteriosas.

Entendamo-nos bem, esta inflação de análises e de comunicações, esta proliferação de grupos de discussão não porão fim ao isolamento da sedu¬ção. Com o feminismo passa-se o mesmo que com o psicanalismo: quanto mais se interpreta, mas as energias refluem no sentido do Eu, o inspeccio¬nam e examinam por todos os lados; quanto mais se analisa, mais a interio¬rização e a subjectivização do indivíduo ganham em profundidade; quanto mais Inconsciente e quanto mais interpretação, mais se intensifica a auto-¬sedução. Máquina nascísica incomparável, a interpretação analítica é um agente de personalização por meio do desejo e, no mesmo acto, um agente de dessocialização, de atomização sistemática e interminável, do mesmo mo¬do que os arranjos da sedução. Sob a égide do Inconsciente e do Recalca¬mento, o indivíduo é remetido para si próprio e para o seu reduto libidinal, em busca da sua imagem desmistificada, privado até, nos últimos avatares lacanianos, da autoridade e da verdade do analista. Silêncio, morte do ana¬lista, somos todos analisandos, simultaneamente interpretados e intérpretes numa circularidade sem portas nem janelas. Don Juan está realmente mor¬to; uma nova figura, muito mais inquietante, se ergue agora, Narciso, subju¬gado por si próprio na sua cápsula de vidro.
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[1] R.G. Schwartzenberg, L'État spectacle, Flammarion, 1977.
[2] Luce lrigaray, Ce sexe qui n 'en est pas un, Éd. de Minuit, 1977, p. 30.
[3] L. lrigaray, op. cit.. p. 28.
[4] C. Alzon, Femme mythifiée. femme mystifiée. PUF, 1978, pp. 25-42.

LIPOVETSKY, Gilles. A Era do Vazio: ensaio sobre o individualismo contemporâneo. Lisboa: Relógio D’Água. 1983.

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